A Melindrosa
Capítulo 17
Abertura
1929
Cena 1- Praça.
Nestor ainda está surpreso com a notícia da amante,Cleo demonstra felicidade.Uma música de tensão toca ao fundo.
Nestor- Como isso foi acontecer ? Nós sempre nos cuidamos.
Cleo- Também não sei.Mas você sabe… Esses métodos não previnem cem por cento.Não foi culpa minha.
Nestor- Você não está me dando um golpe, está?.
Cleo se ofende.
Cleo- CLARO QUE NÃO!. Me sinto muito desrespeitada com essa pergunta.Como ousa duvidar de mim?.
Nestor- E agora ? O que iremos fazer ?.
Cena 2-Residência Serra e Dutra Cavalcante.Jardins.
Ana Lúcia está admirando o trabalho de Diego,e conversando com ele,enquanto ele tosa as plantas.
Ana Lúcia- O que pretende estudar Diego?.
Diego- Penso em medicina ou arquitetura.
Ana Lúcia- Belas profissões.Sua mãe estaria muito orgulhosa de você.
Diego sorri.
Diego- E a senhora ? Não estudou nada ?.
Ana Lúcia- Conclui o colegial somente.Logo depois casei e engravidei.
Diego- Desculpe-me por essa pergunta,mas a senhora é feliz no seu casamento?.
Ana Lúcia- Não,não sou feliz nesse casamento.Nunca fui.Essa é a verdade.Sebastião nunca me completou enquanto esposa.A verdade é que nunca gostei dele,assim como ele nunca gostou de mim… Perdão por estar aqui te enchendo com meus desabafos.
Diego- E não me incomoda.Para mim é um prazer estar na presença da senhora.
Ana Lúcia- Também gosto muito da sua companhia.Me faz tão bem.A muito tempo não me sinto assim,confortável na companhia de um homem além do meu filho e meu irmão.
Diego,percebendo a tristeza da patroa,se encaminha até ela e a abraça.”Ainda bem-Marisa Monte” começa a tocar.
Eles se afastam brevemente,e ficam se olhando olho no olho.
Diego- A senhora… Ana Lúcia,é a mulher mais… Honesta e boa que eu já conheci,me deu emprego quase sem me conhecer,não me tratou com diferença pela cor,sempre foi gentil e cordial.Tenho muito a lhe agradecer.
Os dois se olham,quase como se estivesse despindo-se com os olhos,transmitindo paixão,fogo,um amor que está começando a nascer em ambos,um sentimento que à muito tempo Ana Lúcia não sente,e que Diego nunca experimentou.
Cena 3- Cafeteria.
Sebastião e Cleo estão tomando um café e comendo uma torta.
Cleo (mastigando)- Ummmm,que delícia.Essa torta é muito boa,quero voltar aqui mais vezes.
Sebastião pisa nos pés dela para chamar a sua atenção.Ela é interrompida por Sebastião.
Sebastião- Você tinha me chamado aqui para me contar algo,o que era ?.
Cleo- Ah sim,já tinha até me esquecido… Então… Eu estou grávida.
Sebastião,que estava tomando um café,se engasga e tosse.
Cleo- Está bem meu bem ?.
Sebastião se recompõe.
Sebastião- Como isso foi acontecer ? Pelo amor de Deus,eu sou casado.Ninguém pode saber disso.
Cleo- Eu sei que sou a outra.E agora você com certeza vai arrumar outra que não vá ficar com os peitos mole,caídos e gorda como eu vou ficar.
Sebastião- Cala a boca um segundo… Tem certeza disso ?.
Cleo- Claro,absoluta.
Sebastião- Mas não é possível… Você está me dando um golpe da barriga,só pode ser.Em todos esses anos nunca nos aconteceu isso.Com tantas meretrizes que deitei isso nunca aconteceu,e veio passar justamente com você?. Me parece muito absurdo.
Cleo- Ah é ? Vai ser assim então? E aquelas palavras de amor que me falou naquele baile da primeira dama ? Eram falácias? Seu mentiroso.Mas é claro,se trai a esposa,quem dirá uma amante que nem eu.Pilantra,patife., cafajeste…
Sebastião- Cala a boca,e por favor,não faça um escândalo aqui.
Cleo se levanta e altera o tom de voz,as pessoas começam a olhar a situação.Musica cômica toca ao fundo.
Cleo- E você quer que eu fale como ? Eu falo como eu quiser.Se eu quiser gritar,eu grito,se eu quiser tirar minha roupa aqui,eu tiro também meu filho.Tá pra nascer homem que vai mandar em mim.A mim você respeita,imundo,salafrário,jumento,resto de espermatozoide,esperma mal reproduzido…
As damas ficam horrorizadas com o escândalo,enquanto os homens riem e acham graça do barraco.
Um funcionário se aproxima.
O funcionário- Senhora,por favor,mantenha a compostura.Os seus problemas vocês resolvem em casa.
Cleo- Ah é ? Pois aqui então é minha casa.E se vocês acham isso absurdo,é porque ainda não viram o que eu sou capaz de fazer meu amor.VOCÊS NÃO VIRAM NADA MEU AMOR! NADAAAAAAAAA !.
Completamente descontrolada,Cleo pega uma torta e joga em Sebastião.Depois pega a xícara e joga o café na cara do funcionário.Sebastião não se aguenta,e também joga em Cleo seu café,que derruba a mesa,e vai à mesa ao lado e pega,sem pedir licença,uma torta que alí estava disposta para seus consumidores,e joga em direção de Sebastião,mas acaba atingindo o funcionário que nada tinha a ver com a briga do casal de amantes.O funcionário revida e pega vários doces da vitrine e joga contra o casal,nenhum doce atinge Cleo ou Sebastião,ao contrário,atinge em cheio outros clientes,que revidam,e jogam contra o funcionário os doces e tortas que haviam comprado.Inicia-se uma guerra de bolos.
Cena 4- Casa de Joaquina.Sala de estar.
Joaquina está arrumada e se prepara para sair,quando ao abrir a porta,dá de cara com Luzia,que estava prestes a bater na porta.
Joaquina- Luzia? O que lhe traz a minha humilde residência?.
Em um corte,as duas já aparecem dispostas sob um sofá na sala.
Luzia- À muito que não lhe via.
Joaquina- Sim,mas gostaria que fosse direto ao ponto.Estou apressada,tenho que sair.
Luzia- É sobre Luísa.Como já deve saber,ela está namorando com meu neto.
Joaquina- Exatamente.Já sabia que era seu neto quando o vi no cabaré.Me recordo de tê-lo visto em algum jornal,que citava o sobrenome dele,ou algo assim.
Luzia- Sei muito bem o tipo de ensinamentos que você deve ter repassado a ela,obviamente valores e princípios não foram incluídos no currículo de formação moral dessa pobre moça.
Luzia é interrompida por Joaquina.
Joaquina- Se formos falar de moral,acho bom relembrar,que foi a mal criação que a senhora deu a seu filho que resultou num homem medroso,covarde e cínico,que seduziu minha filha e a engravidou,depois a abandonando,e a deixando a própria sorte.
Luzia- Não é sobre meu filho que venho falar.Peço-lhe encarecidamente que afaste Luísa de Benjamin,ou então quem o fará será eu,e as medidas que posso usar contra ela,não serão das melhores…
Joaquina- Está ameaçando minha neta? Não preciso te lembrar que ela também é sua neta.Não tem Deus no coração? Não tem arrependimento de ter feito o que fez ?.
Luzia- Querida não me venha com sua hipocrisia.Claro que me preocupo com Luísa,até porque se não me preocupasse,não interferiria nesse relacionamento sem futuro.Eles são primos,isso é incesto,por Deus Joaquina.Veja o absurdo que isto é.E Tem mais.Gostaria de saber qual o envolvimento dela com a amante do meu marido.
Joaquina- Amante de seu marido? Não me diga que carrega chifres ? (A idosa começa a rir) Ai,perdão luzia,mas é que é tão irônico você ter chifre,porque eu pensava que eles só iam vir à tona no apocalipse quando você se revelaria a esposa do coisa ruim,vai de retro.
Luzia- Me responda.
Joaquina- Não sei,qual o nome da amante de seu marido ?.
Luzia- Cleo,nome de meretriz mesmo.
Joaquina- Não conheço nenhuma Cleo.Talvez seja uma conhecida dela,quem sabe.
Luzia- Vou fingir que acredito.
Joaquina- Se você acredita ou não,o problema é seu fofinha.
Luzia- Não vou prolongar nossa conversa.Está tudo encerrado.O recado está dado,dê um jeito de separar nossa neta do meu neto.E para não dizer que sou uma bruxa sem coração,vou arrumar um bom marido para ela.Um marido rico e trouxa para sustentá-la.
Luzia e Joaquina saem da casa.De longe e escondida,Anastácia vê as duas,e não entende qual assunto ainda as une.
Anastácia- Luzia na casa de Joaquina ?.Meu Deus.O que une essas duas ?.
Cena 5- Igreja.
Ana Lúcia entra na igreja e vai direto falar com o Padre Horacio,que está conversando alegremente com Sisi,uma famosa melindrosa e dona de cabaré.
Ana Lúcia-Perdão,por interromper,mas Padre,podemos conversar ?.
Padre Horacio- É grave? Urgente ?.
Ana Lúcia- Não.Mas queria falar a sós com o senhor.
Padre Horacio- Não se preocupe,essa moça é de minha confiança,pode falar o que for na presença dela.
Sisi- Um instante,eu te conheço moça.Você não é a Ana Lúcia Serra e Dutra ?.
Ana Lúcia - Ah,sim sou eu.Bom já que você me conhece,e é de confiança do padre,acho que nós três podemos ter uma boa conversa.
Ana Lúcia desabafa e é acolhida pelos dois.
Cena 6- Tarde.Residência Gaspar Cavalcante.Cozinha.
Anastácia e Fernando estão sentados a mesa.
Anastácia- Confie em mim,pode falar.
Fernando- É tudo muito complicado… À quase 20 anos atrás,engravidei uma mulher,ela se chamava Antônia (Anastácia se surpreende com a revelação) Não dei o apoio que ela merecia,e que eu deveria dar como pai da criança.A abandonei,e com ajuda da minha mãe,que se encarregou de tratar de uma ajuda financeira para que ela cuidasse do nosso bebê,fingi estar adoentado nessa época,porque fui covarde,tive medo,não sabia o que fazer,estava assustado.E desde então nunca mais ouvi nada sobre o nosso bebê,nem sobre ela.À alguns dias atrás,perguntei a minha mãe sobre meu filho e a mãe dele,e ela me revelou que eles morreram.
Anastácia- Mas isso…
Fernando a interrompe.
Fernando- Isso é horrível,eu sei.Nunca consegui superar minha atitude,me sinto pior ainda agora sabendo que eles morreram.
Anastácia- Não se culpe meu bem.Você era muito novo nessa época.Agiu errado sim,mas o que passou passou,não tem como voltar ao passado,supere.
Fernando- Vou tentar.
Fernando se levanta e sai.
Anastácia (falando consigo mesma)- Que mulher maldita.Como ela pôde inventar essa mentira?.Então era sobre isso que ela conversava com Joaquina hoje.Pobre do meu Fernando,tão bonzinho,não merece isso.
Fernando volta a cozinha.
Fernando- Tia,Benjamin e sua namorada estão aqui.Vim pegar algo para eles beberem e ele quer aproveitar para te apresentar a moça.
Anastácia-Ah que ótimo.
Corta para a sala de estar.
Luísa e Benjamin estão um ao lado do outro de pé.Fernando e Anastácia surgem na sala de estar,a funcionária vem com uma bandeja com suco,água,e uns doces,ela dispõe a bandeja sobre um centrinho no meio da sala.
Benjamin- Luísa,essa é Anastácia,que foi minha babá e da minha mãe e do meu tio também.
Luísa e Anastácia se encaram.Ambas recordam-se do encontro que tiveram no capítulo passado.Anastácia se surpreende,e Luísa não sabe como reagir.Ambas dissimulam e se cumprimentam,fingindo não se conhecerem.
Cena 7- Rua da casa de Cleo.
Uma música de tensão e mistério toca ao fundo.Um homem disfarçado joga gasolina na fachada da casa,logo depois,arromba a porta e joga uma bomba,voltando para a frente,ele acende alguns fósforos e ateia fogo no local.Sai correndo sem ninguém vê-lo.Não demora muito e a casa já está tomada por chamas,a bomba explode,causando destruição.
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