Capítulo 06
Irene observa Aline com um sorriso perverso nos lábios. Em suas mãos, um envelope.
Irene(com sarcasmo) - Você quer o seu rancho de volta? É só pegar os documentos que ele será todo seu.
Aline se inclina pra pegar, mas Irene a impede com o pé.
Irene - Só tem uma condição. Vai ter que pegar com a boca.
Antônio - Irene, por favor!
Irene o silencia com um gesto firme.
Aline - Eu não posso fazer isso…
Irene(cruel) - Vai deixar sua vó, uma senhora de idade, no relento? Vão ir pra onde? Pega logo, menina. Mostra que tem coragem.
Nesse momento, Graça e Daniel chegam de carro e observam a cena. Daniel, incomodado, tenta intervir, mas Graça o impede.
Daniel - Mãe, isso que a senhora tá fazendo é demais! Chega!
Graça - Acho melhor ficar na sua. É entre eles.
Irene - Vamos, amorzinho. Seja útil pela primeira vez.
Aline olha o envelope jogado numa poça de lama. Ela hesita. Lembra da avó e de tudo que perdeu. Com raiva e dor, se ajoelha e abaixa a cabeça, pegando o envelope com a boca.
Irene gargalha alto.
Todos observam em silêncio. Aline se levanta, suja e humilhada, e abre o envelope. Dentro, apenas papéis picados.
Todos ficam chocados.
Aline - Sua bruxa!
Irene - Que educação, hein? Pode ir embora agora, amor. Não tem pão velho aqui.
As lágrimas de Aline se misturam com a lama. A câmera gira 360° ao redor dela, captando sua dor.
Ela encara Caio que desvia o olhar, abaixando a cabeça.
Daniel(aproximando-se) - Eu te levo pra casa, Aline.
Aline(gritando) - Fica longe de mim! Você é igual a eles! Mas isso não vai ficar assim, não vai!
Irene - Ui, que medo…
Antônio - Eu, no seu lugar, começava a empacotar as tralhas. Não quero lixo nas minhas terras.
Aline encara um a um, e sai.
CENA 02 - CASEBRE DE ALINE - INT/DIA
(Nuvem de Lágrimas - Fafá de Belém)
O céu começa a fechar, ameaçando cair uma chuva torrencial. Aline chega suja, molhada e chorando. Ela se ajoelha perante a casa, com as mãos na terra, suas lágrimas se misturam com a lama. Cândida percebe.
Cândida - Aline! O que aconteceu?
Jussara - Cadê o Caio? O que aconteceu, minha filha?
Aline(em prantos) - A gente perdeu tudo. Eu assinei sem ler… confiei no Caio. As terras agora são deles! Me perdoa, vó!
Jussara(desesperada) - Não. Isso é mentira! Não pode ser! Como isso aconteceu? A gente não tem pra onde ir!
Cândida - Que horror, meu Deus! Você tem certeza disso, Aline?
Jussara(se ajoelhando) - Eu prometi pro seus pais que ia cuidar dessas terras até a hora da minha morte. Eu prometi que ia fazer isso aqui florescer. Agora a gente não tem mais nada!
Cândida - Nada disso. Vocês têm a minha casa. Eu sugiro que vocês contratem um advogado. Eu vejo isso pra vocês.
Jussara - Não podemos fazer isso, Cândida. Tirar o seu sossego. A gente vai pra pensão da Lucinda.
Cândida - Para com isso, mulher. Não é hora pra ter esse orgulho bobo. Vamos pra minha casa, sim!
Aline - Me perdoa, vó! Eu acreditei nele. Me disseram que era pra me ajudar nas plantações. Eu juro!
Jussara - Eu acredito em você, meu bem. Eles não valem o chão que pisam.
Elas entram no casebre pra pegar as poucas coisas. Jussara olha pra casa uma última vez, tendo flashes de memórias felizes. Seus olhos se enchem de lágrimas.
CENA 03 - CASA DE CÂNDIDA - INT/NOITE
Cândida entra com as duas, encharcadas. Grita pela empregada.
Cândida - Laura! Traz toalhas pra mim, por favor!
Aline - Me desculpa pelo trabalho, dona Cândida…
Cândida(pegando em sua mão) - Você não tem que pedir desculpas, meu amor. Aqui vocês têm abrigo, carinho e apoio. Amanhã mesmo falo com o meu advogado.
Jussara - Ai comadre… você é uma bênção.
Cândida - Nós somos como irmãs. E não se fala mais nisso.
Laura chega com as toalhas. Aline chora, ainda sentindo o gosto amargo da humilhação.
Aline - Ela me fez pegar o envelope com a boca… e era tudo mentira. Eu me humilhei por nada.
Jussara - Que horror, meu Deus. Que ordinária!
Cândida - Bem que me avisaram que aquela Irene era uma víbora. Mulherzinha ruim!
Aline - Mulherzinha má!
Antônio e Irene comemoram juntos a conquista das terras, os dois tomam champanhe no quarto.
Alguns dias se passam. Graça e Daniel discutem. O advogado conversa com Aline e Jussara. Cândida se despede para uma viagem às fazendas de Minas Gerais.
CENA 04 - MANSÃO MENDONÇA - INT/NOITE
Graça e Gladys estão no quarto. Graça está se arrumando para sair com Daniel.
Graça - Não sei que milagre foi esse do Daniel ter aceito jantar hoje. Talvez pra manter as aparências. Só sei que ele está mais seco do que nunca. Parece até que tem nojo de mim… e do filho que eu estou esperando. Ele rejeita tudo.
Gladys - Talvez você tenha escolhido o filho errado dos La Selva pra se casar.
Graça - Errado? Mãe, nenhum deles vale nada. Nem Caio, nem Daniel.
Gladys - Nossa! E pra onde foi todo aquele sentimento que você tinha pelo Caio?
Graça - Morreu.
Gladys - Não senti muita confiança não, viu. Mas é até melhor assim. Esse bebê é o seu passaporte pra se fixar de vez naquela família. Você sabe que os negócios do seu pai não estão tão bem assim.
Graça - O Daniel só pensa naquela Aline! E nem esconde mais. Eu tô exausta, mãe. Eu juro… só bastava um empurrãozinho… um incentivo pra eu fazer uma besteira.
Gladys(assustada) - Ei, se acalma. Você vai manter a cabeça erguida. Você vai sair pra jantar com ele agora, nada está perdido. Vocês vão se casar! Ele terá que esquecer.
Graça se encara com ódio no espelho.
Graça desce as escadas lentamente, ajeitando o cabelo e respirando fundo. Ao chegar perto da porta da sala, ouve vozes na área externa. Ela se aproxima da janela e vê Daniel terminando de falar com uma mulher, que é Laura, empregada de Cândida.
De repente, Daniel se afasta apressado, caminha decidido até o carro, entra e arranca com velocidade, fazendo os pneus cantarem.
Graça(confusa) - O que foi isso?
Ela abre a porta e vai até Laura, que estava prestes a se despedir do namorado, o jardineiro da casa de Graça.
Graça(seca) - Você. O que foi que você disse pra ele?
Laura(assustada) - Nada demais, dona Graça. Só comentei que a tal de Aline tava lá na casa da dona Cândida… por uns dias. Só isso.
Graça paralisa por um instante, o rosto se transforma num misto de ódio e incredulidade. Seus olhos brilham de raiva. Ela fecha os dentes com força, sussurrando quase como uma ameaça.
Graça - Desgraçada…
Laura - Eu?
Graça - Não… você não, garota.
Ela se vira e pega seu carro. O carro dá partida na mesma direção que Daniel tomou.
CENA 05 - CASA DE CÂNDIDA - INT/NOITE
O carro de Daniel freia bruscamente em frente à casa de Cândida, na fazenda. Ele salta, sobe os degraus da entrada e toca a campainha. Silêncio. Toca de novo. A porta se abre. Aline está lá, surpresa, com os olhos arregalados.
Aline - Daniel?
Ela tenta fechar a porta, mas ele empurra com força e entra. Aline recua, assustada.
Daniel - Eu não consigo… não consigo parar de pensar em você. Aline, eu te amo.
Aline(furiosa) - Sai já daqui! Eu não quero te ver! Vai embora, Daniel!
Daniel(ignorando as palavras dela) - Você sente o mesmo, eu sei que sente…
Aline(gritando) Eu disse pra ficar longe. Socorro!
Aline corre para as escadas, mas Daniel é mais rápido. Ele a agarra por trás e os dois tropeçam. Caem nos primeiros degraus, com um baque seco. Aline empurra ele com força.
Ela se lembra da gaveta do escritório. Corre até lá, arfando. Abre a gaveta com pressa e pega a arma. Suas mãos tremem, mas ela se vira, apontando para Daniel, que se ergue devagar.
Daniel - Aline… por favor. Eu não vou te machucar. Me escuta.
Aline - Sai… da minha frente. Me deixa em paz, Daniel.
Ela caminha de costas, com a arma apontada, em direção à porta. Lá fora, Graça chega e vê a cena: Aline armada e de costas pra porta.
Graça entra sem ser notada e, sem hesitar, pega um vaso e bate na cabeça de Aline, que solta a arma e desmaia. Graça, com um lenço, pega a arma. Ela se vira, apontando pra Daniel.
Graça - Podemos conversar, meu bem?
ENCERRAMENTO.
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