Tião está saindo com a carroça para ir à cidade. Vitório chega correndo e o para, subindo na carroça logo depois.
VITÓRIO: Vai! Me deixa na fábrica de novo.
TIÃO: Já vi que tem problema aí…
Tião dá partida e os dois seguem o caminho.
A campainha da mansão toca. Mercedes vai até a porta e a abre, recebendo Lino.
LINO: Bom dia! Gostaria de falar com Anabel.
MERCEDES: Anabel não está, e creio que não volte tão cedo.
LINO: O quê? Para onde ela foi?
MERCEDES: Viajou para ir atrás de uma pessoa, mas não se preocupe, Valentim foi junto para acompanhá-la.
LINO: Ela não disse nada para mim…
MERCEDES: A senhorita Anabel saiu às pressas mesmo. Gostaria de mais alguma coisa?
LINO: Não, é só isso.
MERCEDES: Passar bem!
O rapaz se retira e a governanta fecha a porta.
Vitório chega na sala de Leonel.
LEONEL: Vitório, sente-se! Não me diga que já traz notícias desagradáveis.
VITÓRIO: Guilhermino já está planejando o primeiro ataque. Ele pediu que Jarbas incendiasse a fábrica.
LEONEL: Assim? Sem mais e nem menos?
VITÓRIO: Ele disse que quer começar destruindo os seus negócios.
LEONEL: Mas ele vai quebrar a cara feiamente. Obrigado por me avisar, Vitório, já sei o que fazer.
VITÓRIO: Queria ter mais informações, mas não sei quando Jarbas virá fazer o trabalho.
LEONEL: Não se preocupe, vou me prevenir para que tudo dê errado para eles.
Lino volta para a pensão. Jonas, que cuidava da recepção para ajudá-lo, nota que o rapaz está chateado.
JONAS: O que foi? Conseguiu falar com Anabel?
LINO: Não, ela partiu de viagem.
JONAS: Ela não te avisou de nada?
LINO: Não. Mercedes, a governanta, disse que ela foi atrás de uma pessoa. Creio que esteja ligado ao que estamos investigando, mas, mesmo assim, não entendi o porquê de ela sair tão depressa.
JONAS: Ela deve estar ansiosa por respostas. Ela fez uma descoberta ontem que mexeu muito com a cabeça dela. Ainda deve estar tentando digerir tudo isso e quer resolver o mais rápido possível.
LINO: É, mas ela poderia ter falado comigo antes de ir. Eu poderia até ter ido junto, mas preferiu que aquele Valentim fosse com ela.
JONAS: Consigo entender a sua chateação, mas como você iria? Iria deixar seu pai sem suporte num momento como esse?
LINO: É verdade…
JONAS: Olha, relaxa um pouco e, quando ela voltar, converse com mais calma sobre isso. Ficar de cabeça quente não vai ajudar em nada.
LINO: Você tem razão. Acho que estou me deixando levar pelo nervosismo à toa.
JONAS: Agora que Anabel viajou, o que faremos? Vamos ter que esperar pela volta dela para descobrir algo novo.
LINO: O que nos resta fazer é apenas cuidar da pensão para o meu pai. Mesmo ele estando doente, os negócios não podem parar.
Anabel e Valentim chegam em Roseiras. Os dois andam pela cidade, perguntando para as pessoas onde fica o endereço que eles têm em mãos. Eles chegam na antiga casa de Elza, onde ela morava com seu pai. A casa está vazia, nota-se um pouco abandonada. Valentim toca a campainha, mas ninguém aparece.
VALENTIM: Tem certeza de que é aqui?
ANABEL: É o mesmo número e rua. Acho que perdemos viagem.
Uma vizinha, senhora de muita idade, aparece na calçada.
VIZINHA: Procuram por quem?
ANABEL: Estamos procurando por uma mulher chamada Elza, creio que ela já morou aqui.
VIZINHA: Já sim, por muito tempo, mas se mudou há alguns meses, após a morte do pai.
ANABEL: A senhora sabe para onde ela foi?
VIZINHA: Não, nem ela sabia. Saiu em busca de algum trabalho para se ocupar. Antes de partir, disse-me que ficaria pela região, mas não sei a cidade ao certo.
ANABEL: Muito obrigada, senhora! Só uma última pergunta: sabe onde tem um telefone aqui por perto?
Anabel e Valentim estão numa espécie de bar. A moça entrega uma quantia de dinheiro ao dono do local e, logo depois, se dirige a um telefone que há ali. Ela disca o número e espera por resposta.
Após algum tempo, o telefone da pensão começa a tocar. Jonas atende.
JONAS: Aqui é da Pensão Maria das Graças.
ANABEL: Olá, Jonas! Consegue chamar o Doutor Gustavo, por favor?
JONAS: Anabel! Temos novidades para te contar, mas creio que não queira falar sobre isso agora.
ANABEL: Melhor conversarmos outra hora, não posso demorar muito com esse telefonema.
JONAS: Está bem, vou chamar o doutor.
O rapaz deixa a moça à espera enquanto chama o médico. Gustavo desce até o primeiro andar e põe o telefone em seu ouvido.
GUSTAVO: Anabel? Como está por aí?
ANABEL: Ela não mora mais aqui. E agora? Você não tem ideia para onde ela possa ter ido?
GUSTAVO: Sinto muito, mas não sei. O que você fará agora?
ANABEL: Eu acho que vou até a Vila das Camélias. Desta vez, atrás do Coronel.
GUSTAVO: Eu posso te ajudar com um lugar para você ficar. Tenho um velho conhecido que mora lá, acho que ele não se importaria em recebê-los.
ANABEL: Iria ajudar bastante, só preciso do endereço.
GUSTAVO: Vou ver na minha agenda e já te digo.
Enquanto isso, Lino arruma as mesas para o almoço. Jonas chega para ajudá-lo.
LINO: Quem estava no telefone?
JONAS: Era Anabel, queria conversar com Gustavo.
LINO: Ela não perguntou sobre mim?
JONAS: Disse que não podia ficar tanto tempo ao telefone. Não comece a ter esse ataque de nervos novamente, não há nenhum motivo para você ficar assim.
LINO: Sei que estou sendo um chato com esse comportamento, mas parece que ela não está dando a mínima para mim. Eu gosto tanto dela, nos reaproximamos, mas sinto como se ela estivesse fugindo.
JONAS: Entendi que quer passar mais tempo ao lado dela, entretanto ainda está sendo um pouco paranóico com isso. É como eu disse mais cedo, ela está muito presa a essa história. Não há nada a ver com a amizade entre vocês.
LINO: Obrigado, Jonas. Eu estava precisando ouvir essas palavras mesmo.
Leonel e Débora conversam na sala da mansão.
DÉBORA: Como assim receberemos visitas? Você não havia me avisado de nada.
LEONEL: Foi de última hora. São conhecidos de Gustavo. Não vejo nenhum mal em hospedá-los aqui.
DÉBORA: Você nem os conhece, Leonel, como não vê mal nisso? Se vão passar algum tempo na cidade, que arrumem uma pousada ou um hotel para se hospedar, nossa casa não é pensão.
LEONEL: Por que está se intrometendo, Débora? A casa nem sua é, e ainda quer dar pitaco nas minhas decisões. Se não gostou, vá achar um buraco na rua para dormir!
DÉBORA: Tome cuidado comigo, queridinho! Agora eu sei de algumas coisas que você escondia. Se não quer que eu saia espalhando por aí…
LEONEL: Não venha com chantagens para cima de mim! Você sabe que eu posso fazer muito mais do que apenas ceder às suas míseras ameaças. E, se eu cair, você acaba caindo junto, pois é totalmente dependente da minha fortuna. Afinal de contas, os segredos que você sabe, nem são algo tão escandaloso a esse nível. No máximo eu terminaria mal falado por alguns, e que pessoa triste eu seria se ligasse para que os outros pensam.
DÉBORA: Tudo bem, faça o que quiser. Mas se acha que vai estar sempre no total controle, como pensa, está muito enganado. Uma hora você cai do cavalo, e eu estarei rindo quando isso acontecer.
LEONEL: Veremos se suas palavras se tornarão realidade.
Os funcionários da fábrica são liberados, para ir embora. Do outro lado da rua, Jarbas está com uma roupa discreta, observando a multidão que toma conta da rua. Em uma de suas mãos, ele segura um galão com algum produto inflamável, e, na outra, uma caixa de fósforos. Ele atravessa a rua no meio de toda aquela gente e entra no terreno da fábrica. Ele entra no local, onde é a principal área de trabalho dos funcionários. O capataz começa a espalhar o líquido de dentro do galão por todos os lugares, e, quando esvaziado, joga o objeto para longe. No momento que ele está prestes a riscar o fósforo, policiais chegam apontando uma arma para ele, cercando-o por todos os lados.
DELEGADO: Mãos para o alto! Fique parado e não dê mais nenhum passo.
Jarbas obedece e os policiais o algemam.
DELEGADO: Levem ele para a delegacia.
Na mansão, Leonel e o delegado conversam enquanto Débora apenas ouve o que é dito.
LEONEL: Então tudo ocorreu bem? Maravilha!
DELEGADO: O nosso plano deu certo. Conseguimos prender o capataz, mas, se ele não confessar, não teremos como provar que o Coronel está envolvido nisso.
LEONEL: Só de ter impedido o pior, já é uma vitória. Só queria estar lá para ver a cara do Coronel quando souber que o plano dele deu errado.
Na fazenda.
GUILHERMINO (Bravo): Como assim Jarbas foi preso?
VITÓRIO: Parece que ele foi pego tentando atear fogo na fábrica de Leonel.
GUILHERMINO: E como está a fábrica?
VITÓRIO: Inteira, só Jarbas se deu mal nessa história.
GUILHERMINO: Incompetente! Vamos deixá-lo por algumas horinhas preso, como castigo.
VITÓRIO: Eu não entendi, senhor, queria que ele incendiasse a fábrica?
GUILHERMINO (Mente): Não, estou com raiva apenas por ele ter sido preso. Ele é de minha confiança e tenta cometer um crime desses? Estou decepcionado por isso. Eu não tenho nada a ver com essa história.
Anabel e Valentim chegam na mansão de Leonel. O dono da casa os recebe.
LEONEL: Sejam muito bem-vindos! Me chamo Leonel, sou um velho amigo de Gustavo.
ANABEL: Prazer em conhecê-lo!
VALENTIM: Prazer!
Leonel encara Anabel por um momento.
LEONEL: A senhorita me parece familiar…
ANABEL: Acho que nunca nos vimos antes, talvez eu seja apenas parecida com alguém que conheceu.
LEONEL: Acho que é coisa da minha cabeça mesmo…
Leonel fica pensativo. Débora e Gláucia chegam para receber os convidados.
DÉBORA: Olá, como vão?
GLÁUCIA: Que jovens mais bonitos. São noivos?
VALENTIM: Irmãos, na verdade…
GLÁUCIA: Ai! Perdão pela minha pergunta. Fiquem à vontade! Vocês são de onde?
ANABEL: Riacho das Rosas, mas estamos vindo de Roseiras.
DÉBORA: E o que procuram aqui?
ANABEL: Viemos atrás de uma pessoa…
LEONEL: Por favor, vamos deixar os nossos convidados mais à vontade? Tiveram uma longa viagem, não vamos cansá-los ainda mais com esse interrogatório.
ANABEL: Está tudo bem, Seu Leonel! Não nos importamos.
LEONEL: Vamos para a mesa, mandei preparar um café da tarde para recebê-los.
O céu escurece. Guilhermino vai até a delegacia, acompanhado de Vitório.
GUILHERMINO: Boa noite, Delegado! Soube que há um de meus funcionários preso. Deve ter havido algum engano da sua parte.
DELEGADO: Não! Não houve engano algum. Seu capataz foi pego no flagra espalhando gasolina pela fábrica Sanchez e estava prestes a riscar o fósforo. Acho que isso são provas o suficiente.
GUILHERMINO: Mas acho que não há necessidade de mantê-lo preso. Ele errou e deve ter aprendido a lição.
DELEGADO: Ele continuará preso, e logo será mandado para a capital.
GUILHERMINO: Acho que o Delegado não gostaria de arrumar briga comigo. Ninguém gostaria de ter como oponente o maior Coronel dessa região. Então acho melhor fazer o que estou pedindo, ou vou tomar as medidas necessárias.
DELEGADO: Isso é uma ameaça?
GUILHERMINO: Trate esse diálogo como quiser.
O Delegado solta um suspiro.
DELEGADO: Liberem o preso!
GUILHERMINO (Sorrindo): Eu sabia que tomaria a decisão correta.
As luzes já se apagaram na mansão Sanchez. Anabel desce as escadas, indo até a cozinha para pegar um copo de água. Quando chega no local, ela se depara com Leonel.
LEONEL: Acordada ainda?
ANABEL: Estava tentando dormir, mas os pensamentos tomaram conta da minha mente. Até que me deu sede, vim atrás de um copo de água.
LEONEL: Entendo. Quando alguma coisa me aflige, me perco nos pensamentos também, sem conseguir dormir. Veio até aqui por qual motivo?
ANABEL: Estou atrás do Coronel Guilhermino, quero conversar com ele sobre um assunto delicado. Você o conhece?
LEONEL: Infelizmente sim… Espero que o tom dessa conversa não seja tão desagradável para ele. O Coronel é um homem complicado…
ANABEL: Eu vim para cá totalmente despreparada. Ontem eu descobri algo que me chocou e decidi buscar por respostas o mais rápido possível. Acontece que eu fiz a decisão sem nem pensar direito, ou ter avisado meus conhecidos, mas eu preciso muito de respostas, eu não aguentaria ficar tanto tempo sem saber da verdade.
LEONEL: Você lembra um pouco a mim quando era mais jovem. Quando botava alguma coisa na cabeça, também era difícil de tirar. Tomava decisões precipitadas. E, quando tinha a sensação de que minha vida perdeu o sentido, eu não conseguia lidar com isso, entrava em desespero e, muitas vezes, acabava fazendo coisas das quais me arrependo.
ANABEL: Nossa… Acho que nunca vi alguém falar coisas que me definiriam a esse nível. Acho que nunca encontrei alguém que me entendesse tanto.
LEONEL: Amanhã eu posso te levar até a fazenda. Gostaria de ter mais momentos para conversarmos. Agora vou me deitar, já está tarde.
ANABEL: Tenha uma boa noite!
LEONEL: Igualmente!
O homem se retira, deixando a moça pensativa enquanto bebe seu copo de água.
Um novo dia amanhece. Leonel acompanha Anabel e Valentim até a fazenda de Guilhermino. Eles chegam no local, e são recebidos pelo homem.
GUILHERMINO: Leonel! Que surpresa em tê-lo aqui. Soube do incidente na sua fábrica ontem.
LEONEL: Acho que você saberia até antes de mim, não é? Bom, vim lhe trazer esta jovem moça, pois ela quer conversar com você.
ANABEL: Bom dia, Coronel!
GUILHERMINO: Bom dia! Quanta educação! No que posso lhe ajudar.
ANABEL: Eu sou filha de um antigo amigo seu, Bernardino Ferreira, e gostaria de conversar com o senhor.
O Coronel se surpreende com o que a moça acaba de dizer.
FIM DO CAPÍTULO
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