07/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 07 (07/04/2025)


Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 07

 

Cena 01: Mansão de Hans. Sala de estar. Interior. Dia.

 

JÚLIO toma a água, entrega o copo à MARICOTA, fica mais relaxado, todos ficam em silêncio observando-o. Neste instante, JÚLIO passa a respirar pausadamente, seu semblante parecia voltar ao normal, ele começa a observar de um lado para o outro, e quando olha para a parede, não encontra o quadro de OLÍVIA, toma um susto.

 

JÚLIO: (assustado) – Oras, onde está o quadro de Olívia? O que fizeram com o quadro?

 

GARDÊNIA encara MARICOTA, a empregada por sua vez, faz cara de espanto, AUGUSTO fica atônito, o clima torna-se extremamente tenso.

 

GARDÊNIA: (apavorada) – Senhor Hans, com todo respeito, olhe bem, o quadra está na parede!

 

JÚLIO, tem um ataque de espasmos momentâneos, foram vários arrepios sequenciais, o homem, esfrega os olhos com os dedos, esbugalha e consegue enxergar o quadro de OLÍVIA no mesmo local de sempre, intacto, o homem se apavora.

 

JÚLIO: (apavorado) – Meu Deus! Por um instante imaginei que o quadro não estivesse no devido lugar!

 

MARICOTA: (amedrontada) – “Seu” Júlio, está nos assustando, precisei leva-lo para um descarrego!

 

AUGUSTO: (surpreso) – Hans, por favor, nos diga que está tudo bem mesmo! Senão, iremos trás de medicamentos!

 

JÚLIO: (assustado) – Estão blefando! Minhas faculdades mentais estão em dia, não há motivos para me medicar!

 

GARDÊNIA: (assustada) – Hans, você está fora de si nesses últimos dias, é pesadelo, é espasmos, sustos, você está sobrecarregado!

 

MARICOTA: - Eu disse “seu” Júlio, vamos atrás de um...(INTERROMPIDA).

 

GARDÊNIA: (grosseira) - Maricota, volte à cozinha! Agora!

A empregada corresponde com um olhar de desgosto, mas atende ao pedido da governanta e retorna ao trabalho. JÚLIO toma o último cole de água, entrega o copo à GARDÊNIA.

 

GARDÊNIA: - Hans, deixarei você e o doutor Augusto conversarem, requerendo meus auxílios, por favor, me chame!

 

A governanta se retira, AUGUSTO encara o amigo.

 

AUGUSTO: (complacente) - Hans, estou muito preocupado, andas muito nebuloso, observo seu semblante abatido, como se estivesse oprimido, meu amigo, quer dizer algo?

 

JÚLIO: (taciturno) – Augusto, essa última semana, depois daquele encontro com aquela mulher no desfile, parece que meus pensamentos entraram em confusão – respira fundo – sinto que estou bem, contudo, por momentos vejo um filme passar pela minha cabeça, é como se Olívia estivesse ainda em nosso meio.

 

AUGUSTO: - Caro amigo, posso imaginar a dor que sente todos os dias, pode passar anos a fio, mas as lembranças de um grande amor jamais se apagarão. No entanto, Hans, precisamos que você permaneça firme, nesses últimos dias tem nos assustado com alguns comportamentos e situações que não são de sua natureza.

 

JÚLIO: - Não posso contrariá-lo – respira fundo – vejo que estou um tanto agoniado.

 

AUGUSTO: - Hans, uma vez eu li um estudioso dizer a respeito das fases do luto, que cada ser humano corresponde de uma forma, por isso, digo que sou inteiramente compreensivo com esse momento, conte comigo, em todos os momentos!

 

JÚLIO: (emocionado) – Meu grande amigo, sempre ao meu lado, sou grato por sua perseverança, como poderei recompensá-lo?

 

AUGUSTO: (abrindo um sorriso) – A única forma de me sentir recompensado por ter sua amizade é me prometendo que permanecerá firme e, logo mais essa fase irá passar. Sempre me avise de tudo que se passa em sua vida, quero sempre estar por perto!

 

JÚLIO: (emocionado) – Você sempre fará parte de minha vida, meu caro!

 

AUGUSTO se levanta, JÚLIO também, os dois se olham, sorridentes, se abraçam respeitosamente com recíprocas palmadas nas costas.

 

Cena 02: Casarão de Herculano. Sala de estar. Interior. Dia.

 

ISOLDA, sentada no sofá, observava os móveis coloniais, apresentava um semblante de monotonia, talvez, incomodada também, pois ouvida alguns móveis serem arrastados por JOCASTA, no quarto onde ela estava hospedada, no andar superior.

 

ISOLDA: (sussurrando) – Meu marido passa a ter razão, Jocasta, não deve permanecer nesta casa, não tem o mínimo de civilidade, vive a me importunar – coloca as mãos nos lábios – posso imaginar o que será desta casa quando meu pai chegar, os dois não irão suportar viver no mesmo teto, sempre viveram às turras, pela misericórdia!

 

No mesmo instante, JOCASTA desce a escada, com um sapato de ponta fina, o que tornava ainda mais irritante as passadas grosseiras que ecoavam pelo casarão, chega-se na sala de estar, encara ISOLDA.

 

JOCASTA: (jocosa) - Isolda, está chateada comigo, por ter derramado o café em sua mesa, ou por ter rasgado a carta de seu pai? Não fique, vamos fazer as pazes – mostra o dedo mindinho – assim quando você era uma mocinha, que fazia as pazes comigo, todas as vezes que lhe beliscava.

 

ISOLDA: (chateada) – Jocasta, você não cansa de ser assim?

 

JOCASTA: (irônica) – Assim como? Querida, expresse com mais clareza, falaste em prosas?

 

ISOLDA: (chateada) – Meu marido tem razão, é inconcebível tê-la em nossa casa, tens agido com muita impertinência, parece uma criança birrenta querendo atenção.

 

JOCASTA: (irônica) – Eu, querendo a sua atenção? Não, não mesmo! Tenho bom senso, tudo o que estou fazendo é para lhe proteger!

 

ISOLDA prontamente se levanta do sofá, cafungando.

 

ISOLDA: (irritada) – Para ser sincera, em poucos dias nesta casa, tu me fizeste fadigar em permanecer debaixo do mesmo teto que sua pessoa.

 

JOCASTA (irônica) – Seja como for, confesso que estou gostando desses dias, tenho observado tantas coisas, tudo isso ficará ainda mais evidente com o tempo – bocejando – bom, acredito que não há nada mais a dizer, voltarei ao meu quarto, estou fazendo algumas alterações, para deixa-lo ao meu agrado, depois faça uma visita em meus aposentos – gargalhadas – lhe aguardo!

 

ISOLDA: (irritada) – Passar bem Jocasta, passar bem!

 

JOCASTA, se afasta, sobe a escada novamente, forçando o barulho com o sapato, ISOLDA cerra os pulsos com tamanho estresse.

 

Cena 03: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Dia.

 

JÚLIO e AUGUSTO tomavam café, o vapor subia em suas narinas, o aroma era estritamente agradável.

 

JÚLIO: - Augusto, agora, vamos ao que interessa, lembra-te do jovem coroinha que vieste em minha casa trazer a carta a pedido do Padre Elvis?

 

AUGUSTO: (gargalhando) – Como poderia me esquecer? – breve engasgo – perdão, me lembro perfeitamente!

 

JÚLIO: - Pois bem, tive uma ideia e gostaria de seu auxílio!

 

AUGUSTO: - Estou a ouvi-lo!

 

JÚLIO: - Levando em consideração que Donato utilizou meu nome para fazer jocosidades, e que a muito tempo ando distante dos debates sociais desta cidade, vejo um bom momento para agir!

 

AUGUSTO: (surpreso) – O que quer dizer Hans?

 

JÚLIO: (animado) – Penso em ofertar um banquete à sociedade, convidarei o clérigo a sentar-se à mesa, num ato solene de doação das flores! Essa carta veio em um bom momento, para me reerguer e ter meu nome em voga novamente!

 

AUGUSTO: (êxtase) – Hans, que ideia genial! Pensastes muito bem!

 

JÚLIO: (animado) – Quero que divulgue esse banquete como se fosse um evento colossal, convidarei os senhores das confrarias, os lojistas, quero fazer um discurso, como um retorno ao palco da sociedade de Vale das Rosas!

 

AUGUSTO: (êxtase) – Hans, estou sem palavras, és a melhor ideia que tivestes nos últimos tempos, esse banquete servirá de lição ao Donato e a todos quanto acreditam que está desfalecido nesta casa, triste, deprimido, daremos uma resposta contundente!

 

JÚLIO: (animado) – Exato meu caro, vejo que é o momento que terei por oportunidade, de dar um fim nessa imagem esdrúxula que criaram ao meu respeito. Para isso, conto com sua ajuda, procure o jornal para fazer uma divulgação massiva na próxima edição, na coluna social, pagarei o quanto for necessário, esta cidade lembrará quem é Júlio Hans!

 

AUGUSTO: (êxtase) – Essa ideia merece um brinde! – os dois brindam com as xícaras – estarei providenciando o mais depressa possível, esse banquete será histórico, HISTÓRICO!

 

GARDÊNIA, retorna à sala, com um olhar desconfiado.

 

GARDÊNIA: (suspeitando) – Hans, vejo que o clima mudou, está mais disposto, precisa de algo?

 

JÚLIO: (animado) – Preciso Gardênia! Providencie uma carta de próprio punho, respondendo ao Padre, que farei a doação de flores e o convidarei para um banquete, uma solenidade em minha residência. Peça ao Salazar que leve pessoalmente à igreja!

 

GARDÊNIA: (surpresa) – Deveras Hans, agora mesmo transcreverei seu pedido, com licença!

 

GARDÊNIA retira-se sem demora, o rosto de JÚLIO volta-se ao amigo.

 

JÚLIO: (alegre) - Augusto, peço-te que venha neste banquete com a Clara, faz muitos anos que não a vejo, aliás, ela era a melhor amiga de Olívia! Será muito bom revê-la!

 

Neste instante, o semblante de felicidade de AUGUSTO se desfaz, um gosto amargo o faz dispensar o resto de café que ainda havia na xícara, coloca próximo a uma estante que havia próximo a parede, logo, retorna ao sofá, dispara um olhar aflito para JÚLIO.

 

AUGUSTO: (entristecido) – Hans, minha mulher está muito doente, vive de medicamentos, não sei se estará pronta para um evento como esse, mas me esforçarei a trazê-la, creio que Clara também ficará contente em revê-lo!

 

JÚLIO: - Faço questão da presença de vossa esposa, Clara é uma pessoa que tenho grande apreço!

 

JÚLIO percebe a mudança drástica no olhar de AUGUSTO, decide ficar em silêncio, finalizando seu café.

 

 


 

Cena 04: Fábrica. Exterior. Dia.

 

HERCULANO estava na porta de uma fábrica, com o chapéu posto ao peito, transparecendo olhar simétrico a outro homem bem a sua frente.

 

FABRICANTE: - Nobre, agradeço sua disponibilidade, mas nesta fábrica não há vagas para o cargo que vossa categoria requer, passar bem!

 

O homem fecha a porta, deixando HERCULANO irritado.

 

HERCULANO: (nervoso) - Oh céus, parece que darei com os burros d´agua!

 

HERCULANO se dispersa pela rua da fábrica, que estava localizada próximo ao centro.

 

Cena 05: Restaurante. Entrada. Interior. Dia.

 

HERCULANO encarava o dono do estabelecimento com um semblante colérico, pronto a alvoroçar em seu pescoço, mas se contém.

 

HERCULANO: (irado) – Como não há cargos de gestão neste estabelecimento? Posso provar que há situações de imprevisão que depende de um estrategista!

 

DONO: - Não duvido que tenhas tamanho conhecimento, vejo por seu porte, muito bem vestido, articulado, mas meu restaurante ainda é pequeno, meus próprios filhos ajudam na administração.

 

HERCULANO: - Seus filhos se formaram na capital? Estudei nos melhores colégios e me formei no largo de São Francisco. Por muitos anos fui gestor de finanças de uma fábrica de tecelagem, tenho competência de sobra!

 

O dono do estabelecimento balança a cabeça reprovando as palavras de HERCULANO, e aponta para a porta do restaurante, sinalizando respeitosamente para que se retire do local.

 

Cena 06: Igreja Matriz. Interior. Tarde.

 

 SALAZAR entra lentamente pela igreja, tira o quepe e faz o sinal da cruz no rosto, como demonstração de reverência, vai caminhando pelo corredor central, entre os bancos, havia algumas mulheres, umas rezando, outras cochichando, no geral o templo religioso estava consideravelmente em silêncio, vai aproximando-se de LUÍS MIGUEL, que limpava um castiçal.

 

SALAZAR: - Jovem, venho transmitir a resposta do senhor Hans, peço que entregue ao Padre.

 

LUÍS MIGUEL deixa o castiçal no altar e prontamente atende o motorista, pega a carta e estende a mão, no intuito de agradecê-lo.

 

LUÍS MIGUEL: - Tão breve entregarei este recado ao Padre!

 

SALAZAR retribui a gentileza e aperta firmemente a mão do rapaz, vira-se para sair, contudo, enquanto caminhava, entre os bancos, uma mulher negra, alta, corpo escultural, se levanta, com um terço na mão, parecia encarar SALAZAR, logo o chama, em voz baixíssima.

 

NÚBIA: (sussurrando) – Salazar? O que faz aqui?

 

SALAZAR, esquivo, finge não a ver, tampouco ouvi-la, coloca o quepe de forma que esconde parte de seu rosto e sai apressadamente da igreja, a mulher fica confusa.

 

NÚBIA: (sussurrando) – Será que ele me ouviu? Deixe para lá, depois conversamos.

 

NÚBIA senta-se novamente, fecha os olhos, aperta forte o terço e torna a rezar novamente, com fervor, mesmo que em sussurros.

 

Cena 07: Rua. Exterior. Dia.

 

HERCULANO caminhava pela calçada, aparentava estar claudicante, muitos pensamentos o desnorteava, coloca as mãos nos bolsos, sente uma fadiga ao notar que não possuía cédulas de réis.

 

HERCULANO: (em pensamentos) – Estarei perdido se não conseguir um emprego, todas as nossas reservas foram naquele casarão, se Isolda descobrir que não temos condições de manter aquele lugar, ficará arrasada!

 

No mesmo instante, vem em mente as palavras de JOCASTA.

 

- FLASHBACK ON -

(...)

HERCULANO: (aos berros) – Nossa ajuda? Não terá, assim como a Jocasta fará as malas dela, também não quero seu pai em nossa casa, isso aqui virou abrigo?

 

JOCASTA: (sarcástica) – Nossa casa também serviu de abrigo a vocês, quando ainda não tinham nada, mas parece que todo dinheiro que usurpou lhe fez virar a cabeça!

 

HERCULANO: (nervoso) – Como disse Jocasta? O que está insinuando?

 

JOCASTA: (sarcástica) – Não tenho nada a insinuar, apenas estou dizendo que sua cabeça está mudada, está se esquecendo de tudo que fizemos a você, parece-me um tanto ingrato de sua parte.

(...)

- FLASHBACK OFF –

 

HERCULANO: (em pensamentos) – Jocasta é traiçoeira, preciso me livrar dela, trará ainda mais desconfianças à Isolda!

 

HERCULANO anda mais alguns metros, quando decide atravessar a rua, todavia, um carro vem em velocidade média e quase o atropela, parando a poucos centímetros de sua perna, o homem se espanta.

 

HERCULANO: (aos berros) – OLHE POR ONDE ANDAS!

 

A porta do veículo se abre rapidamente, DONATO sai, fingia um semblante de desespero.

 

DONATO: (fingido) – Pombas! Estava desatento, porventura lhe feri?

 

HERCULANO encara DONATO, incrédulo.

 

HERCULANO: (nervoso) – Mas não é possível! Tens me perseguido novamente?

 

DONATO: (fingido) – Não, eu juro que não tinha percebido, é mera coincidência do destino!

 

HERCULANO volta a calçada, apalpa as vestes a fim de limpá-las, por conta da poeira que se levantou com a freada brusca, DONATO deixa o carro onde estava e apressadamente vai até o homem.

 

DONATO: (fingido) – Como escusas, aceitarei tomar um gin?

 

HERCULANO ainda incrédulo com toda aquela situação, que para si, soava um tanto proposital, não responde DONATO, renascendo um clima extremamente tenso entre eles.

 

Cena 08: Casarão de Herculano. Sala de estar. Interior. Tarde.

 

ISOLDA estava na cozinha, varrendo o chão, estava pensativa, sua mente fora invadida pelas situações que vivenciara nos últimos dias. Aquele casarão enorme estava lhe deixando coagida, era como se estivesse em um cativeiro e o sequestrador molestava seu psicológico, JOCASTA. A madrasta deixava o clima ainda mais tenso, doía a cabeça só de pensar que estavam no mesmo perímetro.

 

ISOLDA: (pensamentos) – Espero que ela nos dê sossego.

 

ISOLDA passa a ouvir barulhos no andar de cima, era JOCASTA, novamente arrastando móveis, no quarto dela.

 

ISOLDA: (pensamentos) – Ela faz de pirraça, não há condições!

 

ISOLDA continua a varrer, levanta as cadeiras e as coloca viradas, sobre a mesa, de repente ela paralisa, é tomada por algumas lembranças.

 

- FLASHBACK ON -

 

DONATO empurra a porta e entra cambaleando na sala de estar, aproximando-se do sofá, ele se recompõe, ajusta o terno e encara o olhar enfurecido de HERCULANO.

 

HERCULANO: (furioso) - Mas que ousadia é essa? FORA DAQUI!

 

DONATO: (sarcástico) - Você deveria ser mais gentil comigo, somos praticamente vizinhos e quero ajudá-lo (INTERROMPIDO).

 

ISOLDA: (agoniada) – Amor, não se preocupe, passarei um café, assim conversam com calma!

 

No momento que DONATO escuta a voz de ISOLDA, ele se vira, olha no rosto da mulher e entra num estado de choque.

 

DONATO: (grito) – OLÍVIA?

 

O contador se derrama no sofá, sem acreditar no que estava vendo, enquanto ISOLDA e HERCULANO ficam atônitos, incompreendidos.

 

- FLASHBACK OFF -

 

ISOLDA: (pensamentos) – Não fora apenas ele! O homem da biblioteca também agiu com estranheza quando me viu.

 

- FLASHBACK ON -

 

ABNER e ISOLDA estavam frente a frente, sentados à mesa da biblioteca. Ele permanecia atônito, ela esboçava estar confusa. 

 

ABNER: (admirado) - Então, seu nome é Isolda, você se mudou para o Vale ontem, certeza que você não nasceu aqui?

 

ISOLDA: (aos risos) – Nasci na capital, meu pai é tecelão, tem uma fábrica, me casei com um antigo gerente desta fábrica, e compramos um casarão aqui, confesso que estou bem surpresa com a recepção das pessoas.

 

ABNER: - Você já foi interpelada por alguém?

 

ISOLDA: (surpresa) - Ontem, hoje – tem um breve espasmo – mas não gostaria de entrar em detalhes, desculpe se te assustei, não entendi o motivo, mas passar bem!

 

ISOLDA se levanta, ABNER também se levanta e segura cuidadosamente a mão dela, fitando calorosamente para semblante, que retribui com um olhar envergonhado. 

 

- FLASHBACK OFF -

 

ISOLDA deixa a vassoura na parede, tira o avental que vestia, tira o lenço da cabeça, ajeita o vestido.

 

ISOLDA: (pensamentos) – Estou decidida! Aproveitarei que Herculano não está presente e irei até a biblioteca, irei tirar essa história a limpo, quero saber quem é Olívia!

 

ISOLDA retira-se apressadamente da cozinha.

 

 

Cena 09: Casarão de Herculano. Sala de estar. Interior. Tarde.

 

JOCASTA acabara de sentar no sofá, ISOLDA passa apressadamente, em direção a porta.

 

JOCASTA: (surpresa) – Onde pensas que vai? Seu marido não está presente, pedires permissão?

 

ISOLDA: (apressada) – Preciso fazer uma ligação, logo retornarei!

 

JOCASTA: (irônica) – Seu marido não gostará de saber que está caminhando pelas ruas desta cidade! Seria um disparate, uma mulher comprometida andar desacompanhada!  - morde os lábios – aliás, para quem fará ligações? Seu pai sequer tem uma casa! Quem mais teria o prazer de ligar?

 

ISOLDA: (apressada) – Poupe-me Jocasta, por hora, estou farta de suas insanidades, deixe-me ir!

 

ISOLDA retira-se do casarão, JOCASTA permanece reflexiva.

 

JOCASTA: - Ela e Herculano estão tramando contra a minha pessoa, tenho certeza que eles combinaram de se encontrar, querem me ver longe, mas não darei esse gosto a eles! 

 

JOCASTA, mesmo sentindo-se contrariada, decide subir novamente ao seu quarto.

 

Cena 10: Rua. Exterior. Tarde.

 

HERCULANO encara DONATO, fica pensativo por alguns segundos, pensando em dar-lhe uma resposta assertiva, porém, fracassa.

                                                             

HERCULANO: (irritado) – Peço-te que pares de me seguir, não estou mais com paciência contigo, já faz dias que tem seguido meus passos, perderei as estribeiras e lhe darei uma surra!

 

DONATO: (cínico) – Caro, não seja desordeno para comigo, tenho tanto apreço por você, mesmo não lhe conhecendo, a fundo.

 

HERCULANO faz uma cara de desconfiança ao homem, segura-se para não soltar uma gargalhada, pensamentos intrusivos são domados.  

 

HERCULANO: (voz fanha) – Olha, se dissesse o que pensei, poderia acusar-me de injúria, mas prefiro manter-me quite com a justiça – ajusta a gravata – então, onde tomaremos o gin?

 

DONATO arregala os olhos, fica boquiaberto.

 

DONATO: (surpreso) – Quer dizer que aceitou meu convite?

 

HERCULANO: (contido) – Vamos logo, antes que mude de ideia – aponta o dedo na cara de Donato – contudo, peço que não faças gracejos, não estou habituado a lidar com esse tipo de comportamento, mas serei gentil contigo!

 

DONATO passa a rir descontroladamente, algumas pessoas passam ao lado deles, ficam desconsertadas, HERCULANO tem uma crise de vergonha e a aparência de seu rosto fica avermelhada.

 

DONATO: (gargalhando) – Caro, estou impressionado – ajustando o terno – enfim, me acompanhe!

 

DONATO aponta para o carro, HERCULANO apressa-se e entra, o outro entra logo em seguida e retiram-se do trânsito.

 

Cena 11: Biblioteca. Interior. Tarde.

 

ISOLDA entra cautelosamente pela biblioteca, anda em direção a área que continha mesas, não havia pessoas, ela estava indecisa se iria em direção das prateleiras de livros, no fim das contas, decide sentar-se.

 

ABNER saia da área que ficava as prateleiras, segurava com uma pilha de livros, eram quatro, caminhava em direção à área das mesas. Quando ABNER chega próximo as mesas, avista ISOLDA, seu coração dispara, suas pernas bambeiam, suas mãos ficam trêmulas, ele deixa os livros caírem.

 

ISOLDA: (complacente) – Moço, calma, lhe ajudarei!

 

ABNER, mesmo trêmulo, abaixa-se, ISOLDA se aproxima, o ajuda, e sem querer ele pega o mesmo livro que já estava nas mãos dela, ambos se encaram, ficam envergonhados, levantam-se, ainda segurando o mesmo livro, ela solta delicadamente, ainda olhando caridosamente para ele.

 

ABNER: (voz trêmula) – Agradeço por sua gentileza, não precisa se preocupar – engasga – aproveito, gostaria de externalizar meu prazer em revê-la!

 

ISOLDA: (envergonhada) – Sinto-me lisonjeada! – respira fundo –gostaria de falar com vossa pessoa, estou aqui por sua causa!

 

ABNER sente um calor emergir de dentro de si, também sente um nó se emaranhar em sua garganta, seus lábios secam, aquelas palavras vinham de encontro com seus sentimentos.

 

ABNER: (voz trêmula) – Em que poderia ajudá-la?

 

ISOLDA: (envergonhada) – Podemos sentar à mesa?

 

ABNER coloca os livros sobre a mesa, ambos sentam, ficam frente a frente mais uma vez, ele não conseguia esconder a emoção em vê-la mais uma vez, seus olhos passam a lacrimejar, ele limpa o rosto, ISOLDA observa-o.

 

ISOLDA: (tímida) – Não sei por onde começar – esfregando uma mão na outra, depois escondendo-as debaixo da mesa – mas, preciso que me ajude, é a única pessoa que conseguiria me esclarecer um sentimento que há dias tem me agoniado.

 

ABNER: (emocionado) – Sei o que está sentindo, seu olhar confuso já revela aquilo que imagino – sorriso de canto da boca – as pessoas têm estranhado sua semelhança física com outra mulher, certo?

 

ISOLDA sente todo seu corpo se arrepiar, ela fica gélida, inclina o corpo em direção a mesa.

ISOLDA: (atônita) – Como sabes?

 

ABNER: (emocionado) – Sobre isso, não há segredos, realmente se parece com Olívia – uma lágrima escorre – chega a ser assustador, mas para essas coisas não há explicação.

 

ISOLDA coloca as mãos nos lábios, trêmula, ela também deixa uma lágrima escorrer, limpa, ainda atônita.

 

ISOLDA: (atônita) – Por favor, explique-me, o que tem essa moça?

 

ABNER: (emocionado) – Explicarei Isolda, mas gostaria que fosse comigo até um lugar!

 

ISOLDA: (assustada) – Está enlouquecido? – levantando-se da mesa – não sei quem tu és, como fazes um convite deste?

 

ABNER: (emocionado) – Disseste que veio aqui por minha causa, então, confie em mim, a resposta terá nesse lugar – escorre outra lágrima – então, você vem?

 

ISOLDA é tomada por choque de adrenalina, aquela proposta parecia-lhe arriscado demais, não conhecia ABNER, ir para um lugar desconhecido com outro homem era perigoso demais.

 

ISOLDA: (assustada) – Sou uma mulher comprometida, meu marido voltará para casa a qualquer instante, preciso ir!

 

ISOLDA apressa-se para sair do local, mas ABNER é rápido, levanta-se e segura o braço dela, trazendo-a para perto, ela por sua vez, novamente é tomada por fortes arrepios, se olham avidamente.

 

ABNER: (emocionado) – Se você não vier, talvez nunca descobrirá a resposta para todas as suas dúvidas!

 

ISOLDA olha fixamente para os olhos dele, passa a sentir confiança, surpreendendo a si mesma. ABNER, entende na feição dela que estava disposta, mesmo com medo. O homem deixa os livros na mesa e sai do local, ISOLDA o acompanha mesmo receosa, com o coração palpitante.

 

Cena 12: Floricultura. Interior. Tarde.

 

ABNER e ISOLDA entram no estabelecimento, ela estava muito nervosa, o caminho da biblioteca até a floricultura durara menos de dez minutos, porém, já era o suficiente para deixa-la com calafrios.

 

ABNER: (emocionado) – Esse é o local, venha comigo!

 

ABNER passa pela recepcionista, que o cumprimenta, mas quando vê ISOLDA, a moça arregala os olhos, fica pálida, desvia o olhar para o chão, ABNER percebe a situação e sorri, no mesmo instante, puxa ISOLDA para o interior do local.

 

SONOPLASTIA: Somewhere Over The Rainbow– Instrumental

 

ABNER e ISOLDA entram na estufa da floricultura, a mulher observa o enorme arsenal de plantas, o colorido que emergia das mais variadas espécies de rosas, camélias, bromélias, hortênsias, e tantas outras.

 

ISOLDA fica encantada com a estufa, passa a caminhar entre os corredores, ABNER a deixa, ela estava extasiada, parecia que nunca entrara num local tão charmoso e agradável.

 

ISOLDA: (encantada) – Essas rosas são fascinantes, nem mesmo na capital encontrei mais belas!

 

ABNER mesmo distante, escuta ela falar.

 

ABNER: (emocionado) – Você está em Vale das Rosas, certamente aqui encontrará as mais belas – gargalhadas – seja bem-vinda oficialmente!

 

ISOLDA também escuta o homem falar e sorri, ela sente a leveza daquele lugar, sente-se livre, estava à vontade. Num determinado momento ela tira os sapatos, vai andando mais apressada, ABNER estranha a atitude, mas permanece em silêncio, observando-a, então, ela passa a correr entre os corredores, rindo, sorrindo, como um pássaro solto, um estado de graça toma-a, assim, ela começa a girar, deixando seu vestido solto aos movimentos.

 

ISOLDA: (encantada) – Que delícia, o aroma das flores – suspira - estou felicíssima!

 

ISOLDA corre em direção a ABNER, que estava de braços cruzados, boquiaberto, olhando-a, ela então, descruza os braços dele e o puxa, segura as mãos dele.

 

ISOLDA: (encantada) – Esse lugar me trouxe boas lembranças, o cheiro da minha infância, quando corria pelo jardim florido da casa de meu pai, na capital, que bons tempos – uma lágrima escorre – aliás, fizeste tudo isso por mim, e mal perguntei seu nome!

 

ABNER: (emocionado) – Enfim, agora consigo me apresentar, sou ABNER!

 

ISOLDA: (encantada) – Estava com medo do que iria me apresentar, agora posso ter a certeza, me ajudaste! – outra lágrima escorre – És a primeira pessoa que conheci nesta cidade, já sinto paz, uma paz verdadeira, genuína! Todos esses dias fiquei presa dentro de minha casa, sequer ver a cor do céu, ouvindo as afrontas de minha madrasta e agora, repentinamente me vejo neste lugar, tão lindo, único!

 

ABNER: (emocionado) – Não imaginava que aqui lhe faria tão bem, estou piamente surpreso com sua reação.

 

ISOLDA sem pestanejar abraça ABNER, que fica incrédulo, trêmulo, mas abraça a mulher, ficam segundos abraçados, se afastam, se encaram de forma carinhosa, sorridentes um ao outro.



Encerramento




 

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