Criado
e Escrito por LUCAS GARCIA
CAPÍTULO 14
Cena 01: Mansão de Hans. Escritório. Interior. Noite.
JÚLIO
estava sentado à mesa, ABNER estava à
frente em pé, os dois se encaravam de forma estranha, incômoda.
JÚLIO:
(contido) - Fico contente que tenha
vindo Abner, é um prazer tê-lo em minha casa!
ABNER:
- Agradeço, Hans, mas tenho comigo que – respira
fundo – esse convite advém de um interesse seu.
JÚLIO:
(surpreso) – Interesse meu? Como
assim?
ABNER:
(chateado) – Hans, você pediu para o
Salazar ir me convidar para o banquete, todavia, pediu também que levasse a
mulher que conheci... bom, acredito que a informação deve ter chegado aqui.
JÚLIO:
(surpreso) – Se refere à Isolda?
ABNER
dá alguns passos para trás, esboça um semblante de completo espanto.
ABNER:
(assustado) – Já conhecera Isolda?
JÚLIO:
(alegre) – Sim, Abner, ela é a cara
de Olívia – levantando-se e aproximando
do amigo – eu já tinha visto no desfile, ela mexeu comigo, mas hoje, pela
manhã tive um reencontro com ela, um tanto desagradável, mas era ela!
ABNER:
(emocionado) – Hans, posso dizer que
Isolda é uma pessoa tão incrível quanto Olívia.
JÚLIO:
(alegre) – Não lhe convidei por
isso, só queria ter a certeza de que essa mulher realmente existe, que não era
coisa da minha cabeça, não era meu coração inventando desatinos, estava com
medo de pregar uma peça em mim mesmo, não queria sofrer.
ABNER
esboça um sorriso tristonho, um misto de ironia e desgosto.
ABNER:
(chateado) – Não foi apenas você
quem sofreu Hans, eu e minha família ainda sofremos muito com a partida de
Olívia, era tudo para nós!
JÚLIO:
(contido) – Ela ainda é alguém que
tanto amo!
ABNER:
(incisivo) – Será Hans? Você se impressionou
tanto com Isolda pela semelhança física, mas parece que tudo isso não passa de
um sentido obtuso!
JÚLIO:
(entristecido) – Sentimento obtuso,
está dizendo isso mesmo Abner? Está... enfim, não importa, queria ter essa
conversa com você, apenas queria vê-lo em particular, pois mal nos falamos
direito, só queria saber se está bem!
ABNER:
- Obrigado pela modesta preocupação, estou bem, e minha família também... já
que não perguntou deles!
JÚLIO:
(entristecido) – Me preocupo muito
com todos vocês, também são minha família!
Nesse
instante, ABNER se afasta ainda mais
de JÚLIO, expressando com mais firmeza
aquele sorriso misto de outrora.
ABNER:
(firme) – Hans, como tem coragem de
dizer algo desse? Desde que Olívia se foi, você criou um véu entre todos nós,
como se você fosse a única pessoa que sofrera pela partida dela, se comportou
como se fosse o único que perdeu com tudo isso, não achas um tanto egoísta da
sua parte?
JÚLIO
frange a sobrancelha, trêmulo.
JÚLIO:
(voz embargada) – Abner, não
acredito que está dizendo essas coisas a mim? Eu sofri muito, ainda sinto a
falta de Olívia, podem se passar quantos anos forem, mas você me chamar de egoísta?
É cruel de sua parte! Sei muito bem que todos vocês também partilham deste
sentimento, um vazio no peito, eu bem sei!
ABNER:
(nervoso) – Bem sabe? Hans, desde
então, você nunca mais fora visitar meus pais, mal teve uma conversa comigo, e
ainda por cima eu fui acusado de tirar a vida da minha própria irmã, você se
afastou de nós – respira fundo – custo a acreditar que desconfias de mim!
JÚLIO
bate calorosamente na mesa.
JÚLIO:
(nervoso) – Não diz isso! Eu jamais
desconfiei de você, jamais acreditei que pudestes fazer aquilo com sua amada
irmã, com a minha eterna mulher!
ABNER:
(nervoso) – Eterna? Não, ela não é
eterna, ela teve um fim, trágico, triste – lacrimeja
– ela teve um fim!
ABNER vai
se aproximando da porta.
ABNER:
(lacrimejando) – Seu discurso é
egoísta Hans, muito egoísta!
ABNER
sabre a porta e fecha calmamente, deixando JÚLIO
introspectivo, magoado, com o semblante abatido.
Cena 02: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Noite.
A
orquestra tocava “What A Difference A
Day Made” – Jamie Cullum”, os
convidados se divertiam, bebiam e comiam a vontade, aos poucos mais e mais
pessoas chegavam.
ABNER,
caminha em direção a uma mesa, pega um copo e se serve com um suco de frutas, GARDÊNIA se aproxima, num tom áspero.
GARDÊNIA:
(irritada) – Vejo que Hans o chamou
para conversar em particular, há algum motivo especial para tanto?
ABNER:
(nervoso) – Acredito que saiba o
motivo, você é tão onisciente de tudo que acontece na vida dele, não é mesmo?
ABNER
se retira e vai para outro lugar, GARDÊNIA
esboça um semblante de fúria, permanece ali, imóvel, alguns segundos depois, achegam-se,
DONATO, acompanhado de uma mulher
esbelta, cabelos louros, seis fartos, vestido justíssimo, olhar fatal, lábios
carnudos, a governanta se retraia.
DONATO:
(irônico) – Ora, se não é a fiel
escudeira de Hans, Gardênia! Que bom vê-la!
GARDÊNIA:
(sarcástica) – Senhor Donato, é um
prazer tê-lo nesta casa, sinta-se à vontade, só não cause confusão, isso aqui é
para promover favores à igreja, seja santo, ou pelo menos finja, isso sabes
bem!
GARDÊNIA
se afasta de DONATO, deixando-o
surpreso, a mulher que o acompanhara era YOLANDA,
ela também se surpreende.
YOLANDA:
(atrevida) – Ela não faz ideia do
que seria santo, no seu glossário!
Os
dois se olham, riem maliciosamente, DONATO
passa as mãos nas nádegas dela, que dá alguns pulinhos para frente, simular uma
fuga dele, mas ele a puxa, AUGUSTO
ao ver o movimento de ambos, se aproxima com uma taça nas mãos.
AUGUSTO:
(irônico) – Donato, você e suas
garotas, por aqui?
DONATO:
(irônico) – Surpreso meu caro? Não
fiques, sou um homem que luto pelas boas causas também!
AUGUSTO:
(irônico) – Suas causas, são as mais
peculiares que existem, oh se são!
DONATO:
(rindo) – Não se acanhes Augusto,
meu clube ainda lhe aguarda.
AUGUSTO
revira os olhos e se retira rapidamente de perto deles, DONATO e YOLANDA riem
novamente, exalando tensão corporal.
Cena 03: Casarão de
Herculano. Cozinha. Interior. Noite.
MARCO PAULO e
BERENICE estavam sentados à mesa,
tristes, quando de repente, HERCULANO chega com algumas sacolas com legumes e
verduras.
HERCULANO:
(nervoso) – Espero que consigo
preparar algum cozido, sopa, inventem! Foi o que deu para comprar, amanhã pela
manhã farei uma nova compra!
No
mesmo instante, HERCULANO, sente
suas pernas travarem, não consegue se mover, nem para frente, nem para trás.
- FLASHBACK ON -
(...)
DONATO tem uma crise de riso, abre a gaveta, pega o cheque e se levanta,
aproxima-se de HERCULANO.
DONATO: (rindo) – Me lembro
dos termos de aceite ou não, você é mais esperto do que eu imaginava, pois
tome, pegue o cheque! – estendendo o
documento – faça bom uso.
HERCULANO prontamente pega o título de crédito e se vira em direção a porta,
mas num gesto rápido, DONATO retira
do paletó dois outros cheques e diz:
DONATO: (sorridente) – Mas,
tenho uma contraproposta – chacoalhando
os documentos – se aceitares trabalhar comigo, receberás o dobro do valor
concedido!
(...)
- FLASHBACK OFF –
HERCULANO
sente as batidas do coração pela goela, sente os dedos, as penas formigarem, apressa-se
e corre da cozinha. MARCO PAULO fica
sem entender.
MARCO PAULO:
- Essa coisa, está mais pra lá do que pra cá! Venha Berenice, me ajude a fazer
alguma coisa, precisamos alimentar Isolda!
MARCO PAULO
e BERENICE retiram juntos os
alimentos da sacola e separam sobre a mesa.
Cena 04: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Noite.
A
orquestra tinha concedido uma pausa, apenas o flautista tocara, em um tom
suave, apenas para harmonizar o ambiente, era uma canção de Chiquinha Gonzaga.
CLARA,
estava olhando fixamente para o quadro de OLÍVIA,
que estava na parede, enquanto os demais convidados interagiam entre si, a
mulher estava concentrada.
CLARA:
(sussurrando) – Minha amiga, você
faz tanta falta, nossas conversas, nossos segredos – respira fundo – sempre estará em minhas lembranças!
De
repente, AUGUSTO chega por trás,
acariciando sua cintura e cafungando seu cangote, ela se arrepia, vira-se e
beija delicadamente o marido, logo se afastam.
AUGUSTO:
(alegre) – Clara, está gostando?
CLARA:
(sussurrando) – Sim, mas... – entrelaçando os dedos – eu acredito que
preciso de um comprimido.
AUGUSTO:
(preocupado) – Não meu bem, aguente
até o fim, quando chegarmos em casa, lhe darei o remédio!
AUGUSTO
beija a testa de CLARA e se afasta,
deixando-a inquieta.
Cena 05: Casarão de
Herculano. Quarto. Interior. Noite.
HERCULANO servia
sopa à ISOLDA, que já esboçava um
semblante mais firme, mais calma.
ISOLDA:
- Obrigada, Herculano!
HERCULANO,
estranha e afasta a colher da boca da mulher.
HERCULANO:
(surpreso) – Herculano? Não me
chamas de amor?
ISOLDA:
(envergonhada) – Me desculpe, estou
cansada – passando as mãos nos lábios
– amor.
HERCULANO
aproxima-se de ISOLDA para beija-la,
mas ela delicadamente se afasta, pega o prato e o talher das mãos dele e se
alimenta sozinha, deixando-o sem graça. Ele se levanta, põe à porta, abre, os
demais integrantes da casa entram, a mulher fica surpresa.
HERCULANO:
(voz firme) – Isolda, chamei sua
família aqui, para dizer algo em sua frente.
JOCASTA
faz cara de deboche e desvia o olhar para as unhas, enquanto MARCO PAULO e BERENICE esboçam preocupação.
HERCULANO:
- Gostaria de dizer a todos, que estou imensamente arrependido pelos atos que
cometi contra minha esposa, e como confirmação desse arrependimento, gostaria
de dizer que a amo muito!
ISOLDA
escuta as palavras, contudo, não esboça reações, permanece alimentando-se,
indiferente, os demais em silêncio.
HERCULANO:
(voz embargada) - Sua família poderá
ficar em nossa casa, o quanto tempo... – ajusta
a gravata – o quanto tempo for necessário para se estabilizarem e
encontrarem o próprio rumo!
JOCASTA:
(irônica) – Herculano, destes com uma
mão e tomastes com a outra? Com licença!
JOCASTA
se retira do quarto, seguida de BERENICE,
todavia, MARCO PAULO aproxima-se do
homem.
MARCO PAULO:
(sério) – Agradeço pela mudança de
decisão Herculano, irei pagar pelo tempo que aqui estivermos – olha para Isolda – minha filha,
descanse um pouco, amanhã conversaremos.
MARCO PAULO
se retira do quarto e fecha a porta, HERCULANO
fica irritado.
HERCULANO:
(irritado) – Isolda, olha sua
família é extremamente difícil, estou concedendo minha casa e ainda viram as
costas, se eu mudar de ideia, todos irão para o olho da rua!
ISOLDA
não responde ao marido, lambe os lábios, entrega o prato para ele, que
prontamente pega, ela se deita, cobre-se, deixando HERCULANO surpreso com a atitude de indiferença.
Cena 06: Mansão de Hans.
Sala de Estar. Interior. Noite.
Os
convidados estavam dispersos em várias rodas de pessoas, conversando, JÚLIO se aproxima do centro do local,
onde havia um pequeno tablado, ele se põe acima, peça uma taça, uma colher de
chá e bate várias vezes, solicitando a atenção de todos.
JÚLIO:
(contido) – Peço que venham mis
próximo!
Os
convidados se aproximam do tablado, o falatório diminui, JÚLIO, enfim, encontra oportunidade para discursar.
JÚLIO:
(enfático) – Gostaria de agradecer
cada um que dispor de seu tempo para estar conosco esta noite, a fim de celebrarmos
uma causa tão nobre! Há pouco mais de uma semana recebi do Padre Elvis um
pedido, no qual não poderia negar, a doação de flores para a igreja, e o mais
especial, a fim de enfeitar a igreja para um casamento, isso foi um pedido irrecusável!
Os
convidados riem, cochicham algo, logo o foco volta para JÚLIO.
JÚLIO:
(enfático) – Mas, sobretudo, é um
momento de reflexão também, do quanto nossa sociedade pode ajudar mais a
igreja, as pessoas carentes, os necessitados, podemos fortalecer nossos laços e
ajudar ainda mais, uns aos outros, então, de antemão, deixo aqui meu apelo,
quem puder ajudar a igreja com doações, do que sentir no coração, faça, pois
creio que serão ricamente abençoados!
A
maioria dos convidados aplaudem as palavras de JÚLIO, enquanto, DONATO
e YOLANDA debocham silenciosamente.
PADRE ELVIS
se põe ao lado de JÚLIO, sobre o
tablado.
JÚLIO:
- Agora, passo a palavra ao Padre Elvis!
PADRE ELVIS: (alegre) – Meus amados irmãos, filhinhos e filhinhas, é com a graça
de Deus que estamos aqui, Maria mãe do menino, nos ajudou! (INTERROMPIDO)
CLARA:
(gritos) – AHHHHHHHH... AHHHHHHH
CLARA puxa
os próprios cabelos e desaba ao chão, os convidados ficam atônitos, AUGUSTO, envergonhado, tenta levantar a
mulher.
AUGUSTO:
(desesperado) – Clara, meu bem, o
que está acontecendo?
PADRE ELVIS
se aproxima e tenta ajudar ela a se levantar, CLARA empurra o clérigo que quase desaba, mas é segurado por JÚLIO,
os convidados se afastam.
CLARA:
(engrossando a voz) – ME SOLTA, ME
SOLTA!
AUGUSTO
encara o semblante da mulher, ela estava diferente, parecia estar possessa. LUÍS MIGUEL, o coroinha, se aproxima, aponta o crucifixo para a mulher.
LUÍS MIGUEL:
(autoritário) – Eu ordeno, afasta-te
desta alma!
CLARA,
então, grita de forma estridente, ao ponto que algumas taças estourassem nas
mãos de alguns convidados, causando uma enorme euforia.
LUÍS MIGUEL:
(autoritário) – Eu ordeno... (INTERROMPIDO).
PADRE ELVIS arranca
o crucifixo da mão do rapaz, empurra ele para trás e toma a frente da situação.
PADRE ELVIS:
(gritando) – Eu ordeno, espírito das
trevas, SAIA deste corpo, AGORA!
No
mesmo instante, CLARA se acalma, ela
sente seu corpo molejar, suas pernas bambeiam, AUGUSTO a segura.
LUÍS MIGUEL,
por sua vez, avista uma figura sinistra, acinzentada, em forma humana sair
pelas costas da mulher, esse mesmo espírito estranho, aproxima-se da cortina, o
rapaz tem um espanto.
LUÍS MIGUEL:
(assustado) – SAIAM, SAIAM, está na cortina!
Os
músicos da orquestra estavam próximo a cortina, se levantam no mesmo instante,
alguns pegam os instrumentos, outros não.
MARICOTA:
(assustada) – Está esfumaçando!
No
mesmo instante, uma fumaça densa começa a aparecer por deixo da cortina, JÚLIO, fica atônito, sem reação.
GARDÊNIA:
(nervosa) – Pegam água! Peguem água!
Chamas
começam a se espalhar pela cortina, alguns convidados correm para fora, na
correria, YOLANDA e DONATO desabam ao chão, sendo
pisoteados por outras pessoas.
ABNER:
(aos berros) – Peguem os jarros!
ABNER
e outros homens pegam alguns jarros de água que estavam espelhados pelo local e
jogam em direção a fumaça, aos pés das cortinas, e em poucos minutos tudo
aquilo cessa, deixando todos perplexos.
Encerramento