Paixões & Legados - Capítulo 12 (05/10/2024)

 


Paixões & Legados

Escrita por Fafá

Faixa das 18h


Elza se dirige ao Coronel Guilhermino.


ELZA: Prazer em conhecê-lo, coronel.


GUILHERMINO: O prazer é todo meu.


Ele beija a mão dela.


GUILHERMINO: És uma mulher bonita, tem um certo charme.


ELZA: Obrigada pelo elogio! Gostaria de saber onde dormirei. 


GUILHERMINO: Se quiser, fique em minha casa mesmo. Adoraria tê-la como companheira.


ELZA: Todos dormem aqui com o senhor?


GUILHERMINO: Claro que não, é uma cortesia minha.


ELZA: Acho que o coronel não entendeu o tom da nossa conversa. Vim para cá a trabalho, e não para bater papo com um velho carente feito o senhor. Sou uma mulher de respeito, portanto, me trate como tal.


GUILHERMINO: Peço perdão à senhorita. Você pode então ficar na mesma casa de sua colega, Flor, é a mais perto da escola. Ela também é solteira, logo está sozinha.


ELZA: Ótimo! Alguma declaração a mais?


GUILHERMINO: Não há nada que eu possa fazer para desencadear este seu coração?


ELZA: Se me deixar em paz e ficar o mais distante possível, talvez eu possa gostar do senhor.


Guilhermino sente a patada.


ELZA: E então, quem me acompanha até minha nova moradia?


GUILHERMINO: JARBAS! Leve a mulher até lá.


Jarbas faz um sinal para ela acompanhá-lo e os dois seguem pelo caminho. Guilhermino ainda se sente desafiado por Elza e decide descontar sua raiva em alguém. Ele olha para o motorista do carro, que ainda está ali.


GUILHERMINO: E você? Está esperando o que para dar o fora daqui? Ninguém quer carona até a cidade.


MOTORISTA: Aquela mulher disse que o senhor iria pagar pela viagem.


Guilhermino fica incrédulo.




Jarbas e Elza chegam na frente de uma pequena casa no meio da mata.


JARBAS: É aqui onde a senhorita ficará. Quer ajuda com as malas?


ELZA: Por favor! E onde fica a escola?


O capataz aponta para a direita.


JARBAS: Só seguir para lá.


ELZA: Obrigada…


Elza observa o homem mais calmamente.


ELZA: Já nos conhecemos?


Ele para pra vê-la também e sua expressão muda.


JARBAS: Não, impressão sua. Vou indo!


Ele sai e ela fica pensativa.




Lino chega na pensão carregando diversas sacolas.


LINO: Aqui estão as coisas que o senhor me pediu.


TOMÉ: Perfeito, meu filho. Enquanto você esteve fora, Anabel apareceu por aqui.


LINO: Anabel? Ela já foi embora?


TOMÉ: Já. Veio nos fazer um convite, de jantarmos com ela hoje à noite.


LINO: Jantar? Você disse que iríamos, não é?


TOMÉ: Disse que pensaria.


LINO: Apois o senhor fique pensando, porque eu decidi que vou.


TOMÉ: Você anda muito abusado, menino! Vá terminar de pintar a fachada da pensão, logo! E, talvez, eu decida se vamos.


LINO: Isso não é justo! Anabel nos convidou, não podemos fazer uma desfeita dessas.


TOMÉ: Vá logo!


Lino sai para fora, batendo os pés.




Débora desce as escadas da mansão, com um sorriso enorme estampado no rosto. Gláucia, que está tricotando, olha para a sobrinha.


GLÁUCIA: Que brincos bonitos, vai ir a algum lugar?


DÉBORA: Não, titia. Me enfeitei, pois gosto de ficar bonita.


GLÁUCIA: Engraçado, esses brincos, esse colar… sinto que já os vi antes.


DÉBORA: Elias está em casa?


GLÁUCIA: Não!


DÉBORA: Pois então, essas jóias eram de Celine.


GLÁUCIA: Como é? Mulher, se Leonel descobrir que você andou usando as joias que eram de sua irmã…


DÉBORA: Ele só descobrirá se a senhora abrir o bico. Ai tia, são joias tão bonitas, é um pecado deixá-las dentro de uma caixa.


GLÁUCIA: Elas não lhe pertencem! 


DÉBORA: E se eu não usar, quem usaria? Leonel?


GLÁUCIA: Vai ver, ele está guardando para uma futura pretendente…


DÉBORA: E o que impede de eu ser essa pretendente? Sou uma mulher solteira, temos quase a mesma idade, somos da mesma classe social. Quem sabe eu consiga abrir o coração do solitário Leonel…




Elza chega à escola para conhecer o local.


FLOR: Deve ser a nova professora, creio eu.


ELZA: Prazer, Elza!


FLOR: Me chamo Flor! 


ELZA: E as crianças? Achei que estivessem por aqui ainda.


FLOR: Parece que os trabalhadores foram liberados mais cedo hoje, dizem que há uma tempestade se aproximando.


ELZA: É disso que o Vale das Flores estava precisando. Enquanto estava no trem, via pela janela o quão seca está a vegetação. Tem chovido pouco ultimamente.


FLOR: Você vem de onde?


ELZA: Roseiras, morava com meu pai e lecionava na escola de lá. Ele veio a falecer algumas semanas atrás, estava doente há muitos anos. Já que não me dava muito bem com o povo de lá, decidi ir embora, e acabei aqui.


FLOR: Eles tinham algum problema com você?


ELZA: Algo que aconteceu na minha juventude… Enfim, não quero lembrar disso agora. Vamos para casa?


FLOR: Vamos!




Guilhermino está em sua varanda, fumando um cigarro, e Jarbas ao seu lado.


GUILHERMINO: Tem certeza disso?


JARBAS: Absoluta! A nova professora era noiva do tal Leonel.


GUILHERMINO: Há 17 anos eu achava que ela estaria escondendo-o, agora acho que ela o odeia. Talvez eu consiga uma aliança para destruir esse sujeito…




Anabel chega em sua casa. Ela senta no sofá e tira suas luvas e seu chapéu.


MERCEDES: Onde a senhorita estava?


ANABEL: Fui dar uma volta pela cidade, estava tão entediada. Até aproveitei para visitar meu padrinho.


MERCEDES: O que eu já lhe disse sobre sair sozinha? É perigoso! Uma moça como a senhorita tem que sair acompanhada.


ANABEL: Você fala como se um acompanhante me livrasse de qualquer mal dessas ruas.


MERCEDES: Mas é verdade. Um homem acompanhando uma moça é uma garantia de segurança.


ANABEL: Se isso fosse verdade, meus pais não teriam morrido naquela noite.


As palavras da moça pesam o clima.


ANABEL: Só quero avisar que receberei meu padrinho e seu filho hoje à noite, prepare o jantar para todos.


MERCEDES: Como?


Anabel sobe as escadas em direção ao seu quarto.


MERCEDES: Era só o que me faltava.




No fim da tarde, a chuva chega à fazenda de Guilhermino. Elza está em sua nova moradia, observando a chuva pela janela.


FLOR: Quer um café?


ELZA: Aceito!


O silêncio se instaura enquanto Flor entrega uma xícara a Elza.


ELZA: Aquele homem, capataz do coronel…


FLOR: Jarbas? O que tem?


ELZA: Ele está há muito tempo aqui?


FLOR: Dizem que ele está aqui há muitos anos. É o maior capacho do coronel, está sempre envolvido em algum trabalho sujo do homem.


ELZA: Percebo que esse coronel não é flor que se cheire.


FLOR: É um homem terrível. Mas, por mais incrível que pareça, essa fazenda já esteve numa situação pior.


ELZA: Engraçado, eu acho que já vi esse Jarbas em algum lugar. Tenho a impressão de que já conversamos outra vez.


FLOR: Sinto muito se isso realmente aconteceu.


Elza continua pensativa enquanto bebe seu café, olhando pela janela.




A noite cai. As nuvens pesadas vão se aproximando também de Riacho das Rosas. Anabel espera por seus convidados na sala.


MERCEDES: Não teria tanta certeza de que eles vêm, uma forte chuva se aproxima.


ANABEL: Continuo achando que eles chegarão, essa chuva não me parece nada demais.


Após alguns instantes, é ouvida uma batida na porta.


ANABEL: Não disse? Eu mesma abro!


Anabel abre a porta e recebe Tomé e Lino, ambos estão muito bem vestidos.


LINO: Soube que esteve em minha casa mais cedo, peço desculpas por não estar lá para recebê-la.


ANABEL: Ora, e como adivinharia que eu estaria lá?


LINO: Mesmo assim, trouxe-lhe esta rosa, como pedido de desculpas.


Ele entrega a flor que estava escondida nas suas costas.


ANABEL: Obrigada! Você sempre tão gentil e cavalheiro…


LINO: É apenas um jeito de me expressar. 


MERCEDES: O jantar será servido. Queiram ir até a mesa.


Os três se dirigem até a sala de jantar, onde sentam nas cadeiras esperando pela comida. Do lado de fora, a chuva começa a cair.


TOMÉ: Está caindo o mundo lá fora. Mas eu, prevenido como sou, trouxe um guarda-chuva.


ANABEL: Se precisarem, eu peço ao meu motorista que os deixem em casa.


TOMÉ: Não precisa se preocupar, eu e Lino damos um jeito, não é?


LINO: Claro! Ah, Anabel, meu pai me disse que seu aniversário está chegando.


ANABEL: É mesmo! Ainda estou pensando se faço algo para comemorar. Mercedes me aconselhou a fazer um pequeno jantar, apenas para os mais próximos. É claro que estão convidados, desde já.


TOMÉ: E você, Mercedes? Está apenas olhando, por que não se junta a nós?


MERCEDES: Estou aqui apenas para servi-los, não é certo que a governanta se junte aos seus patrões e convidados.


ANABEL: Mercedes sempre me diz essas coisas, desde que era apenas uma criança. Sempre quis deixar bem claro que cada um tem seu lugar.


LINO: Então você sempre come sozinha?


ANABEL: Sim, mas já estou acostumada.


TOMÉ: Para mim, isso tudo é frescura. Esses momentos que dividimos, quando estamos à mesa, são tão únicos, ninguém deveria recusar algo assim. Minha querida, sinta-se à vontade se quiser ir até nossa casa para almoçar conosco, nem precisa avisar! 


ANABEL: Obrigada, padrinho! Deveríamos repetir mais momentos como esse, ao longo do tempo nos distanciamos tanto…


TOMÉ: Infelizmente. Ultimamente ando tão ocupado com os afazeres da pousada, as reformas e cada vez mais hóspedes chegando. 


ANABEL: Se precisarem de alguma ajuda financeira, podem pedir a mim. Faria muito gosto de lhes ajudar.


TOMÉ: Imagine, não se preocupe!


A chuva começa a cair mais fortemente, com direito a raios e trovões. É ouvida uma batida na porta da grande mansão.


LINO: Está esperando mais alguém?


ANABEL: Não… Mercedes, abra a porta.


Mercedes anda na direção da entrada. Anabel se levanta e vai atrás. A governanta abre a porta, revelando um rapaz bem arrumado, com cerca de 20 anos de idade.


ANABEL: No que posso ajudar?


VALENTIM: Olá! Me chamo Valentim, prazer! É aqui onde mora o senhor Bernardino?


ANABEL: Bernardino? Meu pai? Ele faleceu há 17 anos atrás. Quem é o senhor?


VALENTIM: Venho do Rio de Janeiro, e tenho certeza de que esse homem é meu pai.


Todos se chocam com a revelação.


ENCERRAMENTO

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