“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 31
CENA 01: HOSPITAL - SALA DE ESPERA - NOITE
Gioconda caminha de um lado pro outro, aflita. A porta da ala crítica se abre. A médica surge com expressão grave. Gioconda corre até ela, os olhos marejados de expectativa e medo.
GIOCONDA: Doutora… o meu filho? Como ele tá? Alguma novidade?
A médica respira fundo antes de responder.
MÉDICA: Lamento informar... Mas o Marcos teve uma parada cardiorrespiratória. Fizemos tudo que foi possível. Ele não resistiu.
CLOSE no rosto de Gioconda. Um segundo de silêncio absoluto.
GIOCONDA: (grita) NÃÃÃO! MEU FILHO, NÃO!
Ela desaba no chão, gritando, aos prantos. Uma enfermeira corre até ela, tenta ampará-la. Gioconda se debate, recusa consolo. Sua dor ecoa pelos corredores frios do hospital.
CENA 02: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE ESTAR – NOITE
A porta se escancara. Gioconda entra, trôpega, devastada. O rosto inchado de tanto chorar, os olhos fundos, a alma em frangalhos. Gisela está sentada, tomando um conhaque como se nada tivesse acontecido.
GISELA: E então?
GIOCONDA: (entre soluços) O Marcos morreu! Meu filho está morto…
Gisela ergue lentamente os olhos, sem demonstrar emoção.
GISELA: (impassível) É… Ele achou o que procurou, né?! Pois é... menos um pra disputar a herança do papai.
Gioconda engole o choro, a expressão muda do desespero para o ódio. Ela avança como um furacão e dá um tapão estrondoso no rosto de Gisela. O barulho ecoa. Gisela vira o rosto, mas não reage.
GIOCONDA: (berrando, tomada pela fúria) DESGRAÇADA! MALDITA! A culpa é sua! (se aproxima, aos berros) SEU MONSTRO! Se você não tivesse gravado aquela maldita conversa… nada disso teria acontecido! O meu filho tá morto! A minha filha me odeia! E você... você ainda tá aqui, viva, bebendo! Você é quem deveria estar morta!
GISELA: (grita de volta) EU NÃO GRAVEI NADA! Você tá delirando! SUA LOUCA! IDIOTA!
GIOCONDA: (praguejando) Escuta bem o que eu vou te dizer, Gisela… você vai morrer! Você vai morrer da pior forma possível! Sua desgraçada!
Gisela olha para ela com cara de deboche. Gioconda sobe correndo as escadas, tropeçando de nervosa.
QUARTO DE SABRINE – INSTANTES DEPOIS
Gioconda escancara a porta. O quarto está vazio. Cama feita. Armário aberto, sem roupas. Nenhum vestígio de Sabrine.
GIOCONDA: (assustada) Sabrine...? SABRINE?!
A empregada aparece na porta, hesitante.
EMPREGADA: Dona Gioconda… a dona Sabrine foi embora. Disse que ia sumir no mundo. Pegou o jatinho e falou que não volta nunca mais.
Gioconda vacila. As pernas falham. Ela cai de joelhos no chão do quarto. Um choro silencioso começa a se formar até explodir num grito agudo, primal, de dor irreparável. Ela se arrasta até a cama, se joga sobre ela e se encolhe, soluçando sem ar.
CENA 03: CASA DE VOLNEY - SALA - NOITE
Raí está sentado no sofá com uma expressão de preocupação em seu rosto. Nesse momento, a porta se abre e Estela entra. Ele levanta a cabeça e suspira aliviado ao vê-la. Estela estranha vê-lo ali.
ESTELA: Ué, você ainda tá aqui?
RAÍ: (urgente) Pelo amor de Deus, Estela, onde é que você tava?
ESTELA: Depois daquela conversa eu precisei respirar um pouco, botar a cabeça no lugar.
RAÍ: Eu tava morrendo de preocupação.
ESTELA: Achei que você já tivesse ido pro bar.
RAÍ: E eu lá teria cabeça pra ir pro bar com você fora de casa o dia todo? Tava esperando você chegar pra gente conversar direito.
Estela suspira.
ESTELA: Era pra você ter me contado essa história do bar desde o início, Raí. A gente é casado. Você tinha que ter mais confiança em mim, pra se abrir, aí você me esconde isso?
RAÍ: Eu sei disso, mas é que você é meio conservadora né, eu achei que você fosse acabar com o nosso casamento caso descobrisse a verdade.
ESTELA: (ofendida) Eu? Conservadora? Você acha mesmo que eu sou conservadora?
Raí fica sem saber o que responder.
ESTELA: Eu posso ser uma mulher discreta, mas conservadora? Aí já é um pouco demais, né?
Raí se aproxima dela, pega em sua mão. Eles se olham fixamente, com os rostos colados.
RAÍ: Você me perdoa?
ESTELA: Não quero mais que você esconda nada de mim!
RAÍ: Eu prometo.
ESTELA: Mas tem uma condição também.
RAÍ: O quê?
ESTELA: (sedutora) Tira um dia de folga. Fica comigo. Cafetão!
Raí sorri, safado e a agarra ali mesmo.
CORTE PARA: QUARTO – NOITE
A porta do quarto se fecha com um leve estrondo. Raí segura Estela pela cintura, os dois rindo, ofegantes. Ele a beija com desejo, pressionando o corpo dela contra a parede. Estela entrelaça as pernas na cintura dele.
Raí a deita na cama com firmeza, tirando a camisa num gesto rápido. Seu peito nu brilha com o suor leve da tensão acumulada. Ele se abaixa e beija o pescoço dela, a clavícula, vai descendo com a boca quente. Estela geme baixinho, os olhos fechados, entregando-se.
Ela arranca a própria blusa, revelando a lingerie preta de renda. Raí sorri, morde o lábio inferior, faminto. Ele desce a alça do sutiã com os dentes. As mãos dele passeiam pelo corpo dela como quem já conhece cada curva de cor.
Estela o puxa pra cima, beija seus lábios com fome. Ele tira a calça, sem parar de encará-la. Há cumplicidade e tesão no olhar. Estela se vira, se empina. Raí segura firme sua cintura, e os dois se conectam num movimento intenso, ritmado.
O quarto se enche de suspiros, gemidos abafados e sussurros safados. Raí alterna entre força e carinho. Ele beija a nuca dela.
Ela sorri com os olhos, arrepiada, e o puxa ainda mais pra perto. O ritmo acelera. Os corpos colados. A respiração entrecortada. O clímax explode entre os dois como um vendaval abafado de prazer e alívio.
CORTE PARA: DEPOIS DO SEXO
Os dois deitados na cama, nus, cobertos só pelo lençol. Raí brinca com o cabelo dela. Estela sorri, com a cabeça no peito dele.
ESTELA: Ainda acha que eu sou conservadora?
RAÍ: (rindo) Conservadora nada… Você é uma revolução.
Eles riem cúmplices.
CENA 04: PEDRA DO FORTE - STOCK-SHOTS - PASSAGEM DE TEMPO
Clipe rápido mostrando pontos principais da cidade com o dia amanhecendo, depois chegando ao final da tarde.
CENA 05: CEMITÉRIO – FIM DE TARDE
O céu está nublado, num cinza espesso. O vento sopra leve entre as árvores. Um caixão fechado está diante de uma cova recém-aberta, cercado por algumas flores murchas. Nenhuma cor viva. Nenhuma homenagem. Só o básico.
Gioconda, vestida de preto, com um véu cobrindo parte do rosto, está sozinha, de pé, estática. Os olhos inchados, mas sem choro. Como se já tivesse chorado tudo antes. Ou como se não tivesse mais forças pra isso.
Ao lado dela, o PADRE, um homem de meia idade, de batina preta, segura uma Bíblia gasta nas mãos. A voz dele é baixa, mas firme, como se já tivesse feito isso muitas vezes.
PADRE: O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome...
Gioconda aperta um lenço nas mãos. Olha pro caixão. O silêncio pesa.
PADRE: Hoje, nos despedimos de Marcos. Entregamos seu corpo à terra, e sua alma a Deus. Que ele encontre a paz que não encontrou em vida, e que os que ficam consigam perdoar. Pois a morte não apaga os erros, mas encerra os ciclos. E em Deus, todo fardo pode ser aliviado.
O padre fecha a Bíblia. Uma pausa. Olha pra Gioconda.
PADRE: (delicado) A senhora quer dizer algumas palavras?
GIOCONDA: (nega com a cabeça. a voz falha.) Não… (baixa os olhos) Já foi dito o suficiente.
O coveiro começa a baixar o caixão, com estalos secos da corda contra a madeira. Um som que ecoa fundo. Gioconda fecha os olhos, respira fundo. Uma lágrima escapa.
A terra começa a cobrir o caixão.
PADRE: Que a luz perpétua o ilumine. Amém.
GIOCONDA: (baixo, quase inaudível) Amém.
CENA 06: AEROPORTO DE PEDRA DO FORTE - NOITE
Após fazer o check-in, Gioconda arrasta suas malas. Ela usa óculos escuros mesmo estando de noite. Oscar a acompanha trazendo algumas bagagens consigo. Ela olha para todos os lados como se estivesse procurando alguém. Até que seu olhar pousa em um ponto fixo. Ela caminha até a pessoa, tira seus óculos.
GIOCONDA: Aqui está o que eu te prometi.
Ela estende a mão que segura uma pasta, entregando-a para a pessoa que está na sua frente.
GIOCONDA: Vendi minhas ações da Bergmann Privé pro José Carlos que vai passar tudo pro seu nome depois. Aí também tem uma procuração na qual abro mão da minha parte da herança de papai. Isso é, caso ele não tenha feito nenhuma alteração… Mas isso você vê com o advogado da família que tá tratando dessas coisas, eu não tenho mais nada a ver com isso. Bem… Estamos entendidas?
Após ler a documentação, Jaqueline a encara.
JAQUELINE: Com certeza!
GIOCONDA: Ah, tem mais uma coisa, antes que eu me esqueça... Acabe com a Gisela! Eu quero ver aquela filha da puta destruída. De preferência morta!
JAQUELINE: Faça uma boa viagem, Gioconda!
GIOCONDA: Agora eu sou Eleonora D'Alencourt! Gioconda von Bergmann está morta e enterrada para sempre! (olha para Oscar) Vamos, mon chérie! (para Jaque) Adiós!
Ela coloca seus óculos de volta e caminha em direção ao portão de embarque. Jaqueline olha para a documentação em suas mãos.
CENA 07: MANSÃO VON BERGMANN - NOITE
A casa está mergulhada em um silêncio absoluto. Nenhum som, nenhuma voz. Só o tique-taque discreto de um relógio de parede ao fundo.
Gisela está parada no centro da sala de jantar. As luzes estão apagadas, exceto por um abajur aceso num canto, que projeta sombras suaves nas paredes de madeira escura. A longa mesa de jantar está posta apenas com um vaso seco no centro.
Ela desliza os dedos pela mesa, com a ponta dos dedos, como se tocasse um fantasma.
CORTA PARA:
ESCRITÓRIO – Ela entra com passos lentos. A porta range suavemente. O ambiente está repleto de lembranças congeladas no tempo. Livros perfeitamente alinhados nas prateleiras. Uma poltrona de couro, gasta pelo uso. O porta-retratos de Otávio sobre a mesa.
Gisela caminha até a mesa, olha a foto. Seu olhar endurece, mas seus olhos brilham, marejados.
Ela se senta na cadeira atrás da mesa. Fecha os olhos. Inspira profundamente. O couro da cadeira estala sob o peso da memória.
CORTE PARA:
ESCADA DA MANSÃO – Ela sobe com lentidão, como quem carrega séculos nos ombros. A cada degrau, o som de seus sapatos ecoa como marteladas num caixão invisível.
CORREDOR SUPERIOR – Gisela para diante de uma porta. Abre.
QUARTO DE GISELA – Luxuoso, imaculado. Tudo no lugar exato. Ela entra devagar. Caminha até a cama. Senta-se à beira. Passa a mão pelo edredom. Então, deita-se de lado por um momento e cheira os lençóis, profundamente, com os olhos fechados.
Fica assim por alguns segundos. Inalando o passado. Suspira. Se levanta.
Passa os olhos pelo quarto inteiro, como se se despedisse. Caminha até o guarda-roupa, o abre, encara os vestidos pendurados. Fecha novamente.
CORREDOR SUPERIOR – Ela caminha em silêncio pelo corredor, tocando de leve os quadros nas paredes. Fotos de família. Ricos, sorrindo. Máscaras emolduradas.
Ela não sorri.
CORTA PARA:
ESCADA – DESCENDO: Os degraus agora parecem mais pesados. Gisela segura firme o corrimão. Um leve tremor nos dedos.
SALA DE ESTAR:
Ela retorna onde tudo começou. Pára no meio da sala. Olha em volta. Só o som distante do vento do lado de fora.
Gisela tira os sapatos. Caminha descalça até o sofá. Senta. Cruza as pernas. Encara o vazio.
Um leve sussurro de uma folha sendo arrastada pelo vento lá fora. Mais nada. Ela encosta a cabeça no encosto do sofá, olha pro teto.
TOCA A CAMPAINHA.
Ela pisca devagar, como quem volta de um transe profundo. Não se assusta. Apenas se levanta com uma calma inquietante. Seus passos são lentos, controlados, quase ritualísticos. Cruza a sala como uma dama indo ao próprio julgamento.
Abre a porta. Do outro lado, o DELEGADO PALHARES, imponente, ladeado por dois POLICIAIS à paisana. O clima é denso, o ar parece pesar no ambiente.
GISELA: (sorriso social, falso) Boa noite... posso saber quem são os senhores?
DELEGADO PALHARES: Boa noite, senhora Gisela von Bergmann. Sou o delegado Palhares e estes são meus homens. (pausa dramática) Lamento informar... encontramos o corpo do seu pai, Nelson von Bergmann. (pausa mais longa) Tudo indica que ele foi assassinado.
Gisela leva um segundo para reagir. Pisca. Um leve arquejo de boca, nada além disso. Seus olhos não tremem, não marejam. A frieza é absoluta. A ausência de emoção é gritante.
DELEGADO PALHARES: Com base nas evidências preliminares... a senhora é oficialmente considerada suspeita pela morte dele.
GISELA: (levanta a sobrancelha, entonação controlada) Perdão...? Suspeita... eu?
DELEGADO PALHARES: Algemem ela!
Os policiais se aproximam. Gisela dá um passo pra trás, indignada.
GISELA: (voz crescente) Mas que absurdo é esse? Me soltem! Isso é um equívoco grotesco!
Ela tenta resistir, mas é em vão. As algemas se fecham nos seus pulsos com um click seco. O som ecoa pela mansão como um veredicto.
GISELA: (furiosa, mas ainda mantendo a pose) Vocês não sabem com quem estão lidando! Eu sou Gisela von Bergmann! Isso é um ultraje!
DELEGADO PALHARES: A senhora terá a chance de se explicar... na delegacia.
Ela é conduzida até a viatura, sob os olhos frios dos policiais. A porta da mansão permanece aberta, revelando a sala opulenta e vazia — como se a própria casa estivesse assistindo, em silêncio, ao fim de um império.
CENA 08: DELEGACIA - NOITE
A viatura preta estaciona em frente à delegacia. Uma multidão de repórteres se aglomera. Holofotes. Câmeras. Gritos.
FOTÓGRAFO: Olha aqui, dona Gisela!
A porta da viatura se abre. Gisela desce, algemada, ainda impecável, mas com o semblante duro. Flashes pipocam. Microfones surgem de todos os lados.
REPÓRTER 1: Gisela, é verdade que você matou o próprio pai?
REPÓRTER 2: A senhora quer dar alguma declaração?
Ela tenta manter a pose, mas os olhos denunciam o terror por trás da máscara. No meio do caos, surge Jéssica Klein com um sorriso venenoso no rosto e empunhando uma câmera profissional.
JÉSSICA: (sorrindo, irônica) Olha o passarinho…
FLASH. Gisela fecha os olhos no estalo da luz, visivelmente incomodada.
JÉSSICA: (chegando perto, sussurrando) Essa vai estampar a capa da semana, querida.
Os policiais a empurram para dentro da delegacia. Ao cruzar o saguão, Gisela trava no lugar ao ver quem a espera:
Jaqueline e José Carlos, que a encaram. Ambos em silêncio. Gisela arregala os olhos, surpresa, como se estivesse vendo um pesadelo ganhar forma.
JAQUELINE: (sorri, venenosa) Boa noite, vadia!
GISELA: (chocada) Vocês dois…
Jaqueline caminha lentamente até ficar cara a cara com Gisela.
JAQUELINE: Espero que tenha aproveitado bastante todos esses anos de mordomia naquela mansão… pois a cadeia… agora será a sua nova casa… pelo resto da sua vida!
Gisela fica aterrorizada. Os olhos dela tremem. Respiração pesada. Jaqueline, por outro lado, triunfa. Ela saboreia a queda da rival. CLOSE NAS DUAS.
Próximo Capítulo
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