15/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 14 (15/04/2025)

 



Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 14

 

Cena 01:  Mansão de Hans. Escritório. Interior. Noite.

 

JÚLIO estava sentado à mesa, ABNER estava à frente em pé, os dois se encaravam de forma estranha, incômoda.

 

JÚLIO: (contido) - Fico contente que tenha vindo Abner, é um prazer tê-lo em minha casa!

 

ABNER: - Agradeço, Hans, mas tenho comigo que – respira fundo – esse convite advém de um interesse seu.

 

JÚLIO: (surpreso) – Interesse meu? Como assim?

 

ABNER: (chateado) – Hans, você pediu para o Salazar ir me convidar para o banquete, todavia, pediu também que levasse a mulher que conheci... bom, acredito que a informação deve ter chegado aqui.

 

JÚLIO: (surpreso) – Se refere à Isolda?

 

ABNER dá alguns passos para trás, esboça um semblante de completo espanto.

 

ABNER: (assustado) – Já conhecera Isolda?

 

JÚLIO: (alegre) – Sim, Abner, ela é a cara de Olívia – levantando-se e aproximando do amigo – eu já tinha visto no desfile, ela mexeu comigo, mas hoje, pela manhã tive um reencontro com ela, um tanto desagradável, mas era ela!

 

ABNER: (emocionado) – Hans, posso dizer que Isolda é uma pessoa tão incrível quanto Olívia.

 

JÚLIO: (alegre) – Não lhe convidei por isso, só queria ter a certeza de que essa mulher realmente existe, que não era coisa da minha cabeça, não era meu coração inventando desatinos, estava com medo de pregar uma peça em mim mesmo, não queria sofrer.

 

ABNER esboça um sorriso tristonho, um misto de ironia e desgosto.

 

ABNER: (chateado) – Não foi apenas você quem sofreu Hans, eu e minha família ainda sofremos muito com a partida de Olívia, era tudo para nós!

 

JÚLIO: (contido) – Ela ainda é alguém que tanto amo!

 

ABNER: (incisivo) – Será Hans? Você se impressionou tanto com Isolda pela semelhança física, mas parece que tudo isso não passa de um sentido obtuso!

 

JÚLIO: (entristecido) – Sentimento obtuso, está dizendo isso mesmo Abner? Está... enfim, não importa, queria ter essa conversa com você, apenas queria vê-lo em particular, pois mal nos falamos direito, só queria saber se está bem!

 

ABNER: - Obrigado pela modesta preocupação, estou bem, e minha família também... já que não perguntou deles!

 

JÚLIO: (entristecido) – Me preocupo muito com todos vocês, também são minha família!

 

Nesse instante, ABNER se afasta ainda mais de JÚLIO, expressando com mais firmeza aquele sorriso misto de outrora.

 

ABNER: (firme) – Hans, como tem coragem de dizer algo desse? Desde que Olívia se foi, você criou um véu entre todos nós, como se você fosse a única pessoa que sofrera pela partida dela, se comportou como se fosse o único que perdeu com tudo isso, não achas um tanto egoísta da sua parte?

 

JÚLIO frange a sobrancelha, trêmulo.

 

JÚLIO: (voz embargada) – Abner, não acredito que está dizendo essas coisas a mim? Eu sofri muito, ainda sinto a falta de Olívia, podem se passar quantos anos forem, mas você me chamar de egoísta? É cruel de sua parte! Sei muito bem que todos vocês também partilham deste sentimento, um vazio no peito, eu bem sei!

 

ABNER: (nervoso) – Bem sabe? Hans, desde então, você nunca mais fora visitar meus pais, mal teve uma conversa comigo, e ainda por cima eu fui acusado de tirar a vida da minha própria irmã, você se afastou de nós – respira fundo – custo a acreditar que desconfias de mim!

 

JÚLIO bate calorosamente na mesa.

 

JÚLIO: (nervoso) – Não diz isso! Eu jamais desconfiei de você, jamais acreditei que pudestes fazer aquilo com sua amada irmã, com a minha eterna mulher!

 

ABNER: (nervoso) – Eterna? Não, ela não é eterna, ela teve um fim, trágico, triste – lacrimeja – ela teve um fim!

 

ABNER vai se aproximando da porta.

 

ABNER: (lacrimejando) – Seu discurso é egoísta Hans, muito egoísta!

 

ABNER sabre a porta e fecha calmamente, deixando JÚLIO introspectivo, magoado, com o semblante abatido.

 

 

Cena 02: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.Hans

 

 

A orquestra tocava “What A Difference A Day Made” – Jamie Cullum”, os convidados se divertiam, bebiam e comiam a vontade, aos poucos mais e mais pessoas chegavam.

 

ABNER, caminha em direção a uma mesa, pega um copo e se serve com um suco de frutas, GARDÊNIA se aproxima, num tom áspero.

 

GARDÊNIA: (irritada) – Vejo que Hans o chamou para conversar em particular, há algum motivo especial para tanto?

 

ABNER: (nervoso) – Acredito que saiba o motivo, você é tão onisciente de tudo que acontece na vida dele, não é mesmo?

 

ABNER se retira e vai para outro lugar, GARDÊNIA esboça um semblante de fúria, permanece ali, imóvel, alguns segundos depois, achegam-se, DONATO, acompanhado de uma mulher esbelta, cabelos louros, seis fartos, vestido justíssimo, olhar fatal, lábios carnudos, a governanta se retraia.

 

DONATO: (irônico) – Ora, se não é a fiel escudeira de Hans, Gardênia! Que bom vê-la!

 

GARDÊNIA: (sarcástica) – Senhor Donato, é um prazer tê-lo nesta casa, sinta-se à vontade, só não cause confusão, isso aqui é para promover favores à igreja, seja santo, ou pelo menos finja, isso sabes bem!

 

GARDÊNIA se afasta de DONATO, deixando-o surpreso, a mulher que o acompanhara era YOLANDA, ela também se surpreende.

 

YOLANDA: (atrevida) – Ela não faz ideia do que seria santo, no seu glossário!

 

Os dois se olham, riem maliciosamente, DONATO passa as mãos nas nádegas dela, que dá alguns pulinhos para frente, simular uma fuga dele, mas ele a puxa, AUGUSTO ao ver o movimento de ambos, se aproxima com uma taça nas mãos.

 

AUGUSTO: (irônico) – Donato, você e suas garotas, por aqui?

 

DONATO: (irônico) – Surpreso meu caro? Não fiques, sou um homem que luto pelas boas causas também!

 

AUGUSTO: (irônico) – Suas causas, são as mais peculiares que existem, oh se são!

 

DONATO: (rindo) – Não se acanhes Augusto, meu clube ainda lhe aguarda.

 

AUGUSTO revira os olhos e se retira rapidamente de perto deles, DONATO e YOLANDA riem novamente, exalando tensão corporal.

 

Cena 03: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior. Noite.

 

MARCO PAULO e BERENICE estavam sentados à mesa, tristes, quando de repente, HERCULANO chega com algumas sacolas com legumes e verduras.

 

HERCULANO: (nervoso) – Espero que consigo preparar algum cozido, sopa, inventem! Foi o que deu para comprar, amanhã pela manhã farei uma nova compra!

 

No mesmo instante, HERCULANO, sente suas pernas travarem, não consegue se mover, nem para frente, nem para trás.

 

- FLASHBACK ON -

 

(...)

 

DONATO tem uma crise de riso, abre a gaveta, pega o cheque e se levanta, aproxima-se de HERCULANO.

 

DONATO: (rindo) – Me lembro dos termos de aceite ou não, você é mais esperto do que eu imaginava, pois tome, pegue o cheque! – estendendo o documento – faça bom uso.

 

HERCULANO prontamente pega o título de crédito e se vira em direção a porta, mas num gesto rápido, DONATO retira do paletó dois outros cheques e diz:

 

 

DONATO: (sorridente) – Mas, tenho uma contraproposta – chacoalhando os documentos – se aceitares trabalhar comigo, receberás o dobro do valor concedido!

 

(...)

 

- FLASHBACK OFF –

 

HERCULANO sente as batidas do coração pela goela, sente os dedos, as penas formigarem, apressa-se e corre da cozinha. MARCO PAULO fica sem entender.

 

MARCO PAULO: - Essa coisa, está mais pra lá do que pra cá! Venha Berenice, me ajude a fazer alguma coisa, precisamos alimentar Isolda!

 

MARCO PAULO e BERENICE retiram juntos os alimentos da sacola e separam sobre a mesa.

 

 


 

Cena 04: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

A orquestra tinha concedido uma pausa, apenas o flautista tocara, em um tom suave, apenas para harmonizar o ambiente, era uma canção de Chiquinha Gonzaga.

 

CLARA, estava olhando fixamente para o quadro de OLÍVIA, que estava na parede, enquanto os demais convidados interagiam entre si, a mulher estava concentrada.

 

CLARA: (sussurrando) – Minha amiga, você faz tanta falta, nossas conversas, nossos segredos – respira fundo – sempre estará em minhas lembranças!

 

De repente, AUGUSTO chega por trás, acariciando sua cintura e cafungando seu cangote, ela se arrepia, vira-se e beija delicadamente o marido, logo se afastam.

 

AUGUSTO: (alegre) – Clara, está gostando?

 

CLARA: (sussurrando) – Sim, mas... – entrelaçando os dedos – eu acredito que preciso de um comprimido.

 

AUGUSTO: (preocupado) – Não meu bem, aguente até o fim, quando chegarmos em casa, lhe darei o remédio!

 

AUGUSTO beija a testa de CLARA e se afasta, deixando-a inquieta.

 

Cena 05: Casarão de Herculano. Quarto. Interior. Noite.

 

HERCULANO servia sopa à ISOLDA, que já esboçava um semblante mais firme, mais calma.

 

ISOLDA: - Obrigada, Herculano!

 

HERCULANO, estranha e afasta a colher da boca da mulher.

 

HERCULANO: (surpreso) – Herculano? Não me chamas de amor?

 

ISOLDA: (envergonhada) – Me desculpe, estou cansada – passando as mãos nos lábios – amor.

 

HERCULANO aproxima-se de ISOLDA para beija-la, mas ela delicadamente se afasta, pega o prato e o talher das mãos dele e se alimenta sozinha, deixando-o sem graça. Ele se levanta, põe à porta, abre, os demais integrantes da casa entram, a mulher fica surpresa.

 

HERCULANO: (voz firme) – Isolda, chamei sua família aqui, para dizer algo em sua frente.

 

JOCASTA faz cara de deboche e desvia o olhar para as unhas, enquanto MARCO PAULO e BERENICE esboçam preocupação.

 

HERCULANO: - Gostaria de dizer a todos, que estou imensamente arrependido pelos atos que cometi contra minha esposa, e como confirmação desse arrependimento, gostaria de dizer que a amo muito!

 

ISOLDA escuta as palavras, contudo, não esboça reações, permanece alimentando-se, indiferente, os demais em silêncio.

 

HERCULANO: (voz embargada) - Sua família poderá ficar em nossa casa, o quanto tempo... – ajusta a gravata – o quanto tempo for necessário para se estabilizarem e encontrarem o próprio rumo!

 

JOCASTA: (irônica) – Herculano, destes com uma mão e tomastes com a outra? Com licença!

 

JOCASTA se retira do quarto, seguida de BERENICE, todavia, MARCO PAULO aproxima-se do homem.

 

MARCO PAULO: (sério) – Agradeço pela mudança de decisão Herculano, irei pagar pelo tempo que aqui estivermos – olha para Isolda – minha filha, descanse um pouco, amanhã conversaremos.

 

MARCO PAULO se retira do quarto e fecha a porta, HERCULANO fica irritado.

 

HERCULANO: (irritado) – Isolda, olha sua família é extremamente difícil, estou concedendo minha casa e ainda viram as costas, se eu mudar de ideia, todos irão para o olho da rua!

 

ISOLDA não responde ao marido, lambe os lábios, entrega o prato para ele, que prontamente pega, ela se deita, cobre-se, deixando HERCULANO surpreso com a atitude de indiferença.

 

Cena 06: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.

 

Os convidados estavam dispersos em várias rodas de pessoas, conversando, JÚLIO se aproxima do centro do local, onde havia um pequeno tablado, ele se põe acima, peça uma taça, uma colher de chá e bate várias vezes, solicitando a atenção de todos.

 

JÚLIO: (contido) – Peço que venham mis próximo!

 

Os convidados se aproximam do tablado, o falatório diminui, JÚLIO, enfim, encontra oportunidade para discursar.

 

JÚLIO: (enfático) – Gostaria de agradecer cada um que dispor de seu tempo para estar conosco esta noite, a fim de celebrarmos uma causa tão nobre! Há pouco mais de uma semana recebi do Padre Elvis um pedido, no qual não poderia negar, a doação de flores para a igreja, e o mais especial, a fim de enfeitar a igreja para um casamento, isso foi um pedido irrecusável!

 

Os convidados riem, cochicham algo, logo o foco volta para JÚLIO.

 

JÚLIO: (enfático) – Mas, sobretudo, é um momento de reflexão também, do quanto nossa sociedade pode ajudar mais a igreja, as pessoas carentes, os necessitados, podemos fortalecer nossos laços e ajudar ainda mais, uns aos outros, então, de antemão, deixo aqui meu apelo, quem puder ajudar a igreja com doações, do que sentir no coração, faça, pois creio que serão ricamente abençoados!

 

A maioria dos convidados aplaudem as palavras de JÚLIO, enquanto, DONATO e YOLANDA debocham silenciosamente.

 

PADRE ELVIS se põe ao lado de JÚLIO, sobre o tablado.

 

JÚLIO: - Agora, passo a palavra ao Padre Elvis!

 

PADRE ELVIS: (alegre) – Meus amados irmãos, filhinhos e filhinhas, é com a graça de Deus que estamos aqui, Maria mãe do menino, nos ajudou! (INTERROMPIDO)

 

CLARA: (gritos) – AHHHHHHHH... AHHHHHHH

 

CLARA puxa os próprios cabelos e desaba ao chão, os convidados ficam atônitos, AUGUSTO, envergonhado, tenta levantar a mulher.

 

AUGUSTO: (desesperado) – Clara, meu bem, o que está acontecendo?

 

PADRE ELVIS se aproxima e tenta ajudar ela a se levantar, CLARA empurra o clérigo que quase desaba, mas é segurado por JÚLIO, os convidados se afastam.

 

CLARA: (engrossando a voz) – ME SOLTA, ME SOLTA!

 

AUGUSTO encara o semblante da mulher, ela estava diferente, parecia estar possessa. LUÍS MIGUEL, o coroinha, se aproxima, aponta o crucifixo para a mulher.

 

LUÍS MIGUEL: (autoritário) – Eu ordeno, afasta-te desta alma!

 

CLARA, então, grita de forma estridente, ao ponto que algumas taças estourassem nas mãos de alguns convidados, causando uma enorme euforia.

 

LUÍS MIGUEL: (autoritário) – Eu ordeno... (INTERROMPIDO).

 

PADRE ELVIS arranca o crucifixo da mão do rapaz, empurra ele para trás e toma a frente da situação.

 

PADRE ELVIS: (gritando) – Eu ordeno, espírito das trevas, SAIA deste corpo, AGORA!

 

No mesmo instante, CLARA se acalma, ela sente seu corpo molejar, suas pernas bambeiam, AUGUSTO a segura.

 

LUÍS MIGUEL, por sua vez, avista uma figura sinistra, acinzentada, em forma humana sair pelas costas da mulher, esse mesmo espírito estranho, aproxima-se da cortina, o rapaz tem um espanto.

 

LUÍS MIGUEL: (assustado) – SAIAM, SAIAM, está na cortina!

 

Os músicos da orquestra estavam próximo a cortina, se levantam no mesmo instante, alguns pegam os instrumentos, outros não.

 

MARICOTA: (assustada) – Está esfumaçando!

 

No mesmo instante, uma fumaça densa começa a aparecer por deixo da cortina, JÚLIO, fica atônito, sem reação.

 

GARDÊNIA: (nervosa) – Pegam água! Peguem água!

 

Chamas começam a se espalhar pela cortina, alguns convidados correm para fora, na correria, YOLANDA e DONATO desabam ao chão, sendo pisoteados por outras pessoas.

 

ABNER: (aos berros) – Peguem os jarros!

 

ABNER e outros homens pegam alguns jarros de água que estavam espelhados pelo local e jogam em direção a fumaça, aos pés das cortinas, e em poucos minutos tudo aquilo cessa, deixando todos perplexos.

 

 

 

Encerramento



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