A Melindrosa
Capítulo 8
Abertura
1929
Cena 1- Passados 19 anos desde os acontecimentos que movimentaram a vida da protagonista,agora estamos em 1929,fim da revolucionária década que fez fervilhar o país.Ana Lúcia se tornou uma típica dona de casa,cuida da casa,do marido e do filho,frequenta a igreja,e visita a mãe que já está idosa.A mansão em que reside é uma mansão luxuosa,situada no centro de São Paulo,sendo um dos casarões mais bonitos e valorizados de toda a cidade.Embora tenha se casado em meio a um escândalo,que foi abafado de todas as formas por sua família,os comentários rolaram soltos logo após o casamento.Como ela já estava grávida,a única solução para não levantar suspeitas de sua gravidez,foi levar os recém casados para o Rio de Janeiro,depois de meses,ela voltou para São Paulo,já no fim da gravidez.Quando o bebê nasceu,ela e sua família mentiram dizendo que o bebê havia nascido de 7 meses.
Jardins da Residência Serra e Dutra Cavalcante.
Ana Lúcia caminha pelo local,deslumbrante,elegante,e coberta por joias valiosas.Ela admira suas flores.
Ana Lúcia- Minhas queridas flores,são a minha maior companhia,não sabem como gosto de tratá-las.
Logo Benjamin,seu filho,chega aos portões da residência,bêbado,quase caindo,e com as roupas sujas.Ana Lúcia abre os portões e o ajuda.
Ana Lúcia- Meu filho,onde esteve a noite inteira ? Já lhe disse que não gosto quando sai sem avisar onde passará a noite.
Benjamin- Ah mamãe,me deixa,eu não sou mais um bebezinho,sei muito bem me cuidar.
Ana Lúcia- Não sabe coisa nenhuma,deixa de ser reclamão.Seu pai já saiu faz tempo,nem perguntou por você.
Benjamin- Nossa,que novidade.Me conta aí mamãe,e a vovó,já foi para o asilo?.
Ana Lúcia- Olha o respeito Ben.
Benjamin- Eu não tô falando nenhum desrespeito.A velha já está esfarelando,jajá bate as botas.
Cena 2- Residência dos Gaspar Cavalcante.Sala de estar.
Luzia,agora mais velha,com cabelos brancos à mostra e ainda mais insuportável do que já era,anda pelo salão,verificando se a limpeza da casa está como é de seu gosto. Afastadas,duas jovens a encaram esperando terem feito o serviço a gosto da patroa.
Luiza- Humm.Vejo que se esforçaram bastante… Mas ainda assim não chegam aos pés da antiga criada que morreu há uma semana.
Jovem 1- Mas senhora,como ela limpava?.
Luiza- Você deveria saber minha querida.Criadas e serviçais sempre tem de estar a par dos serviços das companheiras de trabalho.
Jovem 2- A gente vai ou não ser contratada ?
Luiza- Está com pressa ? A pressa é inimiga da perfeição mocinha.
Jovem 1- A perdoe,senhora,ela só está ansiosa.
Jovem 2- Não,nada disso,tô com pressa mesmo.E aí dona? Tempo é dinheiro e eu não posso perder não.
Luiza- Além de serem incompetentes,vocês ainda são desrespeitosas.Não estão contratadas.Jamais arriscaria ter duas criadas inúteis feito vocês.Agora estão dispensadas.Anastácia irá cuidar do dinheiro que lhes pertence pela faxina de hoje.
Cena 3- Empresa Gaspar Cavalcante.Escritório de Sebastião.
O homem está sentado,concentrado em seu trabalho,até que “Cleo” entra na sala sem ser anunciada,vestida considerada vulgar para a época,chamando atenção por onde passava,logo atrás dela vem a secretária de Sebastião.
Cleo- Eu disse que viria a seu trabalho.
Secretaria- Essa mulher é um furacão,eu não pude segurá-la,senhor,me perdoe.
Cleo- É melhor você colaborar comigo Tião,não vai querer que ela saiba do noss-
A mulher é interrompida bruscamente por Sebastião.
Sebastião- Pode ir,não se preocupe.Essa cachorra late,mas não morde.
A secretária se retira do escritório.
Cleo- Olha,cuidado hein,eu posso não morder,mas eu pico.(ela finge uma picada no pescoço dele e depois ri).
A mulher solta uma gargalhada.
Sebastião- Não volte ao meu trabalho novamente,não ouse me faltar com o respeito dessa forma.
Cleo- Querido,eu sou Cleo,descendente de Cleópatra.Em mim ninguém manda.Cala a boca e me beija.
Cleo começa a beijar Sebastião,que retribui em um beijo cheio de paixão.Logo depois,ela começa a tirar suas peças de roupas.
Cleo- Vem… Tira tudo que me cobre.
Sebastião obedece,e tira o vestido que a cobria,deixando à mostra a roupa íntima da mulher.Os dois fazem amor ali mesmo.
Cena 4- Escritório de Nestor.
O senhor,que agora está envelhecido,e seus cabelos brancos estão mais aparentes,está lendo os documentos,até que percebe um erro.
Nestor- Não acredito nisso,não é possível.Será que só eu presto atenção nesses detalhes ?.Que gentinha incompetente.
Ele sai enfurecido de seu escritório,com alguns papéis na mão.
Cena 5- Escritório de Sebastião.
Nestor está batendo na porta furioso,mas seu genro insiste em não abrir.
Nestor- ABRA ESSA PORTA AGORA.SEBASTIÃO ! ESTÁ ME OUVINDO? ABRA QUE ESTOU MANDANDO.
A secretária vem desesperada dar uma satisfação ao dono da empresa.
Secretária- Ai senhor,tem uma mulher aí dentro.
Dentro do escritório,Cleo está vestindo suas roupas o mais rápido possível.Sebastião está arrumando seus objetos.
Cleo- Que emoção.Assim é muito mais… Excitante !.
Sebastião- Você é maluca.É melhor você se esconder,não preciso dar mais explicações ao Nestor.Se esconda alí.
Ele aponta para seu armário,e a mulher o obedece.Logo depois,ele destranca a porta e permite a entrada de Nestor.
Nestor- Eu quero que você me explique,como você fechou contrato,justo com essa empresa?.
Ele esfrega o contrato na cara de seu genro.
Sebastião- Seu Nestor,calma aí,eles foram os que fizeram a melhor proposta.
Nestor- E são os piores do setor,são os mais mal falados e piores avaliados.Você,ao menos,se prestou ao trabalho de analisar a situação financeira da empresa ?.
Sebastião- Ah,é que…
Nestor- SEU IMPRESTÁVEL,INÚTIL.ELES ESTÃO QUEBRADOS,NÃO TEM FUNCIONÁRIOS SUFICIENTES PARA SERVIR A NOSSA DEMANDA.
Sebastião- Mas eles têm que honrar nosso contrato,eles não podem simplesmente nos deixar na mão.
Nestor- É o que vamos ver.
Nestor sai enraivado do escritório de seu genro,Cleo também sai do armário.
Cleo- Mas esse seu sogrinho hein ? Que velho insuportável.Já passou da hora de dormir eternamente.
Cena 6- Ruas de São Paulo.
Cleo anda pelas ruas chamando atenção por onde passa,os homens assobiam,as mulheres a olham de relance,e ela anda como se estivesse em uma passarela,sustentando um sorriso debochado.Mas dentro do pensamento da mulher,ela só pensa em algo.
Cleo (pensamento)- Se esse Nestor,for o meu Nestor… Eu nem sei o que fazer agora.
Cena 7- Porto.
Ana Lúcia espera ansiosa por sua amiga.Quando ela menos espera,Diego Fernandes,se bate com ela,deixando suas malas caírem.
Ana Lúcia- Você não vê por onde anda não?.
Diego- Perdão…
Ele para de falar ao se dar conta da beleza da mulher que está em sua frente.
Ana Lúcia- Toma cuidado moço.
Diego- Ah… Claro,pode deixar.Sou novo aqui,vim à trabalho.Lutei tanto para consegui-lo.
Ana Lúcia- Parabéns.
Após parabenizá-lo,Lucinha dá às costas ao homem e se dirige mais a frente.Diego segue seu rumo.Ana Lúcia e Mariane se encontram.
Ana Lúcia- Amigaaaaa.
Mariane está mais velha,mas não menos bonita.A mulher agora adquiriu um gosto mais sofisticado e elegante,considerado ousado para a posição que ela ocupa e para a época,mas também não chega a causar nenhum escândalo.As duas se abraçam,Ana Lúcia recebe a velha amiga com todo o amor que tem para dar.
Mariane- Lucinha,se você soubesse metade das aventuras que eu vivi esses anos na Europa…
Ana Lúcia- Me conta tudo.
O chofer carrega as malas de Mariane,enquanto ela e a amiga se dirigem ao automóvel.
Mariane- Entrei para um grupo de feministas na Inglaterra.Participei,secretamente,de um grupo de comunistas em Portugal… E tem outro segredinho também…
Ana Lúcia- Pode ir me contando esse outro segredinho.
Mariane cobre a boca e fala no ouvido de Ana Lúcia.
Mariane- Fui amante de um padre.
As duas caem na gargalhada,atraindo a atenção de todos ao redor.
Cena 8- Cabaret Madame Tabacão.Salão principal
Joaquina Tabacão,uma cafetina rica,cuida de seu estabelecimento com todo o cuidado do mundo,ela cria Luísa,sua neta,jovem idealista,bela e corajosa.A senhora anda conferindo suas meninas.
Joaquina Tabacão- Umm,você tem que se cuidar mais (se aproxima e pega nos seios da mulher) você tem busto,mas não pode mostrar demais,tem que atiçar eles né minha filha.Já você gatinha,tem que emagrecer um pouquinho,para ficar no ponto que os homens gostam,se é que me entendem… (risos).
Luísa chega e fica chocada com os tratos de sua vó.
Luísa- Me impressiona os tratamentos que dona tabacão dá às meninas que ela diz serem como filhas dela.
Joaquina Tabacão- O que foi luluzinha? Está incomodada ?Algum problema?. Não,queridinha,então fica caladinha que assim você fica mais bonita.
Luísa- A senhora não tem medo disso aqui ser fechado?.
Joaquina Tabacão- Não,até porque aqui nunca será fechado.Tenho meus contatos,sei muito bem aproveitar as oportunidades que a vida me dá,ao contrário de você,que herdou essa beleza de sua mãe e não sabe aproveitá-la.Fica aí se perdendo e se desgastando com protestos e não sei o quê.Essa geração de hoje hein,não sei não.
Luísa se irrita e se dirige ao seus aposentos.Enquanto ela sai,Joaquina aproveita para ridicularizá-la.
Cena 9- Residência dos Bittencourt de Andrade.Sala de jantar.
Mariane e Ana Lúcia estão tomando um chá,acomodadas na mesa.
Mariane- E aí,como vai o seu irmão?.
Ana Lúcia- Até hoje não se casou,foi ao Rio de Janeiro resolver algumas burocracias da empresa.Essa quebra da bolsa de Nova York já está prejudicando os negócios da família.
Mariane- Meu Deus,ainda bem que eu diversifiquei os investimentos da minha empresa.Jornal todo mundo compra,independentemente do que esteja se passando.
Ana Lúcia- Ai Mari,minha vida anda tão monótona por esses tempos.
Mariane- E o seu casamento com o Tião? Melhorou ?
Ana Lúcia- Não.Está cada dia pior,as coisas só desandam.
Mariane- Então se separa.
Ana Lúcia- Não posso.
Mariane- Porque não?
Ana Lúcia- Você sabe.Sou muito grata por ele ter me aceitado,além de que todos fechariam as portas para mim se virasse uma desquitada.A única forma de me livrar do Sebastião,seria…
Mariane- Como ?.
Ana Lúcia- Se ele morresse.
Mariane encara a amiga,chocada.Ana Lúcia a encara de volta,séria.
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