18/04/2025

O Cravo no Jardim de Rosas - Capítulo 17 (18/04/2025)

 



Criado e Escrito por LUCAS GARCIA

 

CAPÍTULO 17

 

CENA 01: Casa de Augusto. Sala de Estar. Noite

 

CLARA estava incontrolada, AUGUSTO, senta ao lado dela, na tentativa de acalmá-la.

 

AUGUSTO: - Meu bem, por favor, fique tranquila, irei dar os medicamentos apenas manhã!

 

CLARA: - Augusto, estou em pilhas, preciso dos comprimidos, me ajude!

 

CLARA, levanta-se, anda em direção ao quarto, AUGUSTO retira uma chave de seu paletó, e acompanha a mulher pelo corredor, quando ela entra no quarto, ele tranca a porta, ela se desespera.

 

CLARA: - Augusto, abre essa porta! – batendo – abre a porta!!

 

AUGUSTO, do outro lado, no corredor, senta-se com as costas apoiadas na parede, estava exausto, cansado.

 

AUGUSTO: - Estou querendo te ajudar meu bem – respira fundo – só quero lhe ajudar!

 

AUGUSTO, permanece sentado, no corredor, desolado, triste, enquanto, CLARA, berrava e batia na porta, na intenção de sair do quarto.

 

CENA EXTERNAS

 

Ao som de “ALÉM DO ARCO-ÍRIS” de Luiza Possi, há uma transição de cenas, mostra-se algumas cachoeiras de Vale das Rosas, concomitantemente com o alvorecer, foca na Zona Rural, o orvalho refrescando as plantas, após, há uma breve mudança de plano.

 


CENA 02: Zona Rural. Estrada de terra. Interior. Dia.

 

SEBASTIANA e BALDINO, caminhavam por uma estrada de terra com uma carroça, o cavalo estava apressado.

SEBASTIANA: - Vamos chalaça – balançando as cordas – vamos!

 

BALDINO: - Calma, ele está acordando ainda.

 

O cavalo passa a caminhar mais depressa.

 

SEBASTIANA: - Está vendo, “véio”, só precisa de um empurrãozinho! – olha para trás – está levando ervas para a cidade?

 

BALDINO: - Sim, minhas ervas estão sendo bem requisitadas, são encomendas em vários lugares, eu digo a você que elas são medicinais!

 

SEBASTIANA: - Nunca que bebo qualquer chá, tenho medo de não acordar, nunca mais!

 

BALDINO: (rindo) – Deixe de peripécias mulher, aquela mistura que eu fiz, é para a pessoa poder dormir, esquecer da dor, do sofrimento, é específico para quem está nesse estado!

 

SEBASTIANA: - Ah homem, não entendo nada disso, prefiro vender meus legumes e ovos na feira, já está de bom por demais!

 

BALDINO: - Trocando o assunto de pato para ganso, Abner, não apareceu esses dias por aqui!

 

SEBASTIANA: - Não mesmo, estou preocupada com ele, meu coração de mãe me diz que não está bem!

 

BALDINO: - Fique tranquila, me deixe na pensão onde ele mora, e conversarei com ele, depois que você passar na feira, volte para me buscar.

 

SEBASTIANA, assente, balançando a cabeça, BALDINO segura no banco em decorrência da velocidade que a carroça estava e em pelos inúmeros buracos que ali haviam. 

 

CENA 03: Pensão. Cozinha. Interior. Manhã.

 

Apenas ABNER estava sentado à mesa, tomando o café da manhã, já uniformizado, SALAZAR aparece, olhando para os lados e certificando-se que não havia mais ninguém.

 

SALAZAR: - Abner, bom dia!

 

ABNER, olha para o homem, com um semblante entristecido.

 

ABNER: - Bom dia Salazar, que surpresa vê-lo aqui, raramente desce para tomar café, mal o vejo nos corredores dessa pensão! Nem parece que mora aqui, é mais fácil nos vermos na rua do que aqui dentro.

 

SALAZAR: - Realmente, nossos horários são tão diferentes – tirando o quepe – mas, venho aqui pedir algo.

 

ABNER: - Diga!

 

SALAZAR: (fingido) - Você é a única pessoa que trabalha com para o Hans que sabes que sou casado com Núbia, promete que ficará em silêncio? – encarando o homem – é que ontem ela apareceu na festa, sem me dizer nada e vi que alguns homens ficaram encarando ela... enfim, não quero minha mulher solta pelas ruas.

 

ABNER: (desconfiado) - Salazar, desde que nos conhecemos nunca disse nada ao seu respeito a ninguém, além do mais isso não é de minha conta, mas por qual motivo esconde tanto assim das pessoas que mora com ela? Poxa, vocês são casados, seria ciúmes?

 

SALAZAR coloca o quepe, demonstra um semblante desconcertado a ABNER.

 

SALAZAR: - Núbia é minha esposa, mas não quero pelas ruas, por aí, sem que eu esteja presente.

 

ABNER: (afrontoso) – Curioso, você sequer se dá o trabalho de sair com ela, parece até dois estranhos. Pois bem, não é da minha conta, se depender de mim, isso não será um problema para você.

 

SALAZAR, coloca o quepe, sinaliza com a mão sua despedida e se retira, deixando o ABNER pensativo. Poucos minutos depois, quando o homem terminava de se alimentar, NÚBIA chega, sorridente.

 

NÚBIA: - Olá Abner, bom dia! – sentando à mesa, servindo-se – está melhor?

 

ABNER: - Sim Núbia, estou melhor, precisava de um bom descanso – para de tomar o café e olha fixamente para ela – posso te perguntar algo?

 

NÚBIA: (envergonhada) – Sim, pode perguntar!

 

ABNER: - (enfático) – Você e o Salazar são casados há muitos anos, mas raramente vemos vocês dois juntos, existe algum motivo?

 

NÚBIA, não esconde o desconforto naquela pergunta, se ajeita na cadeira, coloca os braços sobre a mesa.

 

NÚBIA: (chateada) – Salazar é um ótimo marido, nunca deixou faltar nada, mas sempre vive ocupado, trabalhando, não me lembro há quantos anos faz que saímos para tomar um picolé juntos – abaixa a cabeça – vive ocupado demais.

 

ABNER, desvia o olhar para a mesa farta de comida, esboça um semblante de desconfiança.

 

ABNER: (curioso) – Compreendi... realmente Salazar vive ocupado, mas é assim mesmo, vivo na floricultura e na biblioteca, não vejo os dias passarem.

 

ABNER, levanta-se, limpa a boca e joga o guardanapo no lixo.

 

ABNER: - Núbia, peço licenças, chegou a hora de ir ao trabalho!

 

NÚBIA, sorri envergonhada e se despede sinalizando com a mão, ABNER se retira.

 

CENA 04: Pensão. Exterior. Manhã.

 

ABNER, retira-se da pensão, na porta, paralisa, olha ao seu redor, percebe algumas pessoas passarem pela calçada e se desviaram dele, aquilo lhe chamava atenção, era o resultado do que acontecera na noite anterior.

 

- FLASHBACK ON –

 

PADRE ELVIS, incrédulo, sorrateiramente desce do tablado e se aproxima dos coroinhas, SULAMITA vira-se para JÚLIO e olha fixamente para ele.

 

SULAMITA: - Senhor Hans, eu sei quem matou sua esposa, a justiça precisa ser feita, Abner é o culpado, ele precisa ser punido!

 

Os convidados barbarizados, esboçam sonoridades de espanto, lamúria, susto. JÚLIO, por sua vez, fica irritado.

 

JÚLIO: (aos berros) – Por qual motivo está se aproveitando da situação, peço-te que saia imediatamente da minha casa!

 

SULAMITA: (confiante) – Não, senhor Hans, não estou me aproveitando de forma que estou lhe ajudando, Abner – apontando para ele – é o culpado.

 

ABNER, deixa sua bebida cair ao chão, os convidados o encara, o homem fica furioso, aproxima-se do tablado.

 

ABNER: (nervoso) – Quem és tu? Mal lhe conheço, como levantas falso testemunho ao meu respeito?

 

- FLASHBACK OFF -

 

ABNER, limpa a espessa lágrima que escorreu seu rosto.

 

ABNER: - Não ficará assim, eu irei descobrir o verdadeiro culpado pelo que fizeram com Olívia, isso não ficará impune, não mesmo!

 

BALDINO: - Meu filho, espere!

 

ABNER, vira-se para trás, seu pai, aproxima-se com um pequeno caixote, com várias ervas dentro, coloca-o no chão e se abraçam, BALDINO, se afasta e respira fundo.

 

BALDINO: - Fico feliz em vê-lo!

 

ABNER: - Meu pai, o prazer é todo meu! O que fazes aqui logo pela manhã?

 

BALDINO: - Sua mãe foi vender alguns legumes e ovos na feira, ela me deixou aqui, irei passar em alguns comércios, vender minhas ervas medicinais!

 

ABNER: (sorrindo) – Então, parece que o senhor está distribuindo suas receitas – colocando a mão no ombro dele – muito interessante!

 

BALDINO: (astuto) – Na verdade, estou vendendo a planta, porém, a receita eu ensino na hora, e cobro alguns tostões à mais!

 

Os dois riem, NÚBIA, sorrateiramente aparece na porta, com algumas moedas na mão.

 

NÚBIA: - “Seu” Baldino, chegaste cedo hoje! Vou comprar aquela erva cidreira que o senhor me recomendou, eu e meu marido estamos dormindo tão bem!

 

BALDINO: - Mas é claro!

 

ABNER, se despede e deixa os dois conversarem, BALDINO, por sua vez, retira do caixote um tufo de plantas e entrega a ela, enquanto, NÚBIA, entrega as moedas ao homem.

 

CENA 05: Rua. Feira. Exterior. Manhã.


SEBASTIANA, termina de montar sua mesa, coloca à exposição ovos e alguns legumes (cenoura, pepino, alface, agrião, chuchu, brócolis, açafrão, mandioca e batata).

 

SEBASTIANA: (aos berros) – Olha, olha os legumes da BASTIANA, vem que tá fresco, vem que tá maduro!

 

SEBASTIANA, interpela alguns consumidores que andavam pela feira, mostra algumas batatas, os ovos caipiras, algumas pessoas compram, outras ignoram.

 

SEBASTIANA: (aos berros) – Venham, venham! Tá fresco!

 

MARICOTA, andava pela feira, olhando as barracas e mesas que estavam expostas na rua, aproxima-se dos legumes vendidos por SEBASTIANA.

 

MARICOTA: - Bastiana! Quero meia dúzia de ovos, hoje hei de preparar um bolo e uma torta!

 

SEBASTIANA, pega uma sacola e coloca os ovos dentro, entrega a freguesa.

 

SEBASTIANA: - Volte sempre!

 

MARICOTA, ia se dispersando pela feira, mas decide provocar SEBASTIANA.

 

MARICOTA: (sarcástica) – Achei que a senhora iria no banquete que meu patrão ofereceu, seu filho foi... aconteceu tantas coisas.

 

SEBASTIANA, vira-se para MARICOTA e esbanja um semblante de desdém.

 

SEBASTIANA: - Não quero saber o que acontece na casa do seu patrão, quero distância daquele homem!

 

MARICOTA: (sarcástica) – Se souberes o que falaram do seu filho na festa, ficaria a cuspir fogo!

 

SEBASTIANA: (nervosa) – O que falaram de Abner? – pegando a mandioca – diga!

 

MARICOTA: - Acusaram ele de ter matado a Olívia, foi horrível – tosse forçosamente - mas, acredito que ele nem deu atenção!

 

SEBASTIANA, joga a mandioca na mesa, furiosa, pega um saco e coloca alguns ovos dentro.

 

SEBASTIANA: - Não é possível que depois de tantos anos, essa história aparece de novo! Estou farta disso – rangendo os dentes – aquele homem não faz nada, deixa meu filho ser acusado!

 

MARICOTA: - “Seu” Júlio é um homem muito bom, não há nada que ele possa fazer por seu filho!

 

SEBASTIANA: (nervosa) – Ah, será? Veremos, veremos!

 

MARICOTA, disfarçadamente sorri, retira-se e caminha em direção a outras barracas, mas de longe fica observando SEBASTIANA com o semblante furioso.

 

MARICOTA: - Hoje a jiripoca vai piar!

 

SEBASTIANA, de forma ágil, coloca os legumes dentro de um caixote e começa a desmontar sua mesa na feira.

 


Cena 06: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Manhã.

 


GARDÊNIA, estava aos pés da escada, esperando JÚLIO descer, os dois se cumprimentam, ele repara na sala limpa, organizada e muito cheirosa.

 

JÚLIO: - Agradeço pelos auxílios Gardênia, organizastes muito bem!

 

GARDÊNIA: - Aquela equipe que o senhor contratou, fez todo o serviço em poucos minutos, muito rapidamente a sala estava impecável novamente.

 

JÚLIO, serve-se do café que estava na bandeja, na mesinha ao centro, logo após, senta-se no sofá.

 

JÚLIO: (incisivo) – Gardênia, sente-se no sofá comigo!

 

GARDÊNIA: (surpresa) – Hans, estou trabalhando, não posso!

 

JÚLIO: (incisivo) – Faço questão! Sente-se, você é praticamente da casa.

 

A governanta senta-se na poltrona, encara assustada o patrão.

 

JÚLIO: (incisivo) – Sabes que confio muito em você, és praticamente uma segunda mãe para mim, cuida dessa casa com muito zelo e administra os afazeres domésticos com muita destreza – toma o café – então, peço-te um conselho!

 

GARDÊNIA: (trêmula) – Hans, sinto-me honrada em ouvir isso de vossa pessoa, saiba que cuido dessa casa com muito carinho, mas acima de tudo, você é o bem mais preciso que tenho a missão de cuidar!

 

JÚLIO: (incisivo) – Pois então, prova-me sua lealdade, quem matou Olívia?

 

GARDÊNIA, arregala os olhos, sente suas pernas fraquejarem, seus ombros derrapam para baixo, JÚLIO observa, incisivo, cirúrgico. 

 

 



Cena 07: Mansão de Hans. Sala de Estar. Interior. Manhã.

 

GARDÊNIA, estava incrédula com a pergunta de JÚLIO, que por sua vez, esboçava um semblante de inquietude.

 

GARDÊNIA: (trêmula) – Hans, eu... eu... não consigo imaginar quem teria feito uma barbaridade dessas com sua esposa.

 

 

JÚLIO: (incisivo) – Foi o que imaginei, se soubesse certamente me diria, aliás, já se passaram cinco anos desde que Olívia se foi, e até hoje não encontramos respostas, você acha isso normal?

 

 

GARDÊNIA, parecia afundar na poltrona de tanta pressão que sentia ao ser indagada.

 

 

GARDÊNIA: (trêmula) – Hans... confesso que é uma surpresa para todos nós! Sei que sofre muito (INTERROMPIDA).

 

JÚLIO: (incisivo) – Sim, sofro muito, todos os dias, e o que aconteceu ontem em minha casa foi a gota d’água.

 


GARDÊNIA: (voz embargada) – Hans, por que está me dizendo essas coisas?

 

JÚLIO, levanta-se, coloca a xícara na bandeja, encara a governanta, coloca as mãos no bolso da calça.

 


JÚLIO: (incisivo) – Estou dizendo isso, pois irei a partir de agora, investigar por conta própria quem está por trás disso, estou cansado, isso tem acabado com meus dias, só descansarei quando descobrir quem matou Olívia!

 


GARDÊNIA: - (voz embargada) – Hans, não achas que aquela mulher é uma cortina de fumaça, para tirar seu foco, parecia ser uma brincadeira de mal gosto, não acho de bom tom se meter com isso, não sabemos quem está por trás.

 


JÚLIO: (incisivo) – Não sabemos, mas irei descobrir, e não haverá ninguém que me impeça!

 

JÚLIO, retira-se, sobe a escada, deixando GARDÊNIA atônita.

 

 

CENA 08: Casarão de Herculano. Sala de estar. Interior. Manhã.

 

 

SONOPLASTIA: Brejeiro Groove (Mu Carvalho) – Instrumental

 

 

JOCASTA e BERENICE estavam com véus, a primeira, segurava alguns terços nas mãos, enquanto a segunda, o livro sagrado. MARCO PAULO desce a escada.

 

 

MARCO PAULO: (curioso) – Onde irão?

 


JOCASTA: - Iremos à missa da sexta-feira santa!

 


MARCO PAULO: - Esperem, eu irei junto com vocês!

 


JOCASTA: - Jamais, você nunca colocou os pés na igreja, se fizer isso será fulminado de tantos pecados que tens cometido.

 


MARCO PAULO: - Isso não importa, também não quero que fiquem andando pelas ruas dessa cidade desconhecida!

 


JOCASTA: (sarcástica) – Oras, baixou o espírito de Herculano em você agora? Pois, se pensas assim, está enganado, irei mesmo à missa, que está prestes a começar!

 


MARCO PAULO: - Então, vamos!

 

MARCO PAULO, coloca seu chapéu, pega na mão de JOCASTA, ela prontamente solta e sai emburrada do casarão, BERENICE a segue.

 

 

Cena 09: Igreja Matriz. Interior. Manhã.

 

JOCASTA e BERENICE, adentram a igreja, andam pelo corredor de forma lenta e observadora, as duas usavam o véu, que encobriam seus rostos.

 

JOCASTA: - Vamos sentar lá na frente, para não ser atrapalhadas pelas enxeridas.

 

As duas se acomodam nos bancos da frente.

 

MARCO PAULO: (sussurrando) – Cheguei!

 

JOCASTA, vira-se para trás, e nota que o marido acabara de sentar no banco.


 

JOCASTA: (irritada) – Parvo! Disse que não era para vir.


 

MARCO PAULO: (irritado) – Quero participar da missa com vocês!

 

BERENICE, vira-se para a mãe.

 


BERENICE: - Mamãe, antes de me começar a missa, gostaria de me confessar.

 


JOCASTA: (irritada) – Confessar o que? Andas pecando às escondidas?

 


BERENICE: - Mamãe, todos nós precisamos nos confessar, todos os dias!

 


MARCO PAULO: - Principalmente você, Jocasta!

 


JOCASTA: (aos berros) – Cale a boca, parvo!

 

BERENICE, se levanta, e caminha para outro local da igreja, deixando JOCASTA ainda mais irritada.

 

 

CENA 10: Igreja Matriz. Confessionário. Interior. Manhã.

 

 

LUÍS MIGUEL, nota que uma moça se aproximava, entra rapidamente no confessionário.

 

BERENICE, senta-se na cadeira, ajeita o véu, coloca a mão no coração.

 


BERENICE: (emocionada) – Padre, hoje é a sexta-feira santa, e antes que a missa comece, gostaria de me confessar, falar o que sinto.

 

 

De dentro do confessionário, LUÍS MIGUEL, sente um aroma muito agradável, um perfume delicado, amigável, formidável, sentia o cheiro de rosas, que o desconsertava seus pensamentos.

 

 

BERENICE: (emocionada) – Queria dizer que estou muito triste, questionando minha fé, diante de tudo que vem acontecendo em minha vida, na minha família, me sinto fraca.

 

 

SONOPLASTIA: Aliança (Tribalistas)

 

LUÍS MIGUEL, estava tomado por aquele bálsamo, que dominava todo o espaço, BERENICE, estranha que ninguém responde de dentro do confessionário.

 

 

BERENICE: - Padre, está aí?

 

 

Dentro do estande, LUÍS MIGUEL, fechava os olhos para sentir com ainda mais profundidade aquele perfume que mexera com seus sentidos. BERENICE, por sua vez, ao perceber que ninguém a respondera, decide levantar-se da cadeira e se retira do local.

 

 

LUÍS MIGUEL: (surpreso) – Quem deve ser essa moça? Esse perfume... só uma bela dama poderia usar!

 

 

LUÍS MIGUEL, se retira de dentro do estande, caminha em direção ao corredor, e é surpreendido por PADRE ELVIS, que seguira seus passos.

 


PADRE ELVIS: - Mocinho, andas muito desobediente! Bem vi que saiu do confessionário!


 

LUÍS MIGUEL: - Desculpe, acabei ficando preso lá dentro.

 

PADRE ELVIS: - Deixe de mentiras, filho do cão! Andes, me ajude, precisamos começar a missa, hoje teremos a procissão do fogaréu, então, precisamos preparar tudo para que a noite estejamos prontos!

 

PADRE ELVIS pega LUÍS MIGUEL pelo braço e o puxa.

 

 

CENA 11: Casarão de Herculano. Cozinha. Interior. Manhã.

 

 

ISOLDA, estava sentada à mesa, tomando o café, seu semblante estava mudado, demonstrava firmeza, seu rosto não mais apresentava o inchaço e a vermelhidão dos dias anteriores, plenamente disposta. HERCULANO, apresenta-se na cozinha, espreguiçando-se.

 


HERCULANO: - Isolda, onde está seus parentes? Já foram embora? – risos forçados – brincadeira... onde estão?

 


ISOLDA: - Foram à missa, e é um bom momento para conversarmos!

 

ISOLDA levanta-se, encara o marido.

 

ISOLDA: (incisiva) – Andei pensando na última noite, não quero mais desconfianças nesta casa, talvez, para que haja paz, precisamos mostrar ao meu pai e à Jocasta que compramos esse casarão com nossas reservas, certo?

 

HERCULANO, estranha a mulher falar naqueles termos com ele.

 

ISOLDA: (incisiva) – Mas, antes eu mesma, quero ir ao banco, com você, para saber qual o saldo de seu numerário, quero saber quanto temos, e demonstrar a minha família, que tudo é fruto de muito trabalho – frange a sobrancelha – concorda comigo?

 

 

HERCULANO: (gaguejando) – Isolda... você, nun... nunca me questionou sobre nossas reservas.

 

 

ISOLDA: (incisiva) – Pois, agora quero estar por dentro de tudo, somos um casal, não temos nada a esconder! Quero mostrar à minha família que não temos nada a esconder, que temos dinheiro suficiente para sobreviver, assim, se desfaz qualquer indício de que usurpação!

 

HERCULANO, bambeia, dá alguns passos para trás.

 

HERCULANO: (trêmulo) – Nossa... não sabia que estava tão preocupada com isso... mas tudo bem, vamos provar a sua família, e vivermos em paz!

 

 

ISOLDA: (incisiva) – Assim espero, vamos combinar um dia para ir ao banco e me mostrar cada tostão do numerário!

 

 

ISOLDA, ingere o último gole de café que havia na xícara, passa pelo marido, e caminha para outro cômodo, HERCULANO fica abismado.

 

 

HERCULANO: (sussurrando) – O que aconteceu com Isolda? Será que ela está desconfiando de mim também?

 

 

HERCULANO, passa a transpirar.

 

 

HERCULANO: - Se ela descobrir que não temos mais reservas, que todo o dinheiro foi usado para comprar esse casarão, estarei a ver navios, ela vai desconfiar... não posso deixar isso acontecer.

 

HERCULANO, para por alguns segundos, olha para a mesa.

 

 

- FLASHBACK ON -

 

(...)

 

DONATO tem uma crise de riso, abre a gaveta, pega o cheque e se levanta, aproxima-se de HERCULANO.

 

DONATO: (rindo) – Me lembro dos termos de aceite ou não, você é mais esperto do que eu imaginava, pois tome, pegue o cheque! – estendendo o documento – faça bom uso.

 

HERCULANO prontamente pega o título de crédito e se vira em direção a porta, mas num gesto rápido, DONATO retira do paletó dois outros cheques e diz:

 

 

DONATO: (sorridente) – Mas, tenho uma contraproposta – chacoalhando os documentos – se aceitares trabalhar comigo, receberás o dobro do valor concedido!

 

(...)

 

- FLASHBACK OFF –

 

HERCULANO: (pensativo) – Não tenho saída, vou ter que aceitar a proposta daquele senhor esquisito, senão, posso acabar comigo mesmo!

 

HERCULANO, senta-se à mesa, ofegante, trêmulo.

 

 

CENA 12: Mansão de Hans. Jardim. Exterior. Manhã.

 

 

SALAZAR, estava em frente ao chafariz, aguardando JÚLIO chegar, de repente, observa SEBASTIANA entrar, pois o portão estava aberto, ela se aproxima rapidamente, com uma sacola nas mãos.

 

 

SEBASTIANA: (irritada) – Onde está seu patrão? Quero falar com aquele maldito!

 

 

SALAZAR, arregala os olhos, coloca o quepe.

 

 

SALAZAR: - Está maluca? Falar desta forma do doutor Hans?

 


SEBASTIANA: - Pois, eu quero falar algumas verdades a ele!

 


JÚLIO: (exaltado) – Fale, estou aqui, disposto a ouvi-la!

 

SEBASTIANA e SALAZAR olham para a trás, JÚLIO aproxima-se deles, com um semblante pleno, com postura ereta, voz firme.

 

SEBASTIANA: (irritada) – Quero saber o que você fez para ajudar meu filho? De novo deixou ele ser acusado injustamente! Como todo seu dinheiro não pode ajudá-lo?

 

 

JÚLIO: (exaltado) – Prazer em revê-la também Sebastiana, já faz muitos anos que não nos vemos, você e o seu marido, o Baldino, são sempre bem-vindos em minha casa, inclusive, faz parte da memória de Olívia, aliás, é mãe dela, tenho que agradecer muito por isso!

 

 

SEBASTIANA: (irritada) – Deixe de conversa fiada! Não me venha dobrar, como sempre vez, estou cansada de ouvir pelas ruas que meu Abner é assassinado da própria irmã, como o senhor poderia deixar isso acontecer?

 

 

JÚLIO: - (exaltado) – Sebastiana, podem acusar Abner, jamais acreditarei nessas falsas acusações, acredito plenamente em meu amigo... (INTERROMPIDO).

 

 

SEBASTIANA: (nervosa) – Amigo? Desde quando o senhor trata meu filho como amigo, por que todos esses anos nunca ajudou a afastar essa acusação sobre ele, não pagou um “adevogado”, simplesmente ignorou. Você se aproveita da bondade do coração dele para explorar! – retira um ovo da sacola – EXPLORADOR!

 

SEBASTIANA, atinge um ovo caipira no terno de JÚLIO, que esboça incredulidade, ele respira fundo e olha para a senhora.

 

 

JÚLIO: (voz embargada) – Me perdoe Sebastiana, eu estou profundamente triste que tudo isso esteja acontecendo com Abner, que realmente é uma pessoa muito querida, irei me retratar com ele.

 

 

JÚLIO, tenta limpar o terno, mas a gema começa a escorrer, piorando o visual, então, decide apressadamente voltar para a mansão. SALAZAR, olha para a mulher, nervoso.

 

 

SALAZAR: (nervoso) – A Senhora pirou? É melhor ir embora, AGORA!

 

 

SEBASTIANA: (irritada) – Irei com minhas próprias pernas! Se ousar a colocar suas patas em mim, jogo em você também! – retirando um ovo da sacola – você querer?

 

 

SALAZAR, se afasta, então, ela decide sair, o motorista permanece em frente ao chafariz, incrédulo com o que acontecera.

 

 

CENA 13: Mansão de Hans. Suíte Mestre. Interior. Manhã

 

SONOPLASTIA: Triste Velho (Mu Carvalho) - Instrumental

 

JÚLIO trocava de terno, estava profundamente abalado.

 


JÚLIO: (pensativo) – No fim das contas ela está certa, nunca movi uma palha para ajudar Abner, estou sendo egoísta, assim como ele mesmo me disse, muito egoísta.

 

GARDÊNIA, entra de mansinho, fica parada, observando-o.

 


GARDÊNIA: - Quem está sendo egoísta?

 

GARDÊNIA ajuda JÚLIO a ajeitar o terno e depois a gravata.

 

 

JÚLIO: - Depois, leve aquele terno – apontando para o traje na cadeira – acabei levando um banho de ovo de Sebastiana, mas já entendi a mensagem que ela queria transmitir. Irei até Abner, depois vou até a casa de Augusto.

 

 

GARDÊNIA: - Hans, aquela sitiante, quase uma jeca-tatu, insuportável aquela mulher, deveria prestar queixa!

 

 

JÚLIO: - Não se preocupo com ela, é uma mágoa, isso o tempo leva, enfim, Salazar me levará em meus compromissos, até!

 

 

GARDÊNIA: -  Hans, antes de ir, gostaria de informar que hoje à noite, irei participar da procissão da igreja, faz muitos anos que não participo, diante de tudo que está acontecendo, estou sentindo distante da minha fé, então, essa noite, poderia me liberar de meus serviços?


 

JÚLIO: - Claro, com toda certeza Gardênia, fique à vontade!

 

JÚLIO coloca o chapéu e se retira, GARDÊNIA pega o terno sujo e sai logo em seguida.

 

 

CENA 14: Floricultura. Interior. Tarde.

 

ABNER, ajeitava alguns ramos, tirava o caule de uma planta, JÚLIO adentra o local, surpreendendo o amigo.

 

JÚLIO: (comedido) – Abner, podemos conversar?

 

SALAZAR, também aparece, porém, caminha pelos corredores da estufa, afastando-se deles.

 

 

ABNER: (incisivo) – Hans, estou muito atarefado, a floricultura tem muitas demandas!

 

 

JÚLIO: (comedido) – Não se preocupe, tudo isso é meu, as demandas ficarão para depois.

 

ABNER, solta a planta e a tesoura de jardinagem que tinha nas mãos e encara o patrão.

 

 

ABNER: - Claro, tudo isso é seu... nessa eterna arrogância que querer mostrar que detém o poder de tudo – cruzando os braços - vamos lá, diga!

 

 

JÚLIO: (assustado) – Abner, não quero brigar com você, só precisamos conversar – aproximando-se – agora pouco, sua mãe apareceu em casa e me disse coisas que no fim das contas precisei concordar! Quero ajudá-lo, quero afastar todas as suspeitas sobre você, quero contratar um advogado para defendê-lo e provar sua inocência!

 

ABNER, desfere algumas gargalhadas em um tom de incredibilidade.  

 

 

ABNER: (exaltado) – Agora Hans? Agora? Depois que a sua casa foi palco de um escândalo, depois que fui acusado na frente de inúmeras pessoas, por uma mulher que quiçá conhecemos. É inacreditável que você só teve essa iniciativa, quando a dona Sebastiana decidiu falar umas verdades a vossa pessoa!

 


JÚLIO: (comedido) – Meu amigo, estou profundamente arrependido por minha inércia, mas estou decido em ir com essa história a fundo, quero acabar com essa angústia, quero colocar um ponto final nisso tudo e descobrir de uma vez por todas, quem matou Olívia, e me comprometo a provar sua inocência, acabar com essas acusações que as pessoas levantam ao seu respeito – estendendo a mão – você confia em mim?


 

ABNER: (entristecido) – Confiaria, mas o tempo só mostrou que estou só, e só caminharei até o fim!

 

 

JÚLIO: - Não diga isso, você pode contar com minha ajuda, irei contratar um bom advogado, irei chamar Augusto!

 

 

ABNER: (envergonhado) – Hans, você só pode estar de zombaria com minha cara, vem, faz um discurso emotivo para dizer que Augusto irá me defender? Desde quando aquele homem gosta de mim?

 

 

JÚLIO: - Ele é uma boa pessoa, só tem desconfianças, mas sei que isso não afetará o profissionalismo dele – ainda com a mão estendida – você confia em mim?

 

ABNER, não corresponde ao patrão, retira-se rapidamente da estufa, deixando JÚLIO enfadonho. SALAZAR se aproxima.

 


SALAZAR: - Doutor Hans, que cruz o senhor precisa carregar, que cruz!

 


JÚLIO: - É meu caro, esses últimos tempos tem sido difíceis para mim... bom, acredito que Abner precisa de mais um tempo para pensar. Iremos agora até Augusto, pediremos ajuda a ele!

 

 

JÚLIO e SALAZAR se retiram da estufa apressados.

 

 

CENA 15: Floricultura. Exterior. Tarde.

 

JÚLIO e SALAZAR, saem da floricultura, notam que o carro estava com as portas abertas, logo se assustam e correm em direção ao veículo.

 

 

JÚLIO: (ofegante) – Salazar, você deixou o carro aberto?

 

 

SALAZAR: (assustado) – Doutor Hans, me perdoe, como seria rápido aqui na floricultura, optei por não travar, me perdoe!

 

 

JÚLIO, aproxima-se do carro, encima de seu banco, nota-se que havia uma carta e uma rosa, logo se assusta. Pega a carta, abre e lê para si e para o motorista.

 

 

JÚLIO: (lendo) – Querido Júlio Tristão, como tem sido chamado pela sociedade de Vale das Rosas, quero me apresentar, sou O CORVO, aquele que levará você à descoberta de quem matou sua amada Olívia. Apareça hoje na procissão, lhe darei a primeira pista!

 

JÚLIO, que também estava com a rosa na mão, deixa-a cair ao chão, fica atônito, SALAZAR aproxima-se.

 

SALAZAR: (assustado) – Doutor Hans, quem será o louco?

 


JÚLIO: (trêmulo) – Não sei, és uma brincadeira de mal gosto!

 

JÚLIO, rasga a carta em vários pedaços e despeja na calçada, ao mesmo tempo, pisa na rosa e esmaga-a, com tamanho ódio que sentira naquele momento.

 

 

JÚLIO: (nervoso) – Estão se aproveitando da situação para zombar, imundos!

 

 

JÚLIO e SALAZAR, entram no carro, o motorista sai em disparada. Enquanto isso, ABNER, sai da floricultura, abaixa-se na calçada, tenta juntar os pedaços da carta.

 

 

ABNER: (assustado) – O que será que há nesta carta? E essa rosa? O que está acontecendo com Hans?

 

ABNER, coloca todos os pedaços da carta em seu bolso e volta para o interior da floricultura.

 

 

Cena 16: Casa de Augusto. Exterior. Manhã.

 

 

Suspense Oboe MMC (Mu Carvalho) – Instrumental.

 

 

SALAZAR, estaciona o carro em frente à casa de AUGUSTO.

 

JÚLIO, desce do carro, já surpreso com os berros que escutava de CLARA, ainda da calçada, aperta a campainha.

 

JÚLIO: Meu Deus, o que está acontecendo nesta casa?

 

AUGUSTO, aparece na janela, fecha rapidamente, abre a porta e atravessa o corredor até o portão, com um semblante de exaustão.

 

 

AUGUSTO: (surpreso) – Meu caro amigo, o que lhe trouxe aqui?

 

 

JÚLIO: - Senti de vir conversar com você e sua esposa, mas parece que não estão em um momento, posso ajudar?

 

 

Da calçada é possível escutar CLARA quebrar algo de dentro do quarto, que causa um grande estrondo.

 

 

AUGUSTO: (preocupado) – Hans, Clara está descontrolada, preciso acalmá-la!

 


JÚLIO: - Precisa de alguma coisa?

 


AUGUSTO: - Acredito que neste quesito não poderá ajudar muito, mas mesmo assim, agradeço, irei medicá-la, depois conversamos!


 

JÚLIO: (surpreso) – Certo, conversamos depois – respira fundo – me responde algo antes de voltar?

 

AUGUSTO, arregala os olhos para JÚLIO, expressa extrema surpresa.

 

 

AUGUSTO: (voz trêmula) – Com toda certeza, diga!

 

 

JÚLIO: (incisivo) – Posso confiar em você?

 


AUGUSTO: (voz trêmula) – Hans, isso não precisa perguntar, conte comigo para tudo, tens meu pleno apoio!

 


JÚLIO: (incisivo) – Ótimo, então, conto com sua ajuda para defender Abner, sei que és um advogado reconhecido e muito competente, iremos ajudá-lo.

 

 

AUGUSTO, arregala os olhos novamente, surpreso.

 

 

AUGUSTO: (surpreso) – Mas... mas... ah, tudo bem... conte comigo!

 

 

JÚLIO: (incisivo) – Ótimo, vá cuidar de sua esposa, outra hora conversamos com mais calma!

 

 

JÚLIO, retira o chapéu e aperta a mão do amigo, que corresponde, pelo lado de dentro, do portão de grades, os dois se despedem. JÚLIO entra no carro, AUGUSTO entra na casa, profundamente reflexivo.

 

 

CENA 17: Clube dos Canarinhos. Sala Vermelha. Interior. Tarde.

 

 

A sala era iluminada com um lustre, as paredes da sala eram vermelhas, algumas cadeiras estavam enfileiradas nos cantos, no centro, havia uma mesa, com alguns instrumentos (tesoura, serrinha, faca), no centro da mesa havia um crânio humano.

 

As pessoas que estavam assentadas na sala, vestiam capas, todas pretas, alguns usavam máscaras personificando animais.

 

DONATO, entra na sala, sem máscara, um rapaz, que estava de capa amarela, descaracterizado, aproxima-se dele.

 

 

RAPAZ: - Senhor, onde está a sua máscara?

 

 

DONATO: - Faz alguns dias que tenho procurado, por favor, peço que procure novamente em nosso acervo.

 

 

RAPAZ: - Só encontrei duas sem uso, a do tigre e do peixe.

 

 

DONATO: - Não, a máscara que uso aqui é a que parece uma ave, procure ela, é exclusivamente minha!

 

 

RAPAZ: - Um pássaro? Papagaio? Urubu?

 

 

DONATO: - Não, está mais para um corvo, não consigo identificar muito bem... enfim, procure e depois me avise.

 

 

DONATO se afasta, aproxima-se da mesa ao centro, pega a caveira humana eleva-se até a altura de seu ombro.

 

 

DONATO: - Levam, vamos iniciar mais uma recepção de membresia da classe vermelha.

 

Um homem usando máscara de avestruz, aproxima-se, DONATO sorri para ele, aos poucos o local vai se desfocando.

 

CENA 18: Rua. Exterior. Noite

 

 

SONOPLASTIA: Tenso Stereoflute (Mu Carvalho) – Instrumental

 

A NOITE CHEGA, A ESCURIDÃO SE APROXIMA...

 

A procissão do fogaréu inicia-se pelas ruas, PADRE ELVIS e os coroinhas iniciam, com a retira da imagem representativa do Messias crucificado, os fiéis acompanham.

 

OS FARRICOCOS, usavam uma túnica e uma máscara pontiaguda (para o alto), representando a imagem daqueles que crucificaram Jesus, os romanos. Era um evento simbólico, tradicional da Igreja Católica. As luzes das ruas estavam apagadas, as casas também não dispendiam do artifício elétrico.

 

As ruas eram iluminadas pelas tochas carregadas pelos Farricocos, havia um certo furor, principalmente em relação as crianças, que se movimentavam de um lado para o outro, curiosas com o cortejo religioso.

 

JOCASTA e BERENICE acompanham, ambos com o véu cobrindo o rosto, estavam próximas do PADRE ELVIS.

 

LUÍS MIGUEL, estava afoito, curioso em ver o rosto da moça, cochicha com outro coroinha.

 


LUÍS MIGUEL: - Sinto o perfume de rosas dela, mesmo distante, é inconfundível, nunca senti um tão aromático! Ela parece ser muito bela!

 

O outro coroinha sorri, ambos continuam a andar, JOCASTA, por sua vez, percebe que o rapaz olhava muito para trás, na intenção de observar sua filha, logo cutuca BERENICE.


 

JOCASTA: (irritada) – Berenice, esse rapaz não para de olhar para você, fique bem longe dele, não quero envolvimento algum, estamos entendidas?

 


BERENICE: (envergonhada) – Tudo bem mamãe!

 

A procissão continua por mais algumas ruas, as tochas brilhavam sobre os olhos de JÚLIO, que estava em frente a sua mansão, várias pessoas passavam por ele, que estava prudentemente atento, esforçando-se para enxergar se realmente O CORVO estaria ali no meio.


 

JÚLIO: (nervoso) – Se você realmente existe, tenho certeza que aparecerá, descobrirei quem anda fazendo essas brincadeiras de mal gosto!

 

 

Então, JÚLIO, acompanha a procissão, num dado momento, o homem, observa ABNER, tenta segui-lo, mas em meio à multidão, acaba o perdendo de vista e ao tentar atravessar a rua, esbarra em um Farricoco, que acidentalmente deixa sua tocha cair, ele desaba ao chão, algumas pessoas se afastam, criando-se uma pequena lacuna na caminhada.

 

De repente, O CORVO, aparece, pega a tocha e aponta em direção a JÚLIO, que estava estirado ao chão, com um semblante de desespero.




Encerramento





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