Paixões & Legados
Escrita por Fafá
Faixa das 18h
Elza se dirige ao Coronel Guilhermino.
ELZA: Prazer em conhecê-lo, coronel.
GUILHERMINO: O prazer é todo meu.
Ele beija a mão dela.
GUILHERMINO: És uma mulher bonita, tem um certo charme.
ELZA: Obrigada pelo elogio! Gostaria de saber onde dormirei.
GUILHERMINO: Se quiser, fique em minha casa mesmo. Adoraria tê-la como companheira.
ELZA: Todos dormem aqui com o senhor?
GUILHERMINO: Claro que não, é uma cortesia minha.
ELZA: Acho que o coronel não entendeu o tom da nossa conversa. Vim para cá a trabalho, e não para bater papo com um velho carente feito o senhor. Sou uma mulher de respeito, portanto, me trate como tal.
GUILHERMINO: Peço perdão à senhorita. Você pode então ficar na mesma casa de sua colega, Flor, é a mais perto da escola. Ela também é solteira, logo está sozinha.
ELZA: Ótimo! Alguma declaração a mais?
GUILHERMINO: Não há nada que eu possa fazer para desencadear este seu coração?
ELZA: Se me deixar em paz e ficar o mais distante possível, talvez eu possa gostar do senhor.
Guilhermino sente a patada.
ELZA: E então, quem me acompanha até minha nova moradia?
GUILHERMINO: JARBAS! Leve a mulher até lá.
Jarbas faz um sinal para ela acompanhá-lo e os dois seguem pelo caminho. Guilhermino ainda se sente desafiado por Elza e decide descontar sua raiva em alguém. Ele olha para o motorista do carro, que ainda está ali.
GUILHERMINO: E você? Está esperando o que para dar o fora daqui? Ninguém quer carona até a cidade.
MOTORISTA: Aquela mulher disse que o senhor iria pagar pela viagem.
Guilhermino fica incrédulo.
Jarbas e Elza chegam na frente de uma pequena casa no meio da mata.
JARBAS: É aqui onde a senhorita ficará. Quer ajuda com as malas?
ELZA: Por favor! E onde fica a escola?
O capataz aponta para a direita.
JARBAS: Só seguir para lá.
ELZA: Obrigada…
Elza observa o homem mais calmamente.
ELZA: Já nos conhecemos?
Ele para pra vê-la também e sua expressão muda.
JARBAS: Não, impressão sua. Vou indo!
Ele sai e ela fica pensativa.
Lino chega na pensão carregando diversas sacolas.
LINO: Aqui estão as coisas que o senhor me pediu.
TOMÉ: Perfeito, meu filho. Enquanto você esteve fora, Anabel apareceu por aqui.
LINO: Anabel? Ela já foi embora?
TOMÉ: Já. Veio nos fazer um convite, de jantarmos com ela hoje à noite.
LINO: Jantar? Você disse que iríamos, não é?
TOMÉ: Disse que pensaria.
LINO: Apois o senhor fique pensando, porque eu decidi que vou.
TOMÉ: Você anda muito abusado, menino! Vá terminar de pintar a fachada da pensão, logo! E, talvez, eu decida se vamos.
LINO: Isso não é justo! Anabel nos convidou, não podemos fazer uma desfeita dessas.
TOMÉ: Vá logo!
Lino sai para fora, batendo os pés.
Débora desce as escadas da mansão, com um sorriso enorme estampado no rosto. Gláucia, que está tricotando, olha para a sobrinha.
GLÁUCIA: Que brincos bonitos, vai ir a algum lugar?
DÉBORA: Não, titia. Me enfeitei, pois gosto de ficar bonita.
GLÁUCIA: Engraçado, esses brincos, esse colar… sinto que já os vi antes.
DÉBORA: Elias está em casa?
GLÁUCIA: Não!
DÉBORA: Pois então, essas jóias eram de Celine.
GLÁUCIA: Como é? Mulher, se Leonel descobrir que você andou usando as joias que eram de sua irmã…
DÉBORA: Ele só descobrirá se a senhora abrir o bico. Ai tia, são joias tão bonitas, é um pecado deixá-las dentro de uma caixa.
GLÁUCIA: Elas não lhe pertencem!
DÉBORA: E se eu não usar, quem usaria? Leonel?
GLÁUCIA: Vai ver, ele está guardando para uma futura pretendente…
DÉBORA: E o que impede de eu ser essa pretendente? Sou uma mulher solteira, temos quase a mesma idade, somos da mesma classe social. Quem sabe eu consiga abrir o coração do solitário Leonel…
Elza chega à escola para conhecer o local.
FLOR: Deve ser a nova professora, creio eu.
ELZA: Prazer, Elza!
FLOR: Me chamo Flor!
ELZA: E as crianças? Achei que estivessem por aqui ainda.
FLOR: Parece que os trabalhadores foram liberados mais cedo hoje, dizem que há uma tempestade se aproximando.
ELZA: É disso que o Vale das Flores estava precisando. Enquanto estava no trem, via pela janela o quão seca está a vegetação. Tem chovido pouco ultimamente.
FLOR: Você vem de onde?
ELZA: Roseiras, morava com meu pai e lecionava na escola de lá. Ele veio a falecer algumas semanas atrás, estava doente há muitos anos. Já que não me dava muito bem com o povo de lá, decidi ir embora, e acabei aqui.
FLOR: Eles tinham algum problema com você?
ELZA: Algo que aconteceu na minha juventude… Enfim, não quero lembrar disso agora. Vamos para casa?
FLOR: Vamos!
Guilhermino está em sua varanda, fumando um cigarro, e Jarbas ao seu lado.
GUILHERMINO: Tem certeza disso?
JARBAS: Absoluta! A nova professora era noiva do tal Leonel.
GUILHERMINO: Há 17 anos eu achava que ela estaria escondendo-o, agora acho que ela o odeia. Talvez eu consiga uma aliança para destruir esse sujeito…
Anabel chega em sua casa. Ela senta no sofá e tira suas luvas e seu chapéu.
MERCEDES: Onde a senhorita estava?
ANABEL: Fui dar uma volta pela cidade, estava tão entediada. Até aproveitei para visitar meu padrinho.
MERCEDES: O que eu já lhe disse sobre sair sozinha? É perigoso! Uma moça como a senhorita tem que sair acompanhada.
ANABEL: Você fala como se um acompanhante me livrasse de qualquer mal dessas ruas.
MERCEDES: Mas é verdade. Um homem acompanhando uma moça é uma garantia de segurança.
ANABEL: Se isso fosse verdade, meus pais não teriam morrido naquela noite.
As palavras da moça pesam o clima.
ANABEL: Só quero avisar que receberei meu padrinho e seu filho hoje à noite, prepare o jantar para todos.
MERCEDES: Como?
Anabel sobe as escadas em direção ao seu quarto.
MERCEDES: Era só o que me faltava.
No fim da tarde, a chuva chega à fazenda de Guilhermino. Elza está em sua nova moradia, observando a chuva pela janela.
FLOR: Quer um café?
ELZA: Aceito!
O silêncio se instaura enquanto Flor entrega uma xícara a Elza.
ELZA: Aquele homem, capataz do coronel…
FLOR: Jarbas? O que tem?
ELZA: Ele está há muito tempo aqui?
FLOR: Dizem que ele está aqui há muitos anos. É o maior capacho do coronel, está sempre envolvido em algum trabalho sujo do homem.
ELZA: Percebo que esse coronel não é flor que se cheire.
FLOR: É um homem terrível. Mas, por mais incrível que pareça, essa fazenda já esteve numa situação pior.
ELZA: Engraçado, eu acho que já vi esse Jarbas em algum lugar. Tenho a impressão de que já conversamos outra vez.
FLOR: Sinto muito se isso realmente aconteceu.
Elza continua pensativa enquanto bebe seu café, olhando pela janela.
A noite cai. As nuvens pesadas vão se aproximando também de Riacho das Rosas. Anabel espera por seus convidados na sala.
MERCEDES: Não teria tanta certeza de que eles vêm, uma forte chuva se aproxima.
ANABEL: Continuo achando que eles chegarão, essa chuva não me parece nada demais.
Após alguns instantes, é ouvida uma batida na porta.
ANABEL: Não disse? Eu mesma abro!
Anabel abre a porta e recebe Tomé e Lino, ambos estão muito bem vestidos.
LINO: Soube que esteve em minha casa mais cedo, peço desculpas por não estar lá para recebê-la.
ANABEL: Ora, e como adivinharia que eu estaria lá?
LINO: Mesmo assim, trouxe-lhe esta rosa, como pedido de desculpas.
Ele entrega a flor que estava escondida nas suas costas.
ANABEL: Obrigada! Você sempre tão gentil e cavalheiro…
LINO: É apenas um jeito de me expressar.
MERCEDES: O jantar será servido. Queiram ir até a mesa.
Os três se dirigem até a sala de jantar, onde sentam nas cadeiras esperando pela comida. Do lado de fora, a chuva começa a cair.
TOMÉ: Está caindo o mundo lá fora. Mas eu, prevenido como sou, trouxe um guarda-chuva.
ANABEL: Se precisarem, eu peço ao meu motorista que os deixem em casa.
TOMÉ: Não precisa se preocupar, eu e Lino damos um jeito, não é?
LINO: Claro! Ah, Anabel, meu pai me disse que seu aniversário está chegando.
ANABEL: É mesmo! Ainda estou pensando se faço algo para comemorar. Mercedes me aconselhou a fazer um pequeno jantar, apenas para os mais próximos. É claro que estão convidados, desde já.
TOMÉ: E você, Mercedes? Está apenas olhando, por que não se junta a nós?
MERCEDES: Estou aqui apenas para servi-los, não é certo que a governanta se junte aos seus patrões e convidados.
ANABEL: Mercedes sempre me diz essas coisas, desde que era apenas uma criança. Sempre quis deixar bem claro que cada um tem seu lugar.
LINO: Então você sempre come sozinha?
ANABEL: Sim, mas já estou acostumada.
TOMÉ: Para mim, isso tudo é frescura. Esses momentos que dividimos, quando estamos à mesa, são tão únicos, ninguém deveria recusar algo assim. Minha querida, sinta-se à vontade se quiser ir até nossa casa para almoçar conosco, nem precisa avisar!
ANABEL: Obrigada, padrinho! Deveríamos repetir mais momentos como esse, ao longo do tempo nos distanciamos tanto…
TOMÉ: Infelizmente. Ultimamente ando tão ocupado com os afazeres da pousada, as reformas e cada vez mais hóspedes chegando.
ANABEL: Se precisarem de alguma ajuda financeira, podem pedir a mim. Faria muito gosto de lhes ajudar.
TOMÉ: Imagine, não se preocupe!
A chuva começa a cair mais fortemente, com direito a raios e trovões. É ouvida uma batida na porta da grande mansão.
LINO: Está esperando mais alguém?
ANABEL: Não… Mercedes, abra a porta.
Mercedes anda na direção da entrada. Anabel se levanta e vai atrás. A governanta abre a porta, revelando um rapaz bem arrumado, com cerca de 20 anos de idade.
ANABEL: No que posso ajudar?
VALENTIM: Olá! Me chamo Valentim, prazer! É aqui onde mora o senhor Bernardino?
ANABEL: Bernardino? Meu pai? Ele faleceu há 17 anos atrás. Quem é o senhor?
VALENTIM: Venho do Rio de Janeiro, e tenho certeza de que esse homem é meu pai.
Todos se chocam com a revelação.
ENCERRAMENTO
Nenhum comentário:
Postar um comentário