4 de out. de 2024

Paixões & Legados - Capítulo 11 (04/10/2024)

 


Paixões & Legados

Escrita por Fafá

Faixa das 18h


Um novo dia amanhece. A notícia do assalto e da morte de Bernardino e Lúcia se espalha rapidamente por todo canto, chocando a todos. Os jornais, com a capa sobre o atentado, são impressos e distribuídos para toda a população do Vale das Flores.




Na pensão Maria das Graças, Tomé arruma as mesas do café quando é surpreendido por Gustavo, que chega correndo com um jornal em mãos.


GUSTAVO: Você não vai acreditar no que aconteceu.


TOMÉ: Que foi, homem? Chegou correndo quase levando toda minha pensão pro chão.


GUSTAVO: É a Lúcia, Seu Tomé…


TOMÉ: O que aconteceu?


GUSTAVO: Nossa grande amiga… está morta…


O choque causa um silêncio ensurdecedor no local, como se os dois ainda estivessem tentando acreditar no que aconteceu.




Guilhermino, como sempre, está sentado em sua cadeira de balanço enquanto lê o jornal.


GUILHERMINO: Você deveria saber que isso aconteceria, Bernardino, esse é seu karma por tudo o que fez. E eu farei questão de vê-lo morto em um caixão.


Nesse momento, Jarbas chega até o patrão.


JARBAS: Mandou me chamar?


GUILHERMINO: Prepare o meu carro e uma passagem de trem, vou ao Riacho das Rosas.




Leonel está sentado à mesa tomando café na grande mansão, sozinho, enquanto lê o jornal com a capa “Empresário e sua esposa são vítimas de latrocínio ao sair de teatro”. Mesmo lendo a matéria, ele não sabe que se trata de uma antiga conhecida. Débora desce as escadas, respira fundo, e anda calmamente até a mesa.


DÉBORA: Bom dia!


LEONEL (Estranhando): Bom dia.


DÉBORA: Está um lindo dia, não?


LEONEL: Vejo que acordou mais disposta.


DÉBORA: Nada melhor que uma boa noite de sono para acalmar os nervos. Leonel, eu queria me desculpar pelo comportamento de ontem. Afinal, foi uma escolha de minha irmã e eu não deveria me incomodar com isso. Espero que possamos esquecer nossas diferenças e nos tornarmos amigos. Saiba que tem uma mão aqui para qualquer ajuda que necessitar.


LEONEL: Não seja falsa, Débora, sei que quer me ver pelas costas. Nunca gostou de mim, agora quer passar essa figura de boa moça para quê?


Débora engole em seco a patada.


DÉBORA: Sei que fui um tanto intolerante, mas, Leonel, eu estava apenas preocupada com minha irmã. Você tem que entender que era um estranho em nossas vidas.


Débora começa a fingir uma emoção, como se estivesse se vitimizando.


DÉBORA: Tudo que fiz foi apenas por amor, cuidado. E agora minha tão amada irmã se foi, me sinto sozinha neste mundo.


LEONEL: Desculpe-me se fui rude com você. Tenho que ir. Após a leitura do testamento, fui intimado a tomar posse da empresa. À noite conversamos melhor.


Ele se retira e o semblante de Débora torna-se sombrio.


DÉBORA: Eu ainda vou te ter na palma da minha mão, Leonel. E vou recuperar tudo o que é meu por direito.




Na igreja de Riacho das Rosas, os caixões de Lúcia e Bernardino estão postos lado a lado, sendo preparados para o velório. Mercedes está no local, cuidando de alguns detalhes. Ela se aproxima do corpo de seu patrão para  se despedir.


MERCEDES: Querido Bernardino, é uma pena que tenha ido tão cedo. Servi o senhor por tantos anos, me dói vê-lo nesse estado. Sabia de tudo sobre a sua vida, seus gostos, suas preferências, sempre fui uma ótima ouvinte sua. Sei também o quanto adora a pequena Anabel, e prometo ao senhor que cuidarei dela como desejava e a protegerei enquanto for uma menina frágil e indefesa. Afinal de contas, é a sua herdeira, é a ela que devo servir de agora em diante. Adeus, Bernardino.


Tempo depois, é iniciado o velório. Os caixões estão fechados para preservar a imagem dos falecidos. Guilhermino chega na igreja e anda até o caixão fechado de Bernardino.


GUILHERMINO: Uma pena este caixão estar fechado, seria um enorme prazer vê-lo morto com meus próprios olhos. Já fomos grandes amigos Bernardino, mas você me apunhalou pelas costas, me abandonou num momento em que eu precisava de apoio. Acho que tudo isso foi mais que merecido. É tão irônico que você, um homem que sempre se gabou pelo cuidado que tomou durante a vida, tenha morrido de uma forma tão previsível e trágica. Nos encontramos no inferno, maldito!


Logo é dado o início do cortejo. Todos os presentes no funeral seguem até o cemitério, acompanhando os dois caixões que são postos no mesmo túmulo.




Após a longa e cansativa manhã, Mercedes retorna à grande mansão. Assim que ela entra, o silêncio ensurdecedor da casa é interrompido por uma batida na porta.


TOMÉ: Olá! Mercedes, não é?


MERCEDES: Isso, no que posso lhe ajudar?


TOMÉ: Você deve me conhecer, era um grande amigo de Lúcia.


MERCEDES: Claro que me recordo do senhor. Queira entrar, por favor!


Ele entra e a governanta fecha a porta.


TOMÉ: Perdão se estou incomodando, mas, como sabe, eu era um grande amigo de Lúcia. Nos tornamos próximos desde que ela chegou aqui, a ponto de me convidar para padrinho de sua filha.


MERCEDES: Sei bem.


TOMÉ: Não poderia descansar deixando minha pequena afilhada desamparada. É apenas um bebê, e perdeu a mãe tão cedo… Quero que me conte o que será da menina a partir de hoje, e dizer que estou disposto a criá-la.


MERCEDES: Sabe, Seu Tomé, é esse seu nome, não é? Vejo que é um homem sem muitas condições financeiras. Ganha a vida com uma pequena pensão no centro da cidade, e ainda tem um filho criança para cuidar. Não me leve a mal, mas que tipo de vida o senhor quer dar a essa criança?


TOMÉ: Sou um homem humilde, está certa disso. Mas uma criação não é movida apenas a dinheiro, mas também com afeto, carinho, é isso que tenho a oferecer para a menina.


MERCEDES: Para que criá-la em meio a uma vida tão simples, se ela é uma herdeira? Olhe para os lados, Seu Tomé, tudo isso pertence à pequena Anabel, um dia ela controlará tudo isso. Eu proponho a deixá-la nessa casa, há diversos empregados e minha pessoa também. Estou  disposta a criar a menina, a ensinar tudo o que precisa saber sobre seu mundo. Eu garanto que darei uma ótima educação a ela e transformá-la numa moça comportada e etiquetada, como deve ser. Aposto que o senhor Bernardino e a senhora Lúcia concordariam comigo, afinal, era do desejo deles também.


TOMÉ: Se a senhora diz… Mas eu posso ao menos visitar a menina vez ou outra? Quero acompanhar o crescimento dela, quero que ela saiba que tem um amigo com quem possa contar nos momentos difíceis. Lúcia disse-me uma vez que só me convidou para ser padrinho de sua filha se eu estivesse ao lado dela por todo tempo.


MERCEDES: É lógico que está no seu direito. Visite-a quando puder.


TOMÉ: É muito compreensiva, obrigado por tudo!




Leonel está na fábrica da Cosméticos Sanchez, ele termina uma reunião com diversos homens de terno, na qual ele é apresentado como o novo proprietário da empresa. A reunião é encerrada com aplausos e todos se dirigem para a saída. Do lado de fora, ele está prestes a entrar em seu carro quando é surpreendido por um garoto.


LEONEL: O que há?


GAROTO: Aquele homem mandou eu entregar ao senhor. Desculpa aí, tio.


Leonel recebe um bilhete das mãos do garoto e olha para o outro lado da rua, onde ele apontou, e vê Jarbas, o observando com um sorriso malicioso. Leonel, assustado, entra no carro e pede para o motorista dar partida. Ao se afastar do local, ele abre o bilhete, no qual está escrito: “Cuidado ao andar na rua, ou acabará se afogando no próprio sangue”. O homem fica aflito com a ameaça, pensando nas piores coisas.




Dias se passam. Mais cartas ameaçadoras, partidas do Coronel Guilhermino, chegam a Leonel. O moço anda por todo lugar com a sensação constante de que há alguém o observando. Ao terminar mais um longo dia de trabalho na fábrica, ele parte para casa, onde começa a arrumar algumas malas. Débora, ao vê-lo descendo as escadas carregado de coisas, o questiona.


DÉBORA: Vai viajar?


LEONEL: Vou partir por um tempo, irei cuidar da empresa na sede principal, em São Paulo.


Débora se assusta.


DÉBORA: Por quê? Celine sempre cuidou da empresa por aqui mesmo. Se estiver acontecendo algo, eu irei junto.


LEONEL: Não! Eu estou indo pois quero ficar por dentro de todos os assuntos, sinto que ainda não conquistei a autoridade necessária para controlar a empresa. Preciso que cuide da mansão e fique com sua tia. Será uma mudança temporária, logo mais estarei de volta, eu espero. 




  • Leonel parte para São Paulo, sem saber que ficaria distante por tanto tempo. 

  • Na mesma manhã, Jarbas notifica a Guilhermino que o homem foi embora, e o coronel se sente satisfeito. 

  • Mercedes relata aos empregados sobre como devem ser as coisas com a pequena Anabel, seus horários, as visitas de seu padrinho, etc. 

  • Os planos de Guilhermino para seus funcionários e as reformas na fazenda correm a todo vapor, deixando a todos mais satisfeitos com o trabalho.


E assim, a vida dos personagens segue, passando-se 17 longos anos. Muitas coisas mudaram nesse tempo, agora estamos próximos ao final da década de 1940.


O clima de primavera toma conta da cidade de Riacho das Rosas, as flores espalhando sua beleza por todo canto, um tempo ensolarado entre nuvens ilumina as ruas. Focamos na mansão que, há muito tempo, pertencia a Bernardino, o jardim está mais bonito do que antigamente. Anabel caminha perto de um penhasco que fica atrás da mansão, um grande paredão de pedra que dá numa grande lagoa pela qual a cidade é banhada. Anabel, criada com muita etiqueta pela governanta de sua casa, Mercedes, agora é uma moça educada e está prestes a completar 18 anos, a idade com a qual irá reivindicar sua herança. Ela entra para dentro da mansão, onde dá de cara com Mercedes.


MERCEDES: Anabel? Onde estava?


ANABEL: Estava andando à beira do penhasco, você sabe que eu gosto de ficar por lá.


MERCEDES: Já lhe disse que acho perigoso, e ainda saiu sem seu chapéu? Está um sol escaldante! Estava te procurando, pois o almoço está servido.


ANABEL: Claro! Vou lavar minhas mãos.


A moça se retira e Mercedes revira os olhos.


MERCEDES: Se eu soubesse que seria tão difícil…




Na Vila das Camélias, voltamos à mansão, que era de Celine e agora pertence a Leonel. O poderoso e majestoso jardim, ao contrário do de Anabel, só decaiu ao decorrer do tempo, passando a imagem de que está mal cuidado. Débora, Gláucia, Elias e Flor almoçam juntos na imensa mesa de jantar.


DÉBORA: Então, Elias, Leonel não mandou mais cartas?


ELIAS: Não prima. As últimas notícias que tivemos foi de que ele estava resolvendo alguns problemas financeiros da empresa.


DÉBORA: Algo grave?


ELIAS: Talvez, ele não deu mais informações.


FLOR: Preciso ser rápida, tenho que voltar à fazenda ainda.


GLÁUCIA: Você trabalhando naquela escola no quinto dos inferno, minha filha. Para quê?


FLOR: Eu gosto de ajudar as crianças de lá, o tempo passa tão rápido quando estou naquele lugar.


GLÁUCIA: Mas ainda acho que são muitas horas de trabalho.


FLOR: O Coronel mandou trazer mais uma professora. Assim, não terei mais que cuidar de tudo sozinha.


GLÁUCIA: Pelo menos isso.




O tempo fez bem à fazenda do Coronel Guilhermino. O número de empregados aumentou significativamente, há algumas pequenas casas espalhadas e mais os grandes casarões, um do coronel e o outro dos funcionários. Os capatazes rondam o grande terreno verificando tudo, entre eles, Jarbas e Vitório, que se tornou capataz há pouco tempo. Flor chega à fazenda onde é recebida por Vitório.


VITÓRIO: Tá uma florzinha mesmo hoje, ein. 


FLOR: Se atenha, abusado! Sabe quando a nova professora chega?


VITÓRIO: A previsão está para essa semana, não sei ao certo. Eu queria saber mesmo era quando você vai aceitar meu convite para sair?


FLOR: Vá plantar batatas! Tenho aulas para dar, até!


Flor se retira e Vitório fica olhando para ela indo.




Anabel anda pela cidade toda feliz e saltitante. Ela para na frente da pensão e entra no local.


TOMÉ: Oh, minha querida! Que bom te ver aqui.


Ele abraça a afilhada.


ANABEL: Faz um tempo que não nos vemos, padrinho.


TOMÉ: Pois é! Anda muito movimentado ultimamente. Senta aí que eu vou pegar um pedaço de bolo, acabei de tirar do forno.


ANABEL: E o Lino, onde está?


TOMÉ: Foi na mercearia para mim. Já estou ficando velho, meu corpo não aguenta tanto um passeio desses. Então peço pra ele, que agora é um rapaz forte, né?


ANABEL: Sim, muito forte… Por que vocês não jantam lá em casa algum dia dessa semana?


TOMÉ: Jantar lá, naquela mansão? Eu não tenho toda essa chiqueza não.


ANABEL: Ora, o senhor é meu convidado. E não aceito “não” como resposta.


TOMÉ: Vou pensar…


ANABEL: Amanhã de noite, o senhor e o Lino em minha casa.




Um trem para na estação de Vila das Camélias. Uma mulher desce do trem, a câmera foca apenas em seus sapatos salto alto vermelhos. Ela pega um carro de aluguel, que dá partida logo em seguida.




Débora está no quarto que era de Celine. O local está igual a 17 anos atrás, porém com os móveis completamente empoeirados. A mulher está sentada à penteadeira, com uma caixa repleta de joias em sua frente. Ela vai se enfeitando com uma por uma, colocando e depois tirando, e se admirando no espelho.


DÉBORA: Tudo isso era para ser meu. Há 17 anos estou à espera da minha vingança. Quando Leonel voltar, eu terei tudo o que é meu por direito. Minha vida seria tão mais fácil se não existisse a tonta da Celine para me atrapalhar. 


Ela olha para o quadro de sua irmã, pendurado na parede.


DÉBORA: Maldita! Sempre teve você no meu caminho. Deveria ter morrido mais cedo.




Um carro chega à fazenda de Guilhermino. Várias pessoas se juntam curiosas para saber que chegou. O coronel chega em sua varanda para receber a pessoa.


JARBAS: Chegou este carro aí.


GUILHERMINO: Estou vendo, Jarbas. Creio que seja a nova professora…


Do carro, desce a mulher de saltos vermelhos. A imagem sobe, revelando ser Elza, 17 anos envelhecida.


ENCERRAMENTO

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