16/05/2025

Terra Vermelha - Capítulo 08

 


Capítulo 08



CENA 01 - DELEGACIA - SALA DE VISITAS - INT/TARDE


A porta da sala de visitas se abre lentamente. Passos firmes ecoam. Aline levanta os olhos…


É Irene.


Ela entra com elegância, vestida de preto, óculos escuros, mas retira eles ao se sentar à frente de Aline. As duas ficam em silêncio por segundos longos. Irene encara Aline. 

Irene se inclina.


Irene - Você entrou na minha vida como um vendaval, destruindo tudo. Você só trouxe desgraça pra a minha família. Tentou de todas as formas tirar o Daniel do eixo. Fez ele se perder totalmente a ponto de nem ligar pro filho que a noiva dele estava esperando. Coitada dessa criança, vai nascer órfão de pai.


Aline tenta reagir com a voz trêmula.


Aline - Irene, eu juro pelo que a senhora quiser que eu não fiz nada com o Daniel, eu sou inocente.


Irene(cortando Aline) - Cala a boca! Não fale o nome dele com essa boca suja! Você não tem o direito! Você sabe o que é enterrar um filho? Sabe o que é acordar com a esperança de ouvir a voz dele… e lembrar que ele nunca mais vai voltar? Não se tira um filho de uma mãe. Você destruiu a única coisa pura que eu tinha, além da minha dignidade, é claro!


Aline engole seco.


Irene(ameaçando) - Se você sair daqui um dia, o que eu duvido muito, vai ter desejado ter ficado aqui pelo resto da vida. Porque eu vou acabar com ela. Eu quero você sofrendo. 

De repente, com um impulso, Irene ergue a mão e dá um tapa forte no rosto de Aline. Ela leva a mão ao rosto, atordoada, os olhos marejados de dor e ódio.


Irene recua, ajeita a bolsa, friamente.

Ela sai da sala sem olhar pra trás. A porta bate com força. Aline permanece ali, sozinha, com as lágrimas caindo, os olhos vermelhos.


CENA 02 - DELEGACIA - CELA DE ALINE - INT/NOITE


Aline está encolhida no canto da cela, sentada no chão frio, os joelhos abraçados contra o peito. A câmera se aproxima lentamente, revelando seu estado devastador. Seu corpo treme, a respiração é entrecortada.


Ela encosta a cabeça na parede, fechando os olhos. Os gritos ainda ecoam em sua mente.


Aline - Eu não aguento mais! Meu Deus, o que foi que eu fiz?


Aline se lembra dos bons momentos com Caio, e de como amava ele. Ela também se lembra de todas as humilhações que passou com aquela família.


CENA 03 - MANSÃO LA SELVA - INT/NOITE


A casa está em silêncio. Irene, de luto, sentada no sofá, encara o vazio. A porta se abre, Antônio entra, tirando o casaco, cambaleando levemente. O cheiro de álcool é evidente.


Irene - Onde você estava? Você bebeu, Antônio?


Antônio - Não começa, Irene.


Irene - “Não começa”? O nosso filho está morto! Você simplesmente desapareceu, me deixando sozinha.


Antônio - Eu só queria esquecer, um pouco que fosse.


Irene - Você deveria ser o meu alicerce! Mas não, no momento que eu mais preciso de você, eu não te tenho. Aliás, eu já não te tenho há muito tempo, só estava tentando tapar o sol com a peneira.


Antônio - Chega, Irene! Não aguento mais ouvir sua voz. Chega! Eu vou me deitar, boa noite.


Corta para: Irene entra no quarto de Daniel. O lugar com uma atmosfera densa. Tudo no seu devido lugar. Ela se deita na cama dele e agarra seu travesseiro, sentindo seu cheiro. Ela começa a chorar, e suas lágrimas molham a fronha.


Quarto de Caio:


O quarto está a meia-luz. Caio está sentado na beirada da cama, com um olhar distante, segurando uma foto dele e Daniel ainda adolescentes. A porta se abre devagar. Graça entra, com os olhos vermelhos. Ela caminha lentamente para ele.


Graça - Posso?


Caio - Claro…


Ela se senta ao lado dele, em silêncio por alguns segundos. 


Graça - A vida é mesmo uma coisa maluca. Ontem a gente era uma família e hoje…

Hoje eu tô aqui… com um filho crescendo dentro de mim, e sem um pai.


Ela chora. Caio respira fundo, com os olhos marejados, toca o braço dela.


Caio - Ele vai ter você. Vai ter a mim também, Graça… você não tá sozinha.


Graça(emocionada) - Muito obrigada, Caio. Enfim, ele era o seu irmão, né? Você também pode contar comigo.


Eles se encaram. O choro dela diminui. Há silêncio. A tensão cresce, os rostos se aproximam. O carinho vira química. Eles se beijam.


Caio - Me desculpa, eu…


Graça - Não! Tudo bem. Eu também sinto isso.


Caio - Eu estive pensando… Eu quero honrar a memória do meu irmão. Quero cuidar desse filho que você está esperando em nome dele. Você aceita, Graça?


Graça - Claro! Quer dizer, eu adoraria.

Muito obrigada, Caio.


Os dois se abraçam lentamente.


Quarto de Daniel: 


Luigi passa em frente ao quarto e vê Irene deitada na cama, chorando. Ele então entra no quarto, fecha a porta, e se deita ao lado de Irene, fazendo carinho em seu braço. Ela se vira e o abraça, deitando em seu peito. 


Luigi - Pode contar comigo para o que precisar, Irene.


Eles então se beijam intensamente.

CENA 04 - CASA DE CÂNDIDA - INT/NOITE


A casa está silenciosa. Aos poucos, a luz da luminária revela o rosto determinado de Cândida. Jussara está sentada no sofá ao lado, com um chá quente entre as mãos. O semblante das duas é de dor.


Cândida - Essa cidade ainda vai me ver mover céus e terras por essa menina, Jussara. Eu não posso deixar que cometam essa injustiça, que deixem Aline presa, mofando naquela cadeia.


Jussara - Eu também não vou sossegar enquanto não provar a inocência dela. Por isso precisamos de um advogado, Cândida.


Cândida - Eu já mandei chamar o melhor. Doutor Arlindo Rios. Nunca perdeu um caso… e vai defender sua neta como se fosse dele.


Jussara - Alguém armou tudo isso pra Aline. E eu vou descobrir quem.


Cândida - Você desconfia de alguém dos La Selva?


Jussara - Não sei… não acho que eles seriam capazes de matar o próprio filho. Mas não pode ser, Aline nunca que teria coragem de matar alguém. E outra, o rapaz… acho que é Tião. Ele disse que viu Aline atirar. Tem algo errado aí.


Corta para:


CENA 05 - LUGAR ERMO - GALPÃO ABANDONADO - INT/NOITE


Tião está encostado em uma pilastra, inquieto. Uma mala está do lado dele. De repente, um barulho de saltos começa a ecoar. Graça surge, envolta em um sobretudo caro, óculos escuros mesmo à noite. Ela carrega uma outra mala pesada nas mãos.


Tião(nervoso) - A senhora já me fez arriscar demais, dona Graça. Eu não sei se quero mais compactuar com essa mentirada toda.


Graça - Vai arregar agora? Se tornar um covarde? Escuta aqui, você vai terminar o serviço.


Ela joga a mala no chão. Tião a observa abrir. Está cheia de dinheiro, notas organizadas, amarradas com elásticos.


Graça(encarando ele) - Esse é só o começo. Se fizer o que eu mandar… vai viver como um rei por um bom tempo.

(pausa)

Mas se abrir essa boca de sacola… vai acabar como o Daniel, morto!


Tião engole seco. Ela se aproxima, quase sussurrando.


Graça - Você vai dizer o que sempre combinamos. Tudo sobre Aline que estava com a arma na mão e o Daniel caído e você deu com o vaso na cabeça dela. Enfim, tudo o que eu já disse. Não se esqueça que a sua mulher trabalha na minha casa, um acidente acontece, né?


Tião abaixa os olhos.


Graça - Eu conto com você no dia do julgamento. De onde veio isso, vem muito mais.


Ela fecha a mala e coloca nos braços de Tião. 


Graça - Mentiras bem contadas salvam vidas. Ou acabam com elas.


SEQUÊNCIA DE PASSAGEM DE TEMPO - DIVERSOS LOCAIS - DIAS QUE ANTECEDEM O JULGAMENTO

Imagens rápidas ao som de (Não Aprendi Dizer Adeus - Leonardo):


Aline sentada em sua cela, riscando a parede.

Jussara entregando papéis ao advogado na calçada da delegacia.

Irene sozinha no quarto de Daniel.

Cândida e Jussara rezando, ajoelhadas, em uma pequena capela.

Graça em frente ao espelho, ensaiando um discurso com lágrimas falsas nos olhos.

Tião sentado em um bar barato, tomando cachaça e suando frio.


CENA 07 - FÓRUM DA CIDADE - SALA DO TRIBUNAL - INT/DIA


O salão está lotado. Um burburinho tenso preenche o ambiente. Aline entra algemada, escoltada, com os olhos fundos e o cabelo preso. Ela se senta no banco dos réus e respira fundo.


Irene está sentada próxima ao júri. Veste preto. Seu olhar é duro, devastado, impiedoso. Jussara e Cândida estão mais atrás, lado a lado, visivelmente aflitas. Caio e Graça estão do outro lado do salão. Antônio, tenso, assiste em silêncio.


Juiz - Iniciamos agora o julgamento de Aline Rocha, acusada pelo homicídio de Daniel La Selva.


CENA - NO JULGAMENTO - CÂNDIDA NO PALCO DAS TESTEMUNHAS


Cândida sobe com dignidade. O advogado de defesa a cumprimenta. Ela olha firme para o juiz.


Cândida - Bom, eu conheço Aline desde quando era um bebê de colo, sei dos valores que ela foi criada. A base sólida que a avó deu pra ela. Eu sei que ela seria incapaz de matar alguém. Isso é um absurdo!


Irene revira os olhos, segurando as lágrimas com raiva. Graça sussurra algo para Caio.


GRAÇA DEPÕE CONTRA ALINE 


Graça sobe, com um lenço nas mãos e os olhos maquiados para parecerem inchados. Finge soluçar.


Graça - Aline perseguia Daniel, vivia correndo atrás dele… Ela não aceitava que ele me amava! Chegou a me ameaçar… sim, ameaçou fazer ele pagar.

Fez da minha vida um inferno. E agora, do meu filho, um órfão!


Jussara, do júri:


Jussara - Mas o que é isso, deixa de ser mentirosa. Minha neta nunca correu atrás desse moço.


Cândida - Mas que absurdo, gente! Como pode mentir tanto?


Comadre Filó - Olha a cara de cínica dela, nem queima.


Jussara - Deixa de ser falsa, menina! Falsa!


Juiz - Silêncio! Senão terei que pedir para que se retirem.


Irene(sussurrando) - Mas que bando é esse? Jesus amado! Virou circo isso aqui?


CENA 08 - MANSÃO LA SELVA - INT/DIA


A mansão está em silêncio. Todos estão no julgamento, somente Petra, Luigi e Angelina ficaram na casa. Petra está trancada no quarto. Em sua mesa de cabeceira está uma cartela de comprimidos completamente vazia. A câmera foca em seus olhos, dilatados, desfocados. Ela sussurra para si mesma, com o olhar perdido.

Petra - Tá tudo bem... ele só está dormindo. Mas está tudo bem. Só... só... dormindo, só.

Ela levanta, de repente, e vê seu reflexo no espelho. Se assusta com a própria imagem.
Ela corre até o corredor e entra no quarto de Daniel.

Petra caminha pelo quarto, sentindo o cheiro do irmão. Então, ela se deita na cama, agarrando o travesseiro dele e começa a chorar silenciosamente.

Petra(descontrolada) - Por que ele!? Por que ele era tudo!? Ele era perfeito, o filho que ela amava.

Ela se levanta furiosa e começa a derrubar as coisas, completamente descontrolada. Ela joga o abajur na parede.

Petra - Eu não sou má, eu só quero ser vista! Droga!

Angelina e Luigi ouvem os barulhos do andar de cima e correm pelo corredor.

Angelina - Petra!? O que está acontecendo!?

Luigi tenta se aproximar, mas Petra rejeita.

Petra - NÃO ENCOSTA EM MIM!

Angelina - Eu sei que esse é um momento bem difícil, mas se acalma, Petra.

Petra - Talvez se eu tivesse no lugar dele, ela estaria sofrendo menos.

Angelina - Não fala isso, pelo amor de Deus!

Petra sai em disparada do quarto, empurrando todos. Ela corre pelo corredor, tropeçando nos próprios pés, até que chega perante a escada.

Luigi(gritando)- Petra! Cuidado!

Ela tropeça e rola escada abaixo. Um som seco e rápido.
Angelina grita em choque.
Petra está inconsciente. Um pouco de sangue escorre pela sua testa.

Angelina - LIGA PRO MÉDICO LOGO, LUIGI! RÁPIDO!

ABERTURA.

CENA 09 - FÓRUM DA CIDADE - SALA DO TRIBUNAL - INT/DIA

CAIO DEPÕE CONTRA ALINE 


Ele encara Aline. Ela devolve o olhar, ferida. Ele fala tenso, dividido.


Caio - A Aline e o Daniel… eles tinham algo sim, todos que viam podiam perceber isso. Ela vivia correndo atrás dele, isso eu realmente via, e ele me falava também.  Eu só quero justiça pelo meu irmão.


Aline(dispara) Falso! Mentiroso! Como pode dizer isso sobre mim? Você dizia que me amava!


Caio - Eu disse isso sim! Mas depois descobri que você queria me usar, queria o  meu dinheiro, e que na verdade, estava jogando comigo e com o Daniel, eu dei um basta.


Jussara - Me segura, Cândida. Eu vou quebrar a cara desse moleque. Eu vou voar na cara dele.


Cândida - Se acalma, Jussara!


Juiz - Silêncio! Tudo bem, pode trazer a próxima testemunha. Muito obrigado.


TIÃO DEPÕE CONTRA ALINE


Tião sobe, visivelmente nervoso. As mãos tremem. Ele olha para Graça, que o encara firme. Aline cerra os olhos.


Tião - Eu vi… eu vi a Aline com a arma… e o Daniel caído. Ela tava descontrolada demais. E aí… eu bati nela com o vaso pra impedir uma tragédia maior.


Jussara(gritando) - MENTIROSO! COVARDE!


Cândida - Esse homem só pode tá sendo comprado, gente!


O juiz bate o martelo.


Juiz - Oh, minha senhora. Por gentileza.

Jussara - Num sou sua senhora. Ah, mas rapaz.


Jussara reluta, mas se cala. Aline chora. O advogado de defesa pede a palavra.


Irene passa o lenço por debaixo dos óculos.


Um burburinho toma conta do tribunal.

O juiz bate o martelo.


Alguns minutos se passam e o juiz volta.


Juiz - Após a análise dos autos, escuta das testemunhas e deliberação do júri, esta corte chegou a um veredito…


A câmera foca em Aline. Um fio de suor escorre na sua testa. O som do tribunal se esvai, restando apenas o som de sua respiração ofegante.


Juiz - A ré, Aline Rocha, é considerada… Culpada pelo homicídio qualificado de Daniel La Selva.


O tribunal explode. Jussara cobre a boca desesperada, em negação. Aline desaba no banco, sem forças, as lágrimas escorrendo sem resistência.


Juiz - A ré está condenada a 18 anos de reclusão em regime fechado, devendo cumprir sua pena em estabelecimento prisional de segurança máxima.


Aline grita em prantos.


Aline - Isso é uma injustiça! Eu não matei o Daniel! Eu juro! Vó! Eu sou inocente!


Jussara - Eu vou provar isso! Eu juro!


Aline encara Irene, que tira os óculos, revelando um olhar amedrontador.

Aline é arrastada pelos corredores do fórum, entre câmeras, repórteres e gritos. Seu rosto devastado… mas seus olhos já começam a ganhar um novo brilho: de raiva e sede de justiça.


ENCERRAMENTO.  


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