“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 12
CENA 01: SHOPPING - CAFÉ - MANHÃ
Sabrine e Afonso se encaram, cúmplices.
SABRINE: E aí? Você já tem algum plano em mente?
AFONSO: Vai ter um campeonato de surf semana que vem, que o Volney vai participar. Eu estava aqui pensando num jeito de sabotarmos esse desgraçado.
SABRINE: Conhecendo ele como eu conheço, ele deve estar preocupadíssimo com esse campeonato. Nem deve tá dormindo direito. (sorri, maquiavélica) Se ele perder, ele vai ficar arrasado!
AFONSO: O Volney sempre toma um smoothie antes de cair na água. Sabe? Pra dar uma energia. Acho que o que a gente precisa fazer é tirar essa energia dele. O que você acha?
SABRINE: Espera, você tá falando no sentido de… ele capotar no meio do mar? Mas ele vai se afogar desse jeito.
AFONSO: Não se preocupe, ele não vai partir dessa pra melhor não, que o que não falta nesses eventos é salva-vidas. E vaso ruim não quebra fácil. No máximo, ele vai ser desclassificado, só isso. Tudo o que você precisa fazer é convencer o dono do quiosque a batizar a bebida do Volney. (Manipula) Pensa nos seguidores que você perdeu. No escândalo que ele fez você passar!
Sabrine fica pensativa.
SABRINE: Você tem razão, Afonso. Pode deixar que eu assumo essa parte do plano com todo prazer. O dono do quiosque já disse uma vez que a filha dele é muito minha fã… e se eu oferecer um bom dinheiro pra ele… duvido que ele vai se recusar a me ajudar.
Afonso sorri. Ele levanta sua xícara de café e brinda com Sabrine, que também sorri maquiavelicamente.
CENA 02: SHOPPING - ESTACIONAMENTO - MANHÃ
Afonso está no carro, parado no estacionamento do shopping, conversando com Jaqueline no celular.
AFONSO: Foi tão fácil manipular aquela otária.
JAQUELINE: Afonso, eu tô preocupada. Você não acha que tá indo longe demais não? E se o Volney se afogar e acabar morrendo?
AFONSO: Ele não vai morrer porque você vai estar lá pra salvar ele! Depois que você salvar a vida do Volney, ele vai ser eternamente grato a você, Jaque. E aí, meu amor, eu duvido que ele não se apaixone perdidamente por você! Eu quero ele com os pneus arriados por você, assim como eu fiquei por ele durante esses dois anos! Eu não vou descansar até ver ele destruído do mesmo jeito que eu fiquei!
CLOSE na expressão de ódio no rosto dele.
CENA 03: CASA DE CLÁUDIA - SALA - MANHÃ
Cláudia abre a porta e Jaqueline entra.
CLÁUDIA: O que você tá fazendo aqui, Jaqueline?
JAQUELINE: O que acha que eu vim fazer aqui? Vim visitar a senhora, né, mãe?
CLÁUDIA: Não pensei que voltaria a te ver depois daquela situação desagradável lá na casa do Felipe.
JAQUELINE: (suspira, sem paciência) Ai, mãe, esquece aquilo. Olha, agora que eu sou amante do marido da Gisela… quer dizer… ex-marido… eu tô cada vez mais perto deles! Perto de conseguir tudo o que eu quero. A queda deles. O dinheiro. Tudo!
CLÁUDIA: Pera, que história é essa de ex marido? Não vai me dizer que essa mulher descobriu sobre vocês e resolveu se separar?!
JAQUELINE: No caso, ela descobriu que sou eu né? Porque corna ela já sabia que era há muito tempo. Ela só resolveu desmascarar o marido agora porque reencontrou o tio Felipe. Aliás, já vou adiantar logo pra senhora… vai dar ruim isso aí viu?
CLÁUDIA: (senta com a mão na cabeça) Minha Nossa Senhora de Fátima… Jaqueline, olha só o caos que você provocou… cê tem noção?
JAQUELINE: A senhora tem uma mania chata de ficar me culpando de tudo, hein?! Pelo amor de Deus. Acha o quê? Que eu dei ideia pra Gisela procurar pelo tio Felipe? Ela foi atrás dele porque quis. Aliás, ela foi atrás dele por causa da notícia que o Afonso mandou a jornalista vazar sobre ele e o Volney. Eu não tenho nada a ver com isso.
Ela vai na cozinha.
JAQUELINE: Eu tô com uma saudade do seu café. (voz distante, na cozinha) Tem café aqui?
CLÁUDIA: Tem, tá na garrafa térmica…
Cláudia fica pensativa, com um olhar de preocupação. Jaqueline volta pra sala com uma xícara na mão.
CLÁUDIA: Olha, filha… eu não vou mais lutar contra tudo o que tá acontecendo não. É vingança o que você quer? Então faça! Eu não vou mais discutir, não vou mais brigar, não vou falar mais nada. Só te peço uma coisa. Toma cuidado. Pelo amor que você tem a Deus.
Jaque a encara, tomando um gole do café.
JAQUELINE: Não sou eu que vou precisar tomar cuidado, mãe. Eles é que vão!
CENA 04: CARRO DE ALENCAR - MANHÃ
Com o carro estacionado a poucos metros da casa de Cláudia, Alencar observa atentamente. Pela janela, ele vê quando Jaqueline sai da residência, despedindo-se da mãe.
Ele pega a câmera e começa a fotografar, registrando o momento em que as duas se abraçam. Em seguida, aproxima o zoom e foca no rosto de Cláudia, capturando sua expressão com precisão.
CENA 05: PEDRA DO FORTE - STOCK-SHOTS - ANOITECER
Takes da cidade anoitecendo.
CENA 06: CASA DE VOLNEY - SALA - NOITE
Estela janta com Raí e Volney.
ESTELA: E aí, meu amor, a Jaqueline vai pro campeonato?
VOLNEY: Ela me disse que vai.
RAÍ: Vocês tão namorando? Ficando?
VOLNEY: Da minha parte é só amizade. Já da parte dela...
RAÍ: (ri) Ela tá afim de você, é? Aqui, por que tu não pega ela? Mó gostosa.
ESTELA: (reage, com ciúmes) Ei! Que isso?
RAÍ: Ô, mozão, é jeito de falar. Cê sabe que a única gostosa da minha vida é você, né?
ESTELA: Acho bom mesmo, Railton.
RAÍ: Não me chama assim que eu fico triste, hein.
ESTELA: Cara de pau!
Raí se levanta da mesa.
RAÍ: Eu já vou indo. Tô achando que hoje o movimento vai tá daquele jeito lá no bar.
Estela se levanta e vai até ele. Raí a pega pela cintura e os dois ficam abraçados.
ESTELA: Queria ir um dia lá no Veludo... Mas assim... (para Volney) Queria ir de noite, né, filho? (volta-se para Raí) Deve ser animado lá à noite.
RAÍ: Você não ia gostar muito, não, mozão. É muita bagunça, muita gente... Você odeia multidão, não odeia? Então... sabe carnaval de rua? É aquilo ali, só que dentro do bar.
ESTELA: Ah, mas eu nunca fui. Morro de curiosidade.
VOLNEY: A gente pode ir um dia. Se minha mãe não curtir, a gente volta pra casa, pronto.
RAÍ: Melhor a gente combinar isso direito... Um dia, quem sabe. (muda de assunto) Vou indo.
Ele beija Estela com vontade.
RAÍ: Gostosa. (dá um tapa na bunda dela) Te pegar de jeito mais tarde, quando eu chegar.
ESTELA: Vou ficar esperando, hein?
A campainha toca.
RAÍ: Olha, na hora certa.
ESTELA: Aproveita que tá saindo e vai ver quem é.
Raí abre a porta e dá de cara com Susane.
RAÍ: E aí, cunhadinha. Entra, aproveita que tá na hora boa. Fui.
SUSANE: Vai lá, bom trabalho.
ESTELA: (indo até ela) Até que enfim, hein? Lembrou que tem uma irmã.
As duas se cumprimentam com beijinhos.
SUSANE: Menina, minha vida tá uma correria só. Tô com tanto trabalho acumulado ultimamente... Ainda mais agora que a dona Gisela não é mais presidente da loja.
ESTELA: Como assim, criatura? Que história é essa?
SUSANE: Até onde eu sei, parece que a dona Gisela descobriu que o marido tava traindo ela. Não sei se foi esse o motivo pra ela ter deixado a presidência, mas o que eu sei é que o presidente da Bergmann Privé agora é ele.
ESTELA: Meu Deus, eu tô em choque com tudo isso.
Susane se senta no sofá. Ao fundo, Volney se levanta com o prato na mão e vai até a cozinha.
ESTELA: Esses dias ela esteve aqui em casa.
SUSANE: Pois é. Ela me pediu seu endereço. Ela queria mesmo ver o Volney?
ESTELA: Foi o que ela disse, né? Sim... E o Rafael? Me conta, tem notícias dele?
SUSANE: Não... Tô até preocupada/
VOLNEY: (aparece, interrompendo) Oi, tia.
SUSANE: Oi, querido.
Ele vai até ela e dá um beijo no rosto.
SUSANE: Como é que cê tá? Melhorou?
VOLNEY: Melhorei, sim.
ESTELA: A gente tava falando do Rafael.
SUSANE: Você tem falado com seu primo?
VOLNEY: Rapaz, faz quase um mês que eu não falo com ele. Ele sumiu.
SUSANE: Eu tô muito preocupada.
VOLNEY: Ah, tia... cê sabe como o Rafael é. Vive sumindo, né? Ele é igual gato: sai de casa, fica dias fora, mas sempre volta. E quando a gente menos espera.
CENA 07: RESTAURANTE - NOITE
José Carlos e Alencar estão sentados à mesa de um restaurante elegante, em um canto discreto. Taças de vinho meio cheias. O clima é de sigilo.
JOSÉ CARLOS: E então? Conseguiu alguma coisa?
Alencar tira um envelope pardo de dentro da pasta. Abre com calma e desliza algumas fotos impressas sobre a mesa. José Carlos pega as imagens e começa a analisá-las.
ALENCAR: Tirei umas fotos da tal Jaqueline que o doutor pediu. E essa, ao lado dela, é a mãe. O nome dela é Cláudia mesmo, como tá na ficha da garota. Conversei com uma vizinha — daquelas bem linguarudas — e ela contou que essa Cláudia já trabalhou como empregada doméstica numa casa de família rica.
José Carlos observa as fotos com mais atenção, em silêncio. Os olhos fixam no rosto de Cláudia. Aos poucos, o sorriso surge, lento, quase em choque.
JOSÉ CARLOS: Claro… (baixo, como se ligasse os pontos) Agora tudo faz sentido.
Ele ergue os olhos para Alencar, satisfeito.
JOSÉ CARLOS: Você fez um ótimo trabalho.
Alencar apenas assente, discreto. José Carlos volta a encarar as fotos, pensativo — como se tivesse acabado de encontrar a peça que faltava no quebra-cabeça.
CENA 08: MANSÃO VON BERGMANN - SALA DE ESTAR - NOITE
Marcos, visivelmente irritado, conversa com Sabrine.
MARCOS: Como assim você foi tomar café com o Afonso?! Você ficou maluca de vez, caralho?
SABRINE: (sem culpa) Ué, ele me chamou, eu fui.
MARCOS: (incrédulo) O que aquele cretino queria com você?
SABRINE: Contar o lado dele da história com o Volney. E eu contei o meu também. Você acredita que ele foi até sincero? No fim, a gente resolveu unir forças. (sorri, divertida) Viramos aliados contra o Volney. Dá pra acreditar?
MARCOS: (exasperado) Meu Deus, Sabrine... você é mais burra do que parece! Você tá caindo direitinho na lábia dele! Ele tá te usando! Será que você não percebe isso? Você tá sendo uma marionete nas mãos do Afonso!
SABRINE: (levanta, provocante) Não, meu amor. Eu só tô jogando o jogo. E quer saber? Acho que você tá com ciúmes.
MARCOS: (espantado) Ciúmes?!
SABRINE: (cutuca) É. Porque agora eu virei bestie do cara que você mais odeia... do cara que o Otávio, seu queridinho, tá apaixonado.
Ela sobe as escadas devagar, lançando uma gargalhada debochada por cima do ombro. Marcos fica parado, em silêncio. CLOSE em seu rosto — o ódio fervendo nos olhos.
CENA 09: MANSÃO VON BERGMANN - QUARTO DE OTÁVIO - NOITE
Otávio sai do banheiro com o corpo molhado, enrolado apenas na toalha da cintura. Quando ele tira a toalha para se trocar, a porta se abre de supetão. Ele se assusta, cobre-se de novo.
OTÁVIO: (irritado) Que porra é essa, Marcos?! Ficou louco?
Marcos entra, transtornado.
MARCOS: Preciso falar com você. Agora.
OTÁVIO: Dá pra esperar? Eu tô pelado, cacete!
MARCOS: (seca) Como se eu já não tivesse te visto assim mil vezes.
OTÁVIO: Sai daqui, Marcos. Agora não.
MARCOS: É urgente, Otávio! É sobre o Afonso.
Otávio respira fundo, incomodado.
OTÁVIO: (desconfiado) O que é que tem o Afonso?
MARCOS: Ele tá armando uma vingança contra o Volney. E sabe como eu fiquei sabendo disso? Através da Sabrine. A Sabrine, que se encontrou com ele hoje. Fechou um pacto com ele. Os dois estão juntos, mancomunados contra o Volney.
Otávio olha para ele, incrédulo.
MARCOS: (intenso) Sabe o que isso significa? Significa que ele ainda tá obcecado por aquele cara! Tá contigo aqui, mas a cabeça dele continua lá atrás. No Volney. Você, Otávio, tá sendo só um passatempo. Ele tá te usando. Tá usando você, tá usando a Sabrine… vocês dois estão sendo usados!
OTÁVIO: (encara, tenso) Para com isso.
MARCOS: Não quer acreditar? Continua, então. Continua se iludindo. Daqui a pouco você deixa de se chamar Otávio... e vira Otário. Igual a minha irmã. Dois otários sendo feitos de idiota por um manipulador.
Ele sai, batendo a porta com força. Otávio fica parado no quarto, tenso, com o olhar perdido, a dúvida começando a corroer seu coração.
CENA 10: APART-HOTEL - SUÍTE PRESIDENCIAL - NOITE
José Carlos observa atentamente as fotos entregues por Alencar, com um copo de uísque na mão. Ele está sério, tenso. A campainha toca. Ele vai até a porta, abre. Jaqueline entra com um sorriso sedutor e o beija.
JOSÉ CARLOS: A gente precisa conversar.
JAQUELINE: (sorri, estranhando o clima) Ué... quer conversar antes de ir pra cama? Tá diferente hoje. O que aconteceu?
Ela tenta disfarçar que já imagina o motivo.
JOSÉ CARLOS: Eu me separei da Gisela. Ela descobriu tudo sobre a gente. Ainda não assinamos nada, mas... o casamento acabou.
JAQUELINE: (finge surpresa) Nossa... eu nem sei o que dizer.
JOSÉ CARLOS: Não precisa dizer nada. Mas tem algo que me pegou de jeito... A Gisela comentou que você já trabalhou na Bergmann Privé. Que era vendedora. (a encara firme) Você se aproximou de mim... de propósito, não foi?
Jaqueline hesita. Respira fundo. Trêmula, mas corajosa, encara-o de volta.
JAQUELINE: Foi.
JOSÉ CARLOS: (balança a cabeça, com raiva contida) Eu sabia. No momento em que ela falou, tudo fez sentido.
JAQUELINE: José Carlos, eu posso explicar, eu/
JOSÉ CARLOS: (interrompe, frio) Espera. Antes disso, tem algo que você precisa ver.
Ele caminha até a mesa e pega as fotos deixadas por Alencar. Entrega a Jaqueline. Ela segura, reconhecendo as imagens.
JOSÉ CARLOS: Você... com essa mulher. A sua mãe.
Jaqueline engole seco, observando as fotos.
JOSÉ CARLOS: A mesma ex-empregada que o Nelson expulsou da mansão há vinte e oito anos atrás.
Ela ergue o olhar para ele, os olhos arregalados, o choque crescendo.
JOSÉ CARLOS: Você não se aproximou de mim só porque Gisela te humilhou. (pausa, encara com firmeza) Você se aproximou de mim porque queria ficar próxima da família que te renegou! Você se aproximou de mim porque você… você é filha bastarda do Nelson!
Jaqueline treme. Está pálida. Sem saída.
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