A Melindrosa,Cap 12 -01/01/2024

A Melindrosa 





1929


Cena 1- Manhã.Empresa Gaspar Cavalcante.Escritório de Nestor.


Ana Lúcia e seu pai se encaram profundamente.Ele não sabe o que responder a filha.Uma música de tensão toca ao fundo.


Ana Lúcia- Não vai me responder?.


Nestor- Oras.Como se atreve a dirigir-se a mim dessa maneira ? ME RESPEITE.


Ele se levanta da cadeira que estava sentado.Ana Lúcia repete o gesto de seu pai.Ambos de pé,ficam cara a cara,um encarando o outro.


Ana Lúcia- ME RESPEITE O SENHOR ! E NÃO TENS NENHUMA MORAL PARA ME PEDIR OU EXIGIR RESPEITO,QUANDO O PRÓPRIO NÃO SABE O SIGNIFICADO DESSA PALAVRA.ATÉ PORQUE SE SOUBESSE,NÃO ESTARIA ANDANDO POR AÍ COM UMA MULHER INDECENTE COMO AQUELA À NOITE.


A mulher está exaltada.


Nestor- VOCÊ NÃO SABE O QUE ESTÁ DIZENDO.ESSA É UMA GRAVE ACUSAÇÃO CONTRA A MINHA PESSOA.E ABAIXE O TOM DE VOZ.OU QUER QUE A REPUTAÇÃO DE NOSSA FAMÍLIA VÁ À LAMA? JÁ NÃO BASTA A VERGONHA QUE NOS FEZ PASSAR A QUASE VINTE ANOS ATRÁS!.


Ana Lúcia- Eu só quero que você pare de trair a minha mãe,ou então eu vou ter que tomar atitudes que não desejo.


Nestor- Ela não é minha amante.Foi apenas uma noite.Só isso.


Ana Lúcia- Me prometa que não irá voltar a se encontrar com ela.


Nestor- Eu prometo.


Ana Lúcia- Pois que assim seja.


Ana Lúcia sai da sala,satisfeita com o resultado da conversa.


Cena 2- Corredor da empresa Gaspar Cavalcante.


Ana Lúcia anda pelo corredor,atrás de seu filho,até que esbarra com Diego,que estava distraído levando alguns documentos.


Ana Lúcia- Ah meu Deus ! Me perdoe.


Ambos se encaram novamente,percebendo quem está a frente um do outro.


Diego- Ana Lúcia ! Que prazer te ver.


Ana Lúcia- Eu quem digo isso.Trabalhando muito ?.


Diego- Sempre.Uma correria.


Ana Lúcia- Sabe em que sala Benjamin está?.


Diego- Já escutei falar sobre ele,mas nunca me cruzei com ele por aí.


Ana Lúcia- Ah que pena.Vou atrás dele.Tchau.

Cena 3- Ruas de São Paulo.


Cleo anda na companhia de Joaquina.As duas chamando atenção por onde passam.


Cleo- Já está sabendo desse baile que a Primeira Dama vai dar ?.


Joaquina- Não,nem me convidou.


Cleo- Ah mas eu vou dar um jeito de entrar,não sei como,mas que eu vou entrar,eu vou !.


Joaquina para quando ver um jornaleiro anunciando jornais.


Joaquina- Ei ! Moleque,me dá um desse.


O menino dá um jornal a ela,e ela o paga com umas moedas.As duas voltam a andar,enquanto Joaquina lê seu jornal.De repente,a cafetina para,impactada com a notícia que está lendo.A idosa expressa satisfação e surpresa com a notícia que está lendo.


Cena 4- Empresa Gaspar Cavalcante.Area de separação dos tecidos.


Benjamin está observando a produção,até que Diego passa por ele.


Benjamin- Ei ,você.


Diego para e o encara.


Diego- Eu ?.


Benjamin- Sim.Você que é Diego não é ?.


Diego- Sim.


Benjamin- Prazer,eu sou Benjamin.Preciso que você vá ao escritório do Cezar.Rápido,por favor.


Diego- Mas agora eu tô ocupado.Posso ir depois ?.


Benjamin- Não.Tem que ser rápido,por favor.


Diego- Sim senhor.


Diego se retira a sala de César.Benjamin o aguarda.Logo,Diego volta,mas ao mesmo tempo,o superior dele chega ao local perguntando por ele.


O superior- Onde você foi Diego?. Estava precisando de você e você não estava onde deveria estar.Imprestável,mal chega e já acha que pode se dar ao luxo de abandonar seu posto de trabalho.


Diego- Mas senhor…


Benjamin- Já chega,eu não vou permitir que fale assim com ele.Ele estava cumprindo à minha ordem,apenas isso.Ou você quando chegou aqui também não cumpria ordens de qualquer um que te mandasse?.Não volte a falar assim com ele.Estamos entendidos ? (o homem balança a cabeça concordando) Que ótimo.Que isso não volte a acontecer.


Diego fica surpreso pela atitude do jovem,um climão se instaura entre os três.


Cena 5- Casa de Joaquina.Sala de estar.


A idosa está despida das roupas de trabalho,vestida mais confortável e simples.A senhora está reflexiva sentada sobre o sofá.


Joaquina- Como a vida é… Então quer dizer que… (ela ri).Aiaiai.


Joaquina anda até um quadro sobre uma estante na sala de estar.No quadro está a foto de uma jovem bela.


Joaquina- Minha filha,sinto tanta falta de você.Como queria poder voltar no tempo para ter lhe tratado melhor e ter dado tudo o que você merecia.


Luísa,que está atrasada para o trabalho,surge na sala para se despedir de sua avó.


Luísa- Vovó já vou… (ela percebe o semblante triste de sua avó) Não se torture vó.Deixe que ela descanse.


Joaquina- Nunca vou me esquecer de minha Antônia.


Luísa aproxima-se do quadro e admira sua mãe.


Luísa- Ela era linda.


Joaquina- E bota bonita nisso.


Luísa- Vovó,sei que pode não ser uma hora apropriada,mas… Quem é meu pai?.


Joaquina- Um homem horrível que só usou sua mãe.É tudo o que você precisa saber.


Luísa- Não é justo !.


Joaquina- Quem é justo é Deus !.Só eu sei o que passei com sua mãe durante a gravidez dela.


Luísa- Se sabe algo sobre ele,me diga.


Joaquina- Seu pai é de uma família rica,minha filha,só isso que posso lhe dizer.Não está atrasada para o trabalho não?.


Luísa- Ah sim.Tchau.


Joaquina- Tchau !.


Luísa sai de casa.A senhora anda em direção a seus aposentos.


Cena 6- Fim de tarde.Empresa Gaspar Cavalcante.Saída da empresa.


Diego está saindo de mais um dia longo e exaustivo de trabalho,Benjamin vem atrás dele,e o para.


Benjamin- Ei !Espera aí.


Diego para de andar e se volta para Benjamin,os dois iniciam uma conversa.


Diego- Seu Benjamin,como vai ?.


Benjamin- Queria mais uma vez te pedir desculpas pelo incômodo causado hoje quando te pedi um favor,se eu não tivesse feito aquele pedido,você não levaria uma bronca do seu superior.


Diego- Não precisa pedir desculpas,ele não é muito compreensível também.


Benjamin- Vai para casa ?.


Diego- Sim.


Benjamin- Tá afim de tomar umas doses ? Vou sair com uns amigos,quer vir comigo?.


Diego- Vamos.Sou novo por aqui,não tenho amigos ainda.


Benjamin- Pois vai fazer vários agora.Você vai gostar deles.


Cena 7- Mansão Bittencourt de Andrade.Sala de estar.


Mariane,Ana Lúcia e mais 4 mulheres estão reunidas,sentadas sobre um tapete no centro da sala.


Mariane- Hoje temos uma nova convidada entre nós meninas.Seja muito bem vinda Ana Lúcia.


Ana Lúcia- Agradecida querida.


Mariane- Como é a primeira vez dela aqui conosco,eu pensei que ela poderia começar a roda de hoje.Vai Lucinha.


Ana Lúcia- Boa noite gente.Não sei nem como começar,mas lá vou eu.Bom,eu sou casada com um homem péssimo,meu filho está se tornando cada dia mais parecido com o pai,e eu não sei o que fazer com ele.Minha vontade é matá-lo (as mulheres a encaram com espanto) Não me julguem.Ele manipula meu filho,sempre colocando-o contra mim.E no início do nosso casamento… Isso que vou falar,nunca comentei com ninguém,então vou pedir-lhes que mantenham-se em silêncio.Assim que nos casamos,fomos à uma longa lua de mel,e ficamos durante uns meses no Rio de Janeiro.E nessa época ele se aproveitava de… Ele me forçava a fazer amor com ele,ele me obrigava a… (ela não sustenta as lágrimas e começa a chorar,cheia de emoção pelas lembranças torturantes) Ter intimidades com ele.Ele me prendia na cama e me usava.Dizia que estava no direito dele.Que como marido e homem,esses eram seus direitos,e que eu era a culpada por deixá-lo assim.Eu sangrava,tremia,chorava,e ele continuava…


Flashback 

19 anos antes

1910


A jovem Ana Lúcia e o jovem Sebastião estão no quarto de hóspedes de um hotel no Rio de Janeiro.Ela está se preparando para dormir enquanto Sebastião lê um jornal deitado na cama.

Uma música de tensão vai tocando ao fundo e subindo de acordo com a intensidade da discussão.


Sebastião- Não vai dormir ?.


Ana Lúcia- Já vou.


Ela termina de arrumar seus cabelos e se deita na cama.


Ana Lúcia- Boa noite.Tenha bons sonhos.


Sebastião- Você não acha que eu vou dormir enquanto não te usar não é ?.Não vou mesmo.Eu mereço respeito Ana Lúcia.Sou seu marido.Por quanto tempo acha que eu vou aguentar não ter essas necessidades físicas que todo homem tem ?. 


Ana Lúcia- Mas eu não quero,e ponto final.Você é meu marido e não meu dono.Não vou e chega dessa discussão.


Sebastião- O homem quem tem a palavra final,eu quem decido.E você vai ser minha mulher hoje mesmo !.


Ana Lúcia- O que está dizendo? Me respeite,sabe muito bem que esse nosso casamento não tem amor de verdade.Você não passa por uma cortina de fumaça para esconder minha gravidez.O único homem a qual amei foi Osvaldo,e para sempre ele vai ser o meu único amor.Ponha-se em seu lugar.Nunca terá meu amor,nunca serei sua.


O homem se enfurece e começa a gritar com ela.


Sebastião- O que está pensando Ana Lúcia? Acha mesmo que tem algum poder de decisão? Pois não tem.Sabe essas rameiras que estava me distraindo por esses dias ? São mais dignas que você.Tem mais valor que você.São infinitamente melhores que você.Se entregou para o primeiro homem que gostou,e agora ele está morto.Enterrado.E de hoje não passa.Você vai ser MINHA !.


Ana Lúcia não se aguenta e dá um tapa na cara de Sebastião,ele se descontrola e vai para cima de Ana Lúcia.Ele a pega pelos ombros e a chacoalha,gritando em seu rosto.


Sebastião- ME RESPEITE.Agora é uma mulher de família,casada.Agora poderá ter um espaço na sociedade.Me agradeça porque eu te salvei de jogar na lama o nome da sua família.


Ele a joga na cama,dá um tapa na cara dela.Ana Lúcia grita desesperada.Ele prende a boca dela com a mão.Sebastião arranca as roupas dela com brutalidade,logo tira suas próprias roupas também.Ele a ameaça em seu ouvido,ela fica chocada e se cala com medo do que ele pode fazer.Sebastião começa o ato.Ana Lúcia segue chorando,com ódio,com medo,desesperada,finalmente se dando conta do pesadelo que teria que enfrentar pela frente.


Volta à cena normalmente 

1929


Ana Lúcia (chorando)-E foram longos e torturantes anos,mas aos poucos ele foi me deixando de lado.Depois começou a me respeitar mais,pelo menos durante nossas intimidades.Mas ao mesmo tempo em que deixou de lado essas brutalidades,ele começou a me humilhar,me constranger na frente das pessoas.E estamos assim até hoje.E nem meu filho entende a situação que eu passo,nem fica do meu lado,nem me defender.Sempre fica ao lado do pai,sempre…


Mariane e outras mulheres abraçam Ana Lúcia,a consolando.


Cena 9- Residência Gaspar Cavalcante.Sala de Estar.Sala de Jantar.


Luzia e Nestor jantam.


Luzia- Nestor,onde estava ontem à noite ? Estava lendo um livro e peguei no sono.Quando acordei você não estava aqui.Saiu sem nem me dar uma satisfação?.


Nestor se engasga,nervoso com a pergunta.


Luzia- Está bem ?.


Nestor- Ah minha querida,fui correndo dar uma ajuda a Ana Lúcia.


Luzia- Ah sim,claro.


Luzia disfarça,mas percebeu a mentira deslavada de seu marido.


Luzia (em seu pensamento)- Eu tenho que descobrir quem é a sirigaita que ele está saindo.Vou destruí-la !.






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