Paixões & Legados
Escrita por Fafá
Faixa das 18h
ANABEL: O quê? Como assim? Meu pai tinha outro filho? Mercedes, isso é verdade?
MERCEDES: Eu não sei dizer, senhorita. Também estou muito surpresa.
VALENTIM: Permita-me que entre. Eu posso explicar tudo à moça.
ANABEL: Claro, à vontade!
O rapaz entra, avaliando o local. Tomé e Lino, que ainda estavam ali fazendo figuração, decidem falar algo.
TOMÉ: Acho melhor nós irmos, querida. Mas obrigado pelo jantar, deveríamos repetir mais encontros como esse. Até!
ANABEL: Até, padrinho!
LINO: Adeus, Anabel!
Os dois saem pela porta da frente. Lino, antes de sair, lança um olhar desconfiado a Valentim. Anabel se vira para o rapaz.
ANABEL: Sente-se, por favor! Está com fome?
Elza está deitada em sua cama, lendo um livro. A chuva cai fortemente no lado de fora e o vento assobia pelas janelas. Flor, que tentava dormir na outra cama, se vira para o lado.
FLOR: Essa chuva está me dando medo. Parece que, a qualquer momento, essa casa vai cair por cima de nós.
ELZA: O problema é se isso se estender pelo dia de amanhã.
FLOR: Acho que não chega a tanto, parece ser passageira.
Um raio cai próximo dali, tremendo o chão.
FLOR: Misericórdia! Isso foi bem perto.
ELZA: Vou dormir, foi um dia cansativo para mim. Boa noite!
Elza se vira para o lado e fecha os olhos.
Valentim e Anabel estão sentados à mesa. O jantar foi servido ao rapaz, que come com muito gosto. Anabel fica apenas observando, como se esperasse algo.
ANABEL: Então, conte-me um pouco da sua história. Ainda estou confusa com as coisas que você me disse.
VALENTIM: Eu nasci e cresci no Rio de Janeiro, onde morava com minha mãe. Ela faleceu há alguns poucos anos, e no seu leito de morte, revelou a mim, pela primeira vez, algumas informações sobre meu pai biológico. Ela disse que ele era um homem muito rico, se conheceram quando ela era camareira de um hotel de luxo. Tiveram um breve romance que durou pouquíssimo tempo, mas foi o bastante para que eu viesse a esse mundo. Ela me criou sozinha por todo esse tempo, mas eu sempre achei estranho que, mesmo ela não trabalhando fora de casa, sempre tínhamos dinheiro para nos sustentar. Então ela me contou que todo mês ele mandava um bom dinheiro para nós. Desde que ela me contou tudo isso, eu tenho procurado por ele, e as pistas me trouxeram para cá.
Anabel fica pensativa, como se estivesse processando as palavras do rapaz.
ANABEL: Há uma coisa que eu não entendi: se meu pai morreu há 17 anos atrás, quem estava enviando esse dinheiro nesse tempo?
VALENTIM: Quando eu fui atrás dele na empresa que fundou, a rede de mercearias, eu descobri que um tesoureiro estava encarregado dessa parte. A senhorita não sabia disso? Afinal, é filha de Bernardino, herdeira dele.
ANABEL: Sou herdeira sim, mas ainda não atingi a idade para tomar frente de tudo. Tenho 17 anos, completarei 18 nas próximas semanas.
VALENTIM: Bom saber que tenho uma irmã mais nova.
ANABEL: Creio que esteja cansado da viagem que fez. Tem onde ficar?
VALENTIM: Por enquanto não.
ANABEL: Mercedes! Mande preparar um quarto para o rapaz!
VALENTIM: Ora, mas a moça mal me conhece.
ANABEL: Acredito nas suas palavras, dou esse voto de confiança.
Ele olha para ela com os olhos brilhando.
ANABEL: Vou me deitar. Quero que continuemos essa conversa amanhã. Boa noite!
VALENTIM: Boa noite!
A moça se retira. O rapaz olha para o lado e percebe Mercedes o observando pelos cantos das paredes.
Tomé e Lino chegam em casa, ambos molhados pela chuva.
TOMÉ: Meu Deus! Que pé d’água é esse?
LINO: Deveríamos ter esperado a chuva acalmar um pouco antes de ir.
TOMÉ: Sabe-se lá quando essa chuva vai acalmar. Além de que não tinha clima de ficar lá com a visita inesperada.
LINO: Achei esse sujeitinho muito esquisito. Para mim, não é flor que se cheire.
TOMÉ: Para mim, o nome disso é ciúmes. Ver a sua amada com outro homem…
LINO: O que é isso, pai? Não estou entendendo essa sua conversa.
TOMÉ: Acalme-se, meu filho. É natural que sinta algo por ela, se conhecem desde pequenos.
LINO: O senhor está equivocado. Além disso, ele disse ser filho de Bernardino, logo eles são irmãos de sangue.
TOMÉ: Mas mesmo assim, Anabel não é…
Tomé pensa antes de falar alguma besteira.
LINO: Não é o que?
TOMÉ (Nervoso): Não é… boba! Era isso que eu ia falar. Não é boba de cair em um golpe qualquer, se é o que está insinuando.
LINO: Mas eu continuo preocupado. Amanhã mesmo vou ver se tudo correu bem.
A chuva com fortes ventos continua por boa parte da noite. O dia amanhece nublado e com um tempo mais fresquinho. Há diversas poças d'água espalhadas pela rua.
Na fazenda, Elza e Flor estão a caminho do trabalho.
ELZA: Você sempre sai tão cedo assim?
FLOR: Temos que estar lá antes que as crianças cheguem. Os trabalhadores saem muito cedo para os campos.
Ao chegar no local, elas levam um grande choque. A pequena escola foi completamente destruída pela chuva. As vigas e pilares feitos com madeiras vieram ao chão. O telhado, feito com tábuas de madeira, parte caído para dentro da estrutura e parte espalhado ao redor do lugar. As paredes, também feitas de madeira, não existem mais.
FLOR: Oh céus! O que faremos agora?
ELZA: Vá falar com o coronel, eu dou um jeito aqui.
Anabel desce as escadas da sua mansão e encontra Valentim em pé no meio da sala, observando um grande quadro de Bernardino e Lúcia exposto na parede.
ANABEL: Bom dia! Sempre se levanta cedo assim?
VALENTIM: Não consigo dormir tanto. Este é o nosso pai? (Aponta para o quadro)
ANABEL: Sim, e, ao lado dele, minha mãe. Ambos morreram num atentado há 17 anos atrás, assalto seguido de morte.
VALENTIM: E você cresceu sozinha aqui?
ANABEL: Sim. Fui criada pela Mercedes, a governanta.
VALENTIM: Vocês têm um relacionamento um tanto rígido. Não diria que seria algo como mãe e filha.
ANABEL: Mercedes nunca se preocupou em me dar carinho ou coisas assim. Ela pensava mais em modos, educação. Posso dizer que, tudo que sei hoje em dia, foi ela quem me ensinou.
VALENTIM: Ela me parece ter bastante fidelidade à patroa. Acredito que confie nela de olhos fechados.
ANABEL: Certamente. Já tomou café?
VALENTIM: Não! Levantei nesse instante.
ANABEL: Então vamos.
Os dois andam até a sala de jantar.
Elza tenta acalmar as crianças, que estão assustadas com a escola em ruínas. Flor chega correndo.
ELZA: Ainda bem que você chegou! Eu não sei o que fazer, Flor. A escola está em ruínas e não podemos fazer nada aqui fora com todo esse barro.
Elza percebe que Flor está com uma expressão nada boa.
ELZA: O que foi? Que cara é essa?
FLOR: Eu avisei ao Coronel sobre a destruição da escola…
ELZA: E…?
FLOR: Ele se recusou a fazer alguma coisa.
ELZA: O QUÊ? POIS EU VOU AGORA MESMO FALAR COM ESSE SUJEITO.
Elza caminha na direção do casarão, irritada e determinada.
FLOR: Isso não vai prestar.
O pessoal da Pensão Maria das Graças toma café da manhã.
CÁSSIA: E como foi o jantarzinho ontem?
TOMÉ: Foi ótimo.
CÁSSIA: Pela cara do seu filho, eu não diria o mesmo.
TOMÉ: Apareceu um sujeito estranho enquanto estávamos lá. Alegou que é filho do finado Bernardino.
CÁSSIA: Um filho perdido? Esse velho era ligeiro mesmo, ein.
TOMÉ: Contenha-se, Dona Cássia.
CÁSSIA: Que mau humor!
Gustavo chega para tomar o café da manhã.
GUSTAVO: Bom dia a todos!
TOMÉ: Bom dia! O Doutor está com uma aparência cansada, não anda trabalhando demais?
GUSTAVO: É o que gosto de fazer. Já vou indo, pois marquei com um paciente logo cedo.
O doutor sai.
CÁSSIA: Esse homem está a pura decadência e tristeza.
TOMÉ: Isso é mal de amor.
CÁSSIA: Misericórdia! 17 anos já se passaram e ele ainda não superou aquela tal moça.
TOMÉ: Agora, que coisa estranha, não? Ela chegou, passou um tempo, e foi embora repentinamente. Como se estivesse fugindo de algo. Onde será que ela está agora?
Elza chega na entrada do casarão, batendo os pés. Jarbas está de guarda na porta.
JARBAS: Pois não?
ELZA: Vim falar com o CUronel.
JARBAS: Espere aqui, entre quando ele der autorização…
ELZA (Interrompendo): Autorização o escambau! Saia da frente, logo!
Ela empurra o homem e entra com tudo no local. Guilhermino está todo sereno tomando seu café da manhã e se assusta com a chegada da mulher.
GUILHERMINO: Olha só… a que devo a honra desta visita?
ELZA: Quero que o senhor esclareça a negação para reerguer a escola.
GUILHERMINO: Meu plano deu certo! Consegui atraí-la até aqui. Quero falar sobre um assunto que, talvez, seja do seu interesse.
ELZA: Além da escola? O que há?
GUILHERMINO: Um velho conhecido nosso… o nome do sujeito é Leonel.
Elza fica zonza ao ouvir o nome.
ENCERRAMENTO
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