Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 01
LETREIRO:
Brasil, Sudeste, Vale das Rosas, 31 de março de 1920.
Cena 01. Avenida. Exterior.
Dia.
O
pacato município de Vale das Rosas em sua avenida principal, recebia uma
orquestra sinfônica acompanhada de malabares e passistas, que desfilavam em
comemoração a mais um ano de emancipação.
O
clima era festivo, nas calçadas, crianças e adultos acenavam para os músicos, e
carros em baixa velocidade seguiam os instrumentistas.
Dentro
de um Renault GS, o único da cidade, estava DR. JÚLIO HANS, homem
alto, moreno, de boa aparência, com um cavanhaque milimetricamente fino,
sorrindo bobamente, lançava flores para as pessoas posicionadas na calçada. O carro era dirigido por SALAZAR, seu motorista, que por sua vez exclama:
SALAZAR:
- Senhor, iremos buscar a Sra. Hanns?
JÚLIO:
- Certamente, ela nos aguardara em frente a floricultura, assim, continuamos o
cortejo.
SALAZAR:
- Sim, Senhor! (ajustando o quepe e a
gravata)
De
repente uma das passistas tropeça no paralelepípedo e sofre uma entorse no
tornozelo, estagnando toda a orquestra, fazendo com que os carros por detrás, paralisassem.
JÚLIO e
SALAZAR tentavam enxergar o que
estava ocorrendo, mas em meio à multidão de carros e pessoas, tornara uma ação
dificultosa.
ABNER,
homem alto, negro, magro, e de boa aparência, traje social e chapéu, que estava
na calçada, avista JÚLIO e corre até
veículo, aproximou, apoiou-se a porta lateral direta do passageiro.
ABNER:
- Senhor, vejo logo a frente que paralisaram o desfile, gritaram que uma das
coreógrafas teve uma lesão e precisará ser socorrida.
JÚLIO:
- Certo, penso que coisas como esta acontecem (olha fixamente para Abner), se puder me ajudar, como a floricultura
fica a poucas quadras daqui, adiante-se, chame Olívia e aguardem, passaremos
buscá-la.
ABNER:
- Senhor, assim farei!
JÚLIO:
- Obrigado!
ABNER se
distancia do carro e se emaranha entre as pessoas nas calçadas, Júlio volta as
atenções para a orquestra, ainda imobilizada.
Cena
02. Floricultura. Interior. Dia.
OLÍVIA,
mulher de média estatura, cabelos castanhos escuros e curtos, olhos fartos,
lábios rosados, se enveredava pela pequena estufa, anexa a floricultura. A
alegria em seu semblante era estonteante, seu vestido esvoaçante, estava pronta
para sair do local, quando um vento impetuoso adentra, fechando instantemente a
porta de madeira.
OLÍVIA
(em pensamento): - Oras, preciso
fazer isso depressa, daqui a pouco Júlio chegará e eu não estarei pronta.
OLÍVIA
pegava mais algumas camélias para colocar na cesta que estava preparando,
quando escuta o ruído da porta enferrujada abrir lentamente, parecia ser manejada
por alguém. Um arrepio corporal toma conta de si e redobra suas atenções para quem
estava no outro lado.
OLÍVIA
(voz embargada): - Júlio, é você meu
amor? Não se incomode, estava preparando uma cesta com várias flores, quero
lançar nas ruas, nas praças (pausa)
você está me ouvindo? Júlio? Jú... (INTERROMPIDA).
Um
som estridente, atordoante e eclodido toma conta da estufa, o cheiro de pólvora
sobe as narinas de OLÍVIA, lacrimeja
instantaneamente, solta a cesta, espalhando as pétalas. Ela passa a mão na
barriga, sente o sangue entre os dedos, e em poucos segundos fica trêmula e
flácida, tenta ver quem estava à espreita da porta, mas já era tarde, sua visão
fica turva e despenca ao chão.
Cena 03. Floricultura.
Exterior. Dia
ABNER,
caminha lentamente pela rua onde ficava a floricultura, observa que estava
vazia, nem mesmo um pássaro pousado sobre a calçada. Ele chega em frente ao
local, observa que a porta estava entreaberta, puxa a maçaneta e entra vagarosamente.
ABNER:
- Sra. Hans, venho a pedido de seu marido, solicitar que aguardemos aqui em
frente, a orquestra teve um problema, pode ser que atrase alguns instantes para
continuar o festejo.
ABNER,
espera, mas estranha que OLÍVIA não
tenha respondido prontamente seu chamado, decide caminhar mais adiante,
atravessando o hall de entrada e no corredor à esquerda liga a uma porta de
madeira que dá acesso a estufa.
Ao
se aproximar da porta de madeira, que estava entreaberta, uma irritação atordoa
seus olhos, pois a claridade do acrílico que envolvia a estufa era imensa,
então, ABNER adentra olhando para
cima e tapando o rosto com as mãos, ao baixar a cabeça, seu coração dispara,
suas perdas bambeiam, era o corpo de OLÍVIA
estirado ao chão rodeado de pétalas.
ABNER
(voz embargada): - Olívia, por
favor, peço-te que se levante, espero não seja uma de suas traquinagens.
ABNER
vai aproximando-se cada vez mais, até ficar nítido o sangue concentrado na
barriga dela, o semblante pálido e a boca ressacada faz ele acreditar
rapidamente que já estivesse sem vida. Ele se ajoelha ao lado do corpo, retira
o chapéu e coloca ao peito, curva a cabeça.
ABNER
(chorando copiosamente): - Minha
amada (pausa - limpa o rosto), eu
não consigo te olhar assim (nova pausa –
soluça), me perdoe por não estar aqui, por não te proteger.
ABNER
escuta a buzina de um carro tocar três vezes seguida, ele se põe em pé, ainda
atordoado, com lágrimas escorrendo em sua face, ouve passos largos percorrem a
floricultura.
JÚLIO:
- Abner, achei que – olha instantemente
para o chão – OLÍVIA!
JÚLIO entra
correndo na estufa e se derrama sobre o corpo, ele chacoalha, grita em seu
ouvido, tenta medir a pulsação, escutar as batidas do coração, mas percebe que
já era tarde demais.
ABNER não
suporta ver aquela situação, se retira da estufa e corre pedir socorro,
enquanto Júlio ajoelhado, aos prontos, segura o corpo de OLÍVIA em seu tórax, com um olhar perdido.
Cena
04. Cemitério. Exterior. Tarde.
No
dia seguinte, JÚLIO estava com
trajes formais, totalmente preto, olhando para o túmulo de sua amada, seu
semblante era de desolação, tristeza profunda, incompreensão de tudo que estava
acontecendo.
JÚLIO
sente uma mão forte apertar seu ombro, logo se vira, era BALDINO, pai de OLÍVIA.
BALDINO
(voz embargada): - Preciso ir,
Sebastiana já está na carroça, ela precisa descansar um pouco, está
desacreditada.
Se
abraçam e se afastam em poucos segundos. Outras pessoas acenam para JÚLIO e vão se despedindo, se
dispersando. PADRE ELVIS, com vestes
clericais, se aproxima, coloca as mãos no ombro do homem.
PADRE
ELVIS: - Olívia era temente ao Senhor, não temas, Deus é
contigo, assim como foi com ela, que já cumpriu sua missão, seja forte e
permaneça na fé.
JÚLIO
responde ao Padre com olhar lacrimejado e um ríspido sorriso no canto da boca
que em fração de milésimos, se desfaz. Assim, em poucos minutos somente ele
permanecera no local, quando SALAZAR se
aproxima e tira o quepe.
SALAZAR:
(lamentoso) - Senhor, fique o tempo
que for preciso, estarei aguardando no carro.
SALAZAR
também se retira, JÚLIO por sua vez,
passa a observar o céu, o tempo estava nublado, de repente, escuta alguns
passos na grama, era ABNER, chegando
mais próximo, JÚLIO muda a fisionomia,
fica mais sério, desconfiado. Os dois ficam frente a frente.
ABNER:
(entristecido) – Senhor, precisa que
eu providencie alguma coisa?
JÚLIO:
(engrossando a voz) – O que deveria
ter feito, não fez, em que mais poderá ajudar?
ABNER
curva a cabeça a passa a chorar amargamente.
ABNER:
(voz embargada) – Senhor, eu não
pude fazer nada, quando cheguei, ela já se encontrava sem vida, eu amava muito
Olívia.
JÚLIO:
(olhando fictamente): - Eu também
amava, mas não é a mesma coisa, vocês eram irmãos de criação, ela era a minha
mulher, você precisa entender isso!
ABNER:
(voz embargada) – Senhor, não diga
que preciso entender algo, eu sei quem sou.
JÚLIO é
tomado por um acesso de raiva, pega ABNER
pelo colarinho da camisa e passa a lacrimejar.
JÚLIO:
(aos berros) – Você deveria ter
feito algo, quando cheguei estava ao lado dela, inerte, chorando como se fosse
o marido – pausa – você deveria ter solicitado
por ajuda!
ABNER:
(tentando se soltar) – Senhor, você
está me machucando, por favor, vamos conversar civilizadamente.
JÚLIO
solta ABNER e o empurra, que cai de
costas no gramado. ABNER enxuga as
lágrimas e se levanta, ajustando o traje.
ABNER:
(exaltado) – O senhor não sabe o
quanto eu estou sofrendo, a Olívia é parte de mim, ela é a pessoa que mais me
ajudou nesta vida – pausa – desde quando
a família dela me adotou, sempre fomos companheiros, amigos e não escondo isso
de ninguém, nem mesmo do senhor!
JÚLIO:
(exaltado) – Realmente, Olívia era a
pessoa mais bondosa e caridosa que eu conheci, não posso negar, e você se
aproveitou disso!
ABNER:
(indignado) – Como disse? Eu não
acredito que o senhor está me culpando, ela já estava sem vida, eu lamento!
ABNER
não contém as lágrimas, se ajoelha ao chão, ao lado do túmulo, JÚLIO não se domina e se ajoelha também
ao lado do amigo, um olha para o outro, com um sentimento único de perdão,
abraçam-se, neste instante um chuvisco lento e silencioso começa a cair.
LETREIRO:
Semanas depois...
CENA
05: Mansão de HANS. Exterior. Dia
GARDÊNIA,
a governanta da mansão, põe-se a porta da grande casa, os cinquenta metros que
separavam a porta até o portão central, eram envoltos por um jardim
inigualável, flores de diversas espécies, onde no meio da passagem, havia um
chafariz.
Gardênia
desce bruscamente a escada e atravessa o jardim, aproximando-se do portão com
grades horizontais, encara friamente MAGNO,
um artista popular da cidade.
GARDÊNIA:
- Pode sair do portão dessa casa, Hans não o receberá, está em luto e precisa
de repouso, por favor, volte em outros tempos!
MAGNO:
- Minha senhora, é um presente, eu fiz um retrato de Olívia, e gostaria de
entregar a ele, é algo de coração, como forma de agradecimento por tudo que fez
pela nossa cidade.
GARDÊNIA:
(enfurecida) – Não quero problemas a
você, pegue sua obra, e SAI DO PORTÃO DESSA CASA!
MAGNO fica
entristecido com a estupidez de GARDÊNIA,
é neste instante que AUGUSTO e o DELEGADO chegam, surpreendendo a
governanta.
AUGUSTO:
(sarcástico) - Magno! Um artista de
mão cheia, certamente meu caro amigo Hans irá adorar este presente!
GARDÊNIA
e AUGUSTO se encaram de forma
provocativa, ela entende a presença de ambos, abre o portão.
AUGUSTO:
- Irei levar o quadro, somos gratos por sua gentileza!
AUGUSTO
pega o quadro das mãos de MAGNO e
entra, sem dizer uma palavra à GARDÊNIA,
enquanto o DELEGADO retira o chapéu
e a cumprimenta com um aceno. MAGNO,
por sua vez, esboça um sorriso envergonhado, e a governanta o retribui batendo
o portão em sua cara e virando-se para retornar a mansão.
Cena
06: Mansão de HANS. Escritório. Interior. Dia
JÚLIO
estava sentado à mesa executiva, de madeira maciça, o local continha uma
estante embutida na parede com inúmeras literaturas. AUGUSTO e o DELEGADO
estavam sentados nas poltronas postas no escritório.
JÚLIO:
(cabisbaixo) – Dr. Delegado, eu
compreendo que faz parte das investigações, mas Abner não foi e nunca será
culpado de qualquer coisa relacionado à Olívia.
AUGUSTO fica
entediado, começa a balançar as pernas e entrelaçar os dedos, olha para o
Delegado.
DELGADO:
- Sr. Hans, sei que está vivendo um momento particularmente delicado, mas
investigações não levam em considerações nossas emoções, mas sim materialidade
criminalística e indícios de autoria, e Abner, seu funcionário, é o único e
principal averiguado.
AUGUSTO:
- Hans, meu caro, Abner era o único que estava no local quando você mesmo
chegou, ele era alguém de sua confiança e muito próximo a Olívia, quem garante
que ele mesmo, aproveitou-se da oportunidade para cometer tal atrocidade, aliás
(INTERROMPIDO).
JÚLIO:
(Exaltado) – Não diga mais nada,
Augusto, somente não quero que induza essa investigação em torno dessas
suspeitas infundadas!
DELEGADO:
- Sr. Hans, não são suspeitas infundadas, sei que estamos com uma dificuldade
de apurar o tempo e a dinâmica dos acontecimentos, mas já temos algumas
verdades. Entre elas, a única impressão digital que a perícia da capital
encontrou foi justamente a dele.
JÚLIO:
(Exaltado) – Delegado, me desculpe,
mas obviamente encontrará as impressões digitais dele no local, ele trabalha na
floricultura, certo que era o dia de folga, com certeza deve ter aberto a
porta, pois eu mesmo quem pedi para ir ao encontro de Olívia. Poderia ter até
mesmo as minhas digitais perdidas pela floricultura.
DELEGADO:
- Sr. Hans, serei mais claro, o que quero dizer é que nem mesmo as digitais de
sua falecida esposa, estavam nas maçanetas das portas, por exemplo.
AUGUSTO:
- Abner, com certeza, em poucos minutos poderia ter limpado tudo, já que conhece
toda aquela loja, não aparece que foi ocasional?
JÚLIO:
(Exaltado) – Augusto, por favor,
PARE!
AUGUSTO
respira fundo e desvia o olhar para a mesinha no centro da sala.
DELEGADO:
- Abner, prestou esclarecimentos na delegacia poucas horas após o ofício
fúnebre de sua falecida esposa, assim, colhemos as digitais e além disso eventuais
vestígios de pólvora na roupa, nas unhas, cabelo, e neste ponto, ele conseguiu
sobressair, não foi constatado nada. O resultado chegou a poucos dias.
JÚLIO:
(aliviado) – Isso era uma certeza
absoluta!
DELEGADO:
- Ficará pronto nas próximas semanas o exame de balística e descobriremos qual
foi a arma usada no crime.
MARICOTA,
a empregada da mansão, entra sorrateiramente no escritório equilibrando uma
bandeja com três xícaras de café.
MARICOTA:
(berrando) – com licença “seu”
Júlio, está mais que bom esse cafezinho! Ei de levar um pouco para casa (profere algumas gargalhadas).
MARICOTA, serve
os três e se retira do escritório. Os três tomam o café, o DELEGADO se levanta, os agradece, apertando a mão de ambos e se
retira do local. AUGUSTO, senta na
cadeira em frente à mesa de JÚLIO e
o encara.
AUGUSTO:
- Independente de tudo Hans, conte comigo, sempre!
JÚLIO:
- Meu amigo, eu sei que posso contar com você, só tenho a agradecer todo seu
empenho, mas não quero que toque novamente no nome de Abner como se fosse um
marginal, minha amada Olívia tinha ele como irmão, e em respeito à memória
dela, vamos assim permanecer.
AUGUSTO:
- Você está certo, policiarei minhas palavras e não tornarei a dirigir esses
termos sobre ele.
AUGUSTO se
levanta e vai até a porta, encostado na parede estava um quadro, envelopado, o
quadro era razoavelmente grande.
AUGUSTO: - Meu caro, esse presente é de um grande
artista da cidade, o pintor Magno, aquele fica na praça e na estação de trem
desenhando pessoas, é um talento raro.
JÚLIO
prontamente se levanta e começa a desembrulhar o quadro, e para sua surpresa o
retrato era muito realista e os traços de OLÍVIA
estavam perfeitos, JÚLIO não
consegue segurar a emoção e passa a chorar copiosamente, AUGUSTO se aproxima e o abraça.
LETREIRO:
05 ANOS DEPOIS – 31 de março de 1925.
Cena 07: Estação Ferroviária.
Exterior. Dia.
A
estação estava relativamente vazia, no último vagão, descia HERCULANO que carregava duas malas,
logo atrás vinha ISOLDA, carregando
apenas uma pequena bolsa pessoal, caminhavam em direção as escadas que davam
para a saída, quando HERCULANO
observa uma placa que indicava o sanitário masculino.
HERCULANO:
- Isolda, permaneça aqui, irei ao sanitário.
ISOLDA,
assente, balançando com a cabeça e ficando com as malas. Nesse mesmo interim, MAGNO chega no piso da estação, coloca
duas cadeiras no chão e prepara todos seus apetrechos de trabalho, um quadro
branco, alguns pincéis.
MAGNO
por um lapso acaba olhando ao seu redor, quando repara em ISOLDA que estava ainda de lado, não era possível ver seu rosto,
uma vez que a distância atrapalhava. Ao passo que ISOLDA vira o corpo e apresentando sua face (mulher de média
estatura, cabelos castanhos escuros e curtos, olhos fartos, lábios rosados), MAGNO, à distância sem ela perceber,
vai desenhando alguns traços, porém, ligeiramente começa a ter a percepção que
aquele rosto lhe era familiar.
MAGNO:
(assustado) – Meu Deus! Eu já fiz
esse rosto, eu conheço!
MAGNO é
tomado pela curiosidade, decide ir até Isolda, que logo percebe sua
aproximação, quando o homem fica frente a frente a ela, o susto é ainda maior.
MAGNO:
- Minha senhora, me desculpe não pude esconder minha curiosidade, qual sua
graça?
ISOLDA:
- Prazer, meu nome é Isolda, o senhor gostaria de algo?
MAGNO:
- Isolda, o prazer é todo meu. Sou retratista e estou impressionado como a senhora
é em tudo idêntica a uma mulher que já desenhei, mas de alguma forma me esqueci
de onde exatamente ela é, faz algum tempo.
HERCULANO retorno
do banheiro e indaga esposa,
HERCULANO:
- Isolda, esse senhor está te importunando?
MAGNO
fica trêmulo olhando para ISOLDA e
para o chão ao mesmo tempo, tentando lembrar quem era a pessoa.
ISOLDA:
- Não amor, esse senhor apenas me fez um questionamento.
HERCULANO:
(alterando a voz) - Você não deve
responder nada, vamos!
MAGNO arregala
os olhos e diz:
MAGNO:
(espantado) - OLÍVIA! A senhora é
idêntica a ela, vocês são irmãs gêmeas?
ISOLDA:
(confusa) - O que?
HERCULANO:
- Vamos Isolda, deixe esse estranho aqui.
HERCULANO pega
abruptamente o braço ISOLDA, carrega
as outras malas com apenas uma mão, e sai apressado da estação ferroviária,
deixando MAGNO embasbacado.
Cena
08: Mansão de HANS. Sala de Estar. Interior. Dia.
JÚLIO
desce os últimos degraus da escada, estava informal, camiseta, bermuda e colete
que os prendiam e um sapato, GARDÊNIA,
fica atônita, parecia não ver o patrão daquela forma.
GARDÊNIA:
- Sr. Hans, poderia ajuda-lo em algo?
JÚLIO:
- Preciso espairecer a cabeça, estou a muito tempo em meus aposentos – pausa – está se referindo aos trajes?
GARDÊNIA:
- Certamente, o senhor não costuma sair dessa forma, nem mesmo do seu quarto
assim – olhando da cabeça aos pés –
penso que irá passear pelo jardim.
JÚLIO
esboça um sorriso sarcástico, se vira e caminha rapidamente até porta, GARDÊNIA, abismada o segue, que
rapidamente se retira.
Passando
pelo jardim, JÚLIO repara que o
local estava muito debilitado, pois aparentava a muitos meses não ter nenhuma
manutenção, as flores estavam murchas, a grama estava seca. Aproximando-se do
chafariz, SALAZAR, sentado na borda,
se levanta, coloca o quepe e se posiciona como se fosse bater continência.
SALAZAR:
- Senhor Hans, para onde iremos?
JÚLIO:
- Salazar, meu companheiro, peço-te que tire um dia de descanso, irei andando e
voltarei andando, até mais ver!
JÚLIO se
apressa para chegar ao portão, GARDÊNIA,
mesmo com certa dificuldade uma acelerada e chega até o motorista.
GARDÊNIA:
(afoita) - Faça alguma coisa, o senhor
Hans está fora de si, olha os trajes que esse homem está – apontando – pensas que é um menino? Salazar, faça alguma coisa!
SALAZAR:
(sorrindo) – Não adianta, quando ele
diz algo, é melhor não contrariar.
JÚLIO
fecha o portão com imoderada força, GARDÊNIA
fica inconformada, observando o patrão caminhar pela rua até o perder de vista,
enquanto, SALAZAR, tira uma goma de
mascar do bolso e observa a aflição da governanta.
CENA
09 – Avenida. Exterior. Dia.
JÚLIO
caminhava pelas ruas, os populares olhavam para ele e cochichavam, ele entendia
que por ser um homem amplamente conhecido na cidade, seus trajes chamariam a
atenção.
O
dia estava ensolarado, as pessoas já se aglomeravam nas calçadas, era mais um
aniversário da cidade, a famosa passeata com a orquestrava estava prestes a
começar, JÚLIO se aproxima de uma
mulher que lia um jornal, na manchete estava:
“ JÚLIO
TRISTÃO, O VIÚVO MILIONÁRIO QUE NADA TEM”
JÚLIO
termina de ler a frase e se enfurece, tenta desviar o olhar para a rua, mas seu
ódio impede, que tenta ler mais alguma coisa, contudo, a mulher fecha o jornal
ao escutar os aplausos e assovios, a orquestra entra na avenida, o desfile
começa.
CORTA PARA:
ISOLDA
e HERCULANO estavam dentro do carro,
que percorria lentamente o centro da cidade, o motorista faz um alerta:
MOTORISTA:
- Senhor, preciso informar que a orquestra irá atrasar nosso percurso, o
desfile comemorativo deve ter começado. Precisaremos seguir a avenida central
para chegar ao casarão, muitas ruas aqui do centro estão fechadas.
ISOLDA
olha pela janela e ao passo que o carro vai adentrando a avenida, ela admira as
diversas pessoas nas calçadas, com bandeiras, risos, fica encantada com o
momento.
ISOLDA:
- Olha amor, que belo, o povo, os pequeninos!
CORTA PARA:
Um
sargento alisava a crina do seu cavalo, que carregava sobre si o brasão da
cidade, o homem nota que o cavalo aparentava estar muito irritado, ele tenta
acalma-lo, mas nada impedia a inquietude, é quando o equino levanta as duas
patas da frente e solta-se do homem, que cai bruscamente ao chão. O animal
corre desvairado pela avenida.
CORTA PARA:
JÚLIO
e outros pessoas percebem em meio a passeata um cavalo desgovernado, as pessoas
nas calçadas se espalhavam e gritavam para as autoridades policiais notarem que
o equino estava solto.
CORTA PARA:
HERCULANO se
revirava dentro do carro, e ISOLDA
percebe sua ansiedade, mas fica em silêncio, até que ele não aguenta mais.
HERCULANO:
(berrando) - Pare aqui, estou
apertado, preciso usar o sanitário.
ISOLDA:
(atônita) - Novamente?
HERCULANO
entrega algumas gorjetas ao motorista.
HERCULANO:
- Irei abrir a porta malas, pegar nossas bagagens – olha para Isolda – saia do carro!
ISOLDA
obedece ao marido, e abre a porta lentamente, enquanto HERCULANO já estava fora, antes de sair ela acena para o motorista
que retribui.
CORTA PARA:
JÚLIO
observa que o cavalo ainda não fora capturado, sente uma angústia descomunal,
decide caminhar pela avenida, até que percebe o cavalo correr em direção a uma
mulher que acabara de descer de um carro, JÚLIO
é tomado por um ímpeto de bravura e corre.
CORTA PARA:
ISOLDA
fecha a porta do carro e se vira para a rua, logo percebe que um cavalo vinha
afoito em sua direção, fica sem reação, tenta correr, todavia, o equino levanta
as duas patas da frente, ISOLDA, instantaneamente
se joga ao chão e cobre o rosto para não ser ferida. Repentinamente o cavalo é
controlado, descendo suas patas ao chão, apenas relinchando.
Quando
ISOLDA olha para cima, vê a silhueta
de um homem, montado sobre o animal, a luz reluzente do sol impedia que visse
com nitidez o rosto.
Encima
do cavalo, JÚLIO estava extasiado, a
mulher jogada ao chão, indefesa, trêmula, era a imagem e semelhança de OLÍVIA, seus olhos passam a lacrimejar,
seus lábios secam, o nó na garganta impede que qualquer palavra fosse proferida.
Encerramento