“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 20
CENA 1: PENITENCIÁRIA - CELA DE AFONSO - NOITE
O ranger metálico da porta da cela ecoa, pesado. Afonso, com o corpo ainda tremendo do choque da prisão e o medo estampado em seu rosto, é empurrado para dentro por um guarda. A cela é escura, úmida e fétida, um cubículo de concreto com um beliche de metal enferrujado. Três detentos corpulentos já o aguardam. Eles param suas atividades e encaram Afonso com um misto de curiosidade e desprezo. O guarda tranca a porta com um baque surdo, selando o destino do recém-chegado.
Afonso se encolhe, tentando ocupar o menor espaço possível. Seu olhar percorre os outros homens, que carregam hostilidade no olhar.
DETENTO 1: (com um sorriso cruel, cuspindo no chão perto dos pés de Afonso) Olha só quem chegou… Você é o tal Afonso Passarelli que disseram que ia vir, né? Saiu da piscina aquecida e veio parar direto na fossa!
Afonso tenta engolir em seco, mas a garganta está seca. Ele não responde.
DETENTO 2: (dando um passo à frente, os braços cruzados, avaliando Afonso de cima a baixo) Bonitinho ele, né? (dando tapas leves no rosto dele, rindo) Bem bonitinho…
A tensão na cela é palpável. Afonso sente o cheiro de suor e sujeira, misturado ao medo que agora domina cada célula do seu corpo.
DETENTO 3: (ri e aproxima-se ainda mais, apertando o queixo dele com a mão pesada) Você tem umas contas a acertar com a gente, doçura!
O detento solta Afonso com força, que cambaleia para trás. O ar na cela fica pesado. Afonso sente o coração martelar no peito. Ele tenta dar um passo para trás, mas não há para onde ir.
AFONSO: Fica longe de mim…
Detento 3 solta outra risada, desta vez mais alta e debochada. Ele é o primeiro a agir, um movimento rápido e brutal. Um soco direto no estômago de Afonso, que o faz dobrar de dor, soltando um gemido sufocado.
Os outros dois detentos se juntam, como lobos famintos. Detento 2 acerta um gancho no maxilar de Afonso, que cambaleia para trás, batendo na parede fria. Detento 1 o segura pelos ombros, impedindo-o de cair enquanto os outros continuam a desferir golpes.
Pancadas secas e contínuas ecoam na cela. Socos no rosto, no corpo, chutes nas pernas. Afonso tenta se proteger com os braços, mas é inútil. As vozes dos detentos se misturam em um coro de escárnio e fúria contida.
Afonso cai no chão, desajeitado, o corpo em espasmos. Ele tenta se levantar, mas é chutado repetidamente enquanto está caído. O sangue começa a escorrer de seu nariz e boca. As dores são agudas, cada impacto ressoa em seus ossos. Ele se encolhe em posição fetal, tentando proteger a cabeça, mas os golpes não cessam.
Ele ouve as risadas distantes dos detentos, que começam a se afastar, deixando-o ali, em meio à escuridão e à dor.
DETENTO 1: Recepção especial pra você, doçura… ordens do mesmo cara que te enfiou aqui dentro…
O som de passos se afastando. Afonso respira com dificuldade, sentindo o gosto metálico do sangue na boca e o cheiro da sujeira do chão. Ele está sozinho, quebrado.
CENA 02: PENITENCIÁRIA - ENFERMARIA - MANHÃ
No dia seguinte… Afonso está deitado em uma maca simples, com o rosto inchado e arroxeado, um corte no supercílio, e hematomas visíveis nos braços e pescoço. Seus olhos estão inchados, e ele respira com dificuldade. Ao seu redor, Felipe, Nadine, Raí e Celina o cercam, preocupados e apreensivos. Um MÉDICO (50, sério, cansado) está terminando de examinar Afonso.
MÉDICO: Os ferimentos são superficiais, mas a pancada na cabeça exige observação. Ele vai precisar de repouso absoluto e analgésicos. Não há fraturas aparentes, mas o inchaço é considerável.
NADINE: (com a voz embargada) Ele vai ficar bem, doutor? Meu filho…
MÉDICO: Com os cuidados necessários, sim. Agora, se me dão licença, preciso atender outros presos. Qualquer intercorrência, chamem a enfermeira.
O médico faz um aceno e sai, deixando-os a sós.
AFONSO: (falando com dificuldade) Mãe… eu não vou aguentar viver nesse inferno…
FELIPE: Meu filho… Quem fez isso com você?
Afonso tenta se sentar, mas a dor o faz gemer. Raí o ajuda a se apoiar.
AFONSO: (fraco) Os detentos. Assim que eu cheguei na cela.
RAÍ: Foi briga de cela?
AFONSO: Foi encomendado. Foi o Volney... Ele fez isso…
Um choque percorre a família. Nadine derrama uma lágrima, Celina aperta a mão de Afonso, e Felipe e Raí se entreolham, incrédulos e furiosos. Afonso fecha os olhos, exausto.
CENA 03: MANSÃO VON BERGMANN - ESCRITÓRIO - MANHÃ
Caetano fala ao celular.
CAETANO: O serviço foi bem feito? (sorri) Ótimo. A outra parte do pagamento já foi feita.
CORTA PARA:
O mordomo estourando uma garrafa de champanhe. Gisela vibra.
Ela, Marcos e Sabrine têm suas taças servidas por Caetano.
GISELA: Ao sucesso do nosso plano!
MARCOS: (brindando com entusiasmo) Pra ficar melhor ainda, só indo lá ver o Afonso todo arrebentado!
SABRINE: (ri, satisfeita) Esse foi um golpe de mestre, tia!
GISELA: (venenosa) O que é um passarinho verde perto de um elefante na selva, minha querida? O Afonso precisava sentir na pele o que é ver a vida desabar.
CAETANO: (com um sorriso discreto, quase imperceptível, servindo mais champanhe) Um serviço muito bem executado, Dona Gisela.
Gisela sorri para Caetano, cúmplice.
CLOSE NO CELULAR DE GISELA, em cima da mesa. A tela está apagada. Uma luz quase imperceptível pisca ao lado da câmera frontal — está sendo monitorado.
GISELA: E a cereja do bolo é que a família daquele idiota vai culpar o Volney… (para Sabrine) Como você mesma sugeriu, querida sobrinha. Dois coelhos com uma cajadada só.
Marcos e Sabrine riem, brindando novamente.
CORTA PARA
MANSÃO PASSARELLI - QUARTO DE JAQUELINE - MANHÃ
Enquanto isso, Jaqueline ouve toda a conversa pela escuta no celular de Gisela. Ela arranca os fones plugados no notebook, furiosa.
JAQUELINE: (com ódio) Filhos da puta...
CORTA PARA
MANSÃO PASSARELLI - SALA DE ESTAR - MANHÃ
Felipe, Nadine, Celina e Cláudia conversam no sofá.
FELIPE: Eu não entendo como o Volney foi capaz de descer tão baixo...
CLÁUDIA: Vai ver quis devolver na mesma moeda, né?
NADINE: Mas mandar espancar o meu filho? Deixar ele daquele jeito? Todo quebrado? O Afonso mal consegue respirar…
Ela chora, desolada.
CELINA: A gente precisa fazer alguma coisa. Ele não pode continuar naquele lugar. Primeiro essa surra... e depois? Pode morrer lá dentro!
FELIPE: O advogado tá recorrendo pra ele responder em liberdade!
Jaqueline desce as escadas correndo.
JAQUELINE: Gente, para! (todos olham pra ela) Não foi o Volney que mandou fazer isso com o Afonso.
FELIPE: Como assim?
JAQUELINE: Acabei de ouvir a conversa da Gisela pela escuta que instalei no celular dela. Quem encomendou a surra foi ela! Junto com o Marcos e a Sabrine!
Todos ficam chocados.
CELINA: Meu Deus… E o Raí foi direto pra casa do Volney tirar satisfação… Do jeito que ele tava, é capaz de matar o coitado!
NADINE: (pegando o celular) Eu vou ligar pra ele!
Jaqueline nem hesita. Vai até a porta, abre e sai em disparada.
CENA 04: CASA DE VOLNEY – SALA – MANHÃ
A campainha soa estridente. Estela abre a porta e Raí invade com fúria nos olhos.
ESTELA: Que isso, Raí?!
RAÍ: Cadê o Volney?!
ESTELA: Tá lá no quintal...
Raí não espera. Vai passando reto, em passos duros. Estela percebe a tensão, se assusta e vai atrás dele, preocupada.
ESTELA: Raí, o que você quer com meu filho?!
A porta fica escancarada. Do outro lado da rua, um carro estaciona. Jaqueline desce, apressada. Vê a porta aberta, entra. Determinada.
CORTA PARA:
CASA DE VOLNEY – QUINTAL – MANHÃ
Volney, sem camisa, termina de prender sua prancha de surf próximo à lavanderia. O sol da manhã reflete nos azulejos molhados. Ele se vira e leva um susto ao dar de cara com Raí.
RAÍ: (grita, avançando e agarrando o pescoço dele) O que você fez com meu irmão, seu desgraçado?!
VOLNEY: (surpreso, tentando se soltar) O quê? Tá maluco?!
ESTELA: (chega logo atrás, tentando separar) Solta o meu filho, Raí! Que loucura é essa?!
RAÍ: Você não se contentou em mandar o Afonso pra cadeia?! Mandou espancar ele lá dentro, seu canalha!
Volney arregala os olhos, chocado. Ele não entende nada.
VOLNEY: Como é que é?! Você tá delirando?!
Raí levanta o braço, pronto pra bater.
Nesse instante, Jaqueline entra correndo e se coloca entre os dois. Estela puxa Raí pelo braço, tentando conter a confusão.
JAQUELINE: Para, Raí! Foi a Gisela! Não foi o Volney!
RAÍ: O quê?!
VOLNEY: (sem reação, ainda atordoado) Gisela…?
JAQUELINE: Foi ela. A Gisela mandou espancar o Afonso. E não foi só ela. O Marcos, a Sabrine e o Caetano também estavam juntos. E mandaram espalhar que tinha sido o Volney!
Raí solta os ombros, atônito. Volney encosta na parede da lavanderia, tentando absorver tudo.
VOLNEY: (baixo, para si mesmo) Filhos da mãe…
Estela se aproxima de Volney, o abraça, assustada. Raí dá um passo para trás. O ódio vira perplexidade.
CENA 05: BERGMANN PRIVÉ – SALA DA DIRETORIA – MANHÃ
Susane serve café com elegância para José Carlos e Nelson, que estão sentados frente a frente. Em seguida, ela se retira com discrição, levando a bandeja.
NELSON: (malicioso) Agora que estamos a sós, a gente bem que podia trancar essa porta, hein? Só nós dois... você sabe.
JOSÉ CARLOS: (sério, direto) Nelson, eu te chamei aqui pra falar de uma coisa muito séria.
NELSON: (franzindo a testa, curioso) Assunto sério?
JOSÉ CARLOS: É sobre sua filha.
NELSON: (solta um risinho cínico) O que foi que a Gisela aprontou dessa vez?
JOSÉ CARLOS: (suspira, tenso) Não tô falando da Gisela. A filha que eu tô mencionando... é outra.
Nelson perde o sorriso. Endurece o semblante.
NELSON: (pausado) Do que é que você tá falando?
JOSÉ CARLOS: (olhando firme nos olhos dele) Da filha que você teve com a Cláudia… a antiga empregada da mansão. Essa filha cresceu… e tá bem mais próxima do que você imagina.
Nelson não fala, apenas encara, atônito.
JOSÉ CARLOS: (com um leve sorriso amargo) É a Jaqueline. A minha amante.
Nelson empalidece. O choque toma conta dele.
CENA 06: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE ESTAR – MANHÃ
Gisela, sentada no sofá ainda tomando um gole de champanhe enquanto que Marcos mexe em seu celular e Sabrine retoca sua maquiagem diante de um espelho de bolsa. A campainha toca.
A empregada cruza discretamente a sala e abre a porta.
EMPREGADA: Pois não?
Volney está parado ali. Um olhar gelado. Ele entra sem pedir licença.
Marcos e Sabrine se levantam no reflexo, tensos. Gisela o encara, altiva, com um sorriso de canto venenoso.
GISELA: Ora, ora… Volney! Que surpresa. A que devo à honra dessa visita tão inesperada?
VOLNEY: (sério, engolindo a raiva) Você é mesmo muito cínica né, Gisela? Aliás, vocês três! Acharam mesmo que podiam fazer tudo isso e sair impunes?
GISELA: (finge inocência) Eu não sei do que você está falando, meu amor.
VOLNEY: (voz carregada) Para de bancar a sonsa, sua vagabunda! E você, hein, Marcos? Foi lá em casa, me convenceu a entregar o Afonso pra polícia pra no fim de tudo ainda fazer o que fez com ele? Você é mesmo muito baixo!
MARCOS: E ainda foi pouco! Aquele estrume de lixo merecia morrer de uma vez por todas pra parar de se meter entre mim e o Otávio!
Volney desfere um soco seco no rosto de Marcos, que cai no sofá feito uma jaca madura.
SABRINE: (grita) VOCÊ TÁ LOUCO?!
VOLNEY: Vocês ainda não viram nada!
GISELA: (levantando-se, furiosa) VOCÊ TÁ ACHANDO QUE MINHA CASA É UM BREGA, QUE VOCÊ PODE ENTRAR E FAZER O QUE QUISER?
Nesse momento, Otávio desce as escadas correndo, ouvindo o tumulto. Para no meio da escada, atordoado.
OTÁVIO: (surpreso) Volney? O que você tá fazendo aqui?
VOLNEY: (olhando pra ele, ofegante) Eu vim aqui pra acertar as contas com esses três canalhas aí… que mandaram espancar o Afonso na cadeia, armaram tudo e ainda me fizeram de bode expiatório.
Otávio paralisa. O silêncio pesa como concreto. Ele olha para Gisela, incrédulo.
OTÁVIO: (reage, chocado, em desespero) Como assim, que história é essa, o Afonso foi espancado?
VOLNEY: (para Gisela, Marcos e Sabrine) Explica pra ele! Explica!
OTAVIO: Mãe... é verdade o que ele tá dizendo?
CLOSE EM GISELA, encurralada.
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