PARAÍSO VIRTUOSO - CAPÍTULO 09
WEB-NOVELA DE SINCERIDADE
no capítulo anterior… (instrumental “Sede de Vingança - Eduardo Queiroz“ toca)
Uma caminhonete estaciona em frente ao hotel de Santa Aurora. As portas se abrem e, em seguida, uma mulher desce do veículo. A câmera a acompanha, subindo lentamente até revelar seu rosto: é Doralice. Ela olha ao redor, confiante.
DORALICE: Quanto tempo, Santa Aurora… agora sim, o que tava faltando chegou.
(instrumental “Sede de Vingança - Eduardo Queiroz“ encerra)
fique agora com o capítulo de hoje:
CENA 01: HOTEL/INT./DIA
Doralice e André entram no saguão do hotel. A presença da mocinha logo atrai olhares curiosos e sussurros ao redor. Doralice se dirige à recepção. Depois de uma breve troca de palavras com o recepcionista, os dois seguem para o quarto.
Doralice fecha a porta, respira fundo e sorri. O instrumental “Tempestade e Brisa - Iuri Cunha” começa a tocar.
DORALICE: Finalmente, meu amor... Finalmente tô de volta. Nem acredito. Depois de tanto tempo… Santa Aurora não mudou nada nesses quinze anos.
ANDRÉ: Tá preparada pra ficar cara a cara com Vicente?
DORALICE: Preparada é uma palavra muito forte, André. Mas eu não tenho mais tempo a perder. Agora que tô aqui em Santa Aurora, não tem mais volta.
ANDRÉ: Então vamos até Pedra Valente hoje mesmo.
DORALICE: André, tive uma ideia...
ANDRÉ: O que foi?
DORALICE: Eu quero que o povo da cidade inteira fique sabendo quem é Laís Ribeiro. Minha chegada precisa ser triunfal.
ANDRÉ (preocupado): Tem certeza disso? E se alguém te reconhecer?
DORALICE: Impossível. As pessoas aqui só me “conheciam” pelo nome, mas a maioria nunca nem me viu. Agora que sou Laís Ribeiro, André, eu quero ser vista como a toda poderosa. Quero que Laís Ribeiro seja respeitada nessa cidade.
ANDRÉ: E como vai fazer isso?
Doralice reflete, andando de um lado para o outro no quarto.
DORALICE: Uma festa. É, uma grande festa em Pedra Valente. A gente vai organizar uma comemoração e convidar todos os moradores da cidade.
ANDRÉ: Adorei a ideia! Mas essa festa precisa de um motivo, não?
DORALICE: Não precisa de muito. Vamos dizer que é uma celebração da nova gestão da fazenda.
ANDRÉ: Ótimo, meu amor. Você realmente tá pensando em tudo.
DORALICE: Mas antes, preciso encarar o Vicente. Quero que ele olhe nos meus olhos, que sinta minha presença. Só tenho medo que ele perceba algo...
ANDRÉ (a segurando pelas mãos): Relaxa, meu amor. Você é outra pessoa agora. Ele não vai suspeitar de nada.
DORALICE: E o Álvaro? Será que ele também não vai desconfiar?
ANDRÉ: Não vai. Confia em mim. Agora, se arrume, jajá vamos até a fazenda.
DORALICE: Antes eu preciso ir às compras.
CENA 02: CASA DOS GONZÁLEZ/INT./DIA
A família está terminando de organizar os móveis na nova casa.
CARMEM: Casinha mixuruca, a outra era bem melhor. Olha só essa parede toda descascando. Que horror! Benzim, ocê vai ter que reclamar com o André.
VICENTE: Para de reclamar, mulher. Com o tempo a gente dá um jeito nisso aí, uai.
CARMEM: Cadê Ritinha pra ajudar? (Grita) RITINHAAAAAAA!
VICENTE: Ela tá de folga hoje, esqueceu?
NATÁLIA: Eu sempre fui contra essa mudança, mas ninguém me deu ouvidos. Agora é tarde.
ÁLVARO: Bom, eu tô indo até a cidade. Tenho uma reunião com os veterinários da região e volto só à noite.
NATÁLIA: Vou com você, amor. Preciso fazer umas comprinhas.
JERÔNIMO: Eu também vou. Deus me livre ficar aqui arrumando móveis... não sou empregado de ninguém.
CARMEM: E vão deixar eu e Vicente aqui sozinhos? Que absurdo!
VICENTE: Ah, deixa eles, Carmem. Vão mesmo, gente! É bem melhor que ficar aqui ouvindo a Carmem resmungar a cada dois segundos.
ÁLVARO: Então até mais tarde.
Álvaro, Natália e Jerônimo saem, deixando Carmem e Vicente na casa.
VICENTE: Vamo agilizar isso logo. Daqui a pouco o André e a esposa dele chegam.
CARMEM: Já? Que ótimo, tô doida pra conhecer a tal Laís Ribeiro.
VICENTE: Não sei pra que tanto suspense pra ela vir se apresentar.
CARMEM: Ah, para, Vicente. Ela deve ser só uma mulher ocupada, cheia de negócios no Rio de Janeiro, só isso. (Pausa) Mas vem cá, onde é que ocê anda indo à noite, hein? Quase toda madrugada eu acordo e ocê não tá em casa. O que que tá acontecendo, Vicente?
A câmera foca em Vicente, alternando com Carmem.
Cortamos para imagens de Santa Aurora ao som de “Ai Ai Ai Mega Príncipe - Pabllo Vittar.”
CENA 03: CASA DE SILVINHA/INT./DIA
Silvinha chega em casa carregando várias sacolas.
SILVINHA: Olha só, mãe! Vem ver o que eu comprei!
Ela coloca as sacolas no sofá, e Marluce se aproxima, curiosa, começando a mexer nas compras.
MARLUCE (impressionada): Nossa, filha, quanta coisa! Mas o mês nem terminou... Comprou tudo isso com que dinheiro?
SILVINHA (gaguejando) Ah… então… eu pedi um adiantamento no hospital. O salário do mês passado já tinha acabado, acredita? E, sem dinheiro, né, mãe... não dá pra ficar. Aí eles adiantaram pra mim.
MARLUCE (desconfiada): Mas a situação tava tão apertada assim? Podia ter me falado, eu ainda tenho um pouquinho da minha aposentadoria.
SILVINHA: Imagina, mãe! Eu jamais pediria dinheiro pra senhora, pode ficar tranquila.
MARLUCE: Bom, se é assim… vamo comer, que a vida é curta. (Pausa) Filha…
SILVINHA: O que foi, mãe?
MARLUCE: Tava me lembrando da Morgana. Ela falou umas coisas esquisitas, dizendo que esse seu trabalho lá em Campo Grande é mentira. Ocê sabe como ela é, né? Mas me deu uma pontinha de dúvida.
SILVINHA (finge surpresa e ri, disfarçando): Ah, mãe, Morgana é uma louca. A senhora não lembra? Desde pequena tem inveja de mim, sempre foi assim. Ela queria ter a mesma sorte que eu. Coitada. Lembra daquela vez que ela riu da minha mochila da Cinderela na escola? Passou uma semana, ela lá com a mesma mochila que eu. Aquilo lá é uma peste, tenho pena dela.
MARLUCE (ainda desconfiada): Será mesmo, filha? Sei lá, só fiquei com isso na cabeça. Ocê sabe que eu só quero seu bem, filha.
SILVINHA: Não é possível que a senhora vai desconfiar de mim e acreditar naquela mal amada. Deus tá vendo, mãe, ele sabe muito bem o quanto eu tô batalhando a cada dia naquele hospital.
MARLUCE: Tá bom, filha, me desculpe. Eu só tava com essa duvida mesmo, mas é claro que eu acredito em você, meu amor.
SILVINHA: Não precisa se preocupar, viu? Vou lá preparar nosso café.
Silvinha se afasta e focamos no rosto de Marluce, que demonstra desconfiança e preocupação.
CENA 04: LOJA DE ROUPAS/INT./DIA
A cena mostra uma loja de roupas femininas em Santa Aurora. Natália passeia por entre os cabides e prateleiras da loja. Ela observa cada peça com atenção, passando as mãos pelos tecidos. “Missing Myself - Emilia Pedersen” toca no ambiente. A atendente se aproxima.
ATENDENTE: Precisa de ajuda?
NATÁLIA: Não, só tô dando uma olhada.
ATENDENTE: Olha, chegou uns modelos novos que acho que cê vai gostar. Vou lá pegar, jajá volto.
Enquanto a atendente vai buscar as peças, Natália continua olhando as roupas nos cabides. Segundos depois, Doralice entra na loja, olhando em volta. Ela vê Natália e se aproxima.
DORALICE: Oi, tudo bem?
Natália se vira para ela.
NATÁLIA: Oi!
DORALICE: Você trabalha aqui?
NATÁLIA: Como assim? Não entendi. Eu tenho cara de vendedora?
DORALICE: Ai meu Deus! Me desculpa, não foi minha intenção, é que você tava aqui perto das roupas e eu achei que…
NATÁLIA (dando uma risada curta): Tá tudo bem, não precisa se preocupar. Tô aqui tentando achar uma roupa pra passar no réveillon. Não encontrei nada interessante.
DORALICE: Eu também vim aqui procurar um vestido pra uma ocasião especial.
NATÁLIA: Festa, é?
DORALICE: Digamos que sim. Eu comprei uma fazenda perto daqui e eu quero fazer uma festa de “inauguração”, sabe? Inclusive quero que a cidade toda compareça.
NATÁLIA: Comprou uma fazenda? Peraí, que fazenda?
DORALICE: Pedra Valente.
NATÁLIA: Mentira.
DORALICE: Você conhece?
NATÁLIA: Mulher, então você é a tal Laís Ribeiro? Eu sou nora do Vicente, o ex dono da fazenda. (Pausa) Que mundo pequeno, não? Prazer, meu nome é Natália.
Doralice paralisa por alguns segundos, processando a coincidência. Depois, força um sorriso educado.
DORALICE: Jura?! Nossa, realmente essa cidade é pequena mesmo. Que prazer te conhecer! Mora lá na fazenda também?
NATÁLIA: Moro. Agora a gente se mudou pra outra casa, mas sim, moramos todos juntos.
DORALICE: Que legal! E seu marido, faz o que?
NATÁLIA: Ah, meu marido é veterinário. O sonho dele sempre foi esse, e agora finalmente ele tá realizando. Álvaro é um homem especial, sabe? Disciplinado, educado, um homem de bem.
Doralice congela por um momento, a expressão mudando rapidamente de interesse para um olhar surpreso e tenso. Ela fica em silêncio, claramente impactada pela menção do nome "Álvaro".
NATÁLIA (percebendo o silêncio, desconfortável): O que foi? Falei algo que não te agradou?
DORALICE (muda de assunto): Não, claro que não… eu só tô pensando aqui em qual vestido eu vou comprar. Vem cá, me ajuda a escolher.
No próximo take, elas já estão saindo da loja, com várias sacolas em mãos.
DORALICE: Vim comprar um vestido e olha só, quase comprei a loja toda.
Elas riem.
NATÁLIA: Mulheres, né?
DORALICE: Mas então, sobre a festa, eu quero que você vá. Vai ser muito importante a presença de todos os moradores da cidade e da zona rural. Vai ser depois de amanhã, à noite.
NATÁLIA: Claro, iremos sim. Você vai adorar conhecer o Álvaro, meu marido.
DORALICE: Eu vou até a fazenda hoje conhecer o Vicente, seu sogro. Meu marido disse que ele é um homem muito honesto e justo aqui na cidade.
NATÁLIA: Seu Vicente é um bom homem, sempre quer o bem de todos que estão por perto dele.
DORALICE (sorri): Bom, vou indo. Foi um prazer conhecer você viu?
NATÁLIA: O prazer é todo meu!
As duas se abraçam.
CENA 05: CASA DOS GONZÁLEZ/INT./DIA
Instrumental “Oud Oud - Pedro Guedes, Rafael Langoni” entra em cena e segue até o fim do capítulo.
CARMEM: Não vai me responder, Vicente?
VICENTE: Ah, Carmem, pelo amor de Deus. Vai ficar desconfiando de mim agora, é?
CARMEM: Desconfio! Desconfio sim, Vicente. Todo santo dia eu acordo de madrugada e ocê não tá em casa. Por que eu não iria desconfiar?
VICENTE: Eu já te falei que eu tenho amigos na cidade. A gente vai pro bar à noite conversar, jogar um truco. Não pode ter vida social agora?
CARMEM: Ah, conta outra, Vicente. Isso é conversa pra boi dormir… (pausa) se eu descobrir Vicente, que ocê tá tendo caso com outra, ocê que me aguarde.
VICENTE: Vai fazer o que, hein? Me botar pra fora de casa?
CARMEM: Também. Mas eu posso fazer bem pior do que isso. Lembra, Vicente, de Minas? Eu posso botar a boca no trombone e falar pra todo mundo do teu passado.
VICENTE (se exalta): OCÊ NUNCA MAIS REPITA ISSO, CARMEM! JAMAIS REPITA ISSO!
CARMEM: Ficou revoltadinho, Vicente? Pois fique mesmo. Fique mesmo.
VICENTE: Ocê não me provoca, Carmem… Essa história de Minas tá morta e bem enterrada, vai mexer nisso por que?
CARMEM: A única coisa morta e enterrada em Minas é o homem que ocê deu cabo, Vicente.
VICENTE: EU JÁ FALEI PRA NÃO MEXER NESSA HISTÓRIA.
CARMEM: Então ocê trate de ser um bom esposo. E acabou essas suas saídas à noite, tá me escutando? Agora vai ser tudo do meu jeito.
De repente, um barulho de carro se aproxima, chamando a atenção deles.
VICENTE: Será que é o André?
Vicente e Carmem vão até a porta da frente. Uma caminhonete estaciona, e de dentro dela descem Doralice e André. Eles se aproximam dos dois.
ANDRÉ (sorridente/apontando para Doralice): Olha só quem eu trouxe pra conhecer vocês!
VICENTE: Finalmente! Então ocê é a famosa Laís Ribeiro?!
Focamos em Doralice, temendo ser reconhecida. Vicente a observa com curiosidade, enquanto a câmera alterna entre os dois, que se olham.
CONGELAMENTO EM DORALICE.
A novela encerra seu 9° capítulo ao som de “Nuvem de Lágrimas - Cesar Menotti & Fabiano” (tema de abertura)
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