LINHA TÊNUE - CAPÍTULO 03
Webnovela de Tony Castello
PARTE 1: ESCRITÓRIO DO GRUPO FERREIRA ALBUQUERQUE / SALA DE JÚLIO / MANHÃ
A sala de Júlio é ampla e bem iluminada, com móveis de madeira escura. Júlio estava visivelmente irritado, enquanto dispensava alguns funcionários com quem conversava. Ele então liga para sua secretária:
Júlio: Virgínia, por favor, diga ao Celso que venha à minha sala imediatamente.
Virgínia: Claro, Doutor Júlio.
Passados alguns minutos, Celso adentra na sala de Júlio, andando meio devagar e usando óculos escuros. Ele se senta em silêncio em uma das poltronas da sala, um pouco distante de Júlio, que observava Celso com os dedos entrelaçados, apoiados no queixo. Júlio se levanta e vai até Celso, retirando seus óculos escuros com truculência.
Celso: Eiii!
Júlio: Aham, como imaginei.
Celso: Desculpa, Tio.
Júlio: Escute, Celso, não estou nem aí para quantas noitadas você vai se meter por aí. Enquanto estiver na minha empresa, você deve ter o mínimo de postura.
Celso: Tudo bem, tio. O que você queria comigo?
Júlio: Primeiramente, não me chame de tio. Aqui eu não sou seu tio, sou seu patrão.
Celso revira os olhos e apoia a cabeça sobre a mão direita.
Celso: Sim, senhor. Agora posso saber por que o senhor mandou me chamar?
Júlio caminha e se encosta em sua mesa, ficando de frente para Celso e cruzando os braços.
Júlio: Eu chamei você aqui porque quero fazer algumas perguntas.
Celso: Ué, que perguntas? Olha, seja lá o que for, não fui eu, hein. Esse povo é muito fofoqueiro, adoram fazer intrigas.
Júlio: Basta com isso, garoto. Bem... você sabe como eu me preocupo com meu filho, William.
Celso: O que tem ele?
Júlio: Quero saber como ele anda, o que tem feito. Vocês, que são muito amigos, devem confessar coisas um para o outro. Me conte o que você sabe.
Celso: Ah, ti... Quer dizer, senhor. Como o senhor disse, eu e o William somos amigos, e eu não posso trair a confiança do meu amigo contando coisas pro pai dele.
Júlio: Não seja cínico, Celso. Eu sei muito bem que você venderia até sua alma se fosse possível. Não me tome por tolo se acha que eu cairia nessa. Seu súbito surto de honestidade não me comove. Eu quero saber de tudo o que se passa com meu filho e quero que você me conte; caso contrário, eu terei que repensar os planos para o seu futuro aqui nessa empresa.
Celso Levanta-se aparentando exaustão, caminha e senta na cadeira em frente à mesa de Júlio.
Celso: Olha, tudo o que eu sei é que ele conheceu uma garota aí.
Júlio: Garota? Que garota? Ele e Laura não estavam juntos?
Celso tenta segurar uma gargalhada.
Celso: Nossa, mas o senhor não conhece o filho que tem. É claro que ele já mandou a Laura pastar faz tempo. Seu filho é um garanhão, já mandou a fila andar.
Júlio: Adoraria que você medisse o seu linguajar na minha presença, principalmente em se tratando do meu filho.
Celso: Mas essa é a verdade. O que o senhor estava esperando? Que ele casasse com a Laura? Senhor, vamos ser realistas e me desculpe o linguajar, mas a Laura é uma... Bem, digamos que o senhor estaria amaldiçoando seu filho se quisesse mesmo que ele se casasse com uma mulher como ela
Júlio: Não fale assim da Laura, ela é uma boa menina.
Celso: Ah, senhor, o que quer que eu diga? É a verdade. Me admira o senhor não saber disso.
Júlio: Bem, e essa garota nova, é de boa índole? É filha de alguém que eu conheça?
Celso: Por enquanto eu não sei nada dela, tudo o que sei é porque as fofocas voam. Seu filho mesmo não anda comentando muita coisa sobre essa garota.
Júlio: Pois então, Celso, eu vou te dar uma missão em relação a isso.
Celso: E qual seria essa missão?
Júlio: Converse com William, investigue. Faça tudo o que for preciso e descubra tudo sobre essa garota. Quero saber se, dessa vez, meu filho pode estar bem encaminhado. William precisa tomar um jeito na vida.
Celso: Ah, senhor, acho muito otimista da sua parte contar com isso.
Júlio: Me poupe das suas pragas. Meu filho vai, sim, tomar um rumo na vida, vai se casar com alguém decente e, em breve, estará aqui nessa sala, ocupando meu lugar.
Celso: Ah, claro, que felicidade! Daí o senhor quer me usar como espião do seu filho?
Júlio: É você quem sabe. Você sabe o que tem a perder se me desagradar. Ande na linha comigo e você terá as portas abertas para você. Tente me fazer de idiota e eu garantirei que o único lugar que você trabalhará seja o poço mais fundo dessa cidade. Estamos entendidos?
Celso suspira, olhando para os lados com desinteresse.
Celso (desanimado): Claro, chefinho.
PARTE 2: UNIVERSIDADE / EXT. CORREDOR / MANHÃ
Fred caminha apressado pelo corredor de seu prédio na universidade; precisava entregar ainda hoje seu relatório antes que o professor viesse chamar sua atenção.
Fred: Que inferno, olha por onde anda.
Fred se agacha e junta suas coisas rapidamente, sem olhar para Liliana e Oliver.
Oliver: Eu acho que você é quem tem que prestar mais atenção.
Fred levantou o olhar, seu rosto se contorcendo em uma expressão de ansiedade que rapidamente se transformou em uma carranca ao reconhecer Oliver.
Liliana: Tudo bem, Oliver, foi só um acidente. E aí, Fred, como vai? Tudo bem? Eu convidei você lá pra casa outro dia; infelizmente, você não foi.
Fred, que estava com uma cara de que poderia a qualquer momento soltar as maiores pragas direcionadas a Oliver, se recompôs e amansou o rosto a fim de responder Liliana.
Fred: É, me desculpa, eu pensei em ir, mas tive um compromisso de última hora. É... (hesitando um pouco) mas eu pedi pro Celso avisar vocês.
Liliana: É, uma pena que você não foi.
Oliver permanece calado
Liliana: Então nesse caso eu vou marcar outra reuniãozinha e quero você lá hein?
Fred: Juro que vou tentar ir dessa vez.
Fred vira os olhos rapidamente para Oliver, a quem tentava ignorar durante a conversa, e percebe nele uma feição desinteressada, como se não ligasse para o fato de Liliana estar tentando convencer outro homem a ir a uma de suas reuniões.
Liliana: Olha lá, hein, vou te esperar.
Fred: Claro... Agora eu preciso ir mesmo, Lily. Tô com pressa para entregar uns trabalhos. Até mais.
Fred se despede de Liliana e sai apressado. Quando já estava quase chegando ao final do corredor, virou a cabeça para observar o casal e fita os dois caminhando devagar na direção oposta à que ele seguia. Os dois ainda abraçados, com Liliana apoiando a cabeça no ombro de Oliver. Parece que, instintivamente, ao Fred se virar para olhar, Oliver também vira a cabeça e seus olhos encontraram os de Fred.
PARTE 3: UNIVERSIDADE / EXT. PRAÇA / MANHÃ
Oliver e Liliana estão sentados em uma pracinha no centro da universidade, com mesas e bancos de concreto. Liliana saboreia um sorvete enquanto Oliver a observa, com a cabeça repousada na mão esquerda e uma expressão de desânimo.
Liliana: O que foi?
Oliver: O que foi o quê?
Liliana: Tá com essa cara... não dormiu ontem?
Oliver: Não é isso, é só que...
Liliana (sem olhar para ele): Que o quê?
Oliver (suspirando): Você sabe, tá chegando aquele dia... Talvez a gente já esteja adiando aquela conversa há muito tempo.
Liliana: Talvez sim, mas eu, sinceramente, não tenho a menor disposição pra falar disso. Me cansa só de pensar. Eu sei que uma hora esse dia vai chegar, você vai ter que viajar e eu vou ficar aqui choramingando, mas eu só não quero pensar nisso. Vamos viver o momento, sabe? Vamos aproveitar o que ainda tem de bom entre a gente.
Oliver: Mas, Lily, eu... Eu fico preocupado com você.
Liliana: Pois não fique, eu sei me cuidar, eu vou ficar bem, mas não quero ter que passar nossos últimos meses juntos tendo conversas e mais conversas chatas sobre como vai ser ruim ficar longe um do outro ou sobre como podemos fazer dar certo.
Oliver: Estranho...
Liliana: O que é estranho?
Oliver: É que parece que a gente está tendo essa conversa agora, só que não do modo convencional. Acho que talvez seja muito a gente mesmo, sempre seguir nosso relacionamento da maneira menos óbvia possível.
Liliana ri com um pouco de sorvete no canto da boca; Oliver limpa com o dedo e sorri de volta para ela. Eles ficam alguns instantes em silêncio, ela terminando seu sorvete e ele dando algumas olhadas em volta.
Oliver: Tem outra coisa...
Liliana: O que?
Oliver: Qual é a sua com esse Fred?
Liliana: A minha? A minha nada, só acho ele fofinho, só isso.
Oliver: Fofinho? Fofinho (enfatizando)?
Liliana: É, Oliver, eu conheço ele desde criança, é filho do amigo do meu pai, mas ele e o irmão sempre foram tratados como da família. Ele era um garotinho meio estranho. O Celso sempre foi mais solto, mais extrovertido, mais sacana, e o Fred sempre foi mais na dele.
Oliver: E você curte isso? É algo que atrai você?
Liliana: Não é isso, eu só tô tentando ser legal com ele, até porque o pai deles morreu não tem muito tempo e o que se sabe é que o Fred não aceitou muito bem, então eu sempre tento ser o mais legal possível.
Oliver: Hum, então tá.
Liliana: Qual é a sua com esse interrogatório? Crise de ciúmes agora?
Oliver coloca as duas mãos por trás da cabeça, projetando o corpo para trás.
Oliver: Não se esqueça, mocinha, que até eu entrar naquele avião, você tem um compromisso comigo.
Liliana: Ah, tá bom. Então, se você quiser ficar fiscalizando cada homem com quem eu interajo, fique à vontade. Só vou avisando que talvez você não goste do que vai descobrir.
Liliana segura a pazinha do sorvete entre os dentes esboçando um sorrido safado nos lábios. Oliver fica sério enquanto Liliana põe um pouco de sorvete na ponta da língua, sensualizando para Oliver.
Liliana: Agora sou eu que quero saber: qual a sua com o Fred? Por que não gosta dele? O que houve entre vocês?
Oliver suspira e fica pensativo.
Oliver: Eu só... eu só acho ele estranho. Sabe, tá sempre pelos cantos. Das vezes em que o vi na sua casa, ficou me olhando com uma cara esquisita. Eu não curto muito isso, não sei o que ele tá pensando ou tramando.
Liliana: Talvez você devesse tentar ser mais simpático com ele. Tenho certeza de que o Celso não curte os seus comentários sobre o irmão dele.
Oliver: Estou pouco me importando pra o que o Celso pensa. Falando nisso, mocinha, talvez você devesse ser um pouco mais simpática com a coitada da Laura.
Liliana revira os olhos.
Liliana: Me poupe, essa garota é uma sonsa.
Oliver: O que ela fez de tão grave assim pra você não gostar dela?
Liliana: É sério que você não percebeu? Desde que o William e ela terminaram, ela vem se chegando em mim, querendo se aproximar mais, fingir que somos amiguíssimas, quando, na verdade, ela só quer um pretexto para ficar perto do William. Eu não sou idiota e já percebi isso há tempos; falta ela criar vergonha na cara e se dar conta de que ela e meu irmão não têm mais futuro nenhum.
Oliver: Ué, e você acha que eles terminaram em definitivo?
Liliana: Claro que sim, meu irmão não é de se apegar a mulher nenhuma. A Laura se iludiu muito quando os dois começaram a namorar; era óbvio que não ia dar certo. E, sendo sincera, por mais que o William seja um cafajeste e não tenha nada de inocente, eu agradeço por ele ter chutado aquela biscateira interesseira.
Oliver: Nossa, quanto rancor!
Liliana: Ai, para, né?
PARTE 4: RUA DA CASA DE GABRIELA / NOITE
William estaciona o carro em frente à casa de Gabriela. Ele fica parado por uns instantes, com o olhar focado para frente. Puxa o espelho do retrovisor e checa sua aparência. Gabriela sai pelo portão e vai até o carro, batendo no vidro. William abaixa o vidro.
William: Gabi? Eu já estava indo te chamar.
Gabriela: Não precisa, a gente já pode ir.
William: Mas eu queria me apresentar para sua família.
Gabriela: Ah, não precisa. Minha mãe nem está em casa agora; eu estou sozinha.
William abre a porta com cuidado para não acertar Gabriela e sai do carro. Os dois acabam ficando muito próximos um do outro e trocam olhares demorados, aparentando nervosismo. William repara em Gabriela e nota o quanto ela está bonita. Ele anda devagar até a porta do carona e a abre para que ela entre.
William: Você está muito linda.
Gabriela: Obrigada, você também está muito bonito.
William solta um risinho, como se duvidasse do elogio. Após Gabi entrar ele parte com o veículo.
Gabriela: Então, onde você tá me levando?
William: Ah isso é surpresa
Gabriela: Não pode nem me dar um dica?
William: Ah não mocinha, surpresa é surpresa, lá você descobre.
Gabriela: mas meu deus porque isso?
William: calma, eu sei que eu tô sendo esquisito de novo com você
Gabriela sorri complacente.
Gabriela: Não, Wiliam, eu meio que tô aprendendo que esse é o seu jeito.
William: É mesmo?
Gabriela: Sim
William: É que eu...
Gabriela: O que?
William: ah sei lá... Eu estou surpreso comigo mesmo, acho que nunca agi assim.
Gabriela muda de expressão e fica séria
Gabriela: sério? E como você costuma agir?
William: Relaxa, eu quis dizer que você me deixa bobo, eu não acho que eu seja assim normalmente.
Gabriela ri com o canto da boca. Os dois conversam mais um pouco até que chegam ao destino. Estavam próximos da Marina. William desce do veículo e antes que ele pudesse abrir a porta pra Gabi, ela sai rapidamente. Gabriela olha em volta e fica apreensiva.
Gabriela: Então... Que lugar é esse?
William: Vem eu vou te mostrar
FIM DO CAPÍTULO.
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