Leonel olha para Elza, em choque.
ELZA: Leonel, há quanto tempo não nos vemos? Acho que desde aquele certo dia, do qual você deve se lembrar muito bem.
LEONEL: Elza… Que surpresa em encontrá-la aqui. Espero que não guarde nenhuma mágoa do passado, afinal éramos jovens e imaturos, e hoje somos pessoas melhores.
ELZA: Para você deve ter sido fácil, saiu daquela cidade e conseguiu construir uma vida nova mais facilmente. Enquanto eu tive que ficar lembrando dessa história até pouco tempo atrás.
LEONEL: Eu sinto muito, Elza…
DÉBORA (Confusa): Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?
ELZA: Eu posso. Eu e Leonel fomos noivos, há 17 anos atrás, até que eu o peguei aos beijos com outra mulher.
Débora fica boquiaberta com o que acaba de ouvir.
LEONEL: Eu acho que já passou da hora de termos uma conversa sobre isso, Elza. Vá até minha casa nesta semana, precisamos apagar toda essa bagunça de uma vez.
ELZA: Eu pensarei se devo ir ou não. Mas guarde na sua cabeça que não se livrará de mim tão facilmente.
GUILHERMINO: O jantar já está pronto. Vamos acabar com essa conversa e nos sentar para comer.
Os quatro se sentam à comprida mesa de jantar do casarão. Guilhermino na ponta, ao seu lado Elza, e no outro, Leonel e Débora. Os empregados começam a servir o jantar. Todos começam a comer, menos Leonel, que se sente desconfortável naquele lugar.
GUILHERMINO: Coma, Leonel! Dou a minha palavra de que não envenenei o seu prato.
O homem fica receoso enquanto encara Elza.
Lino e Jonas chegam na fachada da casa de Victors Secret. É um local humilde e bem arrumado, nota-se que se situa no centro da cidade. Eles percebem que não há luzes ligadas.
LINO: De acordo com o endereço que encontrei, é aqui.
JONAS: E o que fazemos?
LINO: Parece que não há ninguém em casa, chegamos em boa hora.
Eles se aproximam mais da grade que cerca a casa.
LINO: O portão está aberto, vamos!
Eles abrem o pequeno portão e entram no terreno, se aproximando cuidadosamente da porta. Lino tenta abri-la.
LINO: Trancada…
JONAS: Há uma janela aberta, ali.
Eles se aproximam da janela, e logo após invadem o interior do local, pulando por ela. Ao entrar na completa escuridão, eles notam que estão dentro do quarto do homem. Eles ligam um abajur, em cima da mesa de cabeceira, para enxergar melhor. A cama e o guarda-roupas estão totalmente desarrumados, há uma mala em cima da cama, e um porta retrato espatifado no chão, provavelmente caído da mesinha.
JONAS: Esse bandido não é nada organizado.
LINO: Pela bagunça, ele virá para dormir em casa. Melhor tentarmos achar alguma coisa, rápido.
Eles passam pela porta do quarto e chegam na sala, ainda mais escura que o outro cômodo. Os dois andam pelo local, no escuro, esbarrando em diversos objetos, tentando achar alguma fonte de luz. Jonas se aproxima da porta de entrada e, ao lado, encontra o interruptor. As luzes são ligadas e a visão dos rapazes torna-se ainda pior. Há o corpo de um homem no centro da sala, com uma marca de tiro no peito e uma poça de sangue ao redor. Ambos ficam horrorizados com o que veem.
JONAS (Apavorado): Meu Deus!
LINO: É ele, reconheço pelas fotos do jornal…
JONAS (Desesperado): Ele está morto! Morto! O que eu tinha na cabeça quando decidi vir até aqui?
LINO: Vamos pegar um lençol e tapá-lo, me sentiria menos mal de vasculhar tudo sem vê-lo nesse estado.
JONAS: O quê? Você está louco? Quer continuar isso com ele estando… ali? Vamos embora, eu não consigo…
LINO: Não podemos desperdiçar essa chance! Eu sei que é horrível, mas se a polícia chegar logo aqui, não iremos descobrir nada.
JONAS: Então eu procuro pelos outros cômodos, não fico perto desse cadáver, nem a pau!
LINO: Está bem, então procure pelo quarto que eu vejo aqui.
Jonas sai correndo até o quarto. Lino olha apavorado para o corpo do homem, e, logo depois, segue sua investigação.
Anabel chega na pensão juntamente de Gustavo. Eles vão até o quarto de Tomé, onde o homem está deitado com certa fragilidade, e Dona Cássia sentada numa cadeira, ao seu lado.
ANABEL: Padrinho! O senhor está bem? O Doutor Gustavo me contou sobre o ocorrido.
TOMÉ: Na medida do possível, mas estou todo dolorido, viu?
GUSTAVO: Ele vai ter que ficar de cama por um bom tempo, creio que tenha quebrado algumas costelas.
TOMÉ: Mas não estou inválido, posso cuidar muito bem da minha pensão.
GUSTAVO: Não! O senhor ficará de repouso até melhorar.
CÁSSIA: Eu lembro de uma receita de chá que minha avó fazia…
TOMÉ (Sussurrando): Isso já deve ter uns mil anos.
CÁSSIA: O que é?
TOMÉ: Nada.
CÁSSIA: Como eu dizia, é um chá muito bom, cura qualquer coisa. Se quiser, posso fazer para o Seu Tomé.
TOMÉ: Não pre…
ANABEL (Interrompendo): Pode sim, Dona Cássia. Qualquer coisa ajuda nesse momento.
A velha senhora levanta e se retira.
TOMÉ: Pronto, agora vou ter que beber o veneno dessa velha.
ANABEL: Ela só quer o seu bem! Enfim, insisti que ela fosse, pois quero conversar com o senhor, e não gosto de fuxicos quando se trata de assuntos tão sérios.
GUSTAVO: Se quiser, eu me retiro também.
ANABEL: Não, prefiro que fique o doutor também. Bom, o que tenho a dizer é sobre os meus pais. Eu descobri que alguém mandou matá-los naquela noite. Nunca foi um simples assalto.
TOMÉ: Meu Deus! Quem faria uma coisa dessas?
ANABEL: É isso que eu queria lhes perguntar. Vocês lembram de alguém que tenha ameaçado minha mãe ou meu pai perto do dia da morte deles?
Os dois começam a pensar sobre o assunto.
ANABEL: Qualquer coisa ajuda, já sei que um Coronel aí da região havia ameaçado meu pai de morte, mas não posso descartar alguém que tenha ameaçado minha mãe.
Uma lembrança vem à mente de Gustavo. Ele se lembra de quando Elza e Lúcia se reencontraram na pensão. Da agressiva que ela havia tratado a moça e as coisas que disse. E, ainda mais, de quando ela saiu às pressas da cidade na mesma noite do assassinato, e da forma esquesita que estava.
GUSTAVO: Havia, na verdade, uma pessoa que queria o mal de sua mãe. Ela se chama Elza…
TOMÉ (Surpreso): Você não acha que…
GUSTAVO: Eu não sei… Dói para mim dizer isso, mas Elza estava muito irritada com sua mãe, chegou a dizer coisas terríveis a ela. E na noite do assassinato, ela foi embora da cidade, como se estivesse fugindo de algo.
ANABEL: E vocês sabem onde está essa tal de Elza?
GUSTAVO: Eu tenho o endereço que ela me passou quando foi embora. Talvez não seja tão válido, já que isso foi há mais de 17 anos atrás.
ANABEL: Qualquer ajuda é bem-vinda! Eu só quero passar essa história a limpo, e fazer justiça.
O jantar no casarão do Coronel continua. Leonel está com seu prato vazio, encorajou-se a comer. O clima desconfortável paira sobre o ambiente. Débora parece se divertir com a situação.
DÉBORA: Então você traiu sua noiva, Leonel? Achei um tanto engraçada essa história. Como terminou?
ELZA: Com um tiro no ombro de Leonel, mesmo eu tendo mirado na cabeça.
Débora não consegue se segurar e acaba soltando um riso.
DÉBORA: Celine sabia dessa história, querido?
LEONEL: Celine e eu não tínhamos segredos.
ELZA: Então quer dizer que arrumou outra logo após de e trair com Lúcia? Inclusive, reencontrei ela alguns meses depois disso tudo .
LEONEL: Lúcia… Como ela estava?
ELZA: Melhor que você até, eu diria. Arrumou um marido rico que a sustentasse.
LEONEL: Pelo menos ela seguiu a própria vida, ao invés de ficar presa ao passado.
Elza engole em seco a patada.
LEONEL: Afinal de contas, por que montaram toda essa palhaçada de jantar? Só para me mostrar que estão casados?
GUILHERMINO: Ora, Leonel, não seja assim. Como você mesmo acabou de dizer, não é bom ficar preso ao passado desta forma, temos que seguir em frente, acabar com esta diferença entre nós.
LEONEL: Eu duvido muito que o Coronel tenha esquecido de tudo como diz.
GUILHERMINO: Não confia em mim?
LEONEL: Não!
DÉBORA: Olha aqui, eu já entendi o que ocorreu entre você e Elza, mas quanto ao Coronel eu ainda não sei…
LEONEL: É uma longa história. Apenas saiba que foi ele o responsável por atrapalhar seus planos de herdar tudo de Celine.
DÉBORA: Pare de falar por códigos, seja mais direto!
LEONEL: Você é muito intrometida Débora, mas vou falar, pois nem Elza deve saber disso. Ele foi o responsável por eu estar naquele estado, quando Celine me encontrou na beira da estrada de chão. Todo espancado, e com uma bala de arma cravada dentro de mim.
Elza fica surpresa com o que o homem fala e olha desconfiada para Guilhermino.
LEONEL: Eu acho que esse jantar já deu o que tinha que dar. Vamos embora, Débora.
GUILHERMINO: Está ficando tarde mesmo. Só tome cuidado na estrada, caro Leonel.
Leonel joga um último olhar de ódio para o Coronel e sai do casarão ao lado de Débora. Após eles saírem, Elza se vira para o marido.
ELZA: Essa história que ele contou… É verdade? Sabia que estava escondendo algo de mim.
GUILHERMINO (Ameaçador): Não se intrometa nos meus assuntos. Eu tenho os meus motivos e você tem os seus. Eu até engulo você me fazer de capacho, pois eu gosto de mulher forte assim, mas não comece a se intrometer nos meus negócios, ouviu bem?
Pela primeira vez, Elza sente medo do Coronel. A mulher apenas faz que sim com a cabeça e o homem se retira.
Lino e Jonas continuam a vasculhar a casa de Victors Secret, enquanto o morto continua estirado no meio da sala, só que dessa vez, com um lençol o tapando. Entre um mundaréu de papéis, Lino acha uma carta, assinada por Cristino, pai de Jonas.
JONAS (Chamando): Lino, venha cá! Achei uma coisa.
Lino vai até o quarto.
LINO: Também achei algo. Esta carta foi enviada pelo seu pai. Esta é a prova de que é o homem que procuramos.
JONAS: Ótimo! E eu achei outra coisa…
Jonas tira de dentro do guarda-roupas uma caixa de tamanho médio. Ele a põe em cima da cama e abre, revelando diversas joias dentro.
JONAS: Creio que sejam as joias roubadas no assalto…
LINO: Ele teria guardado até hoje?
JONAS: Elas foram roubadas aqui. Ele não se arriscaria em vendê-las tão perto de onde foram roubadas.
LINO: Vamos embora com o que temos, acho que não vamos achar mais nada aqui. Percebi que a lareira da sala foi ligada recentemente, creio que o assassino tenha queimado grande parte das provas.
JONAS: Vamos! Esse lugar está me dando calafrios.
LINO: Só vou desligar as luzes.
Anabel chega em casa. Valentim a espera na sala, ao lado de Mercedes.
VALENTIM: Onde estava? Sumiu do nada.
ANABEL: Perdoe–me! O Doutor Gustavo chegou para avisar ao Lino que o pai dele havia se acidentado, como sou afilhada dele, decidi ir vê-lo. E ainda consegui mais uma pista sobre um possível assassino.
VALENTIM: De quem se trata?
ANABEL: Uma tal de Elza. Ela havia brigado com minha mãe meses antes, e ainda fugiu da cidade na noite do assassinato. Considero ela a principal suspeita, e, por isso, quero procurá-la.
VALENTIM: Você vai até ela?
ANABEL: Sim, o mais rápido possível. O Doutor Gustavo me deu um endereço de onde ela morava há 17 anos atrás. Podemos dar sorte!
VALENTIM: Eu vou com você! Não posso permitir que vá sozinha. Afinal, Lino terá que ajudar o pai, agora que se acidentou. E não diga que não precisa de mim! Eu insisto em ir com você.
ANABEL: Está bem! Já deixe suas malas prontas. Partiremos amanhã, no primeiro trem.
Um novo dia amanhece. Anabel e Valentim estão na estação de trem. Após a locomotiva chegar, os dois embarcam e seguem viagem.
Vitório, mais uma vez, está aos arredores do casarão. Ao ver Jarbas entrar no local, ele decide espreitar novamente, só que desta vez, pela janela. Ele tenta escutar a conversa, com bastante dificuldade.
JARBAS: Mandou me chamar?
GUILHERMINO: Sim! Está na hora de pôr o nosso primeiro plano contra o Leonel em prática.
JARBAS (Sorrindo): Finalmente! E qual será?
GUILHERMINO: Vamos começar mais tranquilos. Ao invés de atacar ele diretamente, vamos contra a empresa dele.
JARBAS: Está bem…
GUILHERMINO: Comece um incêndio na fábrica. Como você vai fazer? Eu não sei, se vira! Apenas faça o que estou mandando.
JARBAS: Pode deixar, senhor, eu dou meu jeito.
FIM DO CAPÍTULO
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