09/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 09 (09/04/2025)

 



Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 09

 

Cena 01: Escritório de Donato. Interior. Tarde.

 

DONATO abre a gaveta de sua mesa, pega algo que HERCULANO não consegue enxergar, o contador demonstra um semblante diabólico ao homem, o clima naquela sala torna-se intransponível.

 

DONATO: (sarcástico) – Não se acanhe meu nobre companheiro – gargalhadas – não há nada de oculto que não posso ser revelado!

 

DONATO retira um cheque da gaveta, assina numa destreza e estende em direção a HERCULANO.

 

DONATO: (sorrindo) – Pegue este cheque, a quantia que nele contém, poderá ajuda-lo por algumas semanas.

 

HERCULANO estava em pé, incrédulo, sem conseguir compreender a dimensão do que estava ocorrendo naquela sala.

 

DONATO: (sorrindo) – Pegue, não tenha medo – gargalhadas – é apenas um agrado, ou melhor, uma forma de demonstrar minha cordialidade!

 

HERCULANO: (amedrontado) – O senhor está de zombaria com a minha cara, há em mim uma espécie de frouxidão?

 

DONATO: (rindo) – Meu caro, não pense assim – tosse – não se denigra desta forma, estou fazendo isso como um sinal de que pode confiar em mim!

 

HERCULANO: (receoso) – O que queres em troca? Um homem não entrega algo de gratuitamente a outro, tudo isso tem um preço – aproximando-se da mesa – o que queres?

 

DONATO: (surpreso) – Oras, chegamos onde eu mais esperada, nos negócios! É muito simples, serei breve, quero que trabalhe comigo!

 

HERCULANO: (fingido) – Trabalhe? Mas, desde quando eu tenho pedido trabalho a vossa pessoa?

 

DONATO: (sarcástico) – Não me venha com histórias, meu caro, um homem no seu porte, entrando e saindo de estabelecimentos, fábricas, andando a pé pelas ruas, e morando em um dos maiores casarões dessa cidade, é um tanto quanto estranho, você não acha? – apanha e ascende um charuto – vossa pessoa não conseguiu esconder o desespero, reparei diversas que mexia nos bolsos, penso que lhe falta réis, não é mesmo – chacoalha o cheque – venha, pegue!

 

HERCULANO sente aquelas palavras atingirem seu peito como se fosse a ponta de lança de uma espada que penetrava sua alma.

 

HERCULANO: (temeroso) – Não sei o que senhor está dizendo, porém, me ofende em pensar que preciso de algum agrado ou cordialidade de sua parte, ando a pé por questões pessoais, é saudável!

 

DONATO: (sarcástico) – Saudável? Venha conhecer meu clube, tens muitos esportes saudáveis – gargalhadas – oh, perdão, não farei novamente esse convite, esta hora chegará, mas vamos ao que interessa, pegue este cheque!

 

HERCULANO: (nervoso) – Não tenho negócios com você, preciso ir, tenho que cumprir alguns compromissos pessoais!

 

DONATO: (irônico) – Não seja por isso, lhe dou três dias para pensar, e mesmo que a resposta for não, poderá ficar com o cheque!

 

HERCULANO arregala os olhos ao homem, fica trêmulo, ajusta a gravata para respirar melhor.

 

DONATO: (irônico) – Volto a repetir, mesmo que disser não, ficará com o cheque!

 

HERCULANO não responde ao homem, retira-se da sala e sai apressadamente do escritório, o contador em sua cadeira giratória, passa a fazer esse movimento repetitivo várias vezes, gargalhando e tragando seu charuto.

 

Passados alguns segundos, a secretária de DONATO adentra o local, com um jornal nas mãos.

 

SECRETÁRIA: - Donato, acabamos de receber esse jornal, edição extra – entregando ao patrão – informando que o senhor Hans, oferecerá um banquete para toda sociedade, parece que estará fazendo uma caridade à igreja, e conta com a presença dos grandes empresários e simpatizantes da causa.

 

DONATO se levanta num pulo da cadeira, todo sorridente, em um tom maquiavélico.

 

DONATO: (sarcástico) – Então, parece que Hans quer dar as caras, até pediu publicação no jornal, deveras, está desesperado com a fama de TRISTÃO que ficou por aí – gargalhadas – pois, prepare o melhor terno que eu tenho, irei com certeza neste evento!

 

DONATO agarra a secretária, que sorri maliciosa para ele, os dois se beijam ardentemente, o contador, passa delicadamente a mão entre as pernas dela, mas logo se afasta, então, ele chuta a porta que se fecha abruptamente.

 

CENAS EXTERNAS

SONOPLASTIA: VOA BICHO – MILTON NASCIMENTO

 

Imagens mostram a área rural de Vale das Rosas que é destacada ao som de Voa Bicho, uma cachoeira é apresentada, suas águas cristalinas são transmitidas, após uma transição mostra-se ABNER, ajustando um cesto de rosas na floricultura.

 

Cena 02: Floricultura. Estufa. Interior. Tarde.

 

ABNER estava ajeitando um cesto de rosas, era uma encomenda, fazia de forma ágil e habilidoso, de repente, SALAZAR aparece, tira o quepe, os dois se entreolham.

 

ABNER: (sorridente) – Salazar, você por aqui? Quanto tempo!

 

SALAZAR: - Verdade Abner, já faz um bom tempo que não nos vemos – aperto de mãos – é sempre um prazer revê-lo!

 

ABNER: (alegre) – O prazer é todo meu!

 

SALAZAR: - Serei breve, pois o dia está se pondo e logo vocês fecharão a floricultura, mas venho transmitir um pedido do senhor Hans, gostaria muito que fosse no banquete amanhã à noite!

 

ABNER escancara um sorriso ainda maior em seu rosto, torna-se em estado de êxtase.

 

ABNER: (extasiado) – Que honra, será um prazer estar junto com Hans neste evento, já faz muitos anos que não converso pessoalmente com ele, e nem me lembro a última vez que entrei naquele palácio em que mora!

 

SALAZAR: - Hans faz questão que vá, e pediu também que levasse sua amiga, aquela que Maricota conheceu aqui na floricultura, a poucas horas atrás.

 

No mesmo instante que o motorista proferia aquelas palavras, o semblante de ABNER murchava, tornara apático, era nítido.

 

ABNER: (chateado) – Ah, compreendi, então, realmente Maricota falou – suspira – diga a Hans que farei o possível para comparecer!

 

ABNER pega o cesto e se desvia do motorista, se retira da estufa, deixando SALAZAR encafifado.

 

Cena 03: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior. Noite.

 

HERCULANO e ISOLDA sentados à mesa, jantavam, ele estava pensativo, ela estava preocupada, de repente o homem tem um estalar de ideia e expressa.

 

HERCULANO: (surpreso) – Mas, que silêncio todo é esse – pausa por alguns segundos – onde está Jocasta?

 

ISOLDA pega um pano, limpa os lábios e olha fixamente para o marido.

 

ISOLDA: (entristecida) – Amor, aconteceu algo muito desagradável hoje à tarde, tivemos uma discussão e por impulso acabei desferindo um tapa no rosto de Jocasta, e... (INTERROMPIDA).

 

HERCULANO cospe toda a comida na mesa, levanta-se e passa a rir descontroladamente.

 

HERCULANO: (rindo) – Isolda? Isolda? – gargalhadas – o que dizes é verdade?

 

ISOLDA: (entristecida) – Amor, não vejo graça nisso, peço-te que me perdoe, não queria confusão nesta casa!

 

HERCULANO: (rindo) – Mas, acho ótimo – sentando-se – sua madrasta inútil merece umas palmadas, já considero seu pai um herói, por ter aguentado essa mulherzinha tantos anos, um herói!

 

Neste instante, a campainha toca, os dois se olham, acham estranho, pois já era o anoitecer, se levantam e caminham em direção à sala.

 

CORTA PARA:

 

ISOLDA fica em pé ao lado do sofá, enquanto o marido abre a porta. Num ímpeto MARCO PAULO entra com duas malas nas mãos, as coloca no assoalho, retira o chapéu e abraça HERCULANO, que não corresponde, fica incrédulo.

 

MARCO PAULO: (alegre) – Minha filha! – corre em direção à Isolda – que saudade!

 

MARCO PAULO e ISOLDA se abraçam apertadamente, no mesmo instante, BERENICE, entra, cumprimentando com um sorriso o HERCULANO, que também não corresponde e fecha a porta de forma rude.

 

ISOLDA: (emocionada) – Minha irmã!

 

ISOLDA se afasta do pai e abraça carinhosamente a irmã, os três se aproximam e se abraçam coletivamente, MARCO PAULO beija várias vezes a cabeça de ISOLDA.

 

MARCO PAULO: (alegre) - Que saudade de vocês! – ajusta o paletó e passa a olhar todos os lados do casarão – mas que belo casarão Herculano, você fez um ótimo negócio, meus parabéns!

 

HERCULANO: (nervoso) – Estava belo quando não tinha pessoas indesejadas aqui!

 

Todos ficam pasmos, atônitos, em completo silêncio com as palavras de HERCULANO.




Cena 04: Casarão de Herculano. Sala de Estar. Interior. Noite.


MARCO PAULO, sentido com as palavras de HERCULANO, decide interpelá-lo.

 

MARCO PAULO: (voz embargada) – Caro Herculano, faz algum tempo que não os vejo, em especial minha filha, eu enviei um telegrama explicando minha situação, esperava que poderiam me ajudar.

 

ISOLDA: (trêmula) – Papai, claro que iremos ajudar!

 

HERCULANO: (nervoso) – Cale a boca Isolda! – pega as malas de Marco e aproxima-se dele – quem decide qualquer coisa nesta casa, sou eu, e não quero sua família aqui!

 

HERCULANO pega as malas de MARCO PAULO e joga aos pés dele, que retraia para trás, assustado.

 

MARCO PAULO: (chateado) – Herculano, por favor, vamos conversar civilizadamente!

 

Neste instante, JOCASTA desce a escada, com passos firmes, fazendo o som ecoar por toda a casa, comparece a presença de todos.

 

JOCASTA: (irônica) – Então, a família está completa, como nos velhos tempos!

 

BERENICE: (alegre) – Mamãe, que saudade!

 

BERENICE corre abraçar JOCASTA, que a retribui com um semblante de nojo, de indiferença, se afastam.

 

MARCO PAULO: (envergonhado) – Minha esposa, que bom saber que encontrou abrigo nesta casa!

 

HERCULANO: (nervoso) – Ninguém encontrou abrigo de baixo do meu teto, Jocasta também pegará as trouxas dela e sairá desta casa ainda esta noite.

 

O clima torna-se tenso, mas JOCASTA não retrai e aproxima-se de HERCULANO, apontando o dedo na cara.

 

JOCASTA: (aos berros) – Já disse, daqui não saio, daqui ninguém me tira, essa casa também é minha!

 

HERCULANO: (nervoso) – Sua maluca, pensas que irei cair nessas suas ladainhas, pegue suas coisas e saia da minha casa!

 

JOCASTA: (aos berros) – Não tirarei os pés daqui! Tudo isso é fruto do meu dinheiro e do parvo aí – olhando para Marco – está nítido que usurpou as finanças da tecelagem para comprar esse casarão!

 

Todos ficam em silêncio, MARCO PAULO respira fundo e diz:

 

MARCO PAULO: (trêmulo) – Herculano, não precisamos de escândalo, quero apenas um lugar para ficar, pelo menos esta noite, procurarei meu rumo, mas imploro, pense em Berenice, ela é uma mocinha ainda, pense nela!

 

JOCASTA: (aos berros) – Cale a boca, parvo! Não está vendo que ele está se refestelando com sua fortuna? – apontando para Isolda – e a sua filhinha amada, está encobertando esse cafajeste!

 

HERCULANO: (aos berros) – Alto lá, sua ordinária!

 

HERCULANO levanta a mão contra JOCASTA, mas MARCO PAULO entra na frente, já alterado.

 

MARCO PAULO: (nervoso) – Não ouse relar a mão em minha esposa, não seja louco!

 

HERCULANO: (aos berros) – E o que pretende fazer?

 

MARCO PAULO encara HERCULANO, ofegantes, os dois ficam avermelhados de tanta ira.

 

JOCASTA: (aos berros) – Sai da minha frente seu parvo, quero ver se esse usurpador é homem o suficiente para me bater – colocando-se a frente de Marco – vamos, bate em minha cara!

 

HERCULANO é puxado para trás por ISOLDA, a mulher se coloca a frente dele.

 

ISOLDA: (lacrimejando) – Meu Deus, por favor, parem com isso, estão assustando Berenice – olhando para a irmã, em lágrimas – vamos todos conversar na cozinha.

 

JOCASTA: (aos berros) – Saia da frente, sua sonsa, seu marido sabes que andas pela cidade desacompanhada? – gargalhadas diabólicas – ou vocês andam se encontrando com medo que escute os planos de vocês?

 

HERCULANO: (irritado) – Como assim, você saiu desta casa sem me avisar?

 

ISOLDA se vira para HERCULANO, aflita, o marido estava muito nervoso.

 

HERCULANO: (nervoso) – Sobe para o quarto agora, iremos conversar!

 

ISOLDA: (trêmula) – Amor, eu fui apenas na biblioteca, estava inclusive tentando falar com meu pai!

 

JOCASTA: (aos berros) – Mentira, mentira dela, ela saiu na surdinha!

 

HERCULANO: (nervoso) – Sobe Isolda – respira fundo – SOBE!

 

ISOLDA: (trêmula) – Amor, calma, vamos conversar!

 

HERCULANO: (aos berros) – SOBE!

 

ISOLDA segura a cintura de HERCULANO na tentativa de convencê-lo e fazer ouvi-la, mas o marido estava tomado pelo ódio, todavia, ela insistia em segurá-lo, quando o homem em estado de nervos, desfere uma bofetada na cara da mulher que se esparrama pelo chão, todos ficam chocados.

 

 

Encerramento




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