19/06/2025

Teia de Sedução - Capítulo 14




“TEIA DE SEDUÇÃO”

Novela criada e escrita por  

Susu Saint Clair

Capítulo 14


CENA 01: CASA DE VOLNEY – QUARTO – TARDE


Volney está só de bermuda, secando os cabelos com uma toalha. A luz do sol entra suave pela janela. Ele ouve batidas leves na porta.


VOLNEY: (puxando a toalha do pescoço) Pode entrar!


A porta se abre. Afonso surge com uma xícara de chá nas mãos. O olhar é atento, doce, mas tenso.


AFONSO: Vim ver como você tá.


VOLNEY: (senta na cama) Tô melhor. Um pouco enjoado ainda… mas acho que é por causa da água do mar. Parece que eu bebi uns dois litros.


AFONSO: Ai, Volney, você deveria ir pro hospital. 


VOLNEY: Não, eu tô de saco cheio de hospital, já basta aquela vez que eu caí da escada. Chega.


AFONSO: Você precisa ver esse enjoo seu. Você já vomitou duas vezes. 


VOLNEY: Vai passar. 


Afonso se aproxima e estende a xícara.


AFONSO: Toma. É chá de hortelã. Vai te ajudar com enjoo e dor de estômago. 


VOLNEY: (pega a xícara, tocando os dedos dele) Obrigado.


Volney bebe um gole do chá. 


AFONSO: Eu congelei quando te vi desacordado. Se o pior tivesse acontecido com você eu não ia me perdoar nunca! 


Os olhos de Volney se encontram com os de Afonso. Ele coloca a xícara na mesa de cabeceira. Um segundo de silêncio. Então, impulsivo, Volney se levanta e puxa Afonso para perto, o beija com intensidade, com fome, com saudade.


VOLNEY: (ofegante entre beijos) Eu te amo. Eu ainda te amo. E me odeio todos os dias por ter jogado fora o que a gente tinha. Foi a pior burrada da minha vida, Afonso.


AFONSO: (volta a beijá-lo, mas hesita) Volney, não…


VOLNEY: (puxa de volta, desesperado) Vamos tentar de novo. A gente se ama. É visível. É mais forte do que a gente. Me dá uma chance… só uma.


AFONSO: (olhos marejados) Você me partiu no meio, Volney. Quando te vi com outra pessoa… foi como se eu tivesse sido apagado da sua vida. Como se eu nunca tivesse existido.


VOLNEY: (ele o segura com carinho) Você sempre existiu. Sempre esteve aqui dentro. (toca o próprio peito) Eu me escondi. Tive medo. Medo de me assumir, de enfrentar minha mãe, o mundo… Mas depois de tudo, do que aconteceu, eu entendi que nada disso vale mais que você.


AFONSO: (afasta-se, com delicadeza) Agora é tarde.


VOLNEY: Não… por favor… não me diz isso.


AFONSO: Eu tô com outra pessoa agora. Com o Otávio. E tô gostando dele. Ele me trata com respeito, me admira. Ele não me faz me sentir como se eu fosse um erro.


Volney baixa os olhos. Os ombros caem. Ele sente o impacto da rejeição. O quarto mergulha num silêncio denso.


VOLNEY: (voz embargada) Você ama ele?


AFONSO: (baixa a cabeça, depois encara) Ainda não sei. Eu gosto dele. Muito. Eu tô me permitindo descobrir.


VOLNEY: E comigo… já não tem mais nada?


AFONSO: (suspira) Tem. Sempre vai ter. Mas não o suficiente pra apagar tudo que você me fez sentir. A dor ainda é maior que a saudade.


Volney respira fundo, tentando conter as lágrimas. Ele força um sorriso triste.


VOLNEY: Então é isso…


AFONSO: Por enquanto, é o melhor. Pra nós dois.


Afonso se aproxima, toca de leve o ombro dele, depois se afasta. Volney fica imóvel. Afonso caminha até a porta, abre e para por um instante.


AFONSO: Cuida de você, tá?


Volney não responde. Apenas encara o vazio. Afonso sai. A porta se fecha suavemente. Volney senta-se de novo à beira da cama, encara o chão, derrotado. CLOSE em seu rosto: o olhar perdido, os olhos marejados.


CENA 02: CARRO DE AFONSO – TARDE


Afonso dirige com o olhar tenso, focado na estrada. O sol da tarde entra pelas janelas, mas dentro do carro o clima é de tempestade. Jaqueline, ao lado dele, inquieta, se remexe no banco, até que explode:


JAQUELINE: (agitada, nervosa) Você ainda pretende continuar com essa vingança absurda?


Afonso aperta o volante com mais força. Silêncio.


JAQUELINE: (mais alta) Fala, Afonso! Depois do que aconteceu hoje... você ainda quer seguir com isso?


Afonso mantém o olhar na pista. Não responde.


JAQUELINE: (debandando) Por mim, a gente acabava com isso agora. Aqui, nesse carro mesmo. Porque eu tô no meu limite! O Volney podia ter morrido, você tem noção disso?


AFONSO: (sem desviar os olhos) Eu não sei mais o que pensar...


JAQUELINE: (categórica) Então desiste! Cancela essa merda toda! Me paga o que me deve e cada um vai pro seu lado. Eu quero sair disso limpa enquanto ainda dá tempo.


Afonso pisa no freio bruscamente. O carro para no acostamento. Os dois são sacudidos com o impacto. Um momento tenso. Ele vira o rosto, furioso.


AFONSO: (pesado) Por que você tá tão abalada, hein? Me diz… (olhos nos dela) Você tá apaixonada pelo Volney?


Jaqueline o encara. A pergunta ecoa. Ela respira fundo, engole seco.


JAQUELINE: (sem fugir) Talvez eu esteja, sim. (baixa o tom) Me afeiçoei a ele. É um cara bom, diferente de tudo que a gente vem fazendo. Eu não quero mais fazer parte disso, Afonso. Essa sujeira… me enoja.


AFONSO: (explode) Acorda pra vida, Jaqueline! (raivoso) Você tá suja até o pescoço desde que começou a transar com o marido da Gisela! Desde que aceitou o meu dinheiro, desde que arquitetou comigo cada detalhe dessa farsa!


Jaqueline desvia o olhar, respira fundo.


AFONSO: (sem piedade) Agora quer pagar de santa arrependida? Quer sair fora como se fosse melhor que eu? Fica tranquila… (puxa a carteira, joga umas notas no colo dela) Tá aqui. Dinheiro pelo seu tempo, pelos seus serviços, pela sua “consciência limpa”. A gente tá quitado.


Jaqueline fica imóvel, olhando para o dinheiro sem tocá-lo.


Silêncio. Ele volta a dirigir. O carro segue pela estrada enquanto o silêncio entre eles pesa como concreto. Nenhum dos dois diz mais uma palavra.


CENA 03: DIA SEGUINTE – MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE JANTAR – MANHÃ


A mesa está posta com requinte. Caetano termina de servir os pães e o suco fresco. Nelson folheia discretamente o jornal, Gioconda mexe o café, e Gisela, com olhar distante, toma sua xícara em silêncio.


O ambiente é tenso, pesado.


De repente, entra José Carlos, animado, sorridente, impecavelmente vestido. Ele observa o silêncio constrangedor.


JOSÉ CARLOS: Nossa... que clima é esse? Vocês costumam ser tão falantes, tão afiados aqui nessa mesa... Não tô gostando nada desse silêncio fúnebre. Vamos animar isso aqui, gente!


Gisela solta um riso curto e sarcástico, sem tirar os olhos da xícara.


JOSÉ CARLOS: (sorrindo, provocativo) Dormiu bem, amor?


GISELA: (olha firme, seca) Pela sua cara... acho que quem não dormiu foi você.


JOSÉ CARLOS: (rindo) Ah, eu dormi maravilhosamente bem. A companhia ajudou. (pausa, mais ácido) Torço pra que você também encontre alguém. Quem sabe o filho do motorista não te arranca essa cara de maracujá seco que você tem, hein?


Gisela se enche de ódio, levanta a xícara e atira o café no rosto dele, molhando sua camisa branca.


NELSON: Gisela! Tá louca?!


GISELA (irrompendo) CALA A BOCA! (encara José Carlos, grita) EU NÃO SOU OBRIGADA A ENGOLIR AS SUAS PIADINHAS, SEU DESGRAÇADO!


José Carlos, furioso, pega sua xícara e joga o café de volta na cara dela.


JOSÉ CARLOS: Sua cretina!


GISELA: (grita) FILHO DA PUTA!


Ela parte pra cima dele, descontrolada. Gioconda se levanta e segura a irmã pelos braços.


GIOCONDA: Gisela, pelo amor de Deus! Se controla!


GISELA: (gritando) ME SOLTA! ME SOLTA, GIOCONDA!


JOSÉ CARLOS: (afastando-se, rindo alto) Você é louca! Devia estar internada! Tá maluca!


GIOCONDA: CHEGA, JOSÉ CARLOS! SAI DAQUI! AGORA!


José Carlos joga o guardanapo sobre a mesa e sai com passos pesados, ainda com o rosto molhado.


Gioconda tenta acalmar Gisela, que respira com dificuldade, ofegante, olhos em chamas.


Gisela olha para a mesa, para as flores, para as frutas bem arranjadas... então, num surto súbito, passa o braço com violência e derruba bandejas, pratos e copos no chão, que se estilhaçam com um barulho seco.


CLOSE no rosto de Gisela, transtornada, desfigurada de ódio.


CENA 04: MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE OTÁVIO – MANHÃ


Otávio está sentado na beira da cama, ainda vestindo a camiseta de dormir. Marcos está visivelmente furioso.


MARCOS: (com raiva) Eu não tô acreditando que você vai continuar com o Afonso mesmo depois de tudo que eu te disse!


OTÁVIO: (levanta, firme) A gente conversou. Ele foi sincero comigo. Prometeu que ia deixar o Volney e essa história de vingança no passado.


MARCOS: (ri, debochado) Prometeu? Jura que você caiu nessa?


OTÁVIO: (com firmeza) Ele abriu o coração pra mim, Marcos. Contou toda a verdade. Eu escolhi acreditar.


MARCOS: (explodindo) Acreditar em quem, Otávio? Num cara que você conheceu outro dia?! Você não percebe que tá virando um idiota nas mãos dele?


OTÁVIO: Você tá exagerando...


MARCOS: (tom cortante) Exagerando? O Afonso tá brincando com todo mundo! Com você, com a Sabrine... Dois otários nas mãos dele!


OTÁVIO: (crescendo) Cuidado com o que você fala!


MARCOS: (caminha até a porta) Sabe de uma coisa? Eu cansei dessa palhaçada que esse cara anda fazendo. Tudo tem um limite! 


Marcos sai, batendo a porta. Otávio fica sozinho, pensativo, incomodado. O silêncio pesa.


CENA 05: MANSÃO VON BERGMANN – QUARTO DE GISELA – MANHÃ


Som do chuveiro ligado ao fundo. O vapor escapa por debaixo da porta do banheiro, formando uma névoa leve no ambiente. A porta do quarto se abre devagar. José Carlos entra sorrateiramente, atento a cada passo. Ele vasculha com o olhar. Sobre a cama, o celular de Gisela repousa, descuidado.

Ele se aproxima, hesita por um segundo… e pega o aparelho.


JOSÉ CARLOS: (sussurrando, irônico) Vamos ver se a madame já teve a brilhante ideia de trocar a senha…


Ele desliza o dedo pela tela. A tela desbloqueia. José Carlos sorri, cínico.


JOSÉ CARLOS: Claro que não… idiota.


Ele abre o WhatsApp. Os olhos dele correm rapidamente pelas conversas mais recentes. Ele desliza até mensagens mais antigas... e congela ao ver um nome específico:


“Caetano”.


O sorriso se desfaz. Ele lança um olhar tenso para a porta do banheiro fechada, ainda ouvindo o som da água. Volta a focar na tela, pressiona o contato. A conversa se abre.


CLOSE NAS MENSAGENS:

Fotos anexadas.

José Carlos abre.

Imagens nítidas dele com Jaqueline na frente do Veludo Vermelho, em clima comprometedor.


Ele arregala os olhos, contido.


JOSÉ CARLOS: (baixo, entre os dentes) Desgraçado…


Ele sai rapidamente da conversa, bloqueia a tela. Respira fundo, como se processasse a traição dupla. Num movimento brusco, ele guarda o celular no exato lugar onde estava… E sai do quarto correndo.


CENA 06: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE ESTAR – MANHÃ


Gisela desce as escadas com passos firmes. Está impecavelmente vestida, salto alto batendo com força no mármore, óculos escuros escondendo os olhos e as intenções. A bolsa a tiracolo. Marcos surge, apressado, vindo do corredor. Ele a intercepta no meio da escadaria.


MARCOS: Tia!


GISELA: (suspira, impaciente) Ai, Marcos… nem começa. Tô atrasada, e mais sem paciência ainda.


MARCOS: É sério. É importante.


GISELA: (entediada) Fala logo então.


MARCOS: Eu preciso do endereço do Volney.


GISELA: (pára, o pé ainda no último degrau. Ela tira os óculos, o encara) Você quer o quê?


MARCOS: Saber onde o Volney mora. Só isso.


GISELA: (séria, desconfiada) Pra quê exatamente você quer saber onde aquele garoto mora?


MARCOS: (ensaia a resposta, mas hesita) É um assunto importante. Pessoal.


GISELA: (pisca lentamente, avaliando ele) Você vai até ele por você… ou por alguém?


MARCOS: (encara) Vou porque preciso. Só isso.


GISELA: (sorri de canto, venenosa) Marcos… você sempre foi um péssimo mentiroso. Mas como eu adoro ver esse seu jeitinho misterioso, vou pensar no seu pedido.


Ela volta a colocar os óculos, ajeita a bolsa no ombro.


MARCOS: Eu te imploro! Eu preciso falar com Volney! É urgente! 


GISELA: (tira da bolsa um bloco de notas e uma caneta, impaciente) Inferno, eu mereço viu.  


Ela escreve no papel e entrega para ele. 


GISELA: Toma! Agora sai da minha frente! 


Ela sai. Marcos fica ali, sério, com o papel nas mãos.


CENA 07: MANSÃO VON BERGMANN – COZINHA – MANHÃ


Caetano termina de ajeitar a bancada. A FAXINEIRA (40), de uniforme simples, está ao lado, ouvindo atentamente.


CAETANO: (recolhendo um pano) E, por favor, dona Márcia, o chão da copa tem que estar brilhando antes do meio-dia. Dona Gioconda vai receber visitas hoje. Ah, e não esquece de trocar as flores da mesa da varanda. Rosa branca. Ela detesta flor murcha.


FAXINEIRA: (anotando mentalmente) Pode deixar, Caetano. Vai ficar tudo um brinco.


CAETANO: Ótimo. E o armário de louças também tá pedindo uma atenção. Nada de taça com dedo marcado, hein?


FAXINEIRA: (ri) Pode deixar. Eu vou caprichar.


Ela sai, e Caetano volta ao que fazia. O ambiente agora está silencioso. Ele suspira, indo até o fogão, quando…


JOSÉ CARLOS entra. Olhar cortante, postura tensa. Para diante dele.


CAETANO: (surpreso, mas cortês) Bom dia, senhor José Carlos. Vai querer alguma coisa?


JOSÉ CARLOS: (seco, direto) Quero sim. Quero que me diga por que se aliou à Gisela. Por que diabos ajudou ela a me desmascarar?


Caetano congela. O sorriso educado some.


CAETANO: (sério, contido) O senhor vai me desculpar... mas minhas satisfações eu devo apenas à dona Gisela.


José Carlos cerra os punhos. Em dois passos, agarra Caetano pelo colarinho e o prensa contra a parede.


JOSÉ CARLOS: (entre os dentes) Você vai me falar agora! Ou hoje mesmo eu dou um jeito de te colocar no olho da rua! Vai! Me diz logo por que fez isso! Anda!


CAETANO: (perfeitamente calmo, com um leve sorriso debochado) Eu no seu lugar não faria isso, senhor José Carlos.


JOSÉ CARLOS: (inflamado) Fala logo!


CAETANO: (aproxima o rosto dele, encarando firme) Porque se o senhor encostar um dedo em mim ou fizer qualquer coisa contra mim... eu conto pra todo mundo o verdadeiro motivo do senhor ter se casado com a dona Gisela.


José Carlos o solta, como se levasse um choque. Fica paralisado.


CAETANO: (ajustando a camisa, triunfante) É isso mesmo. Todo mundo vai adorar saber... que o senhor era a putinha do senhor Nelson esse tempo todo.


José Carlos arregala os olhos, o rosto em pânico.


CAETANO: (sorrindo com frieza) Se eu cair... eu levo todo mundo junto.


Ele vira as costas com elegância e sai calmamente da cozinha. José Carlos fica ali, imóvel, com o orgulho despedaçado e o medo estampado no rosto.


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