Limite da Vida - Capítulo 02 (19/11/2024)



 Limite da Vida - Capítulo 02

 novela de Larice da Costa


Catarina caminha até o altar da santa, se ajoelha e começa a rezar, pedindo uma direção.

Ela abre os olhos como se tivesse tido um lapso e se levanta.

(Mansão de Tânia):

Tânia está tomando um chá no sofá da sala, quando Felícia chega.

Tânia: Ah, apareceu a margarida, já estava preocupada. Onde esteve tão cedo?

Felícia: Minha mãe, a senhora preocupada comigo?

Tânia: Pode não parecer, mas eu me importo com você sim.

Felícia:  Sei bem... Mas fui na casa de vovó, infelizmente eu não trago boas novas, ela está muito mal.

Felícia respira agoniada passando a mão pelo pescoço.

Tânia: É mesmo! Tem a sua avó! Ela é uma ótima saída para tirar a gente desse poço.

Felícia se vira com uma expressão indignada.

Felícia: A senhora não tem respeito nem em um momento tão delicado como esse? 

Tânia: Sua avó é uma rancorosa, despeitada e orgulhosa. Eu sou filha dela, mereço ajuda financeira e onde ela está? 

Felícia: A senhora não entende que ela está doente? Doente! Não pode ficar gastando mundos e fundos ajudando a filha que não conseguiu manter o patrimônio do marido.

Tânia: O seu pai que me deixou dívidas, não tenho culpa se ele não soube controlar o dinheiro. Bem que falam, dê poder a um homem e descobrirá quem ele realmente é. E tem mais, com certeza essa mixaria não faria falta a ela.

Felícia: Eu fico impressionada com o descaramento da senhora, sinceramente... 

Tânia: Me respeite, garota.

Felícia sobe as escadas, enquanto Tânia permanece pensativa na sala.

Tânia: Rosinhaaaaaa!

Rosinha aparece correndo secando as mãos.

Rosinha: Pois não.

Tânia: “Pois não, senhora”

Rosinha: Mas foi a senhora quem me chamou.

Tânia: Ai, esqueça. Pegue a minha bolsa, vou sair.

Rosinha: Vai onde? Posso ir com a senhora?

Tânia: Mas que atrevimento, não quero assombração atrás de mim. 

Elas ficam se encarando.

Tânia: Anda, minha bolsa.

Rosinha: Ah, é verdade.

Rosinha corre.

(Fazenda Poaia):

Catarina aproveita o momento, seu marido não está em casa. Ela pega uma carona com um vizinho que ia pra mesma direção.

Chegando no convento Santa Isabel, ela se assusta com a aparência do local, o vizinho a deixa no portão e ela entra, analisando tudo ao redor.

Catarina encontra a madre.

Catarina: Necessito de sua ajuda, madre. 

Madre Lúcia: Venha minha filha, vamos conversar em minha sala.

Catarina: Pelo amor de Deus, eu necessito de sua ajuda, madre. Encontre uma vaga para minha filha.

Catarina ajoelha aos pés da madre que fica desconfortável.

Madre Lúcia: Levanta daí, não precisa beijar meus pés. Em consideração a tantos anos que nos conhecemos e por saber da sua fé fervorosa, irei dar um jeito com a ajuda de Nossa Senhora.

Catarina beijando as mãos dela.

Catarina: Muito obrigada, que Deus lhe abençoe. Ah… só mais uma coisa.

As duas se encaram e a madre se inquieta.

Madre Lúcia: O que foi?

Catarina: A senhora poderia ir buscar Mitra, ela é difícil de lidar, acho que a senhora indo até lá, pode facilitar a situação.

Madre Lúcia: Pois bem, que assim seja. Amanhã estarei lá pela manhã, pontualmente.

Catarina: Obrigada, muito obrigada.

(Mansão de Maia):

Tânia toca a campainha e a empregada abre.

A empregada se assusta ao ver Tânia.

Tânia: O que foi, querida? Viu fantasma?

Empregada: Não senhora.

Tânia: Mamãe está no quarto?

Empregada: Sim senhora.

Tânia: Mas o que é isso? Só sabe dizer “sim senhora” ou “não senhora”?

Empregada: Sim… quer dizer, não…

Tânia: Vou subir.

Tânia chega na porta do quarto e entra sem bater, a enfermeira, chamada Graça, está cuidando de dona Maia.

Tânia: Com licença, como vai, tudo bem? Então a senhorita é a enfermeira que está cuidando de mamãe?

Graça: E quem é a senhora?

Tânia: Eu? Sou filha da dona Maia, muito prazer.

A enfermeira arregala os olhos.

Graça: A senhora aqui? Não sabia que dona Maia tinha filha.

Tânia: Minha filha vem aqui todos os dias, não é possível que não saiba que Felícia é neta de dona Maia.

Graça: Disso eu sabia, mas nunca tocaram no assunto de dona Maia ter uma filha, achei que... enfim, estivesse morta.

Tânia: Que horror, menina. Melhor a gente encurtar esse assunto, não tenho todo o tempo do mundo. Gostaria de ficar a sós com mamãe, posso?

Graça: Ah com toda certeza, fique a vontade, querida.

Graça se retira do quarto.

Tânia: Querida é sua mãe.

Tânia permanece encarando Maia até ela acordar.

Maia: O que está acontecendo? O que está fazendo aqui? Onde está Graça?

Tânia: Vamos com calma, uma pergunta de cada vez, a senhora não tá com idade de se exaltar, mamãe.

Maia: O que quer aqui? Veio desdenhar de mim no leito de morte. Mas isso era tudo o que você sempre quis, sempre de olho na minha herança.

Tânia: Espere, eu não vim aqui para isso.

Maia: De todo jeito, não me importa, saia daqui, saia dessa casa, da minha casa.

Tânia: Mãe, eu só gostaria de conversar com a senhora, não vai demorar.

Maia: Não quero conversar com você, Tânia. Vá embora daqui, eu já disse. Ai, não estou me sentindo bem.

Tânia: O que houve? Está sentindo algo?

Maia: Chame a Graça.

Tânia sai do quarto aflita.

Tânia: Sua imprestável, mamãe está passando mal, venha, rápido.

Graça corre até o quarto de Maia e Tânia vai atrás.

Maia: Já pode ir, vai embora, Tânia.

Maia começa a tossir.

Tânia: A senhora vai se arrepender, eu garanto.

Tânia se retira do quarto abalada.

Tânia: Não precisava ser dessa forma, não precisava.

Tânia dá de cara com a porta do antigo quarto e decide entrar nele.

Ela passa a mão pelos móveis antigos, todos empoeirados. Ela encontra a antiga caixinha de bailarina que ganhou de presente do pai quando era criança. Tânia tem lembranças da época que morava ali, uma lágrima escorre e ela seca com brutalidade.

Ela sente uma presença naquele cômodo, abre a janela que há muito tempo não era aberta e uma luz entra, iluminando totalmente aquele cômodo escuro. Ela fica alguns minutos sentindo aquele conforto.

O dia passa, a noite chega.

(Fazenda Poaia):

Catarina chega em casa.

Humberto estava sentado na mesa de jantar sozinho, à meia luz.

Humberto: Finalmente chegou, onde esteve? Não venha com desculpas ou meias palavras pensando que eu vou acreditar, porque eu não vou.

Catarina: Dá pra parar de falar e me escutar, por favor. Vamos até o quarto, precisamos conversar.

Humberto a encara.

Humberto: Primeiro você vai me dizer onde esteve.

Catarina: Venha logo, é realmente um assunto sério.

Catarina fala disfarçando para Mitra não perceber.

Eles vão até o quarto e Catarina tranca a porta.

Catarina: Escute, eu decidi tomar uma atitude que Mitra vai odiar, mas eu peço que não me julgue pois foi bastante difícil pra mim tomar essa decisão.

Humberto se senta na cama.

Humberto: Nossa… algo tão sério assim?

Catarina: Muito… Eu pensei bastante e decidi colocar Mitra no convento Santa Isabel.

Um close na cara de Humberto estarrecido.

Abertura:

Ele se levanta indignado.

Humberto: Você não pode fazer isso, ela não vai aceitar de maneira nenhuma.

Catarina: Ela não tem que aceitar, tem que acatar. Ela vai para esse convento sim!

Humberto: Eu estou achando essa ideia um pouco precipitada demais.

Catarina: Não me importa. Vai ser bom… bom pessoas mais experientes auxiliando ela e iluminando seu caminho.

Catarina se levanta sem meias palavras.

Catarina: Não quero saber, a freira virá até aqui amanhã pela manhã, eu espero que até lá você tenha conversado com ela.

Humberto: Eu? Mas quem devia conversar com ela era você que tomou a atitude. Aliás, e sem conversar comigo previamente.

Catarina: Ela não me escuta, vocês têm mais intimidade, apesar dos pesares.

Catarina sai do cômodo e deixa Humberto pensativo.

No outro dia…

Humberto se aproxima do quarto de Mitra, ele bate na porta que já estava aberta e entra.

Humberto: Licença, minha filha. Posso entrar?

Mitra: Claro, pai. O que o senhor faz aqui tão cedo?

Humberto engole seco e se senta na cama.

Humberto: Sente-se aqui ao meu lado, venha.

Mitra se senta.

Mitra: Pelo visto é algo sério.

Humberto respira fundo.

A cena corta para a madre Lúcia chegando de charrete e ouvindo os gritos.

Mitra: EU NÃO VOU A LUGAR ALGUM, O SENHOR NÃO TEM ESSE DIREITO, MUITO MENOS A MAMÃE.

Catarina corre para receber madre Lúcia e elas entram repentinamente.

Catarina: Mitra, se acalme.

Mitra: Por que a senhora está fazendo isso comigo? Quer me ver sofrer, tirar a minha paz?

Madre Lúcia só observa.

Mitra se aproxima de Catarina.

Mitra: A senhora nunca me amou, nunca demonstrou um carinho genuíno por mim, sempre me reprimindo, reprimindo as minhas vontades.

Catarina: Vontades do corpo.

Mitra: Vontades da alma. A senhora sempre destruindo momentos em que eu me sentia bem, me sentia feliz.

Catarina: Eu sempre busquei a sua felicidade, sempre fiz isso pensando no melhor para você. Se não for para esse convento, terá que casar com o filho do coronel, ele demonstrou interesse em você, seria quase um pecado se não usássemos essa situação para melhorar nossa relação com eles.

Mitra: Eu não vou me casar com aquele panaca, nem se estivesse posta em praça pública. Se me pedissem para escolher a morte ou esse casamento, não pensava duas vezes, pulava na fogueira agora mesmo.

Catarina: Pois se não quer se casar com ele, terá que ir para o convento.

Mitra: A senhora é uma bruxa, mentirosa, vive de mistério com o seu passado, acha que Deus se agrada disso? Viveu todo esse tempo escondendo segredos, quanto a isso prefere evitar tocar no assunto não é?

Catarina passa a mão pelo pescoço e pega no terço aflita; Catarina coloca a mão no coração.

Catarina: Ai… eu tô passando mal.

Catarina cai desmaiada no chão, Humberto rapidamente a pega no colo e a põe na cama.

Humberto: Meu amor, Catarina. Acorda, Catarina.

Madre Lúcia observando aquilo tudo, se aproxima de Humberto.

Madre Lúcia: Com todo respeito, sem querer ser indiscreta, mas o que ela tem.

Humberto: Catarina tem sopro no coração, não pode passar emoções fortes.

Madre se espanta e coloca a mão na boca.

Madre Lúcia: Ah… eu sinto muito.

Ela se aproxima de Mitra no canto, que estava aflita.

Madre Lúcia: Você quer ir para o convento, querida?

Mitra pensa no que sua mãe disse, sobre o casamento forçado.

Mitra pensa: Não aguento mais viver nessa casa, mas se bem que o convento é cheio de regras, mas deve ter mais paz do que aqui.

Mitra: Eu não sei…

Madre Lúcia: Vamos fazer um acordo então, faça a vontade de sua mãe temporariamente. Pense no convento em um lugar que você pode se reconectar com a paz divina, não precisa levar em conta as regras, para você eu abro uma excessão.

Madre dá um sorriso falso.

Mitra olha confusa, pensando se realmente aceita ou não.

Mitra: Eu… eu aceito, na verdade, só quero sair daqui.

Madre Lúcia: Ótimo, meu bem, vai lhe fazer muito bem.

Catarina aperta a mão de Humberto bem forte, os dois sorriem, Catarina bem mais alegre.

Mitra vai fazer as malas chorando, enquanto isso, madre Lúcia se aproxima de Catarina e Humberto.

Madre Lúcia: Escutem, não fiquem preocupados, de início ela não vai dar muita importância às regras do convento, mas aos poucos eu vou moldando ela, com a ajuda divina, é claro.

Mitra se despede do pai dando um abraço e da mãe pedindo a benção; eles vão até o lado de fora, elas se preparam para subir na charrete quando Mitra para e observa a fazenda, ela olha para o casarão onde nasceu, para o pé de manga com um balanço onde se divertiu bastante, para o açude onde tomou vários banhos e volta o olhar ao casarão, ela sobe na charrete e uma lágrima escorre.

Madre Lúcia também sobe e elas vão embora dando tchau aos pais.

Mitra se vira com um certo ódio da mãe.

Mitra pega uma mala, bate na cabeça da madre e pula da charrete, ela corre pelo mato adentro.

A imagem volta para ela na charrete, mostrando que isso era um pens

amento dela.

Elas chegam no convento, é um lugar frio, sombrio e de arquitetura gótica. Um lugar sujo e triste.

Mitra se assusta ao ver onde vai ficar por um tempo.

Madre Lúcia: Pronto, chegamos. Desça logo, garota! Não tenho todo o tempo do mundo.

Mitra desce acanhada e se espanta ainda mais.


Encerramento.





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