Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 09
Cena 01: Escritório
de Donato. Interior. Tarde.
DONATO abre a gaveta
de sua mesa, pega algo que HERCULANO não consegue enxergar, o
contador demonstra um semblante diabólico ao homem, o clima naquela sala
torna-se intransponível.
DONATO: (sarcástico)
– Não se acanhe meu nobre companheiro – gargalhadas
– não há nada de oculto que não posso ser revelado!
DONATO retira um cheque da gaveta, assina numa destreza e estende em direção a
HERCULANO.
DONATO:
(sorrindo) – Pegue este cheque, a
quantia que nele contém, poderá ajuda-lo por algumas semanas.
HERCULANO
estava em pé, incrédulo, sem conseguir compreender a dimensão do que estava
ocorrendo naquela sala.
DONATO:
(sorrindo) – Pegue, não tenha medo –
gargalhadas – é apenas um agrado, ou
melhor, uma forma de demonstrar minha cordialidade!
HERCULANO:
(amedrontado) – O senhor está de
zombaria com a minha cara, há em mim uma espécie de frouxidão?
DONATO:
(rindo) – Meu caro, não pense assim –
tosse – não se denigra desta forma,
estou fazendo isso como um sinal de que pode confiar em mim!
HERCULANO:
(receoso) – O que queres em troca?
Um homem não entrega algo de gratuitamente a outro, tudo isso tem um preço – aproximando-se da mesa – o que queres?
DONATO:
(surpreso) – Oras, chegamos onde eu
mais esperada, nos negócios! É muito simples, serei breve, quero que trabalhe
comigo!
HERCULANO:
(fingido) – Trabalhe? Mas, desde
quando eu tenho pedido trabalho a vossa pessoa?
DONATO:
(sarcástico) – Não me venha com
histórias, meu caro, um homem no seu porte, entrando e saindo de
estabelecimentos, fábricas, andando a pé pelas ruas, e morando em um dos
maiores casarões dessa cidade, é um tanto quanto estranho, você não acha? – apanha e ascende um charuto – vossa pessoa
não conseguiu esconder o desespero, reparei diversas que mexia nos bolsos,
penso que lhe falta réis, não é mesmo – chacoalha
o cheque – venha, pegue!
HERCULANO sente
aquelas palavras atingirem seu peito como se fosse a ponta de lança de uma
espada que penetrava sua alma.
HERCULANO:
(temeroso) – Não sei o que senhor
está dizendo, porém, me ofende em pensar que preciso de algum agrado ou
cordialidade de sua parte, ando a pé por questões pessoais, é saudável!
DONATO:
(sarcástico) – Saudável? Venha
conhecer meu clube, tens muitos esportes saudáveis – gargalhadas – oh, perdão,
não farei novamente esse convite, esta hora chegará, mas vamos ao que
interessa, pegue este cheque!
HERCULANO:
(nervoso) – Não tenho negócios com
você, preciso ir, tenho que cumprir alguns compromissos pessoais!
DONATO:
(irônico) – Não seja por isso, lhe
dou três dias para pensar, e mesmo que a resposta for não, poderá ficar com o
cheque!
HERCULANO
arregala os olhos ao homem, fica trêmulo, ajusta a gravata para respirar
melhor.
DONATO:
(irônico) – Volto a repetir, mesmo
que disser não, ficará com o cheque!
HERCULANO
não responde ao homem, retira-se da sala e sai apressadamente do escritório, o
contador em sua cadeira giratória, passa a fazer esse movimento repetitivo
várias vezes, gargalhando e tragando seu charuto.
Passados
alguns segundos, a secretária de DONATO
adentra o local, com um jornal nas mãos.
SECRETÁRIA:
- Donato, acabamos de receber esse jornal, edição extra – entregando ao patrão – informando que o senhor Hans, oferecerá um
banquete para toda sociedade, parece que estará fazendo uma caridade à igreja,
e conta com a presença dos grandes empresários e simpatizantes da causa.
DONATO
se levanta num pulo da cadeira, todo sorridente, em um tom maquiavélico.
DONATO:
(sarcástico) – Então, parece que
Hans quer dar as caras, até pediu publicação no jornal, deveras, está desesperado
com a fama de TRISTÃO que ficou por aí – gargalhadas
– pois, prepare o melhor terno que eu tenho, irei com certeza neste evento!
DONATO
agarra a secretária, que sorri maliciosa para ele, os dois se beijam
ardentemente, o contador, passa delicadamente a mão entre as pernas dela, mas
logo se afasta, então, ele chuta a porta que se fecha abruptamente.
CENAS EXTERNAS
SONOPLASTIA: VOA BICHO – MILTON
NASCIMENTO
Imagens
mostram a área rural de Vale das Rosas que é destacada ao som de Voa Bicho, uma
cachoeira é apresentada, suas águas cristalinas são transmitidas, após uma
transição mostra-se ABNER, ajustando
um cesto de rosas na floricultura.
Cena 02: Floricultura.
Estufa. Interior. Tarde.
ABNER
estava ajeitando um cesto de rosas, era uma encomenda, fazia de forma ágil e
habilidoso, de repente, SALAZAR
aparece, tira o quepe, os dois se entreolham.
ABNER:
(sorridente) – Salazar, você por
aqui? Quanto tempo!
SALAZAR:
- Verdade Abner, já faz um bom tempo que não nos vemos – aperto de mãos – é sempre um prazer revê-lo!
ABNER:
(alegre) – O prazer é todo meu!
SALAZAR:
- Serei breve, pois o dia está se pondo e logo vocês fecharão a floricultura,
mas venho transmitir um pedido do senhor Hans, gostaria muito que fosse no
banquete amanhã à noite!
ABNER
escancara um sorriso ainda maior em seu rosto, torna-se em estado de êxtase.
ABNER:
(extasiado) – Que honra, será um
prazer estar junto com Hans neste evento, já faz muitos anos que não converso
pessoalmente com ele, e nem me lembro a última vez que entrei naquele palácio em
que mora!
SALAZAR:
- Hans faz questão que vá, e pediu também que levasse sua amiga, aquela que
Maricota conheceu aqui na floricultura, a poucas horas atrás.
No
mesmo instante que o motorista proferia aquelas palavras, o semblante de ABNER murchava, tornara apático, era
nítido.
ABNER:
(chateado) – Ah, compreendi, então,
realmente Maricota falou – suspira –
diga a Hans que farei o possível para comparecer!
ABNER
pega o cesto e se desvia do motorista, se retira da estufa, deixando SALAZAR encafifado.
Cena 03: Casarão de
Herculano. Cozinha. Interior. Noite.
HERCULANO e
ISOLDA sentados à mesa, jantavam,
ele estava pensativo, ela estava preocupada, de repente o homem tem um estalar
de ideia e expressa.
HERCULANO:
(surpreso) – Mas, que silêncio todo
é esse – pausa por alguns segundos –
onde está Jocasta?
ISOLDA
pega um pano, limpa os lábios e olha fixamente para o marido.
ISOLDA:
(entristecida) – Amor, aconteceu
algo muito desagradável hoje à tarde, tivemos uma discussão e por impulso
acabei desferindo um tapa no rosto de Jocasta, e... (INTERROMPIDA).
HERCULANO
cospe toda a comida na mesa, levanta-se e passa a rir descontroladamente.
HERCULANO:
(rindo) – Isolda? Isolda? – gargalhadas – o que dizes é verdade?
ISOLDA:
(entristecida) – Amor, não vejo
graça nisso, peço-te que me perdoe, não queria confusão nesta casa!
HERCULANO:
(rindo) – Mas, acho ótimo – sentando-se – sua madrasta inútil
merece umas palmadas, já considero seu pai um herói, por ter aguentado essa
mulherzinha tantos anos, um herói!
Neste
instante, a campainha toca, os dois se olham, acham estranho, pois já era o
anoitecer, se levantam e caminham em direção à sala.
CORTA PARA:
ISOLDA
fica em pé ao lado do sofá, enquanto o marido abre a porta. Num ímpeto MARCO PAULO entra com duas malas nas
mãos, as coloca no assoalho, retira o chapéu e abraça HERCULANO, que não corresponde, fica incrédulo.
MARCO PAULO:
(alegre) – Minha filha! – corre em direção à Isolda – que saudade!
MARCO PAULO
e ISOLDA se abraçam apertadamente,
no mesmo instante, BERENICE, entra,
cumprimentando com um sorriso o HERCULANO,
que também não corresponde e fecha a porta de forma rude.
ISOLDA:
(emocionada) – Minha irmã!
ISOLDA
se afasta do pai e abraça carinhosamente a irmã, os três se aproximam e se
abraçam coletivamente, MARCO PAULO
beija várias vezes a cabeça de ISOLDA.
MARCO PAULO:
(alegre) - Que saudade de vocês! – ajusta o paletó e passa a olhar todos os
lados do casarão – mas que belo casarão Herculano, você fez um ótimo
negócio, meus parabéns!
HERCULANO:
(nervoso) – Estava belo quando não
tinha pessoas indesejadas aqui!
Todos
ficam pasmos, atônitos, em completo silêncio com as palavras de HERCULANO.
Cena 04: Casarão de
Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.
MARCO PAULO,
sentido com as palavras de HERCULANO,
decide interpelá-lo.
MARCO PAULO:
(voz embargada) – Caro Herculano,
faz algum tempo que não os vejo, em especial minha filha, eu enviei um
telegrama explicando minha situação, esperava que poderiam me ajudar.
ISOLDA:
(trêmula) – Papai, claro que iremos
ajudar!
HERCULANO:
(nervoso) – Cale a boca Isolda! – pega as malas de Marco e aproxima-se dele
– quem decide qualquer coisa nesta casa, sou eu, e não quero sua família aqui!
HERCULANO
pega as malas de MARCO PAULO e joga
aos pés dele, que retraia para trás, assustado.
MARCO PAULO:
(chateado) – Herculano, por favor,
vamos conversar civilizadamente!
Neste
instante, JOCASTA desce a escada,
com passos firmes, fazendo o som ecoar por toda a casa, comparece a presença de
todos.
JOCASTA:
(irônica) – Então, a família está
completa, como nos velhos tempos!
BERENICE:
(alegre) – Mamãe, que saudade!
BERENICE
corre abraçar JOCASTA, que a retribui
com um semblante de nojo, de indiferença, se afastam.
MARCO PAULO:
(envergonhado) – Minha esposa, que
bom saber que encontrou abrigo nesta casa!
HERCULANO:
(nervoso) – Ninguém encontrou abrigo
de baixo do meu teto, Jocasta também pegará as trouxas dela e sairá desta casa
ainda esta noite.
O
clima torna-se tenso, mas JOCASTA
não retrai e aproxima-se de HERCULANO,
apontando o dedo na cara.
JOCASTA:
(aos berros) – Já disse, daqui não
saio, daqui ninguém me tira, essa casa também é minha!
HERCULANO:
(nervoso) – Sua maluca, pensas que
irei cair nessas suas ladainhas, pegue suas coisas e saia da minha casa!
JOCASTA:
(aos berros) – Não tirarei os pés
daqui! Tudo isso é fruto do meu dinheiro e do parvo aí – olhando para Marco – está nítido que usurpou as finanças da tecelagem
para comprar esse casarão!
Todos
ficam em silêncio, MARCO PAULO
respira fundo e diz:
MARCO PAULO:
(trêmulo) – Herculano, não precisamos de escândalo, quero apenas um lugar para
ficar, pelo menos esta noite, procurarei meu rumo, mas imploro, pense em Berenice,
ela é uma mocinha ainda, pense nela!
JOCASTA: (aos berros) –
Cale a boca, parvo! Não está vendo que ele está se refestelando com sua fortuna?
– apontando para Isolda – e a sua
filhinha amada, está encobertando esse cafajeste!
HERCULANO:
(aos berros) – Alto lá, sua
ordinária!
HERCULANO
levanta a mão contra JOCASTA, mas MARCO PAULO entra na frente, já
alterado.
MARCO PAULO:
(nervoso) – Não ouse relar a mão em
minha esposa, não seja louco!
HERCULANO:
(aos berros) – E o que pretende
fazer?
MARCO PAULO
encara HERCULANO, ofegantes, os dois
ficam avermelhados de tanta ira.
JOCASTA:
(aos berros) – Sai da minha frente
seu parvo, quero ver se esse usurpador é homem o suficiente para me bater – colocando-se a frente de Marco – vamos,
bate em minha cara!
HERCULANO
é puxado para trás por ISOLDA, a
mulher se coloca a frente dele.
ISOLDA:
(lacrimejando) – Meu Deus, por
favor, parem com isso, estão assustando Berenice – olhando para a irmã, em lágrimas – vamos todos conversar na
cozinha.
JOCASTA:
(aos berros) – Saia da frente, sua
sonsa, seu marido sabes que andas pela cidade desacompanhada? – gargalhadas diabólicas – ou vocês andam
se encontrando com medo que escute os planos de vocês?
HERCULANO:
(irritado) – Como assim, você saiu
desta casa sem me avisar?
ISOLDA
se vira para HERCULANO, aflita, o
marido estava muito nervoso.
HERCULANO:
(nervoso) – Sobe para o quarto
agora, iremos conversar!
ISOLDA:
(trêmula) – Amor, eu fui apenas na
biblioteca, estava inclusive tentando falar com meu pai!
JOCASTA:
(aos berros) – Mentira, mentira
dela, ela saiu na surdinha!
HERCULANO:
(nervoso) – Sobe Isolda – respira fundo – SOBE!
ISOLDA:
(trêmula) – Amor, calma, vamos
conversar!
HERCULANO:
(aos berros) – SOBE!
ISOLDA
segura a cintura de HERCULANO na
tentativa de convencê-lo e fazer ouvi-la, mas o marido estava tomado pelo ódio, todavia, ela insistia em segurá-lo, quando o homem em estado de nervos, desfere uma bofetada na cara da
mulher que se esparrama pelo chão, todos ficam chocados.
Encerramento


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