CENA 01 - CASA DE PETRA - SALA - INT/MANHÃ
Angelina está sentada tomando chá com luvas de veludo e um robe transparente que brilha mesmo sem luz. Seu celular começa a vibrar com o toque “Ai se eu te pego – versão sinfônica”. Ela atende.
Angelina (em câmera lenta) - Como é?... Tá brincando… Agora? NÃO, É CLAAAARO!
Ela joga o chá pro alto em câmera lenta e o líquido forma a imagem de um cavalo voador.
Corta para:
CENA 02 - AEROPORTO INTERNACIONAL DO RIO DE JANEIRO - INT/DIA
Angelina desce as escadas rolantes com vento nos cabelos (onde não há vento). Ela carrega uma mala minúscula da Louis Vuitton e veste um vestido de gala às 9h da manhã. Ao entrar no táxi, dá uma piscadinha pro motorista.
Angelina - Me leva pra onde o destino quiser, docinho. Ou pra Bangu 3, por favor.
Aos poucos vemos as paisagens do Rio, o mar brilhando, o Pão de Açúcar, as ruas movimentadas. Ela se desloca pela cidade.
CENA 03 - PRESÍDIO FEMININO - PORTÃO DE SAÍDA - EXT/DIA
Os portões se abrem com uma trilha de suspense. Agatha sai como se estivesse na final do “RuPaul’s Drag Race”. Ela está magra, pálida, e segurando um livro de autoajuda da Zíbia Gasparetto.
Angelina aparece vestida de branco, montada num jegue albino chamado Renato.
Agatha (desabando em lágrimas) - ANGELINA!!! Você veio mesmo!!!
Angelina (descendo do jegue) - Achou que ia perder a chance de te ver sair da cadeia como uma Fênix presa por um crime que você talvez cometeu?
Elas se abraçam. Uma música épica toca (“My Heart Will Go On”, só que remixada com funk).
CENA 04 - PRAIA DO LEME - EXT/TARDE
A praia está quase vazia, apenas alguns banhistas ao longe. A brisa movimenta os cabelos de Agatha e Angelina, que caminham descalças pela areia molhada. Agatha carrega seus sapatos nas mãos.
As duas correm pela areia como em “Baywatch”, mesmo estando de salto. Agatha (olhando pro horizonte como se visse o espírito de Marlene Mattos) - Eu imaginei esse momento por anos! A água! O barulho das ondas! O sal que arde!
Angelina (tirando o salto e comendo camarão) - E tá esperando o quê? Vem mergulhar, minha sereia de Bangu!
Agatha ri e puxa a mão de Angelina. As duas correm, como adolescentes, em direção ao mar. As duas mergulham naquela água.
Elas surgem rindo, molhadas. A música “Morango do Nordeste” começa a tocar suavemente.
Angelina morde o lábio excitada e as duas caem na areia, se beijando. Agatha fica um pouco confusa de início, mas retribui o beijo.
As duas se levantam.
Agatha - Olha, Angelina… esse beijo que aconteceu aqui…
Angelina - Tá tudo bem, Agatha. Foi só um beijo. Um beijo de AMIGAS. Agora você está livre.
Agatha - É verdade! EU TÔ LIVRE!
Angelina - Vai assustar os banhistas, mulher!
As duas continuam caminhando abraçadas pela praia, enquanto a câmera mostra um plano geral.
Paisagens do Mato Grosso e dos animais. As plantações dos La Selva não são tão verdes como antes.
(Não Aprendi Dizer Adeus - Leonardo)
O dia passa.
CENA 05 - CASA DE PETRA - QUARTO - INT/MANHÃ
Petra está sentada na cama. Seu celular toca, ela atende.
Petra - Oi, pai…
Antônio - Filha, hoje à noite tem um jantar aqui na mansão, feito de última horan enfim. Gostaria que você viesse.
Petra - Mas o que aconteceu, pai?
Antônio - Seu tio, Vinícius. Ele está chegando. Vai ficar uns dias com a gente, você sabe como ele é né? Vive viajando.
O nome dele causa um calafrio em Petra.
Petra(engolindo seco) - Pai… hoje não vai dar. Eu tô com muita dor de cabeça, de verdade.
Antônio - Petra, isso não é um convite, eu quero você aqui. O Luigi já está sabendo, inclusive está bem animado pra conhecer seu tio. Você tem que estar aqui.
Ele desliga o telefone. Petra fica com o celular na mão, parada. Uma angústia toma o rosto dela.
Petra(baixinho) - Não… não… não…
Ela se levanta, meio trêmula. A câmera se aproxima do rosto dela. Ela se lembra bem vagamente do rosto de Vinícius, mãos tocando seu braço, uma voz sussurrando algo.
Voltando ao presente. A testa de Petra está suada. Ela vai até uma gaveta, abre desesperada, e tira de lá uma cartela de remédios controlados. Sem contar, ela engole três comprimidos, em seguida bebe água direto da garrafa.
Suas mãos tremem. Ela se aproxima da porta, encosta a sua testa contra ela e começa a bater levemente, ritmadamente.
Corta para:
CENA 06 - MANSÃO LA SELVA - SALA/COZINHA - INT/FIM DE TARDE
Irene está no centro da sala, vestida de maneira impecável, como uma anfitriã. Ela dá ordens, enquanto empregados circulam com almofadas, bandejas e arranjos de flores.
Irene - Aquela orquídea está torta. Vira pro lado bom. E por favor, tragam logo os aperitivos de salmão defumado.
Corta para cozinha. Júlia surge correndo e rouba um doce, escondido atrás da blusa. Um empregado tenta impedir, ela ri e corre de volta.
Júlia - Não conta pra vovó.
Irene, ao longe, vê tudo e ri discretamente. Antônio entra, de camisa clara e blazer.
Irene - Ai Antônio… Ver a Julinha assim, com essa energia… é como se ela tivesse resgatado o brilho dessa casa. Olha, vê se não parece o Daniel quando era da idade dela.
Antônio se aproxima.
Antônio - É…
Ela se vira, agarrando o blazer dele e os dois se beijam.
De repente, a porta se abre. Vinícius entra sem cerimônia, de óculos escuros.
Vinícius - E aí, minha família linda! Que saudade danada!
Irene - Vinícius!
Ela corre até ele e o abraça apertado. Antônio também se aproxima e o cumprimenta com alegria.
Vinícius - Vocês dois parecem os mesmos de vinte anos atrás. Que milagre é esse? Me conta porque eu preciso do segredo.
Irene(rindo) - Seu bobo!
Vinícius - Mas me diz… e a minha sobrinha preferida? Minha princesa. Cadê a Petra?
Corta para:
CENA 07 - FAZENDA DE CÂNDIDA - INT/VARANDA
Agatha e Angelina descem do jipe de peão. Cândida vem pela varanda, esvoaçante.
Cândida - Agatha, minha amiga! Quanto tempo!
Agatha - Cândida… que saudade de você, meu bem. Não mudou nada.
Cândida - Só com um reumatismo a mais.
Risos entre elas. Agatha olha em volta, encantada com a paisagem. Então seu olhar para em Aline, que surge na varanda, elegante, blusa de linho, muito chique.
Angelina se assusta com Aline.
Angelina - Aline?
Agatha - A mulher que um dia foi a empregada dos La Selva? Aquela que você me disse que foi humilhada e até perdeu as terras? Olha só…
Angelina - Sim, é ela!
Jussara também surge e se surpreende com Agatha.
Jussara - Minha Nossa Senhora do Carmo! Agatha?
As mulheres se aproximam.
Aline - Angelina… quanto tempo! De você eu sinto saudade. Sempre foi muito boa comigo.
Agatha(olhando nos olhos de Aline) - Eu precisava te ver. Precisava conversar com você.
Divina - Mas que tanto de mulher é esse? Dá pra fazer o remake de A Casa das Sete Mulheres.
Angelina - Deus nos livre! Chega de remake!
Cândida - Vamos entrar. Agatha e Aline precisam conversar a sós. Podem ir para o meu quarto.
Quarto de Cândida:
Agatha - Vai ser uma conversa rápida, eu juro!
Aline - Bom… pode dizer.
Agatha - Eu vou direto ao ponto. Eu sei que você quer se vingar dos La Selva que acabaram com a sua vida. Eu sei de tudo isso. E eu quero a sua ajuda.
Aline - Como assim?
Agatha - Na verdade eu quero me unir a você. Eu também tenho motivos suficientes para querer me vingar dos La Selva. E então, o que me diz? Posso me juntar a você?
A câmera fecha em Aline.
ENCERRAMENTO.
(Lost On You - LP)
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