Jonas continua vasculhando os papéis. Ele acha outra carta. Ele pega o objeto na mão, observando cada detalhe.
JONAS: Isso parece mais um rascunho, está cheio de rasuras… (Lendo) “Destino: Riacho das Rosas”...
Ele fuça novamente os papéis e pega em mãos um jornal antigo, com a matéria da morte de Bernardino.
JONAS: É claro! A vítima morava lá. O homem contratado deve ser de lá também. Eu só preciso achar mais pistas…
O rapaz continua mexendo na pilha de papéis, concentrado e determinado, sem deixar qualquer detalhe passar despercebido.
Um novo dia amanhece. Elza acorda bem cedo e toma um café quente na mesa do casarão. Guilhermino senta-se junto a ela.
GUILHERMINO: Bom dia, querida! Dormiu bem?
ELZA: Ótima! Acordei muito disposta.
GUILHERMINO: E para onde vai? Arrumada já tão cedo.
ELZA: Para a escola, ora. Para onde mais iria?
GUILHERMINO: Mas você é minha esposa agora, não precisa mais…
ELZA: A escola faz parte do nosso trato, nem tente me privar de ir trabalhar.
GUILHERMINO: Como quiser. Hoje mesmo mandarei alguns dos meus homens para reerguer a escola. Não posso deixar minha querida esposa pegando sol e chuva no meio daquele mato.
ELZA: E as crianças ficam com Deus, né?
GUILHERMINO: Só você me importa.
Ele manda um beijinho para ela, que só ignora. Jarbas vai entrando no casarão.
JARBAS: Bom dia, Coronel! Eu…
Ele nota a presença de Elza, antes esquecendo que agora a mulher mora ali.
JARBAS: Perdoe-me pelos modos… Volto mais tarde para conversar com o senhor.
ELZA: E por que não pode ser na minha frente essa conversa?
GUILHERMINO: Eu e Jarbas temos alguns assuntos particulares pendentes. Apenas negócios, algo chato para se discutir na frente de uma mulher.
ELZA (Sedutora): Não devemos mais guardar segredos, docinho! Agora somos uma carne só, meu amor!
O Coronel se derrete com as palavras da mulher, mas logo se recompõe.
GUILHERMINO: Não é um assunto nada urgente, querida, podemos até nos divertir um pouco antes dessa conversa.
ELZA: Já vi que não me contará mesmo, e eu não perderei meu tempo. Até mais, bando de bocó!
Ela bota seu chapéu e sai desfilando. Vitório, que estava na porta de entrada, sai dali quando vê a mulher se aproximando. Ele fica um pouco mais afastado do casarão, mas Elza estranha vê-lo ali.
VITÓRIO: Bom dia, Dona Elza!
ELZA: Bom dia!
Ela apenas segue seu rumo. Vitório volta para a porta do casarão e entra de mansinho no local, de modo que passe despercebido. Ele se escora numa parede e tenta ouvir a conversa entre Guilhermino e Jarbas.
JARBAS: Eu fiz aquilo que o senhor me pediu.
GUILHERMINO: Finalmente, estava demorando para me dar retorno.
JARBAS: É que, com o casamento, ficou muito difícil de achá-lo sozinho como agora.
GUILHERMINO: E?
JARBAS: Ocorreu tudo muito bem, como o senhor pediu.
GUILHERMINO: Ótimo, Jarbas! Agora o próximo passo é…
Vitório tenta se aproximar mais para ouvir com maior clareza, mas ele acaba esbarrando num candelabro, que cai no chão. Eles ouvem o barulho.
JARBAS: O que foi isso?
GUILHERMINO: Há alguém nos espionando! Vá ver quem!
Vitório sai pela porta da frente, sem fazer barulho. Assim que está do lado de fora, ele corre para a lateral do casarão, onde não consegue ser visto. Jarbas vai até a varanda, verificando se há alguém, mas não encontra nada. Ele retorna até seu patrão.
JARBAS: Não encontrei ninguém, acho que foi o vento que derrubou isso.
Ele mostra o candelabro que achou no chão.
GUILHERMINO: Fique de olhos bem abertos! Nada do que conversamos pode sair daqui.
Elias chega na frente da casa de Jonas. Ele bate na porta.
ELIAS: Jonas? Está aí?
Jonas abre a porta. O rapaz está com o cabelo bagunçado, olheiras profundas e a roupa toda desarrumada.
ELIAS: Amigo? Você está bem?
JONAS: Estou! Eu só não dormi direito essa noite.
Ele olha para os lados, paranóico.
JONAS: Entre! Não repare na bagunça!
Ele puxa o amigo para dentro de casa. O local, por dentro, está totalmente desorganizado, papéis para tudo que é lado e coisas fora de seu devido lugar.
ELIAS: O que aconteceu aqui?
JONAS: Fiquei a noite inteira procurando por pistas e investigando o que aconteceu com meu pai.
ELIAS: E chegou em alguma conclusão?
JONAS (Desequilibrado): Ainda não, mas… Prometa que não vai contar a ninguém o que estou prestes a dizer.
Ele segura Elias pelos ombros e começa a sacudí-lo enquanto fala.
JONAS: Me prometa, por favor! Isso não pode sair daqui!
Elias se solta, com um pouco de medo e preocupado.
ELIAS: Claro! Fica entre nós, eu prometo.
JONAS: Ótimo! Antes do meu pai morrer, ele me revelou que foi responsável pela morte do poderoso Bernardino Ferreira…
ELIAS (Confuso): Aquele que morreu num assalto?
JONAS: Esse mesmo! Ele disse que foi contratado para fazer isso, e, em troca, ganhou parte das jóias roubadas.
ELIAS: Nossa…
JONAS: Anos depois, agora, meu pai perdeu grande parte do dinheiro que tínhamos, e decidiu ir atrás do homem que estava junto com ele no assalto, pedindo mais dinheiro.
ELIAS: Estou entendendo até agora.
JONAS: E foi nesse encontro que meu pai foi assassinado.
ELIAS: Espera, seu pai foi assassinado? Não me contou isso antes.
JONAS: Não é uma coisa que eu gostaria de sair falando aos quatro ventos, né?
ELIAS: Mas eu sou seu amigo, e…
JONAS: Sem cobrança agora! Eu achei uma carta desse homem cuja assinatura é “V. S.”, que pessoa assina assim? Eu não faço a mínima ideia, mas estou buscando pistas.
ELIAS: E o que achou até agora?
JONAS: Bom, ao que tudo indica, ele mora em Riacho das Rosas, mesma cidade da falecida vítima de 17 anos atrás. E eu estou pensando em viajar até lá, para investigar tudo mais a fundo.
ELIAS: Viajar? Assim, repentinamente?
JONAS: Eu preciso ir atrás da verdade, Elias! Pesquisei algumas fontes, e parece que o falecido tem família lá. Eu posso até buscar ajuda.
ELIAS: Eu vou junto com você! Quero estar do seu lado nesse momento difícil.
JONAS: É melhor você ficar segurando as pontas aqui na empresa. Eu adoraria ter sua companhia, mas o momento é delicado.
ELIAS: É, você tem razão, mas eu me preocupo com você, está se arriscando demais!
JONAS: Não há o que temer, eu sei me cuidar! Acho que vou me banhar e pegar o trem logo depois do velório de meu pai, não quero perder tempo.
ELIAS: Então eu te espero aqui. Deixe eu, pelo menos, te levar até a estação.
JONAS: Está bem! Volto num instante.
Jonas vai até o seu quarto. Elias olha para os lados, reparando na bagunça da casa.
Anabel chega na mesa para tomar o café da manhã. Mercedes, que já estava no local, aborda a moça.
MERCEDES: Poderia me dizer onde a senhorita estava ontem à tarde?
ANABEL: Bom dia para você também, Mercedes! Nem parece aquela mulher que me ensinou tantos modos.
MERCEDES: E não adiantou nada, pelo que percebo, já que está os perdendo…
ANABEL: Eu apenas fui dar uma volta.
MERCEDES: E por onde andou? Nem Valentim soube responder a pergunta, ou ele sabe e também está acobertando.
ANABEL: O que tem em eu sair para ter um tempo sozinha? Sem você à minha volta, falando toda hora o que devo e o que não devo, o que posso e o que não posso.
MERCEDES: Estava sozinha mesmo, ou acompanhada?
ANABEL: E se estivesse acompanhada? Seria um problema para você também? Sempre disse que uma moça deve andar sempre acompanhada.
MERCEDES: Dependendo da companhia, não seria algo que eu aprovo. Existem certas companhias que é melhor estar desacompanhada do que junto a elas.
ANABEL: Se quer tanto saber, Mercedes, eu estava junto com Lino. Um amigo de longa data, que eu conheço e confio.
MERCEDES: Esse Lino… Não deveria confiar tanto nele. Se me permite, senhorita Anabel, eu diria até que não deveria mais ver esse rapaz.
ANABEL (Incrédula): Como?
MERCEDES: Isso mesmo que ouviu. Vocês são diferentes. Tiveram uma educação diferente, foram criados diferente, são de classes sociais diferentes. Não vejo como um casal daria certo em tais circunstâncias, e também não vejo uma relação entre rico e pobre que não tenha algum interesse a mais no meio.
ANABEL: Primeiramente, eu digo com toda certeza que o Lino não é interesseiro. E segundo que nós dois não temos nada de romântico, é apenas uma amizade.
MERCEDES: Uma amizade? A mim a senhorita não engana! Está nítido que tem, ou deseja ter algo com esse rapaz.
ANABEL: Se o Lino não é o rapaz certo para mim, quem seria?
MERCEDES: Hum… Não sei dizer, há tantos candidatos… O Valentim é um exemplo, rapaz educado, anda bem vestido e sabe se comportar de modo encantador, além de que demonstra um certo afeto pela senhorita.
ANABEL: Você está louca, Mercedes? Valentim é meu irmão! Jamais teríamos algo romântico entre nós!
MERCEDES: Eu não teria tanta certeza desse primeiro detalhe…
Anabel se choca com as palavras da governanta. Mercedes deixa aquela fala no ar e se retira.
ANABEL: Mercedes! Volte aqui! O que você quis dizer com isso?
Ela põe a mão no rosto, confusa.
ANABEL: Eu preciso tomar um ar.
Ela levanta e se retira.
Vitório avalia o trabalho no campo enquanto conversa com Tião.
TIÃO: Você se arriscou muito fazendo isso, imagina se ele te vê lá?
VITÓRIO: Eu tomei o maior cuidado possível. Eles estavam prestes a falar algo comprometedor, se eu não tivesse dado aquele deslize…
Eles olham para o horizonte e veem Flor passando lá longe. Ela também olha para os dois, e continua andando.
TIÃO (Delirando): Que sonho!
VITÓRIO: Errei feio com ela…
TIÃO: Desculpa, mas eu fui lá e chamei ela.
VITÓRIO: Tudo bem, eu que errei. Mas, a partir de agora, que vença o melhor.
Os dois dão um aperto de mãos. Dali de longe, Jarbas surge, vindo na direção dos dois.
TIÃO: Ih! Lá vem…
O capataz se aproxima de Vitório.
JARBAS: Parece que tinha alguém bisbilhotando dentro do casarão… Você não viu alguém por lá? Conversei com os outros e parece que você não estava em nenhum lugar, talvez estivesse pelos arredores do casarão…
VITÓRIO: Não, não estava. Deve ter sido quando fui até o riacho beber um punhado de água.
JARBAS: Hum, está bem!
O homem se vira e sai andando.
TIÃO: Ele deve suspeitar que foi você…
VITÓRIO (Sorrindo): Ele sabe que fui eu, mas não tem provas.
Lino arruma as mesas da pensão após todos almoçarem. O rapaz está sorridente e pensativo.
TOMÉ: Que tanta felicidade é essa, meu filho? Essa boca não para mais fechada de tanto que sorri.
LINO: São algumas coisas aí…
Ele fica em silêncio por um tempo.
LINO: Pai, o que o senhor acharia se eu arrumasse uma namorada?
TOMÉ (Sorrindo): Agora está explicando o porquê de tanto riso. Eu acharia bom, meu desejo é te ver feliz, meu filho.
Elias e Jonas estão na estação até que o trem chega.
ELIAS: É isso… Tenha uma boa viagem!
JONAS: Obrigado por tudo!
Os dois se abraçam fortemente.
JONAS: Engraçado a gente aqui, se despedindo com se nunca mais fossemos nos ver.
Os dois riem. Elias esconde uma carta nas suas costas, criando coragem para entregá-la.
ELIAS: Jonas, eu…
JONAS: O que foi?
ELIAS: Volta logo!
O rapaz entra no trem e senta no seu assento. Pela janela, ele observa o seu amigo. Tempo depois, o trem dá partida.
Anabel está sentada na sua poltrona na biblioteca. Valentim entra no local.
VALENTIM: Anabel, queria conversar comigo?
ANABEL: Sim. Valentim, eu quero que você fale apenas a verdade para mim. Se tem alguma consideração pela minha pessoa, fale a verdade.
VALENTIM: Claro, Anabel! Jamais mentiria para você, tenho um apreço imenso por sua pessoa.
ANABEL: Então me responda, a sua história é realmente verdadeira? Ou você inventou tudo?
Valentim fica surpreso com a pergunta.
Elias chega ao escritório. Assim que ele entra na sua sala, a secretária vem logo atrás.
SECRETÁRIA: Senhor Elias!
ELIAS: Pois não?
SECRETÁRIA (Nervosa): Eu estou desde ontem tentando falar com o senhor. Recebi um telefonema ontem dirigido à sua pessoa. Vinha de São Paulo, era do Senhor Leonel.
Elias gela.
Débora está mais uma vez usando as jóias e roupas de Celine.
DÉBORA: Este jardim está tão abandonado, estou pensando em recomeçar os cuidados dele.
GLÁUCIA: Isso já está virando doença! Você está tentando se passar pela sua irmã Débora.
DÉBORA: Ai, tia! Quanto exagero! Eu só estou querendo deixar essa casa mais viva, mais colorida. Agora tudo o que eu faço vocês querem remeter a Celine.
GLÁUCIA: Eu só vejo a hora de Elias te flagrar fazendo essas coisas e contar ao Leonel.
DÉBORA: Me desculpe, titia, mas Elias é uma mosca morta. E acho que nem isso traria Leonel de contas. A fábrica quase indo aos ares e ele continua lá em São Paulo, pleno e despreocupado.
LEONEL: Olá, querida família.
Débora se vira para trás num susto. Gláucia apenas observa a cena, imaginando a balbúrdia.
LEONEL: Sentiram falta de mim?
DÉBORA: Claro, Leonel, querido! Há tanto tempo que não nos vemos!
Leonel para pra reparar em Débora, reconhecendo as joias e roupas que ela usa.
LEONEL (Incrédulo): Débora, essas... Você está usando as joias de Celine?
ENCERRAMENTO
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