04/07/2025

Let's Dance! - Capítulo 19

     

 LET'S DANCE! - CAPÍTULO 19

criada e escrita por SINCERIDADE
colaboração neste capítulo JACQUES LECAIR

CENA 01: MANSÃO FIGUEIRA/EXT./NOITE

INSTRUMENTAL: DENSIDADE - EDUARDO QUEIROZ 

Com as mãos firmes, Leila começa a cortar a mangueira do freio com a faca que pegou na cozinha. A borracha cede, fazendo o fluído começar a pingar. Após fazer o que queria, Leila se levanta discretamente, sem perceber que está suja e descabelada. Ela anda alguns passos, quando Dalvinha aparece atrás dela, confrontando-a.

DALVINHA: Dona Leila.

Leila se vira, em choque. 

LEILA: Dalvinha? O que tá fazendo aqui fora essas horas?

DALVINHA: Eu que te pergunto! O que a senhora tava fazendo debaixo do carro? E essa faca aí? 

O close no rosto de Leila se funde com um efeito sonoro de impacto, intercalando com Dalvinha.

DALVINHA: Não vai me responder, dona Leila? Eu vi a senhora deitada debaixo do carro com essa faca.

LEILA (se aproximando, intimidadora): Você não viu nada sua anta! Cala essa boca! 

DALVINHA: Tá tensa porquê? Eu só te fiz uma pergunta, dona Leila.

LEILA: Eu não tava fazendo nada demais, apenas…

DALVINHA (interrompendo, firme): Cortando os freios do carro?

Leila congela.

LEILA (disfarçando): FICOU MALUCA? Porque eu faria uma coisa dessas com o carro da minha própria casa? 

DALVINHA: Não precisa esconder nada de mim, dona Leila, não vou contar a ninguém. (pausa) Quer dar um fim em quem? No Chico? Pobrezinho, trabalha tanto…

LEILA: Olha aqui, Dalvinha, eu não vou ficar aqui dando satisfação da minha vida pra empregadinha mexeriqueira, não, tá ouvindo? Você não viu nada do que aconteceu aqui!

DALVINHA (provocativa): Ah, mas eu vi sim! Eu vi tudinho. E se a senhora quer saber, dona Leila, eu posso contar tudo pra sua família agora mesmo.

LEILA (se desespera): Não! Dalvinha, por favor, não faça isso! Faz o seguinte, vá descansar e amanhã conversamos melhor sobre este assunto. Só te peço que não conte nada a ninguém.

DALVINHA: Não vai me enrolar?

LEILA: Não! Eu prometo que amanhã cedinho resolveremos essa história. Agora pode ir, vai!

Dalvinha vai em direção ao interior da mansão, enquanto Leila, parada, solta um suspiro de raiva. Ela decide voltar para dentro, quando, andando alguns passos, se depara com Chico voltando da sala.

LEILA: E aí, Chico, conseguiu separar a briga?

CHICO: Não tinha briga nenhuma, dona Leila, eles só estão discutindo. 

LEILA: Mas era só isso mesmo, ora!

CHICO: Pelo jeito que a senhora tinha dito, achei que estavam saindo no tapa de verdade.

Leila revira os olhos e se vira. Chico observa a vilã se afastando.

CHICO (indignado): É cada uma!

CENA 02: DISCOTECA LET'S DANCE!/INT./NOITE

Enquanto “Freak Le Boom Boom - Gretchen” toca ao fundo, Paulina está sentada na discoteca com um copo de whisky na mão, com o qual ela mexe de um lado para o outro, podendo assim ouvir o som dos gelos se batendo. Logo em seguida, Nina chega procurando por um amigo, encontrando a moça sentada na mesa. Ela se aproxima.

NINA: Olá.

PAULINA: Olá…

NINA: Pera aí, eu tô te reconhecendo… Você é a madastra do Leandro, não é isso?

PAULINA: Sou sim. E você é…?

NINA: Eu sou a Nina, sobrinha da Leila Figueira.

PAULINA: Ah, sim… claro! Me lembro de você na igreja. Sente aí, não quer um whisky?

NINA: Não, obrigada.

PAULINA: Mas o que te traz aqui?

NINA: Eu precisava espairecer. Está uma confusão tremenda lá na mansão, e não tinha condições nenhuma de ficar lá. Uma completa agonia, chega me dá dores de cabeça.

PAULINA: Imagino. É, essa gente briga por tudo. E até mesmo quem não tem nada a ver com isso acabam pagando.

NINA: A Isabel e a Cecília estão faltando se matar, e agora a Leila deu de se intrometer no meio da briga delas, acredita? Eu sei que não tenho nada a ver com isso, mas fica chato uma situação dessas.

PAULINA: E isso é tudo culpa da droga do Ubaldo, que se meteu onde não devia.

NINA: Ele fez algo muito grave?

PAULINA: Fez, ele contou pra Isabel que o Leandro e a Cecília estavam tendo um caso. Eu sei que o que meu enteado fez foi errado, mas ele não tinha nada que se envolver nesses assuntos. No final deu nisso.

NINA: Mas o Leandro também teve culpa, afinal ele sabia muito bem o que estava fazendo.

PAULINA: Eu acho melhor já mudarmos de assunto, para que esse não se prolongue. Não traz benefício nenhum ficar lembrando das desgraças da vida.

NINA: Você tem toda a razão. Minha mãe já dizia, que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher, aliás, que saudade da minha mãezinha…

PAULINA: Sabe, o meu sonho era que Leandro fosse feliz no casamento. Ter a sorte que eu não tive.

NINA: Você não se casou?

PAULINA: Casei.

NINA: E então?

PAULINA: Eu quero que ele seja um bom homem. Meu marido é um pouco complicado, e isso dificulta um pouco.

NINA: Complicado?

PAULINA: Um chato de galochas. Assim, ele é um bom homem, mas tem seus defeitos, que não são poucos.

NINA: Assim como todo homem.

PAULINA: É, mas… às vezes me questiono se fiz uma boa escolha. Por exemplo, eu amo cantar, mas ele implica muito com isso.

NINA: Ele implica por você cantar?

PAULINA: Isso.

NINA: Mas o que tem de mais cantar?

PAULINA: É isso que tento entender. Cantar é algo tão lindo. No passado, eu quase fui uma diva dos palcos, acredita? Até formei um grupo com três meninas, mas não foi pra frente. Agora, eu já estou , é melhor deixar isso no passado.

NINA: De jeito nenhum, meu anjo. (Ela segura em suas mãos) Você precisa se impor também. E olha, pode contar comigo pra tudo. Claro, se eu conseguir ajudar também.

PAULINA (com os olhos brilhando): Obrigada, você é muito amável. (Ela olha para o relógio) Meu Deus,eu preciso ir (se levanta da mesa) precisamos marcar de tomar um café o mais rápido possível!

NINA: Com toda certeza. E não se esqueça, você precisa se impor e não abaixar a cabeça pro seu marido.

PAULINA: Muito obrigada! Pode deixar!

As duas trocam olhares rápidos, até que Paulina se retira da discoteca, deixando Nina ali, pensativa. Enquanto “Disco Inferno - The Trammps” começa a tocar no local, Cássio, que já estava observando tudo, percebe que Nina está cabisbaixa e se aproxima.

CÁSSIO: Não vai dançar? 

NINA: Não gosto muito de dançar… eu vim até aqui porque gosto de ver os outros dançarem e gosto de ouvir as músicas que tocam… mas dançar não é comigo. E você, vai ficar aí parado também?

CÁSSIO: Pra ser sincero, eu também não gosto muito de mexer o corpo. Você sabe quem sou eu?

NINA: Não… é alguém importante?

CÁSSIO (estendendo a mão, simpático): Prazer, Cássio. Eu sou o dono dessa discoteca.

NINA (retribuindo o aperto de mão): O prazer é todo meu! Meu nome é Nina. 

CÁSSIO: Nina? Engraçado, é o mesmo nome de uma sobrinha minha… Pena que ela sumiu do mundo, nem sei se está mais viva…

NINA: E não procurou por ela?

CÁSSIO: Procurei, e não foi pouco. Coloquei detetive, polícia, mas não resolveu… o que me resta é me acostumar com o sumiço dela. Mas também, eu nunca a vi… minha família é toda desunida, fiquei sabendo desse caso depois da morte do meu irmão, que eu também mal tinha contato na época.

NINA: Perder alguém da família é sempre horrível, né? Eu também perdi meu pai e minha mãe quando era bem jovenzinha…

CÁSSIO: Eu não me conformo com a morte de meu irmão até hoje. Ele morreu de uma forma tão estranha, tão estúpida…

NINA: E como foi que ele morreu?

CÁSSIO: Ele estava preso por um crime que não cometeu, e acabou sendo atingido numa suposta rebelião no presídio… só que, meses depois eu descobri que não teve rebelião nenhuma. O assassino simulou o tumulto como pretexto para dar fim no meu irmão… agora ele vive dizendo que encomendaram a morte dele…

NINA: Que coincidência, o meu pai também faleceu num presídio… mas o caso dele foi pneumonia. 

CÁSSIO: E qual era o nome de seu pai?

NINA: Élcio. 

Neste momento, Cássio arregala os olhos e paralisa.

CÁSSIO: Olha, eu não sou de acreditar em coincidência, mas hoje passou de todos os limites.

NINA: Como assim? Não entendi.

CÁSSIO: O nome do meu irmão também era Élcio. 

NINA (confusa, intrigada): O seu irmão se chamava Élcio…? Espera… isso quer dizer…

CÁSSIO (com a voz embargada): Que talvez… a gente esteja falando da mesma pessoa. 

NINA: Qual era o sobrenome do seu irmão? O sobrenome! 

CÁSSIO: O nome completo dele era Élcio de Souza Pereira.

Nina se choca.

NINA: Não pode ser… o seu irmão, é o meu pai! 

CENA 03: MANSÃO FIGUEIRA/INT./NOITE

INSTRUMENTAL: ED S THEME - IURI CUNHA

Tércio, Isabel, Leandro e Cecília ainda discutem acaloradamente. 

TÉRCIO (farto): Já chega! Essa discussão já virou um circo dos horrores! Leandro, peço que se retire de minha casa agora! E você, Cecília, que decepção, minha filha…

ISABEL: Aproveita que essa vagabunda tá indo embora desta casa e demita ela da Idearium também, meu pai!

TÉRCIO: Já chega, Isabel! Quem decide o que fazer aqui, sou eu! 

CECÍLIA (abalada): Um dia vocês vão ver que eu não sou esse monstro horrível que estão achando. Eu e Leandro só erramos, como qualquer outro ser humano.

Leila chega pelos fundos, descabelada e com a roupa suja.

ISABEL (arregala os olhos): Mamãe, onde a senhora esteve? Está imunda!

LEILA (disfarçando): Pois é, eu fui até o  jardim pedir ao Chico que levasse Cecília embora daqui e acabei caindo na grama… Cecília, ele já está te esperando. Não acha que já está na hora de ir?

CECÍLIA: Já passou da hora! Eu espero nunca mais colocar meus pés aqui.

Cecília pega suas malas e começa a andar em direção a área exterior.

LEANDRO: Cecília, se quiser eu posso te levar…

ISABEL: Mas que cara de pau!

CECÍLIA: Não precisa.

TÉRCIO (preocupado): Cecília, não precisa agir assim por impulso… eu tenho um apartamento vazio no centro, espere até amanhã cedo que te levo lá.

CECÍLIA: Já disse que não precisa! Eu não quero mais nada de vocês! 

Ela chega até o carro da mansão e Chico começa a ajudar a mocinha a colocar suas malas no porta-malas. Leila olha a cena com um sorriso satisfeito, como se estivesse prestes a vencer uma guerra. 

ISABEL (provocativa): Isso mesmo, vai pela sombra, sua maldita! 

Eles terminam de colocar as malas no porta-malas e entram no carro. Antes, Cecília lança um último olhar para Isabel. O carro parte em seguida. 

TÉRCIO: Será que ela fez uma boa escolha?

ISABEL: Ela não tem que escolher nada, se não saísse por conta própria daqui, eu ia expulsá-la!

LEANDRO: Eu vou indo. E você Isabel, ainda não falei o que tinha de falar.

ISABEL: Você não tem que me falar mais nada, seu canalha!

TÉRCIO (sem paciência): Para de provocar a minha filha e vai embora daqui, antes que eu me mande os seguranças cuidarem de você! Anda, vai embora agora! 

Leandro entra em seu carro e dá partida, indo embora dali.

TÉRCIO: Que noite…

LEILA (sarcástica): Mas ela nem começou ainda, meu bem.

CENA 04: DISCOTECA LET'S DANCE!/INT./NOITE

Nina decidiu contar sobre o passado de Leila a Cássio, que está chocado.

CÁSSIO: Então quer dizer que ela roubou a menina da sua mãe e criou como se fosse filha dela?

NINA: Pois é. Olha, eu não sei como ela fez o marido dela acreditar nessa história idiota… 

CÁSSIO: Nina, eu não quero causar ainda mais trauma em você, mas preciso te contar uma coisa que me deixa encucado até hoje…

NINA: O que?

CÁSSIO: Lembra que eu te falei que o assassino do Élcio comentou que a morte dele foi encomendada?

NINA: Claro…

CÁSSIO: Pois então, ele disse que foi uma mulher quem mandou fazer o serviço. Eu não sei se é verdade, mas ele disse que a tal mulher era sedutora, e que prometeu que tiraria ele de lá o quanto antes.

NINA: Pera aí… você tá querendo dizer que…

CÁSSIO: Que a mandante do assassinato do seu pai pode ter sido a Leila! 

NINA (raciocinando): Claro! O meu pai seria uma pedra no sapato dela na criação da Isabel e ela pode ter inventado essa história de pneumonia pra despistar… mas é claro! Ela fez tudo de caso pensado. Até me mandou pra Ribeirão Preto contra minha vontade… 

CÁSSIO: Não acha melhor a gente ir atrás de alguma pista, alguém que possa nos ajudar?

NINA: Sim, claro. Mas agora eu tenho certeza, Cássio, eu tenho certeza que a Leila matou o meu pai. Eu preciso acabar com essa desgraçada o quanto antes!

A câmera dá o close em Nina, que expressa determinação em seu olhar, intercalando com Cássio.

CENA 05: RUA/NOITE

A cena mostra um fluxo movimentado pelas ruas do Rio de Janeiro. Entre os carros, a câmera acompanha o carro da mansão, que atravessa as avenidas da cidade em uma velocidade normal. Dentro dele, a câmera se volta para Cecília, que está no banco de trás. Ela tem flashbacks de tudo o que aconteceu e chora. De repente, Chico, o motorista, atento ao volante, percebe algo estranho. Ele pisa no freio constantemente e se dá conta que não está funcionando. Cecília percebe sua tensão.

INSTRUMENTAL: HANS DRONE - IURI CUNHA 

CECÍLIA: Tá acontecendo alguma coisa?

CHICO (olhando pelo retrovisor, tentando manter a calma): Dona Cecília… por favor, coloque o cinto. Agora.

CECÍLIA (assustada, enxugando o rosto): O que foi? O que tá acontecendo?

O carro começa a deslizar sem controle descida abaixo. Chico tenta manter a direção firme, desviando de veículos que buzinam e freiam bruscamente ao redor. Cecília fecha os olhos e começa a rezar.
O carro faz uma curva brusca para evitar uma colisão e se inclina perigosamente para o lado. O motorista gira o volante com força. O carro se desvia de um ônibus que cruza a avenida e quase colide com um poste. Em seguida, sobe em um canteiro, atravessa uma mureta de proteção e despenca. A câmera mostra a queda em câmera lenta. O carro cai de um pequeno viaduto, despencando cerca de cinco metros, e atinge o solo com violência. O impacto é devastador. O veículo capota uma, duas, três vezes… O barulho de metal retorcido e vidros estilhaçados ecoa pela rua.
corte rápido para o interior do carro:
Cecília com o rosto ensanguentado, os olhos semiabertos. O motorista desmaia com a testa sobre o volante. A cena escurece.

A novela encerra seu 19° capítulo em silêncio.









Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem em destaque

Entre a Cruz e a Espada - Capítulo 11 (09/07/2025)