Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 07
Cena 01: Mansão de Hans.
Sala de estar. Interior. Dia.
JÚLIO
toma a água, entrega o copo à MARICOTA,
fica mais relaxado, todos ficam em silêncio observando-o. Neste instante, JÚLIO passa a respirar pausadamente,
seu semblante parecia voltar ao normal, ele começa a observar de um lado para o
outro, e quando olha para a parede, não encontra o quadro de OLÍVIA, toma um susto.
JÚLIO:
(assustado) – Oras, onde está o
quadro de Olívia? O que fizeram com o quadro?
GARDÊNIA
encara MARICOTA, a empregada por sua
vez, faz cara de espanto, AUGUSTO
fica atônito, o clima torna-se extremamente tenso.
GARDÊNIA:
(apavorada) – Senhor Hans, com todo
respeito, olhe bem, o quadra está na parede!
JÚLIO,
tem um ataque de espasmos momentâneos, foram vários arrepios sequenciais, o
homem, esfrega os olhos com os dedos, esbugalha e consegue enxergar o quadro de
OLÍVIA no mesmo local de sempre,
intacto, o homem se apavora.
JÚLIO:
(apavorado) – Meu Deus! Por um
instante imaginei que o quadro não estivesse no devido lugar!
MARICOTA:
(amedrontada) – “Seu” Júlio, está
nos assustando, precisei leva-lo para um descarrego!
AUGUSTO:
(surpreso) – Hans, por favor, nos
diga que está tudo bem mesmo! Senão, iremos trás de medicamentos!
JÚLIO:
(assustado) – Estão blefando! Minhas
faculdades mentais estão em dia, não há motivos para me medicar!
GARDÊNIA:
(assustada) – Hans, você está fora
de si nesses últimos dias, é pesadelo, é espasmos, sustos, você está
sobrecarregado!
MARICOTA:
- Eu disse “seu” Júlio, vamos atrás de um...(INTERROMPIDA).
GARDÊNIA:
(grosseira) - Maricota, volte à
cozinha! Agora!
A
empregada corresponde com um olhar de desgosto, mas atende ao pedido da
governanta e retorna ao trabalho. JÚLIO
toma o último cole de água, entrega o copo à GARDÊNIA.
GARDÊNIA:
- Hans, deixarei você e o doutor Augusto conversarem, requerendo meus auxílios,
por favor, me chame!
A
governanta se retira, AUGUSTO encara
o amigo.
AUGUSTO:
(complacente) - Hans, estou muito
preocupado, andas muito nebuloso, observo seu semblante abatido, como se
estivesse oprimido, meu amigo, quer dizer algo?
JÚLIO:
(taciturno) – Augusto, essa última
semana, depois daquele encontro com aquela mulher no desfile, parece que meus
pensamentos entraram em confusão – respira
fundo – sinto que estou bem, contudo, por momentos vejo um filme passar
pela minha cabeça, é como se Olívia estivesse ainda em nosso meio.
AUGUSTO:
- Caro amigo, posso imaginar a dor que sente todos os dias, pode passar anos a
fio, mas as lembranças de um grande amor jamais se apagarão. No entanto, Hans,
precisamos que você permaneça firme, nesses últimos dias tem nos assustado com
alguns comportamentos e situações que não são de sua natureza.
JÚLIO:
- Não posso contrariá-lo – respira fundo
– vejo que estou um tanto agoniado.
AUGUSTO:
- Hans, uma vez eu li um estudioso dizer a respeito das fases do luto, que cada
ser humano corresponde de uma forma, por isso, digo que sou inteiramente
compreensivo com esse momento, conte comigo, em todos os momentos!
JÚLIO:
(emocionado) – Meu grande amigo,
sempre ao meu lado, sou grato por sua perseverança, como poderei recompensá-lo?
AUGUSTO:
(abrindo um sorriso) – A única forma
de me sentir recompensado por ter sua amizade é me prometendo que permanecerá
firme e, logo mais essa fase irá passar. Sempre me avise de tudo que se passa
em sua vida, quero sempre estar por perto!
JÚLIO:
(emocionado) – Você sempre fará
parte de minha vida, meu caro!
AUGUSTO
se levanta, JÚLIO também, os dois se
olham, sorridentes, se abraçam respeitosamente com recíprocas palmadas nas
costas.
Cena 02: Casarão de
Herculano. Sala de estar. Interior. Dia.
ISOLDA,
sentada no sofá, observava os móveis coloniais, apresentava um semblante de
monotonia, talvez, incomodada também, pois ouvida alguns móveis serem
arrastados por JOCASTA, no quarto
onde ela estava hospedada, no andar superior.
ISOLDA:
(sussurrando) – Meu marido passa a
ter razão, Jocasta, não deve permanecer nesta casa, não tem o mínimo de
civilidade, vive a me importunar – coloca
as mãos nos lábios – posso imaginar o que será desta casa quando meu pai
chegar, os dois não irão suportar viver no mesmo teto, sempre viveram às
turras, pela misericórdia!
No
mesmo instante, JOCASTA desce a
escada, com um sapato de ponta fina, o que tornava ainda mais irritante as
passadas grosseiras que ecoavam pelo casarão, chega-se na sala de estar, encara
ISOLDA.
JOCASTA:
(jocosa) - Isolda, está chateada
comigo, por ter derramado o café em sua mesa, ou por ter rasgado a carta de seu
pai? Não fique, vamos fazer as pazes – mostra
o dedo mindinho – assim quando você era uma mocinha, que fazia as pazes
comigo, todas as vezes que lhe beliscava.
ISOLDA:
(chateada) – Jocasta, você não cansa
de ser assim?
JOCASTA:
(irônica) – Assim como? Querida,
expresse com mais clareza, falaste em prosas?
ISOLDA:
(chateada) – Meu marido tem razão, é
inconcebível tê-la em nossa casa, tens agido com muita impertinência, parece
uma criança birrenta querendo atenção.
JOCASTA:
(irônica) – Eu, querendo a sua
atenção? Não, não mesmo! Tenho bom senso, tudo o que estou fazendo é para lhe
proteger!
ISOLDA
prontamente se levanta do sofá, cafungando.
ISOLDA:
(irritada) – Para ser sincera, em
poucos dias nesta casa, tu me fizeste fadigar em permanecer debaixo do mesmo
teto que sua pessoa.
JOCASTA
(irônica) – Seja como for, confesso
que estou gostando desses dias, tenho observado tantas coisas, tudo isso ficará
ainda mais evidente com o tempo – bocejando
– bom, acredito que não há nada mais a dizer, voltarei ao meu quarto, estou
fazendo algumas alterações, para deixa-lo ao meu agrado, depois faça uma visita
em meus aposentos – gargalhadas –
lhe aguardo!
ISOLDA:
(irritada) – Passar bem Jocasta,
passar bem!
JOCASTA,
se afasta, sobe a escada novamente, forçando o barulho com o sapato, ISOLDA cerra os pulsos com tamanho
estresse.
Cena 03: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Dia.
JÚLIO
e AUGUSTO tomavam café, o vapor
subia em suas narinas, o aroma era estritamente agradável.
JÚLIO:
- Augusto, agora, vamos ao que interessa, lembra-te do jovem coroinha que
vieste em minha casa trazer a carta a pedido do Padre Elvis?
AUGUSTO:
(gargalhando) – Como poderia me esquecer?
– breve engasgo – perdão, me lembro
perfeitamente!
JÚLIO:
- Pois bem, tive uma ideia e gostaria de seu auxílio!
AUGUSTO:
- Estou a ouvi-lo!
JÚLIO:
- Levando em consideração que Donato utilizou meu nome para fazer jocosidades,
e que a muito tempo ando distante dos debates sociais desta cidade, vejo um bom
momento para agir!
AUGUSTO:
(surpreso) – O que quer dizer Hans?
JÚLIO:
(animado) – Penso em ofertar um
banquete à sociedade, convidarei o clérigo a sentar-se à mesa, num ato solene
de doação das flores! Essa carta veio em um bom momento, para me reerguer e ter
meu nome em voga novamente!
AUGUSTO:
(êxtase) – Hans, que ideia genial!
Pensastes muito bem!
JÚLIO:
(animado) – Quero que divulgue esse
banquete como se fosse um evento colossal, convidarei os senhores das
confrarias, os lojistas, quero fazer um discurso, como um retorno ao palco da
sociedade de Vale das Rosas!
AUGUSTO:
(êxtase) – Hans, estou sem palavras,
és a melhor ideia que tivestes nos últimos tempos, esse banquete servirá de
lição ao Donato e a todos quanto acreditam que está desfalecido nesta casa,
triste, deprimido, daremos uma resposta contundente!
JÚLIO:
(animado) – Exato meu caro, vejo que
é o momento que terei por oportunidade, de dar um fim nessa imagem esdrúxula
que criaram ao meu respeito. Para isso, conto com sua ajuda, procure o jornal
para fazer uma divulgação massiva na próxima edição, na coluna social, pagarei
o quanto for necessário, esta cidade lembrará quem é Júlio Hans!
AUGUSTO:
(êxtase) – Essa ideia merece um
brinde! – os dois brindam com as xícaras
– estarei providenciando o mais depressa possível, esse banquete será
histórico, HISTÓRICO!
GARDÊNIA,
retorna à sala, com um olhar desconfiado.
GARDÊNIA:
(suspeitando) – Hans, vejo que o
clima mudou, está mais disposto, precisa de algo?
JÚLIO:
(animado) – Preciso Gardênia!
Providencie uma carta de próprio punho, respondendo ao Padre, que farei a
doação de flores e o convidarei para um banquete, uma solenidade em minha
residência. Peça ao Salazar que leve pessoalmente à igreja!
GARDÊNIA:
(surpresa) – Deveras Hans, agora
mesmo transcreverei seu pedido, com licença!
GARDÊNIA
retira-se sem demora, o rosto de JÚLIO
volta-se ao amigo.
JÚLIO:
(alegre) - Augusto, peço-te que
venha neste banquete com a Clara, faz muitos anos que não a vejo, aliás, ela
era a melhor amiga de Olívia! Será muito bom revê-la!
Neste
instante, o semblante de felicidade de AUGUSTO
se desfaz, um gosto amargo o faz dispensar o resto de café que ainda havia na
xícara, coloca próximo a uma estante que havia próximo a parede, logo, retorna
ao sofá, dispara um olhar aflito para JÚLIO.
AUGUSTO:
(entristecido) – Hans, minha mulher
está muito doente, vive de medicamentos, não sei se estará pronta para um
evento como esse, mas me esforçarei a trazê-la, creio que Clara também ficará
contente em revê-lo!
JÚLIO:
- Faço questão da presença de vossa esposa, Clara é uma pessoa que tenho grande
apreço!
JÚLIO
percebe a mudança drástica no olhar de AUGUSTO,
decide ficar em silêncio, finalizando seu café.
Cena 04: Fábrica.
Exterior. Dia.
HERCULANO estava
na porta de uma fábrica, com o chapéu posto ao peito, transparecendo olhar
simétrico a outro homem bem a sua frente.
FABRICANTE:
- Nobre, agradeço sua disponibilidade, mas nesta fábrica não há vagas para o
cargo que vossa categoria requer, passar bem!
O
homem fecha a porta, deixando HERCULANO
irritado.
HERCULANO:
(nervoso) - Oh céus, parece que
darei com os burros d´agua!
HERCULANO
se dispersa pela rua da fábrica, que estava localizada próximo ao centro.
Cena 05: Restaurante.
Entrada. Interior. Dia.
HERCULANO
encarava o dono do estabelecimento com um semblante colérico, pronto a
alvoroçar em seu pescoço, mas se contém.
HERCULANO:
(irado) – Como não há cargos de
gestão neste estabelecimento? Posso provar que há situações de imprevisão que
depende de um estrategista!
DONO:
- Não duvido que tenhas tamanho conhecimento, vejo por seu porte, muito bem
vestido, articulado, mas meu restaurante ainda é pequeno, meus próprios filhos
ajudam na administração.
HERCULANO:
- Seus filhos se formaram na capital? Estudei nos melhores colégios e me formei
no largo de São Francisco. Por muitos anos fui gestor de finanças de uma
fábrica de tecelagem, tenho competência de sobra!
O
dono do estabelecimento balança a cabeça reprovando as palavras de HERCULANO, e aponta para a porta do
restaurante, sinalizando respeitosamente para que se retire do local.
Cena 06: Igreja Matriz.
Interior. Tarde.
SALAZAR
entra lentamente pela igreja, tira o quepe e faz o sinal da cruz no rosto, como
demonstração de reverência, vai caminhando pelo corredor central, entre os
bancos, havia algumas mulheres, umas rezando, outras cochichando, no geral o
templo religioso estava consideravelmente em silêncio, vai aproximando-se de LUÍS MIGUEL, que limpava um castiçal.
SALAZAR:
- Jovem, venho transmitir a resposta do senhor Hans, peço que entregue ao
Padre.
LUÍS MIGUEL
deixa o castiçal no altar e prontamente atende o motorista, pega a carta e
estende a mão, no intuito de agradecê-lo.
LUÍS MIGUEL:
- Tão breve entregarei este recado ao Padre!
SALAZAR
retribui a gentileza e aperta firmemente a mão do rapaz, vira-se para sair,
contudo, enquanto caminhava, entre os bancos, uma mulher negra, alta, corpo
escultural, se levanta, com um terço na mão, parecia encarar SALAZAR, logo o chama, em voz
baixíssima.
NÚBIA:
(sussurrando) – Salazar? O que faz
aqui?
SALAZAR,
esquivo, finge não a ver, tampouco ouvi-la, coloca o quepe de forma que esconde
parte de seu rosto e sai apressadamente da igreja, a mulher fica confusa.
NÚBIA:
(sussurrando) – Será que ele me
ouviu? Deixe para lá, depois conversamos.
NÚBIA
senta-se novamente, fecha os olhos, aperta forte o terço e torna a rezar
novamente, com fervor, mesmo que em sussurros.
Cena 07: Rua. Exterior.
Dia.
HERCULANO
caminhava pela calçada, aparentava estar claudicante, muitos pensamentos o
desnorteava, coloca as mãos nos bolsos, sente uma fadiga ao notar que não
possuía cédulas de réis.
HERCULANO: (em
pensamentos) – Estarei perdido se não conseguir um
emprego, todas as nossas reservas foram naquele casarão, se Isolda descobrir
que não temos condições de manter aquele lugar, ficará arrasada!
No
mesmo instante, vem em mente as palavras de JOCASTA.
- FLASHBACK ON -
(...)
HERCULANO: (aos berros)
– Nossa ajuda? Não terá, assim como a Jocasta fará as malas dela, também não
quero seu pai em nossa casa, isso aqui virou abrigo?
JOCASTA: (sarcástica)
– Nossa casa também serviu de abrigo a vocês, quando ainda não tinham nada, mas
parece que todo dinheiro que usurpou lhe fez virar a cabeça!
HERCULANO: (nervoso)
– Como disse Jocasta? O que está insinuando?
JOCASTA: (sarcástica)
– Não tenho nada a insinuar, apenas estou dizendo que sua cabeça está mudada,
está se esquecendo de tudo que fizemos a você, parece-me um tanto ingrato de
sua parte.
(...)
- FLASHBACK OFF –
HERCULANO:
(em pensamentos) – Jocasta é
traiçoeira, preciso me livrar dela, trará ainda mais desconfianças à Isolda!
HERCULANO
anda mais alguns metros, quando decide atravessar a rua, todavia, um carro vem
em velocidade média e quase o atropela, parando a poucos centímetros de sua perna,
o homem se espanta.
HERCULANO:
(aos berros) – OLHE POR ONDE ANDAS!
A
porta do veículo se abre rapidamente, DONATO
sai, fingia um semblante de desespero.
DONATO:
(fingido) – Pombas! Estava
desatento, porventura lhe feri?
HERCULANO
encara DONATO, incrédulo.
HERCULANO:
(nervoso) – Mas não é possível! Tens
me perseguido novamente?
DONATO:
(fingido) – Não, eu juro que não
tinha percebido, é mera coincidência do destino!
HERCULANO
volta a calçada, apalpa as vestes a fim de limpá-las, por conta da poeira que
se levantou com a freada brusca, DONATO
deixa o carro onde estava e apressadamente vai até o homem.
DONATO:
(fingido) – Como escusas, aceitarei
tomar um gin?
HERCULANO
ainda incrédulo com toda aquela situação, que para si, soava um tanto
proposital, não responde DONATO,
renascendo um clima extremamente tenso entre eles.
Cena 08: Casarão de
Herculano. Sala de estar. Interior. Tarde.
ISOLDA estava
na cozinha, varrendo o chão, estava pensativa, sua mente fora invadida pelas
situações que vivenciara nos últimos dias. Aquele casarão enorme estava lhe
deixando coagida, era como se estivesse em um cativeiro e o sequestrador
molestava seu psicológico, JOCASTA.
A madrasta deixava o clima ainda mais tenso, doía a cabeça só de pensar que
estavam no mesmo perímetro.
ISOLDA: (pensamentos)
– Espero que ela nos dê sossego.
ISOLDA
passa a ouvir barulhos no andar de cima, era JOCASTA, novamente arrastando móveis, no quarto dela.
ISOLDA: (pensamentos)
– Ela faz de pirraça, não há condições!
ISOLDA
continua a varrer, levanta as cadeiras e as coloca viradas, sobre a mesa, de
repente ela paralisa, é tomada por algumas lembranças.
- FLASHBACK ON -
DONATO empurra a porta e entra cambaleando na sala de estar,
aproximando-se do sofá, ele se recompõe, ajusta o terno e encara o olhar
enfurecido de HERCULANO.
HERCULANO: (furioso)
- Mas que ousadia é essa? FORA DAQUI!
DONATO: (sarcástico)
- Você deveria ser mais gentil comigo, somos praticamente vizinhos e quero
ajudá-lo (INTERROMPIDO).
ISOLDA: (agoniada)
– Amor, não se preocupe, passarei um café, assim conversam com calma!
No momento que DONATO escuta a voz de ISOLDA, ele se vira, olha no rosto da
mulher e entra num estado de choque.
DONATO: (grito)
– OLÍVIA?
O contador se derrama no
sofá, sem acreditar no que estava vendo, enquanto ISOLDA e HERCULANO ficam
atônitos, incompreendidos.
- FLASHBACK OFF -
ISOLDA: (pensamentos)
– Não fora apenas ele! O homem da biblioteca também agiu com estranheza quando
me viu.
- FLASHBACK ON -
ABNER e ISOLDA
estavam frente a frente, sentados à mesa da biblioteca. Ele permanecia atônito,
ela esboçava estar confusa.
ABNER: (admirado)
- Então, seu nome é Isolda, você se mudou para o Vale ontem, certeza que você
não nasceu aqui?
ISOLDA: (aos risos)
– Nasci na capital, meu pai é tecelão, tem uma fábrica, me casei com um antigo
gerente desta fábrica, e compramos um casarão aqui, confesso que estou bem
surpresa com a recepção das pessoas.
ABNER: - Você já foi interpelada por alguém?
ISOLDA: (surpresa)
- Ontem, hoje – tem um breve espasmo
– mas não gostaria de entrar em detalhes, desculpe se te assustei, não entendi
o motivo, mas passar bem!
ISOLDA se levanta, ABNER
também se levanta e segura cuidadosamente a mão dela, fitando calorosamente
para semblante, que retribui com um olhar envergonhado.
- FLASHBACK OFF -
ISOLDA
deixa a vassoura na parede, tira o avental que vestia, tira o lenço da cabeça, ajeita
o vestido.
ISOLDA:
(pensamentos) – Estou decidida!
Aproveitarei que Herculano não está presente e irei até a biblioteca, irei
tirar essa história a limpo, quero saber quem é Olívia!
ISOLDA retira-se
apressadamente da cozinha.
Cena 09: Casarão de
Herculano. Sala de estar. Interior. Tarde.
JOCASTA
acabara de sentar no sofá, ISOLDA
passa apressadamente, em direção a porta.
JOCASTA:
(surpresa) – Onde pensas que vai?
Seu marido não está presente, pedires permissão?
ISOLDA:
(apressada) – Preciso fazer uma ligação,
logo retornarei!
JOCASTA:
(irônica) – Seu marido não gostará
de saber que está caminhando pelas ruas desta cidade! Seria um disparate, uma
mulher comprometida andar desacompanhada!
- morde os lábios – aliás,
para quem fará ligações? Seu pai sequer tem uma casa! Quem mais teria o prazer
de ligar?
ISOLDA:
(apressada) – Poupe-me Jocasta, por
hora, estou farta de suas insanidades, deixe-me ir!
ISOLDA
retira-se do casarão, JOCASTA
permanece reflexiva.
JOCASTA:
- Ela e Herculano estão tramando contra a minha pessoa, tenho certeza que eles
combinaram de se encontrar, querem me ver longe, mas não darei esse gosto a
eles!
JOCASTA,
mesmo sentindo-se contrariada, decide subir novamente ao seu quarto.
Cena 10: Rua. Exterior.
Tarde.
HERCULANO
encara DONATO, fica pensativo por
alguns segundos, pensando em dar-lhe uma resposta assertiva, porém, fracassa.
HERCULANO:
(irritado) – Peço-te que pares de me
seguir, não estou mais com paciência contigo, já faz dias que tem seguido meus
passos, perderei as estribeiras e lhe darei uma surra!
DONATO:
(cínico) – Caro, não seja desordeno
para comigo, tenho tanto apreço por você, mesmo não lhe conhecendo, a fundo.
HERCULANO
faz uma cara de desconfiança ao homem, segura-se para não soltar uma
gargalhada, pensamentos intrusivos são domados.
HERCULANO:
(voz fanha) – Olha, se dissesse o
que pensei, poderia acusar-me de injúria, mas prefiro manter-me quite com a
justiça – ajusta a gravata – então,
onde tomaremos o gin?
DONATO
arregala os olhos, fica boquiaberto.
DONATO:
(surpreso) – Quer dizer que aceitou
meu convite?
HERCULANO:
(contido) – Vamos logo, antes que
mude de ideia – aponta o dedo na cara de
Donato – contudo, peço que não faças gracejos, não estou habituado a lidar com
esse tipo de comportamento, mas serei gentil contigo!
DONATO
passa a rir descontroladamente, algumas pessoas passam ao lado deles, ficam
desconsertadas, HERCULANO tem uma
crise de vergonha e a aparência de seu rosto fica avermelhada.
DONATO:
(gargalhando) – Caro, estou
impressionado – ajustando o terno –
enfim, me acompanhe!
DONATO
aponta para o carro, HERCULANO
apressa-se e entra, o outro entra logo em seguida e retiram-se do trânsito.
Cena 11: Biblioteca.
Interior. Tarde.
ISOLDA
entra cautelosamente pela biblioteca, anda em direção a área que continha
mesas, não havia pessoas, ela estava indecisa se iria em direção das
prateleiras de livros, no fim das contas, decide sentar-se.
ABNER
saia da área que ficava as prateleiras, segurava com uma pilha de livros, eram
quatro, caminhava em direção à área das mesas. Quando ABNER chega próximo as mesas, avista ISOLDA, seu coração dispara, suas pernas bambeiam, suas mãos ficam
trêmulas, ele deixa os livros caírem.
ISOLDA:
(complacente) – Moço, calma, lhe
ajudarei!
ABNER,
mesmo trêmulo, abaixa-se, ISOLDA se
aproxima, o ajuda, e sem querer ele pega o mesmo livro que já estava nas mãos
dela, ambos se encaram, ficam envergonhados, levantam-se, ainda segurando o
mesmo livro, ela solta delicadamente, ainda olhando caridosamente para ele.
ABNER:
(voz trêmula) – Agradeço por sua
gentileza, não precisa se preocupar – engasga
– aproveito, gostaria de externalizar meu prazer em revê-la!
ISOLDA:
(envergonhada) – Sinto-me
lisonjeada! – respira fundo –gostaria
de falar com vossa pessoa, estou aqui por sua causa!
ABNER
sente um calor emergir de dentro de si, também sente um nó se emaranhar em sua
garganta, seus lábios secam, aquelas palavras vinham de encontro com seus
sentimentos.
ABNER:
(voz trêmula) – Em que poderia ajudá-la?
ISOLDA:
(envergonhada) – Podemos sentar à
mesa?
ABNER
coloca os livros sobre a mesa, ambos sentam, ficam frente a frente mais uma
vez, ele não conseguia esconder a emoção em vê-la mais uma vez, seus olhos
passam a lacrimejar, ele limpa o rosto, ISOLDA
observa-o.
ISOLDA:
(tímida) – Não sei por onde começar
– esfregando uma mão na outra, depois
escondendo-as debaixo da mesa – mas, preciso que me ajude, é a única pessoa
que conseguiria me esclarecer um sentimento que há dias tem me agoniado.
ABNER:
(emocionado) – Sei o que está
sentindo, seu olhar confuso já revela aquilo que imagino – sorriso de canto da boca – as pessoas têm estranhado sua semelhança
física com outra mulher, certo?
ISOLDA
sente todo seu corpo se arrepiar, ela fica gélida, inclina o corpo em direção a
mesa.
ISOLDA:
(atônita) – Como sabes?
ABNER:
(emocionado) – Sobre isso, não há
segredos, realmente se parece com Olívia – uma
lágrima escorre – chega a ser assustador, mas para essas coisas não há
explicação.
ISOLDA
coloca as mãos nos lábios, trêmula, ela também deixa uma lágrima escorrer, limpa,
ainda atônita.
ISOLDA:
(atônita) – Por favor, explique-me,
o que tem essa moça?
ABNER:
(emocionado) – Explicarei Isolda,
mas gostaria que fosse comigo até um lugar!
ISOLDA:
(assustada) – Está enlouquecido? – levantando-se da mesa – não sei quem tu
és, como fazes um convite deste?
ABNER:
(emocionado) – Disseste que veio
aqui por minha causa, então, confie em mim, a resposta terá nesse lugar – escorre outra lágrima – então, você
vem?
ISOLDA
é tomada por choque de adrenalina, aquela proposta parecia-lhe arriscado demais,
não conhecia ABNER, ir para um lugar
desconhecido com outro homem era perigoso demais.
ISOLDA:
(assustada) – Sou uma mulher
comprometida, meu marido voltará para casa a qualquer instante, preciso ir!
ISOLDA
apressa-se para sair do local, mas ABNER
é rápido, levanta-se e segura o braço dela, trazendo-a para perto, ela por sua
vez, novamente é tomada por fortes arrepios, se olham avidamente.
ABNER:
(emocionado) – Se você não vier,
talvez nunca descobrirá a resposta para todas as suas dúvidas!
ISOLDA
olha fixamente para os olhos dele, passa a sentir confiança, surpreendendo a si
mesma. ABNER, entende na feição dela
que estava disposta, mesmo com medo. O homem deixa os livros na mesa e sai do
local, ISOLDA o acompanha mesmo
receosa, com o coração palpitante.
Cena 12: Floricultura.
Interior. Tarde.
ABNER
e ISOLDA entram no estabelecimento,
ela estava muito nervosa, o caminho da biblioteca até a floricultura durara
menos de dez minutos, porém, já era o suficiente para deixa-la com calafrios.
ABNER:
(emocionado) – Esse é o local, venha
comigo!
ABNER passa
pela recepcionista, que o cumprimenta, mas quando vê ISOLDA, a moça arregala os olhos, fica pálida, desvia o olhar para
o chão, ABNER percebe a situação e
sorri, no mesmo instante, puxa ISOLDA
para o interior do local.
SONOPLASTIA: Somewhere
Over The Rainbow– Instrumental
ABNER
e ISOLDA entram na estufa da
floricultura, a mulher observa o enorme arsenal de plantas, o colorido que
emergia das mais variadas espécies de rosas, camélias, bromélias, hortênsias, e
tantas outras.
ISOLDA
fica encantada com a estufa, passa a caminhar entre os corredores, ABNER a deixa, ela estava extasiada,
parecia que nunca entrara num local tão charmoso e agradável.
ISOLDA:
(encantada) – Essas rosas são
fascinantes, nem mesmo na capital encontrei mais belas!
ABNER
mesmo distante, escuta ela falar.
ABNER:
(emocionado) – Você está em Vale das
Rosas, certamente aqui encontrará as mais belas – gargalhadas – seja bem-vinda oficialmente!
ISOLDA
também escuta o homem falar e sorri, ela sente a leveza daquele lugar, sente-se
livre, estava à vontade. Num determinado momento ela tira os sapatos, vai
andando mais apressada, ABNER
estranha a atitude, mas permanece em silêncio, observando-a, então, ela passa a
correr entre os corredores, rindo, sorrindo, como um pássaro solto, um estado
de graça toma-a, assim, ela começa a girar, deixando seu vestido solto aos
movimentos.
ISOLDA:
(encantada) – Que delícia, o aroma
das flores – suspira - estou felicíssima!
ISOLDA
corre em direção a ABNER, que estava
de braços cruzados, boquiaberto, olhando-a, ela então, descruza os braços dele
e o puxa, segura as mãos dele.
ISOLDA:
(encantada) – Esse lugar me trouxe
boas lembranças, o cheiro da minha infância, quando corria pelo jardim florido
da casa de meu pai, na capital, que bons tempos – uma lágrima escorre – aliás, fizeste tudo isso por mim, e mal
perguntei seu nome!
ABNER:
(emocionado) – Enfim, agora consigo
me apresentar, sou ABNER!
ISOLDA:
(encantada) – Estava com medo do que
iria me apresentar, agora posso ter a certeza, me ajudaste! – outra lágrima escorre – És a primeira
pessoa que conheci nesta cidade, já sinto paz, uma paz verdadeira, genuína!
Todos esses dias fiquei presa dentro de minha casa, sequer ver a cor do céu,
ouvindo as afrontas de minha madrasta e agora, repentinamente me vejo neste
lugar, tão lindo, único!
ABNER:
(emocionado) – Não imaginava que
aqui lhe faria tão bem, estou piamente surpreso com sua reação.
ISOLDA
sem pestanejar abraça ABNER, que
fica incrédulo, trêmulo, mas abraça a mulher, ficam segundos abraçados, se
afastam, se encaram de forma carinhosa, sorridentes um ao outro.
Encerramento


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