23 de out. de 2024

Paixões & Legados - Capítulo 15 (23/10/2024)

 


Escrita por Fafá

Faixa das 18h


Elias desliga o telefone pelo qual falava com alguém.


ELIAS (Tenso): Leonel ficou uma pilha de nervos com essa situação.


JONAS (Nervoso): E como não ficaria? Roubaram um dos principais cofres da empresa! Sabe-se lá o que tinha dentro. Eu só me pergunto: “quem faria uma coisa dessas”?


ELIAS: Leonel é um homem influente e fez inimigos em seu caminho. Já tinha até antes de virar esse homem de negócios que é hoje. Agora vamos apenas torcer para que a polícia descubra o malfeitor, ou o mandante.


JONAS: Foi uma manhã muito estressante. O que acha de fazermos uma pausa para almoçar? Relaxar um pouco.


ELIAS: É uma boa ideia! Só vou terminar esta papelada.




Anabel cuida do seu jardim, cantarolando alguma música. Valentim se aproxima da moça.


VALENTIM: Bom dia!


Anabel se vira para o rapaz.


ANABEL: Bom dia! Acordou mais tarde hoje.


VALENTIM: Demorei para pegar no sono. 


Ele olha ao seu redor.


VALENTIM: Que jardim bonito! Havia esquecido de elogiá-lo antes. Vê-se de longe que é muito bem cuidado.


ANABEL: Obrigada! É o meu passatempo preferido. É um momento apenas meu e das minhas plantas. Sinto-me muito bem aqui. Sempre uso esse tempo diário para pensar e refletir.


VALENTIM: Queria muito saber o que tanto passa na sua cabeça. Pelo o que fala, passa o tempo inteiro presa aos seus pensamentos e reflexões.


Anabel solta um riso.


ANABEL: Está certo que muitas vezes eu reclamo de que estou sempre presa nesta casa, mas, ao mesmo tempo, também gosto de passar um tempo sozinha com meus pensamentos. A verdade é que, eu sairia mais de casa se não fosse pelo fato de estar sempre desacompanhada. Não é certo que uma moça como eu ande por aí sozinha.


VALENTIM: E você tem muita vontade de sair para fazer passeios e espairecer longe de casa?


ANABEL: Você nem faz ideia… Se eu pudesse, ficaria quase que o tempo inteiro andando por aí, conversando com amigos, conhecendo novas pessoas…


VALENTIM: Ora, então aproveite que estou aqui! Me concederia a honra de um passeio? 


ANABEL: Não quero tomar o seu tempo.


VALENTIM: Imagine. Estou sem nada para fazer. Afinal de contas, já estava com vontade de ir até o centro para ver algumas coisas.


ANABEL (Sorrindo): Então aceito! Saímos logo após o almoço.


VALENTIM: Ótimo!




Flor caminha pela fazenda, olhando atentamente para todos os lados. Ela vê Tião, comendo uma goiaba na sombra de uma árvore, e vai até o homem.


TIÃO: Oh Florzinha! Tá bonita hoje, hein.


FLOR: Todo dia isso, Tião? Você não se cansa, né?


TIÃO: Imagina se eu iria cansar de você.


FLOR: Você sabe para onde a Elza foi? Ela estava saindo para ir à escola e sumiu.


TIÃO: Ouvi dizer que o Jarbas a levou para comprar o vestido de noiva. Me surpreende que o Coronel esteja disposto a gastar com esse casamento.


FLOR: Já? A mão dela foi pedida ontem.


TIÃO: E o casamento já está marcado para amanhã. (Debochando) Imagine se o Coronel iria esperar por isso, logo agora que surgiu uma oportunidade dessas. Ele tem é medo de esperar e a noiva fugir.


FLOR: Você e essa sua língua… Quero ver até onde vai esse deboche.


TIÃO: Por falar em casamento, Florzinha, a senhorita já tem um par?


FLOR: Êh, Tião! Eu não preciso de ninguém para ir nesse casamento. Afinal de contas, fui convidada para madrinha.


TIÃO (Debochando): Tá bom, então. A madrinha vai chegar desacompanhada no casamento… A Dona Elza nem vai jogar o buquê, vai logo entregar nas suas mãos pra ver se desencalha logo.


O homem começa a rir e a moça se enfurece.


FLOR (Raivosa): Ora essa! Fique aí com suas piadinhas, pois eu não estou com paciência pra isso hoje!


Ela dá as costas, furiosa, e deixa Tião, que continua rindo.




Elza avalia os tecidos e modelos da loja e a costureira tira as suas medidas. 


COSTUREIRA: Então? A senhora já decidiu como quer?


ELZA (Travessa): Qual destes é o mais caro?


A mulher pega uma das amostras na mão.


COSTUREIRA: Este daqui! É um dos mais confortáveis que temos, importado da França e…


ELZA (Interrompendo): Ok! Será esse mesmo. 


COSTUREIRA: E quanto ao modelo?


Elza aponta para um na revista.


ELZA: Este aqui. Quero com bastante detalhes de pérolas e pedrinhas brilhantes.


COSTUREIRA: Muito lindo, mesmo! Mas para mim terminar isso até amanhã, vai ser preciso um trabalho pesado pelo qual….


ELZA (Interrompendo): Se o problema for dinheiro, não se preocupe! Meu futuro marido é bem rico.


COSTUREIRA (Feliz): Como quiser!




Elias e Jonas almoçam juntos num pequeno restaurante da cidade. Eles conversam enquanto comem a refeição.


ELIAS: Estávamos conversando quando aconteceu toda aquela confusão e nem terminamos o assunto. Disse que você e o seu pai estão enfrentando problemas, o que há?


JONAS: Não é nada demais, apenas problemas financeiros. Parece que alguns investimentos que ele andou fazendo deram errado. Não tivemos ainda uma longa conversa sobre isso, mas creio que não seja nada grave.


ELIAS: Me desculpe pela pergunta, mas seu pai sempre viveu de investimentos? Pelo o que você diz, ele quase nunca trabalhou e também não é um empresário.


JONAS: Sempre achei isso estranho também, mas ele me disse uma vez que recebeu uma boa oportunidade e que conseguiu dinheiro suficiente para nos sustentar por muito tempo. Basicamente, ele só tentou manter o que já tinha, mas parece que, de um tempo para cá, tudo começou a desandar.


ELIAS: Eu sinto muito que estejam passando por um momento delicado como esse, mas saiba que pode contar comigo para qualquer coisa.


Ele bota a mão sobre a do amigo.


JONAS: Muito obrigado, Elias! Não sei o que eu faria sem um amigo como você. 




Elza volta à fazenda após escolher seu vestido. Ela entra em sua pequena casa, onde Flor faz o almoço.


FLOR: Como foi lá? Nem me avisou que iria agora ver o seu vestido.


ELZA: O chato do Jarbas veio me incomodar logo cedo. Mas eu adorei, o Coronel quer tanto esse casamento, mas vai ter um bom preço por isso, e eu falo de dinheiro mesmo.


FLOR: Nem quero saber o que está aprontando. Sabe, Elza, estou em dúvida com uma coisa.


ELZA: Fale.


FLOR: O Tião fez um convite para me ter como acompanhante no casamento amanhã, mas eu estava esperando por outra pessoa… Eu gosto do Tião, acho ele muito legal, mas essa outra pessoa já está na minha volta desde que cheguei aqui. Não sei se seria justo.


ELZA: E essa outra pessoa já te convidou?


FLOR: Não…


ELZA: Pois aceite o convite do Tião. Não demore muito para dizer que sim, se não, no final, vai acabar sem acompanhante.


FLOR: Acho que tem razão. Vou logo confirmar com ele, cuida das panelas aí.


Ela sai correndo e deixa Elza sozinha.




Anabel e Valentim passeiam pela cidade enquanto entram e saem de dentro de diversas lojas, se divertindo bastante. Eles dão uma pausa para tomar sorvete na praça, Anabel tem dificuldade com diversas sacolas em mãos.


VALENTIM: Deixe as sacolas no chão, chuto que facilitaria muito para você, ninguém vai roubar.


ANABEL: Segure para mim, então.


Ela entrega o seu sorvete e, com as mãos livres, bota as sacolas no chão. Ele devolve o sorvete a ela.


VALENTIM: Onde está o meu cavalheirismo? Era eu quem deveria estar carregando as sacolas para você.


ANABEL: Não se preocupe com isso!


VALENTIM: Mesmo assim, peço desculpas, mas a senhorita que saía correndo de loja em loja. Mal tinha tempo para pensar.


ANABEL: Me empolguei. Há tanto tempo que eu não fazia compras. Tem roupas que mal servem em mim, vou aproveitar para renovar meu armário.


VALENTIM: Está gostando do passeio?


ANABEL: Estou adorando! Depois, vamos passar num lugar, quero te apresentar a algumas pessoas.


VALENTIM: Tudo bem!




Na pensão, Cássia, Tomé, Gustavo e Lino jogam pife. A velha olha para suas cartas e solta um sorriso.


CÁSSIA (Sorrindo): Bati de novo!


Ela joga as cartas na mesa e todos ficam incrédulos.


GUSTAVO: Tá estranho isso, Dona Cássia, só a senhora que bate.


TOMÉ: Essa velha safada tá bem é roubando.


CÁSSIA: Mais respeito comigo, por favor! E não estou roubando coisissíma nenhuma! Vocês é que são burros e azarados.


Enquanto eles discutem, Lino está perdido em seus pensamentos, sem nem perceber a briga. Ele é acordado por Gustavo, que o chama.


GUSTAVO: Lino! Acorda pra vida! Sua vez de embaralhar as cartas.


LINO: Ah! Claro!


Cássia e Tomé continuam discutindo enquanto o rapaz embaralha as cartas. Todos são surpreendidos por Anabel, que entra no local juntamente de Valentim.


ANABEL: Boa tarde, pessoal! Como vão?


TOMÉ: Oh, minha querida! Se aproxime! Sentem-se para jogar conosco.


Lino olha para os dois e sente uma pontada de ciúmes ao ver Valentim do lado dela. Anabel e Valentim sentam lado a lado e Lino continua a observá-los. Ele fica um pouco mais feliz quando Anabel solta um sorriso tímido ao vê-lo.


LINO (Sorrindo): Fico feliz que tenha vindo nos visitar!


ANABEL (Sorrindo): Foi o que eu prometi. Quero que conheçam o Valentim, ele é meu irmão, filho do meu pai.


CÁSSIA: Que rapaz bonito! Prazer em conhecê-lo, docinho!


ANABEL: Essa é Dona Cássia, moradora daqui da pensão. Aquele é o Seu Tomé, meu padrinho. Esse é o Doutor Gustavo, médico, também mora aqui na pensão e foi ele quem descobriu e acompanhou toda a gravidez da minha mãe, quando ela me esperava. E o Lino que é…


Ela fica pensando no que falar por um momento.


ANABEL: É um grande amigo meu. Meu melhor amigo, eu diria.


VALENTIM: Prazer em conhecê-los, todos!


TOMÉ: Agora vamos jogar. Sem roubar dessa vez, Dona Cássia!


CÁSSIA: Eu não roubo! O senhor que não se conforma em jogar tão mal.


Começa uma longa discussão entre eles de novo. Enquanto isso, Anabel e Lino trocam olhares e Valentim apenas observa.




O céu começa a escurecer. Elias chega em casa após mais um longo dia de trabalho, onde é abordado por Débora e Gláucia.


DÉBORA: Elias! Que história é essa de que roubaram o cofre da empresa?


GLÁUCIA (Preocupada): Está tudo bem, meu querido? Soube que houve uma explosão lá.


ELIAS: Meu Deus, como as fofocas se espalham rápido! Está tudo bem comigo, mãe, não houve feridos. Aconteceu mesmo, foi de repente. Agora só resta esperar pelas investigações da polícia.


DÉBORA: E o Leonel? O que ele disse?


ELIAS: Ficou uma pilha de nervos, mas acho que ele continua em São Paulo por enquanto.


DÉBORA: Acho que esse atentado foi muita falta de cuidado sua, Elias. Não é possível que um dos maiores nomes da empresa não saiba de nada do que aconteceu.


ELIAS: O que quer insinuar?


DÉBORA: Quero dizer que acho que tem dedo seu nessa história.


GLÁUCIA: Débora, acalme-se! Não faz sentido começar com essas acusações cruas.


DÉBORA: Você deve ter cansado de ser apenas um simples capacho e decidiu roubar sabe-se lá o que tinha dentro desse cofre. E vai usar isso para alguma coisa que o favorece.


ELIAS: Você está completamente louca, Débora! Eu não vou ficar aqui ouvindo suas acusações sem pé e nem cabeça.


Ele sobe as escadas e Gláucia a olha com reprovação.




Jonas chega em casa. Seu pai, novamente, está mexendo em papéis.


JONAS: Boa noite, pai! Como o senhor está?


CRISTINO: Boa noite, meu filho! Estou bem, acho que encontrei uma solução para os nossos problemas.


JONAS: Olha, pai, sei que está preocupado com nossa situação, mas não acha que está exagerando? Eu tenho um bom emprego com um ótimo salário, não vejo o porquê de tanta preocupação com nosso dinheiro.


CRISTINO: O problema é que… estamos endividados.


JONAS: Dívida? O senhor não havia falado sobre isso. Pai, de quanto é essa dívida? E de onde veio?


CRISTINO: Vou te contar depois que tudo estiver resolvido. Não quero que se intrometa nesse assunto agora.


JONAS (Alterado): Como não vou me intrometer? Isso também diz respeito a mim! Eu quero saber o que o senhor tanto esconde. Nunca me conta nada, está sempre fazendo tudo por baixo dos panos…


CRISTINO (Bravo): Basta! Se eu faço isso, é para o seu bem! Se eu faço o que eu faço, é para te proteger.


JONAS (Raivoso): Me proteger do quê?


CRISTINO: Chega desse assunto, não é hora de discussão. Vou para o meu quarto.


Cristino se retira, deixando o filho sozinho.




Valentim e Anabel estão sentados à mesa, jantando.


ANABEL: O que achou do nosso passeio?


VALENTIM: Foi divertido, apesar de eu ter que carregar todas aquelas sacolas.


ANABEL: Eu disse que não precisava se incomodar!


Os dois riem.


ANABEL: E sobre o pessoal da pensão?


VALENTIM: Todos muito simpáticos e gentis. Percebi que você é muito próxima deles, principalmente daquele rapaz, o…


ANABEL (Respondendo): Lino!


VALENTIM: Isso, Lino! Você tem algo com ele?


Ela se engasga com a comida.


ANABEL (Incomodada): Ora, claro que não!


VALENTIM (Rindo): Pela sua reação, eu diria que tem.


ANABEL: Vamos parar com esse assunto, por favor!


VALENTIM: Está bem!




Um novo dia amanhece. Chega a data do casamento de Guilhermino e Elza. A área na frente do casarão está toda enfeitada e preparada para o evento. A noiva se arruma dentro da sua pequena casa.


ELZA: Parabéns, mulher! O vestido ficou divino.


COSTUREIRA (Sorrindo): Eu sei, eu sei! Por isso merece um bom pagamento.


ELZA: Eu já lhe disse que tudo será pago. Me dê o cheque.


A costureira lhe entrega o pedaço de papel para Elza, que começa a rir.


ELZA (Rindo): Um ótimo valor, mesmo!


Ela olha para a porta, onde Jarbas a espera.


ELZA: Jarbas, querido! Leve a estilista até o seu patrão, a fim de pagá-la. 


A mulher sai ao lado do capataz.


FLOR: Ficou muito caro?


ELZA (Sorrindo maliciosamente): O bastante para causar um ataque no Coronel.



Elias e Jonas estão trabalhando no escritório. O telefone começa a tocar.


ELIAS (Atende): Pois não? … Vou passar para ele.


Ele entrega o telefone a Jonas.


JONAS (Atende): Pois não? … Como? … Onde isso? … Está bem, estou indo para aí.


Ele desliga e veste seu paletó.


ELIAS: O que houve? 


JONAS (Preocupado): Algo com o meu pai. Preciso ir! Você consegue cuidar de tudo sem mim?


ELIAS: Claro! Vai lá!


Jonas sai apressado.



O rapaz chega até o hospital. Ele fala com uma enfermeira e chega até uma maca, onde seu pai está deitado, cheio de ferimentos.


JONAS: Pai? O que aconteceu?


CRISTINO (Fraco): Eu sofri um atentado. Isso tem a ver com o nosso dinheiro, foi assim que eu nos sustentei por todos esses anos.


JONAS: Do que você está falando? Eu não estou entendendo.


CRISTINO: Está na hora de você saber a verdade, meu filho. Eu fiz coisas muito erradas nessa vida, mas saiba que foi por você.


JONAS: Pai! Não fale mais nada, a gente conversa quando o senhor melhorar.


CRISTINO: Não dá! Tudo começou quando eu cometi um erro enorme, um crime…


JONAS (Incrédulo): Um crime?


CRISTINO (Sofrendo): Eu aceitei ser pago para matar um homem… eu matei… eu que sou o responsável pela morte do Bernardino Ferreira e a sua esposa.


ENCERRAMENTO

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