Alto Agito | Capítulo 15
“Esta é uma obra de ficção coletiva baseada na livre criação artística e sem compromisso com a realidade".
Continuação do Capítulo Anterior…
CENA 01. COLÉGIO MELHOR ESCOLHA. SALA DE AULA. INT. DIA.
Todos ainda atônitos com a súbita presença de Lucas na sala. Em Lorenzo e Mathew, ambos esforçando-se para não chorar, e Thalita, visivelmente abalada.
VERÔNICA 一 O Lucas já era um aluno daqui, mas precisou se ausentar por alguns motivos pessoais já explicados a mim. Lucas, seja muito bem-vindo novamente.
LUCAS — Obrigado, Verônica, por ter me dado mais uma chance nesse colégio, que está cheio de lembranças, e de pessoas que eu amo.
Lucas olha para Lorenzo e logo depois para Mathew. Por fim, pousa seus olhos sobre Thalita. Ela, desconfortável, se faz indiferente.
Ariadne levanta a mão, contente.
ARIADNE 一 Lucas, vem cá, senta no meu lugar.
LUCAS 一 Obrigado, Ari.
Em Lucas, sentado atrás de Thalita, do lado de Lorenzo e Mathew, a frente de Ari.
VERÔNICA — Devidamente apresentados, boa aula a todos!
Verônica sai.
SONOPLASTIA: With Or Without You — U2.
Lucas retira da mochila o caderno. Ele passa a copiar o assunto do quadro. CAM foca em Mathew, observando o garoto com espanto, como se estivesse frente a um fantasma.
Seu POV em Lucas. O sol da janela ilumina sua pele e cabelo, atribuindo-lhe um brilho quase divino. Distraído, Lucas morde o bocal da caneta e massageia de leve seu pescoço.
Subitamente seu olhar flagra o olhar de Mathew e Lucas sorri em direção ao garoto, como se eles tivessem acabado de se conhecer, como alguém sorri para outra pessoa que passa por sua história pela primeira vez; sereno e despreocupado.
VOLTA em Mathew, hipnotizado por Lucas.
O foco volta para o garoto, que volta a olhar para o quadro. Lucas se recosta melhor na cadeira, revelando a imagem de Lorenzo, logo ao lado, também o encarando. Esse, mais sério, mais nervoso e inquieto.
Se passam alguns minutos dessa fixação indiscreta e pouco percebida; Lorenzo o encara pelos minutos restantes da aula, como se estivesse tentando resolver um problema, achar o X questão.
Lucas enfim olha na direção do garoto e se inclina um pouco, cochichando.
LUCAS — Você anotou tudo desde o começo? Pode me emprestar o seu caderno?
CLOSE UP no rosto de Lorenzo. Ele não tem reação. Ele não fala nada. Seus olhos dizem alguma coisa confusa e magoada. CLOSE UP no rosto de Lucas. Ele sorri e espera por uma resposta. Seus olhos dizem muitas coisas incompreendidas e misteriosas.
O sinal toca e os alunos começam a sair da sala.
CORTA PARA:
CENA 02. COLÉGIO MELHOR ESCOLHA. BANHEIRO FEMININO. DIA.
Thalita se encontra em frente ao espelho. Ela encara o seu reflexo, respirando pesadamente. Seus olhos estão vermelhos.
THALITA — Que droga! Por que aquele garoto tinha que aparecer agora que tava dando tudo certo!
Nesse momento, Ariadne entra no banheiro e sorri, maquiavélica, ao ver Thalita. Ela caminha até a pia, parando ao lado da ex-amiga.
ARIADNE — Enfim, acho que agora tudo está voltando ao normal, não é verdade?
Thalita demora a entender o sarcasmo de Ariadne.
THALITA — Como assim? Do que é que cê tá falando?
Ariadne liga a torneira e começa a lavar as mãos.
ARIADNE — Ué, você insegura, o Lucas causando tensão entre os garotos…
THALITA (entredentes) — Eu não estou insegura.
ARIADNE — Sério? Amiga, você já se olhou no espelho. Seu reflexo não está mentindo pra você. Aula de didática, repita comigo: Espelho, espelho meu. Existe alguém que o Lorenzo ama mais do que eu? Tempo. Quer verbalizar a resposta?
THALITA — Você é muito recalcada, garota. Se você acha que o Lorenzo vai me deixar para ficar com aquele garoto, você/
ARIADNE — Eu não acho. Eu tenho certeza. Você não tem porque perdeu a dignidade. Aceitou ser step na ausência dele, fez de tudo e mais um pouco para ficar com os restos que o Lorenzo te dá.
THALITA — Cala a boca! Ou eu sou capaz de te dar uma surra agora mesmo!
ARIADNE — Ah, mas tô doida pra que você faça isso. Faz. Bate agora, mas pensa bem antes.
THALITA — Nem você e nem Lucas. Nenhum de vocês é páreo pra mim. Acabei com ele uma vez e vou acabar de novo.
ARIADNE — Você acha que venceu, mas você sabe que só conseguiu ficar com o Lorenzo porque o Lucas foi embora com as próprias pernas. Ele deu a vitória pra você de mão beijada. Na hora que ele quiser o Lorenzo de volta é só assoviar que o cachorrinho volta correndo e a cadela aqui vai ficar no cio, abandonada, se rastejando, virando lata na rua em busca de lixo, que é o que você merece!
Thalita dá um tapa na cara de Ariadne.
THALITA — Olha pra mim! Eu sou linda, rica. Eu sou o sonho de qualquer garoto dessa escola. Eu posso segurar quem eu quiser na hora que eu quiser e não preciso que ninguém me dê nenhum vitório. Eu faço por merecer cada coisa que eu tenho. O Lorenzo é meu, conquista minha.
Ariadne agarra o cabelo de Thalita, o puxando. Thalita grita.
THALITA — Me solta! Solta o meu cabelo!
ARIADNE — Quer saber quem você é de verdade?
THALITA — ME SOLTA, SUA LOUCA!
ARIADNE — Se olha no espelho!
Ariadne obriga Thalita a encarar o próprio reflexo.
ARIADNE — Você já foi alguém um dia. Agora é só uma garota fútil e sem amor próprio, que se humilha por um machinho mais ou menos que nem te quer de verdade. Você é podre! Eu fico muito feliz de não ser mais a sua amiga.
THALITA (raiva/chora) — Ah! Sai!
Thalita tenta se desvencilhar de Ariadne e leva mais um solavanco dela.
THALITA — Você está me machucando!
ARIADNE — Fica quieta! Você vai escutar tudo o que eu tenho pra dizer! Eu fico feliz, você sabe por quê? Porque agora eu sei que uma pessoa que sequer se prioriza não tem capacidade e nem decência de priorizar qualquer outra pessoa. Você nem sequer deve gostar mesmo do Lorenzo. Ele é só uma conquista, um prêmio, como você mesma disse. Você é só mimada e egoísta, e quer um spoiler da sua vida?
Ofegante, Ariadne larga Thalita.
ARIADNE — Se continuar assim vai acabar sozinha. Sem amigas, sem namorado e o pior de tudo…
Ariadne olha para Thalita. Ela sente pena e compaixão pela amiga.
ARIADNE — Sem você mesma. Mas, ó.
Ariadne mostra as mãos para Thalita.
ARIADNE — Eu lavo as minhas mãos.
Ariadne caminha para fora do banheiro. Thalita espera ficar sozinha no local para desabar. Ela chora de forma copiosa.
Thalita vira-se novamente para o espelho e encara o seu reflexo. Ela tenta recompor, passando a mão pelas mechas do cabelo. Pausa para se encarar.
CORTA PARA:
CENA 03. INT. COLÉGIO MELHOR ESCOLHA. CORREDORES. DIA.
Os corredores cheios de adolescentes, Lucas andando no meio deles, segurando seus livros rente ao peito.
Vemos Lorenzo encostado numa parede, de braços cruzados, bem ao lado da porta do banheiro.Ele espera que Lucas passe por ele.
LORENZO 一 Eu realmente não conheço você.
Lucas para de andar e vira-se para encarar o garoto, sem reação.
LUCAS — Desculpe?
Lorenzo descruza os braços e sorri, cínico.
LORENZO 一 Um ano. Depois de um ano que você some sem nenhum motivo, você volta fingindo que nada aconteceu, como se você fosse/
LUCAS — Outra pessoa?
LORENZO — Eu não sei. Você tem alguma coisa pra me dizer?
LUCAS — Não.
LORENZO — Então você fugiu por que quis mesmo?
LUCAS — Olha, deu pra perceber que você conseguiu viver muito bem sem mim aqui. Se você quisesse mesmo saber de mim, você tinha me procurado. Não passou nada pela sua cabeça que não fosse julgamento, não é? Você preferiu voltar pra sua vida, pra sua namorada, e tá tudo certo. Só que eu não devo satisfações da minha vida nem pra você, nem pra ninguém.
LORENZO (magoado) — Nós tínhamos uma história.
LUCAS — Eu não sei até onde isso é verdade. Você e a Thalita têm uma história. Eu tive uma nota de rodapé na sua vida. Eu não voltei pra incomodar ninguém. Eu quero terminar os meus estudos, arranjar um emprego, talvez um novo relacionamento.
LORENZO — Então, é isso? Acabou. Cada um segue sua vida como se elas nunca tivessem se cruzado?
LUCAS — Bom, eu vou começar a minha. Já você…
Lucas olha para o lado. Revela Thalita, que acaba de chegar. Ela está há alguns metros de distância dos dois, observando-os com grande angústia, entre o passar constante dos outros alunos.
SONOPLASTIA: when we are friends — Alana Springsteen.
Volta em Lucas, que olha para Lorenzo.
LUCAS — Você fez isso muito bem.
Lucas e Lorenzo se entreolham por um momento, depois Lucas segue seu caminho. Lorenzo faz como quem quer ir atrás dele, mas se detém.
Nesse momento, a porta do banheiro se abre. Sai Mathew, que imediatamente percebe a presença de Lorenzo. Ele segue a direção do olhar do garoto e flagra Lucas não muito distante. Deduz que eles tiveram uma conversa. Encara Lorenzo.
MATHEW — Você não perdeu tempo mesmo, não é?
Mathew se vai. Lorenzo respira fundo e olha na direção de Thalita, que permanece no mesmo lugar, olhando decepcionada para o namorado. Culpado, ele se desarma sob o semblante triste de Thalita.
LORENZO — Thalita.
Em negação, ela revira os olhos e lhe dá as costas, caminhando para longe. Lorenzo esfrega o rosto, inquieto e desolado.
CORTA PARA:
CENA 04. INT. MELHOR ESCOLHA. CANTINA. DIA.
Ariadne acaba de sentar junto de Lucas. Ela lhe entrega uma latinha de refrigerante, fazendo-o despertar de seus pensamentos.
ARIADNE — Pensando na morte da bezerra? Ou melhor, no seu renascimento?
Lucas sorri para Ariadne. Ele rompe o lacre da latinha.
LUCAS — Valeu. É estranha essa sensação de parecer que o tempo nem passou.
ARIADNE — Mas passou. Muita coisa mudou, muitas pessoas mudaram. Você parece ter sido a que mudou mais.
LUCAS — Eu não sei. Você e Thalita…
ARIADNE — Não existe mais eu e Thalita. Só existe eu agora. Onde é que você esteve esse tempo todo, heim?
Ariadne encara Lucas. Ele mantém e sorri para ela.
LUCAS — Em alguns lugares, mas tive os meus motivos e não é para falar do passado que eu voltei.
ARIADNE — Você tem razão. A gente tem que olhar é pra frente! Isso é tão empolgante. As coisas aqui estavam tão monótonas. Adorei a sua jaqueta!
LUCAS — Obrigado!
ARIADNE — Qualquer passa lá no shopping, na loja onde eu trabalho. Tem muita coisa que combina com esse seu estilo meio, não sei, essa coisa misteriosa. E me procura, hein? Tenho que bater a minha meta. Depois que fui expulsa de casa, a vida de pagar minhas próprias contas não tem sido fácil.
LUCAS — Expulsa? Que loucura foi essa?
ARIADNE — Longa história do passado. Mas, não é pra falar do passado que você voltou.
Os dois riem.
LUCAS — Qual a boa pra hoje?
ARIADNE — Uma baladinha. Todo mundo vai. Anima?
LUCAS — Claro!
ARIADNE — Mas todo mundo vai MESMO. Inclusive…
LUCAS — Que todo mundo vá! É bom para que todos saibam que eu não devo nada a ninguém. Eu quero é viver minha vida!
ARIADNE — É assim que se fala!
Ariadne bate palminhas, animada. Lucas sorri, despreocupado.
CORTA PARA:
CENA 05. INT. BALADA. NOITE.
A câmera desliza entre os corpos suados e os flashes das luzes de LED. Toca Bluest Fame nas caixas de som. CAM aproxima de Lucas e Ariadne, dançando juntos.
Lucas segura a mão de Ariadne acima da cabeça dela, rodando-a em um movimento leve. Os dois gargalham e voltam a sentir a música de olhos fechados.
CORTE RÁPIDO:
A câmera se move para o bar, afastado do caos da pista. Está Lorenzo, que tira os olhos de Lucas dançando. Ele apoia os cotovelos no balcão, olhando para o copo meio cheio de alguma bebida. Absorto em seus pensamentos.
Thalia surge. Ela se encosta casualmente no balcão, ao lado de Lorenzo.
THALITA — E aí? No que é que cê tá pensando? Parece meio distante desde que chegamos.
LORENZO — Eu só estava pensando… Agora que o Lucas voltou... Eu queria que você soubesse que hoje mais cedo não significou nada.
THALITA — O que teve hoje mais cedo?
Thalita sorri, fingindo que nada aconteceu. Lorenzo balança a cabeça. Thalita agarra a sua mão, empolgada.
THALITA — Vem! Tô louca pra dançar!
Sem dar espaço para resposta, ela o puxa para longe do balcão.
CORTA PARA:
CENA 06. INT. BALADA. CORREDOR. NOITE.
Algumas pessoas agarrando-se nos corredores. Fumaça de cigarros e vapes por toda a parte.
Lucas passa por elas em direção ao banheiro e acaba flagrando Mathew aos beijos com um outro garoto.
Ele entra no banheiro sem dar muita atenção. Mathew, ao notar sua presença, se afasta do seu ficante.
MATHEW — Eu já volto.
CENA 07. INT. BALADA. BANHEIRO. NOITE.
Lucas lava as mãos. Mathew acaba de entrar no lugar. Ao notá-lo, Lucas sorri. Mathew, por sua vez, se encosta na parede e tira do bolso um cigarro eletrônico. Dá uma vaporada despretensiosa.
LUCAS — Agora você fuma, é?
MATHEW — Só socialmente.
LUCAS — Que lugar legal esse.
Lucas seca as mãos na roupa e se aproxima de Mathew.
LUCAS — Posso experimentar?
Mathew, sem tirar os olhos de Lucas, lhe entrega o cigarro. Lucas dá uma baforada discreta, avaliando o lugar.
LUCAS — Há um ano atrás a gente não podia fazer essas coisas.
MATHEW (sério) — Qual que é a tua?
LUCAS — Não entendi.
MATHEW — Essa coisa que você está fazendo, de fingir que não sumiu por um ano, de agir como se/
LUCAS — Fosse outra pessoa?
MATHEW — Não, como se não fosse outra pessoa.
Mathew toma de volta o seu vape.
LUCAS — Só tô tentando seguir com a minha vida.
MATHEW — Que bom.
LUCAS — Eu vi você no corredor. Veio até aqui só pra perguntar porque eu sumi?
MATHEW (sorri) — Eu vim fumar. Só isso. Você age como se fosse uma pessoa importante na minha vida.
LUCAS — Por favor, você é louco pra ficar comigo.
MATHEW (sorri) — Ah, é mesmo?
LUCAS — É mais forte até do que o seu julgamento sobre mim.
MATHEW — Acho que o Lorenzo não vai gostar do rumo dessa conversa.
LUCAS — O Lorenzo tem namorada. Ele não tem que achar nada.
MATHEW — E por que você acha que eu tô disponível?
LUCAS — Porque se não tivesse, você não deixaria eu chegar perto de você como estou agora.
Lucas encurra Mathew contra a parede e seus rostos ficam próximos. Mathew olha para o lado, afetado.
LUCAS — Nem deixaria que eu sentisse seu cheiro, ou…
Som de zíper se abrindo. Mathew olha para Lucas, nervoso.
LUCAS — Me deixaria abrir o seu zíper, como estou fazendo agora. Enfiar a mão por dentro da sua cueca? Não, você não deixaria eu fazer iso.
Mathew engole. Ele arfa.
LUCAS (sorri) — Ou reagiria tão imediatamente ao meu toque.
A mão de Lucas se movimenta por dentro da calça de Mathew, que começa a respirar mais pesadamente na medida em que Lucas acelera. Ele mantém os olhos firmes nos olhos de Lucas, ainda que se contorcendo de prazer.
MATHEW — Lucas…
LUCAS — Chamaria meu nome assim?
MATHEW — Eu acho que vou…
LUCAS — Assim…
Lucas morde a orelha de Mathew, dando vazão para que finalmente ele exploda e verbalize um pouco mais alto suspiros orfegosos de gozo.
Lucas para, notando o rosto vermelho de Mathew. Ele tira a mão de dentro da calça.
LUCAS — Acho que você já teve a sua resposta.
Lucas vai embora. Em Mathew, ainda muito abalado. Som da porta se abrindo e fechando.
CORTA PARA:
CENA 08. INT. BALADA. NOITE
Thalita segue andando com dois copos de bebidas na mão. Tentando passar pelas pessoas ela acaba esbarrando em alguém, derrubando toda a bebida no chão.
THALITA — Não olha por onde anda não?
Thalita levanta o rosto. Nota que tombou em Lucas.
THALITA — Tinha que ser você, né?
LUCAS — Foi sem querer. Eu posso pegar outras se você quiser.
THALITA — Sabe o que você pode fazer também? Ir embora! Que tal?
LUCAS — Isso já não vai ser possível.
THALITA —Ninguém quer você aqui.
LUCAS — Eu duvido muito. Já falei com todo mundo. Além de você, ninguém mandou ir embora. Tem dúvida? Pergunta pro seu namorado.
THALITA (brava) — Você deve estar se achando, mas é bom você não se acostumar. Eu te mandei embora uma vez e vou mandar de novo. Dessa vez vai ser pra sempre.
LUCAS — Eu soube que você mexeu pauzinhos para o Caco sair da cadeia. Você não tem ideia do que fez.
THALITA — Aquele lá deve ser da sua laia. Bom, mas eu também não quis saber. Tá na cara que você fugiu com ele e só voltou porque cansou, porque você é assim: usa, abusa e depois finge que nada aconteceu.
LUCAS — Quem gosta de brincar de boneca é você, mas já passou da hora de alguém te dizer que você não tem mais idade pra isso. Eu tô de volta e vou ficar. Lide com isso.
THALITA — Eu tô te avisando! Não se mete comigo de novo. Eu sei muito bem que você está escondendo alguma coisa. Vou descobrir o que é.
LUCAS — Você não me assusta. Se depender de mim, seu namoro está a salvo. Eu não tenho nenhum interesse em retornar velhos hábitos. Agora, eu sou livre e desimpedido.
THALITA — O que é que cê quer dizer com isso?
LUCAS — Que até então você tem que me agradecer por ter mandando a real para o seu namorado, mas se mesmo assim ele ainda preferir ficar me rondando…
Lucas sorri e morde os lábios, sacana. Thalita prende a respiração, furiosa. Lucas dá de ombros e vai embora.
Ela fica e num acesso de raiva começa a gritar, rasgando a garganta de ódio.
CORTA PARA:
CENA 09. INT. PISTA DA BALADA. NOITE
SONOPLASTIA: Poker Face — Lady Gaga.
Ariadne continua dançando, entregue ao ritmo da vez. Um grupo de homens se aproxima, rindo alto, um deles, MARLON (22), se aproxima de forma invasiva.
MARLON — E aí, brotinho... reconheci você daquele vídeo.
Aridne respira fundo e se afasta, tentando disfarçar
ARIADNE — Você deve estar me confundindo.
Marlon insiste e se aproxima ainda mais.
MARLON — Não, não... impossível esquecer esse rostinho do vídeo.
Ele ri alto. Alguns olhares curiosos começam a se virar pra eles. Ariadne fecha o rosto, os olhos queimando de vergonha e raiva. Marlon agarra seu braço.
ARIADNE (assustada) — O que é que é isso?
MARLON — Quer gravar outro? Dessa vez eu participo.
Em Ariadne. Ela se desvencilha de Marlon e lhe desfere um gancho de direita no nariz. Ele cambaleia pra trás, as mãos no rosto.
MARLON — Puta, desgraçada! Ai, tá sangrando!
Ele avança para cima dela, mas DÚLIO (19 um jovem forte se mete no meio. Ele segura Marlon pelo ombro e o empurra com força. Ele tropeça e cai sobre uma mesa, derrubando copos e garrafas. O som do vidro quebrando atrai mais olhares.
DÚLIO — Não encosta nela!
Marlon se levanta e corre na direção de Dúlio, que se desvencilha. Um outro homem é acertado por Marlon. Revoltado, o homem empurra Marlon e lhe dá um soco.
Não demora e os amigos de Marlon chegam de reforço, e a situação explode em um pandemônio. Muita gente é envolvida na briga. Socos, empurrões e quebra-quebra tomam conta do lugar.
A câmera gira rapidamente entre corpos em movimento. Seguranças começam a correr para apartar a briga. Luzes se acendem na boate e o alarme soa alto.
CORTA PARA:
CENA 10. INT. CASA DE LUCAS. NOITE
A música continua. Lucas acaba de entrar na casa, assobiando. Ele põe as chaves no descanso ao lado e vai caminhando enquanto tira a jaqueta.
CAM o acompanha passar pela SALA, onde deixa a jaqueta na cabeceira do sofá.
Ele dirige até a COZINHA, ainda assobiando. Dá um giro e faz uma dancinha. Coloca 30s de tempo no microondas e caminha até a lavanderia. Abre a porta, liga a luz do minúsculo lugar e o observa.
Respira fundo e afasta com o pé o tapete que esconde uma passagem fechada para um porão.
CENA 11. INT. CASA DE LUCAS. PORÃO. NOITE.
Lugar úmido e sombrio, iluminado apenas por uma lâmpada fraca pendurada no teto.
O som dos passos de Lucas ecoa na escada de madeira enquanto ele desce, carregando uma bandeja com um prato de comida simples e um copo d'água.
CAM em Caco, que está sentado no chão, encostado na parede de tijolos brutos. Correntes presas ao tornozelo e nos pulsos o impedem de chegar perto da escada.
Caco ergue o olhar, irado.
Lucas para a alguns metros. Empurra a bandeja com o pé até o limite que as correntes de Caco permitem.
CACO (rosnando) — Me tira daqui.
LUCAS — Come.
CACO
Você acha que vai poder me manter aqui pra sempre? Eu vou sair daqui e você sabe o que vai acontecer!
Caco puxa as correntes, desesperado. Lucas boceja. Caco se irrita.
CACO — EU MANDEI VOCÊ ME SOLTAR!!!
Caco tenta avançar para cima de Lucas, feito um animal, mas a corrente prende seu movimento brutalmente, jogando-o no chão.
O impacto é seco. Caco geme de dor e angústia. Lucas dá um passo atrás, sem tirar os olhos dele.
LUCAS — Você não vai a lugar algum. Daqui só para o inferno. Se a polícia não conseguiu te segurar na prisão, eu vou conseguir te segurar aqui.
CACO (cuspindo no chão) — Você está sendo um garoto muito rebelde. O papai vai precisar te dar uma lição quando sair daqui.
LUCAS — Você nunca vai sair daqui. Olhe em volta, nem força pra levantar você tem. Você não acha confortável aqui embaixo? Tem uma acústica ótima. Se você for bonzinho, eu te trago uns livros pra ler. Autoajuda. Gosta?
CACO — Vai se ferrar, seu filho da puta! Você me enganou! Aceitou ir embora comigo para me apunhalar pelas costas, pra me prender! Mas eu vou sair daqui, e depois eu vou fazer o que eu quiser com você, seu franguinho de merda!
LUCAS — Que gracinha. Acabou de ficar sem café da manhã. Hoje você vai dormir com as luzes apagadas para pensar no que você fez.
Lucas começa a subir as escadas, enquanto Caco começa a espernear, batendo as mãos no chão.
CACO — Me tira daqui… Me tira daqui. Lucas.
LUCAS (cantarola) — Bons sonhos.
CACO (grita) — LUCAS, ME TIRA DAQUI! ME TIRA DAQUI!
A luz é apagada. Logo a porta do porão é fechada num estrondo. Silêncio no lugar.
FIM DO CAPÍTULO | EVERTON B DUTRA
OBRA REGISTRADA E PROTEGIDA PELA LEI N° 9.610, DE 19 DE FEVEREIRO, DE 19
98. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

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