Jonas se espanta com a revelação do pai.
JONAS: Do que o senhor está falando? Eu já ouvi falar da morte desse Bernardino, mas ele morreu num assalto.
CRISTINO: E fui eu quem puxei o gatilho daquela arma. Eu que estava lá, naquela rua, naquela noite.
JONAS: Não… Eu não… Não consigo acreditar. Isso não faz nenhum sentido, pai. O senhor não é um bandido.
CRISTINO: Eu estava desesperado. Havia sido demitido do meu emprego, sua mãe havia nos abandonado. Eu precisava dar um jeito de criar você, meu filho, nós estávamos sendo ameaçados de despejo da nossa casa, eu precisava fazer alguma coisa…
JONAS (Triste): Então o senhor assaltou aquele casal?
CRISTINO: Não! Tem muito mais coisas envolvidas do que você imagina. O assalto foi só um disfarce para um assassinato comprado. Um dia eu estava procurando trabalho no centro da cidade, mas perdi as esperanças quando não encontrei nada. Até que um homem me viu, ele se aproximou de mim e começou a me fazer perguntas. Quando contei toda a minha atual situação a ele, o homem propôs que eu o ajudasse num trabalho, dizendo que eu teria um bom retorno em dinheiro. Eu aceitei.
JONAS: E ele cumpriu sua palavra?
CRISTINO: Sim! Naquela noite, nós matamos o casal e roubamos as coisas de valor para parecer um assalto. Nós dividimos tudo igualmente, pois o mandante dele não estava interessado nas jóias e etc. Tudo era muito valioso, eu vendi e consegui um bom dinheiro para vivermos melhor, apenas mantive o máximo que pude.
JONAS: E o que isso tem a ver com o senhor estar neste estado? Deitado nesta maca, cheio de ferimentos.
CRISTINO: Eu cometi alguns erros. Perdi grande parte do dinheiro. E esse crime sempre me assombrou, nunca fiquei em paz depois que fiz isso. Eu decidi contar tudo, me comuniquei com o homem, e disse que se ele não me ajudasse eu iria até a polícia. Ele marcou um encontro comigo num local mais isolado, mas era uma armadilha. Ele tentou me matar.
JONAS: Mas, afinal de contas, quem é esse homem?
CRISTINO: Eu…
Nesse momento, Cristino aperta seu braço esquerdo com a mão e começa a se contorcer de dor. É um infarto. Jonas grita por ajuda, os médicos vão correndo até o homem, e tiram o rapaz do local. Tempo depois, Jonas está no corredor. O médico se aproxima.
MÉDICO: Tentamos fazer o possível, mas… Eu sinto muito!
Jonas desaba no choro, inconsolável.
Todos os empregados da fazendo vão se aproximando do pátio do casarão, para celebrar o casamento do Coronel. O velho homem está com um terno bem charmoso, na varanda do casarão, observando o local com um sorriso no rosto.
GUILHERMINO (Sorrindo): Esperei décadas por esse momento, e finalmente consegui realizar meu desejo.
Jarbas acompanha a costureira, indo na direção do patrão.
GUILHERMINO: O que querem?
JARBAS: Trouxe a estilista para fazer o pagamento do vestido.
COSTUREIRA (Sorrindo): O cheque!
Ela entrega o documento ao homem.
GUILHERMINO: Era só o que me faltava! Num momento feliz como esse, sou obrigado a falar de dinheiro…
Ele olha o valor escrito.
GUILHERMINO (Assustado): Ma… Ma… Ma… Mas o que que é isso? Um assalto? Que preço absurdo é esse? Tudo isso só para costurar um pedaço de pano?
COSTUREIRA: Fiz do jeito que sua noiva queria, e ainda foi pedido quase que em cima da hora. Há vários fatores que deram nesse preço.
GUILHERMINO: Isso é um absurdo!
COSTUREIRA: Sua noiva disse que está disposto a pagar por qualquer valor.
Guilhermino revira os olhos.
GUILHERMINO: Maldita! Venha, vou assinar.
Os dois entram no casarão.
JARBAS (Se divertindo): Essa professora vai ser o karma do Coronel.
Débora e Gláucia estão arrumadas e bem-vestidas.
DÉBORA: Que chatice ir a esse casamento. Por que raios de motivo fomos convidadas?
GLÁUCIA: Somos uma das famílias mais ricas da região. Eu estou gostando, afinal, faz tempo que eu não saio assim para uma festa. Me admira não estar usando as roupas da sua irmã.
DÉBORA: Apenas os saltos! Não sujo os meus de barro por nada.
GLÁUCIA: Vamos indo, pois Elias não irá.
DÉBORA: E por que não?
GLÁUCIA: Parece que o amigo dele está passando por um momento difícil.
Jonas está ao lado do corpo do seu pai, tapado com um lençol branco.
JONAS (Abatido): Perdoe-me por tudo de mal que eu já lhe disse, pai. O senhor errou muito, isso é inegável, mas sempre foi por mim que você fez essas coisas. E eu juro que vou descobrir quem fez isso com você, e vou me vingar!
Ele limpa suas lágrimas e sai do local.
No lado de fora do hospital, Elias está à sua espera. O rapaz abraça o amigo, tentando consolá-lo.
ELIAS: Sinto muito pelo seu pai! Se precisar de qualquer coisa, não hesite em falar comigo.
JONAS: Obrigado! Eu ainda preciso planejar o velório e o enterro…
ELIAS: Eu vou com você, não vou te deixar sozinho nesse momento.
JONAS: Obrigado, de verdade!
A campainha da mansão toca e Mercedes abre a porta.
MERCEDES: Pois não?
LINO: Olá, Mercedes! Eu gostaria de falar com Anabel.
MERCEDES: Ela não está aqui. Você não a viu no jardim?
LINO: Não! Ela saiu?
MERCEDES: Pelo visto, sim, e sem me avisar.
LINO: Estava acompanhada?
MERCEDES: Bom, não vi o Sr. Valentim também…
Eles são interrompidos por sons de passos de alguém descendo as escadas. Lino fica aliviado em ver que Anabel não saiu com Valentim novamente.
VALENTIM: É o amigo de Anabel, não? Entre!
LINO: Não, não! Eu vi que ela não está, então volto outra hora. Muito obrigado!
VALENTIM: Até mais!
O rapaz sai e a porta é fechada.
VALENTIM: Ele é apenas amigo de Anabel, mesmo? Parece-me que os dois tem algo…
MERCEDES: Deixe de insinuações, rapaz! Eu criei Anabel muito bem. Jamais que ela arranjaria algo com esse pé rapado.
Anabel está sentada na beira do penhasco, observando a paisagem e refletindo. Lino se aproxima cautelosamente por trás da moça.
LINO (Sorrindo): Sabia que a encontraria aqui.
ANABEL (Sorrindo): Lino, que surpresa boa!
Ele senta ao lado dela.
LINO: Procurei por você na sua casa, mas não a encontrei. Pensando naquele encontro que tivemos, deduzi que estivesse aqui.
ANABEL: Ainda pensa naquele dia?
LINO: Como poderia esquecer…
Fica um clima romântico e constrangedor entre os dois.
LINO: Encontrei com o seu meio-irmão lá na mansão. Me pareceu gentil…
ANABEL: O Valentim é um bom rapaz mesmo, fico feliz que tenham se dado bem.
LINO: Você… Gosta dele?
ANABEL: Estamos nos entendendo ainda, mas tenho uma sensação quando conversamos. Sinto algo diferente…
Lino fica sem entender o porquê da moça falar aquelas palavras logo para ele.
LINO: E o que sente quando conversamos eu e você.
ANABEL: Sinto-me confortável, nem vejo o tempo passar… Eu também não sei dizer ao certo.
Os dois ficam em silêncio. A moça escora sua cabeça no peito do rapaz, que entra num leve desespero. Ele apenas a abraça, sem conseguir falar de tão nervoso.
Débora e Gláucia chegam ao casamento. O local já está cheio de pessoas. Gláucia se diverte com a cena, enquanto Débora olha para tudo com cara de nojo e espanta as moscas com seu leque. Guilhermino já está no altar, onde há um lindo arco de flores, à espera de sua noiva.
DÉBORA: Pelo amor de Deus! Que não demore muito para isso acabar.
GLÁUCIA: Você é muito chata, Débora.
Na pequena casa no meio do mato, Elza e Flor se preparam.
ELZA: Está chegando a hora de eu me prender àquele velho. Estou linda?
FLOR: Belíssima! Agora vamos lá que já estão todos à sua espera.
ELZA (Falando para si): Você consegue vencer essa tortura!
Momentos depois, os convidados enxergam Elza se aproximando. A marcha nupcial começa e todos abrem caminho para a noiva passar. Flor corre até o altar, onde fica ao lado de Tião.
TIÃO (Cochichando): Tá muito linda, Florzinha!
FLOR: Você não está nada mal também.
Elza vai se aproximando lentamente do altar, e faz uma cara de nojo ao ver Guilhermino sorrindo para ela. A noiva chega no altar, ela entrega o buquê para Flor segurar e fica ao lado de Guilhermino.
PADRE: Hoje estamos aqui para celebrar o matrimônio de Elza e Guilhermino. Esse casal que transborda felicidade, amor e união!
Elza reage com negação a cada palavra do Padre.
PADRE: Coronel Guilhermino, o senhor aceita Elza como sua legítima esposa? Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separe?
GUILHERMINO (Sorrindo): Aceito mais que tudo nessa vida!
PADRE: Elza, a senhora aceita Guilhermino como seu legítimo esposo? Na…
ELZA (Interrompendo): Tá bom, vai, aceito!
Eles trocam as alianças.
PADRE: O noivo pode beijar a noiva!
Os dois vão aproximando seus rostos. Com os lábios prestes a se encostar, Elza vira o rosto e faz com que o Coronel beije apenas sua bochecha.
PADRE: E que sejam felizes para sempre!
Todos aplaudem enquanto eles saem do meio da multidão. Logo depois, a banda começa a tocar e a festa começa. Gláucia dança no meio no povo enquanto Débora fica mais afastada, apenas se abanando. Guilhermino e Elza se aproximam da mulher.
GUILHERMINO: Minha querida, queria te apresentar à…
DÉBORA (Respondendo): Débora!
ELZA: Prazer!
DÉBORA (Seca): Igualmente!
GUILHERMINO: Ela é muito próxima do sujeito que conhecemos, o senhor…
DÉBORA (Confusa): Leonel Prado?
GUILHERMINO: Ele mesmo!
Elza fica surpresa.
GUILHERMINO: Ele está pela cidade? Soube que houve um atentado na sua empresa.
DÉBORA: Houve mesmo, mas, pelo visto, não foi o bastante para ele voltar. (Curiosa) De onde conhecem ele?
GUILHERMINO: É um velho conhecido. Até mais, Débora!
Os dois se retiram.
DÉBORA (Desconfiada): Tem coisa aí…
Anabel chega em casa. Valentim que estava na sala, se dirige até ela.
VALENTIM: Anabel, onde estava? Fiquei preocupado!
Ele a abraça e ela tem uma sensação boa com o ato. Eles se soltam.
VALENTIM: Está tudo bem?
ANABEL: Sim! Eu só tava dando uma volta.
VALENTIM: Pelo menos avise da próxima vez, ou me chame para ir junto.
ANABEL: Eu saio meio às escondidas, pois Mercedes sempre implica comigo. Às vezes eu preciso de um tempo só meu, sabe?
VALENTIM: Eu te entendo. O seu amigo teve aqui, o Lino.
ANABEL (Fingindo surpresa): Ah, teve?
VALENTIM: Sim! Estava apressado, mas, ao mesmo tempo, parecia que tinha bastante tempo para conversar com você…
ANABEL: Talvez ele quisesse trocar meia dúzia de palavras comigo, algo rápido.
VALENTIM: Pode ser, achei estranho mesmo assim. Ele parece gostar muito de você.
ANABEL: Somos grandes amigos, mesmo.
VALENTIM: E você? Sente algo por ele?
ANABEL: Não sei ao certo, acho tudo isso muito complicado…
VALENTIM: Seu vestido… Parece meio sujo.
Ela se olha.
ANABEL: Acho melhor tomar um banho. Mais tarde conversamos.
Ela sobe as escadas e o rapaz observa.
A noite cai. Elias para o seu carro na frente da casa de Jonas.
ELIAS: Chegamos! Há mais alguma coisa que eu possa ajudar?
JONAS: Não, Elias, obrigado! Você já fez demais, vou ser eternamente grato por isso.
ELIAS: Amigo é para essas coisas, nem preciso falar mais uma vez que pode contar comigo sempre, né?
Jonas consegue soltar um riso.
JONAS: Agora só preciso de um tempo sozinho, para digerir tudo isso.
ELIAS: Se precisar de qualquer coisa, me telefone.
JONAS: Claro! Até mais!
O rapaz desce do carro e Elias observa ele entrando em sua casa. Ele suspira e dá partida no carro.
A festa de casamento já está acabada. Elza entra com suas malas no grande casarão, avaliando cada detalhe do local.
ELZA: Que decoração mais pobre, hein! Já vejo que o Coronel não tem muito gosto.
GUILHERMINO: Sempre esperei para que o amor da minha vida escolhesse tudo, e agora esse momento chegou.
ELZA: Credo, que coisa melosa! Estou exausta, quero tirar esse vestido de uma vez. Me mostre o quarto!
GUILHERMINO: Claro, me acompa…
ELZA (Interrompendo): E nem tente me levar ao seu, já disse que dormiremos em quartos separados!
GUILHERMINO (Fogoso): E a nossa noite de núpcias?
Elza começa a rir histericamente.
ELZA (Rindo): Ai, até parece! Deixe de piada e me mostre logo o quarto separado.
Guilhermino, com raiva, conduz a mulher.
Tião deixa Flor em sua casa.
TIÃO: Prontinho! Aí está! Quer que eu entre para lhe acompanhar no sono?
FLOR: Mas!... Quanto atrevimento, hein, Tião!
TIÃO: Não me entenda mal, é que você vai dormir sozinha… Achei que estivesse com um pouco de medo.
FLOR: Até parece que eu nunca dormi sozinha nessa casa, né, Tião? Nem deu tempo de me acostumar com a companhia que tinha. Se Elza ficou 3 dias aqui, foi muito.
TIÃO (Sorrindo): Admiro mulheres corajosas!
FLOR: Já vi que a cachaça tá fazendo efeito. Vá dormir, vá!
Ela vira as costas e entra em casa.
Jonas mexe em alguns papéis que seu pai vivia envolvido, a fim de encontrar alguma pista. Ele acha uma carta, e decide ler.
JONAS: Isso deve me levar a algo…
Ele abre e começa a ler.
“Já adianto que não estou gostando dessa chantagem. Te ajudei anos atrás, e você viveu tranquilamente por todo esse tempo. Mas, para proteger a minha pele, eu cedo. Me encontre no endereço abaixo, e eu te darei o que quer.
Assinado, V. S.”
JONAS: Isso só pode ser uma pista da armadilha que ele sofreu. Quem seria V. S.?
ENCERRAMENTO
Nenhum comentário:
Postar um comentário