“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 19
CENA 01: PEDRA DO FORTE - MORRO DAS GAIVOTAS - TARDE
Uma tarde melancólica. O sol começa a cair no horizonte, tingindo o céu com tons de dourado e laranja. O Morro das Gaivotas é uma elevação rochosa à beira-mar. Ondas se chocam com fúria contra as falésias. Gaivotas planam sobre o mar, cortando o vento com seus gritos agudos. Um lugar belo e brutal. Silencioso e cruel.
Felipe está dentro do carro, parado à beira do penhasco, olhando o horizonte. Tenso. Atento.
Ao longe, um carro se aproxima. Ele se endireita.
O veículo estaciona. Gisela desce, usando óculos escuros e um casaco de grife. Seus cabelos esvoaçam. Ela olha na direção dele, hesitante.
Felipe sai do carro e caminha com passos firmes em direção a ela. Gisela o reconhece e para, surpresa.
GISELA: Felipe...
FELIPE: Quanto tempo, né?
Ela tira os óculos. Seu rosto ainda tem marcas da briga com Jaqueline. Olhos arregalados. Vulnerável e cínica ao mesmo tempo.
Felipe tira o celular dela do bolso do casaco e estende.
FELIPE: A Jaqueline mandou te devolver.
Gisela pega o celular. Encarando-o. Depois guarda na bolsa.
GISELA: Por que não disse seu nome ao telefone?
FELIPE: Por que você incendiou a casa da minha irmã? Tentou matar minha sobrinha? Qual é o seu problema, Gisela? Você perdeu completamente a noção?
(aproxima-se dela)
FELIPE (cont.): Se chegar perto da minha família de novo... eu acabo com você.
Gisela sorri. Um sorriso lascivo, carregado de loucura.
GISELA: Tudo que eu queria agora era que você acabasse comigo, Felipe.
(Ela se encosta no capô do carro, provocante)
GISELA (cont.): Vem. Me destrói. Me devora como fazia antes. Vamos reviver o que a gente foi... o que a gente tinha. Eu sou sua. Sempre fui.
Ela o agarra, fora de si. Delírio e desejo misturados.
GISELA: Acaba comigo. Me mata. Do seu jeito. Como só você sabe fazer...
FELIPE: Me solta.
GISELA: Me mata, Felipe!
FELIPE: Me larga, Gisela!
GISELA: ACABA COMIGO!
Felipe a empurra com força. Ela tropeça, mas se equilibra. Ele, fora de si, lhe dá um tapa.
FELIPE: Você ainda acha que tem alguma chance entre a gente? Eu me arrependo amargamente de ter amado uma mulher como você. Uma serpente. Uma doente. Fica longe de mim. E da minha família. Ou eu te destruo!
Ele vira as costas e começa a ir embora.
GISELA: FELIPE, NÃO VAI! NÃO ME DEIXA DE NOVO! FICA COMIGO!
Ela se joga aos pés dele, desesperada, agarrando suas pernas.
GISELA: Fica comigo! Pelo que a gente viveu! Pela memória do nosso filho!
Felipe congela. Vira-se lentamente. Chocado.
FELIPE: Que filho?
GISELA: Quando a gente se separou, eu táva grávida. Nosso filho nasceu morto...
(Ela o encara, de joelhos)
GISELA: Mas pela memória do nosso filho... fica comigo, Felipe. Eu faço qualquer coisa. Dou outra casa pra sua irmã. Divido a herança com a Jaqueline... mas fica comigo!
FELIPE: Pela memória desse filho... eu te digo quando a gente vai ficar junto:
(pausa, olhos nos olhos)
FELIPE: Nunca.
Ele se afasta, entra no carro e parte. Gisela permanece ali, sozinha, ajoelhada na terra.
Ela crava as unhas no chão, o rosto contorcido.
GISELA: MALDIÇÃO!
(sussurrando)
GISELA: Ele não podia ter feito isso comigo... é tudo culpa dele... culpa daquele velho maldito...
Ela tenta se recompor, mas desmorona.
GISELA: Isso não vai ficar assim... se ele não quer ser feliz comigo... ele não vai ser feliz com mais ninguém!
(se erguendo aos poucos)
GISELA: Eu vou tirar tudo dele. Um por um. Eu vou acabar com cada membro da família Passarelli... EU VOU ACABAR COM TODOS!
Ela grita, histérica, depois começa a rir. Uma gargalhada insana que ecoa pelos penhascos.
O sol se põe lentamente atrás do mar revolto. Gaivotas cruzam o céu. A imagem é linda e devastadora. Gisela chora sozinha, com a cabeça encostada no chão, desfeita.
CENA 02: MANSÃO DOS PASSARELLI – SALA DE ESTAR – NOITE
A casa está mergulhada em penumbra. Um silêncio denso paira no ar. O som das chaves girando na porta ecoa pela sala. A porta se abre.
Felipe entra. Está tenso, ofegante. Fecha a porta atrás de si e caminha lentamente. Jaqueline, à espreita, surge do corredor. Seus olhos estão famintos por respostas.
JAQUELINE: (indo até ele, ansiosa) E então? Entregou o celular pra vagabunda?
FELIPE: (seco, direto) Entreguei.
Ele tira o casaco, joga no sofá. Está claramente perturbado.
JAQUELINE: (eufórica, com um brilho perverso nos olhos) E o que ela disse?
FELIPE: Nada. Tentou bancar a louca, se jogou em cima de mim. Disse que ainda me amava. Que queria tudo de volta. (pausa, respira fundo) Ela tá descompensada. Fora de si. Uma bomba prestes a explodir. Ela disse que… teve um filho comigo, que acabou nascendo morto.
Jaqueline fica surpresa.
FELIPE: Eu vou subir. Boa noite.
Felipe sobe as escadas. Jaqueline fica pensativa.
CENA 03: MANSÃO VON BERGMANN - QUARTO DE GISELA - NOITE
Gisela está sentada na beira da cama, ainda vestindo um robe de seda bordô. Seu rosto, marcado por hematomas discretos, está sério, frio.
Ela abre a bolsa com pressa. Seus dedos tateiam o fundo até encontrar o celular. Ela o puxa, encara o aparelho.
Ela desbloqueia a tela. Navega rapidamente pelos aplicativos até abrir a nuvem. Seus olhos vasculham a tela.
Um instante de silêncio.
GISELA: (murmura, com ódio) Filha da mãe… (pausa).Ela apagou tudo. Desgraçada.
Ela respira fundo, lutando contra o impulso de gritar. Ela joga o celular na cama. Levanta-se com elegância forçada, alisa o robe, recompõe-se.
Ela sai do quarto com passos lentos. CLOSE no celular abandonado, iluminado pela luz morna do abajur.
CENA 04: MANSÃO VON BERGMANN - QUARTO DE MARCOS - NOITE
A cena abre já em Gisela de pé, reunida com Marcos e Sabrine.
GISELA: Eu acho que já chega de cada um jogar sozinho. Tá na hora da gente se unir… com um único objetivo: destruir os malditos Passarelli. Um por um.
MARCOS: Por que isso agora? Está amarga porque levou um pé na bunda do filho do motorista?
GISELA: Ao invés de perder seu tempo me atacando com seu sarcasmo, você deveria aproveitar e se unir a mim, querido sobrinho, pois o que eu pretendo fazer vai te interessar e muito. Porque eu vou destruir aquela família e eu vou começar justamente pelo bem mais precioso do Felipe. O filho dele!
MARCOS: O Afonso… eu estava mesmo louco para revidar o soco que o Otávio me deu através dele, mas eu não consegui pensar em nada.
GISELA: Claro que você não pensou em nada. Se dependesse de você, Marcos, você ainda tava tentando escrever “vingança” com G mudo. (pausa dramática) Mas calma. Sua tia tá aqui pra te ensinar como se joga sujo… com classe.
SABRINE: (firme) Meu advogado ficou sabendo que o Afonso vai ser transferido pra penitenciária amanhã.
GISELA: (sorri, como quem saboreia veneno) É mesmo? (pausa) Então já sei exatamente o que vamos fazer...
SABRINE: (afiada) Mas olha… a gente tem que matar todos os coelhos numa só cajadada.
Os três se encaram. Um silêncio cúmplice se instala. Gisela abre um sorriso que mistura luxúria e loucura.
CENA 05: MANSÃO VON BERGMANN – ESCRITÓRIO – NOITE
Gisela está sentada à frente de Caetano. Uma luminária de mesa joga sombras dramáticas sobre o rosto dela.
GISELA: (seca, direta) Eu sei que você tem seus contatos lá dentro da penitenciária onde o Afonso vai ser jogado amanhã.
CAETANO: (sério) Tenho, sim senhora.
GISELA: (impiedosa) Quero que você providencie uma recepção calorosa para ele. Bem calorosa. (pausa) Mas nada de matar o rapaz… ainda.
CAETANO: (entende de imediato) Só dar um sustinho, né… deixar marcado.
GISELA: (olhos brilhando de crueldade) Mais que um susto… quero que ele sinta o gosto do inferno. (pausa) E deixa claro pra ele… que quem mandou fazer o servicinho… foi o Volney. Você entendeu?
CAETANO: (assente com um leve sorriso) Perfeitamente, dona Gisela.
GISELA: (se inclina, olhos nos dele) Eu quero que esse menino comece a se perguntar se sair da cadeia vale mais a pena do que continuar lá dentro.
Ela sorri com um prazer doentio.
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