27/05/2025

Terra Vermelha - Capítulo 14

 





Capítulo 14





CENA 01 - FAZENDA DE CÂNDIDA - QUARTO DE CÂNDIDA - INT/DIA



Agatha - Eu vou direto ao ponto. Eu sei que você quer se vingar dos La Selva que acabaram com a sua vida. Eu sei de tudo isso. E eu quero a sua ajuda. 


Aline - Como assim?


Agatha - Na verdade eu quero me unir a você. Eu também tenho motivos suficientes para querer me vingar dos La Selva. E então, o que me diz? Posso me juntar a você?


Aline - Claro, Agatha! Vai ser ótimo ter mais uma aliada ao meu lado. Juntas… nós vamos acabar com cada um deles. 


Agatha - Aquela família… só de lembrar já me dá um aperto no coração. Eles acabaram com a minha vida. Principalmente aquela Irene. Eu quero justiça.


Aline sorri de canto.


Agatha - Mas… e quando a gente vai pra Nova Primavera? O que você está pensando?


Aline - Estou esperando chegar perto do evento de Melhor Produtor Rural do Estado. Quero estar lá, no meio deles. No auge da arrogância.


Aline se levanta. O olhar dela queima.


Aline - Eu quero ver cada um deles pagando. Chorando. Sentindo na pele o que me fizeram. Principalmente o Caio La Selva.


Agatha - NÃO! O Caio não, Aline! Meu filho não! 


Aline - Então era você a mulher que eles tanto citavam? Você é mãe do Caio? 


Agatha(abaixando a cabeça) - Sou. 


Aline - Me perdoe, Agatha. Mas eu não posso fazer isso. Ele foi um dos que mais me machucaram.


Agatha - Por favor, Aline! Escuta uma mãe que está desesperada. Eu passei a minha vida toda afastada do meu filho. Eu te imploro, não faça nada.


Aline - Sinto muito. Ele vai pagar. Ele merece sentir na pele tudo o que eu senti. 


Aline sai do quarto. A porta bate. Agatha fica sozinha, imóvel por um momento, até explodir em fúria.


Agatha(furiosa,sozinha) - Que ódio… desgraçada. Era só o que me faltava, essa burra me prejudicar… Mas eu vou dar um jeito.


Cenas das paisagens da fazenda. Cenas de Nova Primavera à noite. 


Corta para:


CENA 02 - MANSÃO LA SELVA - SALÃO PRINCIPAL - INT/NOITE


O jantar é um espetáculo. Tudo reluz. Os convidados muito elegantes circulando com taças de espumante. Irene, impecável em um vestido azul-marinho com pedras discretas, conversa com seu irmão Vinícius.

Enquanto isso, Antônio conversa com alguns empresários, com um copo de uísque na mão.

Risos discretos. A câmera desliza até Vinícius, sorridente, pegando uma taça na bandeja de um garçom.


Vinícius - Senhoras e senhores… eu gostaria de propor um brinde! 


De repente.


As portas se abrem com um leve estrondo. Petra entra com Luigi. Ela se apoia nele, cambaleando como se tivesse saído de um baile em Las Vegas às seis da manhã.

Ela tropeça, derruba a bandeja do garçom. Taças se espatifam no chão. Os convidados ficam paralisados, sem entender nada.


Petra(encarando Vinícius) - Vo… você… sim, você mesmo.


Vinícius - Petra! Minha sobrinha querida!


Irene(apressada, corre até ela) - Petra, não! Pelo amor de Deus!


Petra começa a gargalhar, totalmente drogada de remédios.


Câmera rápida para Gladys, de boca aberta ao lado de Tadeu.


Gladys - Essa menina tá cheirada? Tá takeda, querida? Coitadinha!


Clara, que trabalha na cooperativa, observa tudo bebendo mais um espumante.


Silêncio absoluto. Os olhares caem matando sobre Petra. Em segundos, Petra muda. Do riso ao choro. Um colapso doloroso.


Petra(gritando) - Tirem esse homem daqui! Tirem ele daqui! NÃO ESTÃO ME OUVINDO? TIREM!


Ela se debate nos braços de Luigi. Os convidados já não sabem se olham, se vão embora, se rezam.

Júlia fica com medo e corre pros braços de Antônio.


Irene(subindo o tom) - Luigi, sobe com ela! Agora!


Luigi, ofegante, a segura firme e a leva nos braços. Petra continua gritando.


Petra - Tinha que ser você! Eu só queria que me entendesse, me ouvisse, mãe! Nem que fosse por um segundo!


Petra consegue pegar um vaso da mesa e joga pra frente, acertando a cabeça de um dos empresários.


Ela some escada acima. Todos em silêncio. Um homem limpa discretamente as taças quebradas no chão. 


Gladys - Gente… passada.


Antônio se adianta, pálido.


Antônio - Me desculpem por isso. A minha filha… ela não anda bem.


Quarto de Petra:


Petra é jogada na cama, os cabelos desgrenhados. Irene entra e fecha a porta com força. Luigi está ao lado.


Irene(com ódio) - Viciada! Que vergonha, meu Deus! Você precisa de tratamento. De preferência, longe da minha vida!


Ela se aproxima com fúria, segura o rosto da filha com força, os olhos cravados nos dela. 


Irene - Eu tenho nojo de você.


Petra, em lágrimas, não reage. Luigi tenta intervir.


Luigi - Irene, calma…


Irene - Eu tô cansada, Luigi. Olha pra essa coisa, jogada na cama. Só me dá desgosto. 


Luigi abraça Irene, consolando ela. Ele tira ela do quarto. Os dois começam a se aproximar.


Luigi - Meu amor… vai com calma.


Eles se beijam com carinho, íntimos demais.


A câmera se move até o final do corredor. Gladys, chocada, observa escondida. Seus olhos arregalados. Sem querer, ela acaba esbarrando em uma peça e deixa cair seu lenço. 


Ela sai dali rapidamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. 

Luigi e Irene se separam de súbito. Irene vai até o final do corredor e vê o lenço.


Irene(encarando Luigi) - Alguém viu.


Instrumental tenso aumenta.


Corta para:


CENA 03 - PENSÃO DA LUCINDA - COZINHA/RECEPÇÃO - INT/NOITE


A cozinha da pensão é simples, antiga, cheia de objetos encardidos pelo tempo. Pérola, de avental, lava a louça cantarolando baixinho. 

De repente, sons de passos e vozes entram pela porta da frente. Pérola seca as mãos rápido  com o pano do ombro, ajeita os cabelos com as mãos molhadas e vai até a recepção.

Um grupo entra. Jovens com mochilas, roupas estilosas, equipamentos e câmeras. No meio, um homem charmoso, de barba feita e olhar sedutor. Ele estende a mão.


Gregório - Boa noite… me chamo Gregório. A gente veio gravar um filme experimental aqui na região. Eu sou o diretor. Ficou tarde… então nos recomendaram essa pensão. A gente precisa de um quarto pra passar a noite.


Pérola o cumprimenta com um aperto de mão que começa formal e termina malicioso, como se fosse uma personagem de novela matutina com fogo no rabo.


Pérola - Filme, é? Que interessante… Tem quartos disponíveis sim, viu? São bem arejados.


Ela sorri, mordendo o lábio.


Corta para:


Corredor dos quartos:


Eles entram em um dos quartos modestos. Paredes com papel de parede meio descascando, cheiro de madeira antiga. Ele se vira para Pérola, que ainda está na porta.


Gregório - A pensão é… antiga, bem simples, mas tem seu charme. Obrigado, viu?


Ele entra. 


Gregório - Até que essa roceira é ajeitadinha.


Risadas abafadas. Pérola, ainda na porta, sorri lentamente. Ela começa a descer as escadas devagar, pensativa, com uma postura de pantera prestes a dar o bote.


Pérola(sozinha) - Hmm… então ele é diretor de filmes?


De repente, Lucinda surge no fim da escada, vinda das sombras. Pérola leva um susto, quase cai da escada.


Lucinda - O que você está fazendo?


Pérola - Nada… é que chegaram novos hóspedes.


Lucinda - Hmm… Vai logo trocar teu pai. Eu vou ter que sair.


Pérola(irônica) - Vai se encontrar com o delegado? 


Lucinda se vira.


Lucinda - O que você disse?


Pérola - Nada não… só desejei boa noite.


Lucinda sai. Pérola vai até a janela e a observa indo embora. O olhar dela agora é puro veneno. 


Pérola(baixa, com ódio) - Essa velha pensa que vai me segurar aqui pra sempre…


Corta para:


CENA 04 - FAZENDA DE CÂNDIDA - EXT/DIA


O sol nasce triunfal sobre os campos. Um cavalo relincha ao fundo, galinhas atravessam a estrada. Um carro atropela uma delas. 


As caminhonetes estão prontas. Malas, sacolas e até caixa de doces da Cândida estão posicionadas. Jussara tenta subir no carro, mas prende seu vestido na porta.


Jussara - Esse vestido me odeia… certeza que é do time da Irene.


Angelina - Eu tô levando o chapéu de paetê que a Cândida me deu. Vai que a gente precisa dar um close!


Agatha - O que é isso que eu estou vivenciando?


Angelina - Amando a Aline como mocinha justiceira. Cândida é a anciã sábia. Eu sou o núcleo de humor, é claro! E vocês… são os figurantes.


Cândida - Você tá me chamando de velha?


Todos olham para a fazenda, emocionados. Divina e Patrícia estão na varanda, acenando.


Patrícia(baixinho) - Uma pena o gostoso do Jonas ter escolhido a Aline.


Divina - Que?


Patrícia - Nada!


Jussara(gritando) - Tchau, Divina! Vai nos forrós por mim! Dança muito!


As caminhonetes ligam. Aline está ao volante, óculos escuros, expressão de mulher que já viu o inferno e voltou com um mapa. Ela respira fundo.


Angelina - Partiu, gente! Nova Primavera que nos aguarde!


Aline dá uma última olhada na fazenda. A câmera dá um close cinematográfico no seu rosto. 


Aline - Chegou a hora de retornar.


Trilha instrumental sobe.


ENCERRAMENTO.


(Nuvem De Lágrimas - Fafá De Belém - Remix versão funk)


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