CENA 01: CASA DE LEANDRO/INT./NOITE
ISABEL (impaciente): FALA LOGO!
UBALDO: Isabel, o Leandro tem sim uma amante…
ISABEL: E quem é? O senhor sabe quem é a maldita?
UBALDO (fica em silêncio por uns segundos e respira fundo mais uma vez): É a Cecília. A amante do meu filho é a Cecília, sua irmã.
INSTRUMENTAL: ED S THEME - IURI CUNHA
Isabel paralisa por uns segundos e se senta no sofá, tentando processar o que acabou de ouvir. O silêncio toma conta da sala.
ISABEL (baixa, incrédula): Não… não pode ser… Como você descobriu isso?
UBALDO: Dias antes do casamento, Leandro comentou comigo que estava pensativo, indeciso em relação ao relacionamento de vocês e que queria terminar tudo com você, dias antes da cerimônia, mas eu não deixei.
ISABEL (surtando, com raiva): Desde quando isso vem acontecendo? Desde quando o Leandro e a morta de fome andam se encontrando?
UBALDO: Olha, eu acho que já faz bastante tempo. Eu só soube por agora, Isabel, quando Leandro veio até mim contar que estava apaixonado pela Cecília e que estava pensando em terminar tudo com você.
ISABEL (repete, como se não estivesse acreditando): Apaixonado?
UBALDO: É, foi o que ele me disse…
Isabel se levanta de súbito, andando de um lado para o outro, desorientada. Lágrimas começam a se formar nos olhos, mas ela resiste em deixar cair. Seu rosto agora mistura dor e ódio.
UBALDO (preocupado): Olha, eu não tô te dizendo isso pra te deixar ainda mais desestabilizada, eu só quero abrir os seus olhos em relação à tudo o que está acontecendo e porque eu não compactuo com o que meu filho fez com você.
ISABEL (olhando fixamente para um ponto, ainda sem acreditar): Como eles tiveram coragem? Eu já odiava aquela bastarda, agora então…
UBALDO: Só peço que não faça nada de cabeça quente, Isabel. Acho melhor esperar o Leandro te procurar e, aí sim você bota a boca no trombone, mas agora… agora é melhor deixar tudo isso quieto.
ISABEL: Quieto? Eu sou traída pelo meu noivo e pela minha irmã, e tenho que deixar isso quieto? Mas eu não vou ficar quieta de jeito nenhum! Aqueles dois idiotas vão ter o que merecem.
UBALDO: O que você vai fazer?
ISABEL: Eu não sei… eu só quero acabar com a raça daqueles dois, principalmente daquela sonsa da Cecília. Eu já sabia, desde o início, que aquela suburbana dos infernos não prestava!
UBALDO: Eu não quero nem estar perto quando o Tércio souber de tudo isso, imagina a decepção…
ISABEL: Que nada… aquela desgraçada virou a favorita do meu pai. Ela pode fazer o que quiser, até atear fogo na mansão, que vai ser protegida por ele.
UBALDO: Só sei que a situação está complicada…
Enraivada, Isabel se aproxima da porta de saída e lança um último olhar para Ubaldo.
ISABEL (fria): Complicada vai ficar a vida daqueles dois a partir de agora.
UBALDO (tentando contê-la): Isabel! Isabel, volta aqui! Você não pode sair assim, de cabeça quente… (preocupado, demonstrando arrependimento) O que foi que eu fiz, meu Deus?
Mostramos uma rápida imagem do exterior da mansão Figueira, até que cortamos para o interior.
CENA 02: MANSÃO FIGUEIRA/INT./NOITE
Leila está sentada no sofá, assistindo à novela na televisão de tubo, em preto e branco. Ela demonstra inquietude e preocupação.
LEILA (falando sozinha, incomodada): Cadê a Isabel que não chega? Eu devia ter ido com ela…
Tércio surge, apressado.
TÉRCIO: Meu amor, vou ter que dar uma saída. Volto já.
LEILA: Vai sair essa hora? Não vai me dizer que tem outra reunião…
TÉRCIO: Pois é, o sócio me convidou para um jantar num restaurante do centro, disse que precisa tratar de um assunto sério comigo sobre a Idearium.
Leila se levanta do sofá e vai até o marido, dando um breve beijo em sua boca e ajeitando sua gravata.
LEILA: Não vai demorar, hein? Espero você hoje à noite, do jeito que você gosta…
TÉRCIO: Olha só, a antiga Leila de volta! (T) Cadê a Isabel?
LEILA: Isabel saiu apressada no começo da noite e até agora não voltou… Disse que Ubaldo a chamou para uma conversa em sua casa.
TÉRCIO: O Ubaldo querendo falar com a Isabel? Que estranho… Bom, vou indo, meu amor, já estou atrasado.
LEILA: Vai com Deus, meu bem.
Tércio atravessa a sala e sai pela porta. Leila volta a assistir televisão, quando Ivani surge atrás dela.
IVANI: Dona Leila…
Leila se assusta com Ivani, arregala os olhos e pula do sofá imediatamente.
LEILA (assustada): QUE SUSTO QUE VOCÊ ME DEU, PRAGA! Não tá vendo que eu tô assistindo novela?
IVANI (cabeça baixa, constrangida): Desculpa dona Leila, é que…
LEILA: Fala logo! Anda!
IVANI: Bom, o meu expediente já acabou por hoje e eu precisava dar uma saidinha agora, minha amiga está doente e…
LEILA (interrompe, arrogante): Pode ir. Mas olha, a minha casa não é bagunça pra empregadinha sair e voltar a hora que quiser, não, tá ouvindo? Volte o quanto antes.
Ivani não diz nada, apenas balança a cabeça como forma de obediência. Ela vai até a área de serviços, retira seu avental e sai da mansão.
CENA 03: MOTEL/INT./NOITE
Tércio e Ivani estão deitados na cama, ainda ofegantes. Ivani acende um cigarro e apoia a cabeça no travesseiro, satisfeita. Tércio, ao lado, olha para o teto em silêncio, visivelmente tenso.
IVANI (sorrindo, provocativa): Tá arrependido, doutor Tércio?
TÉRCIO: Arrependido, eu? Jamais!
IVANI: Não quero nem imaginar a cena quando dona Leila descobrir que temos um caso.
TÉRCIO: Pode ficar tranquila, a Leila jamais vai saber sobre isso. Mas e aí, tá gostando de trabalhar na minha casa?
IVANI: É até que tranquilo, sabia? O que me incomoda é a sua mulher, a dona Leila é um poço de arrogância com os empregados… Eu jamais aceitaria ser tratada assim, se não fosse uma serviçal…
TÉRCIO: A Leila te trata mal? Quer que eu converse com ela?
IVANI: Não! Não precisa se preocupar.
TÉRCIO (delirando): A minha avó, Dalvinha, também me trata tão mal…
IVANI (estranhando): Como?
TÉRCIO: Nada, esquece… sabe, Ivani, eu venho tendo vários delírios ultimamente… não sei o que pode estar acontecendo comigo.
IVANI: Você não sabe, mas eu sei.
TÉRCIO: Como assim? Não tô entendendo.
IVANI: A sua mulher, seu Tércio. A dona Leila, é ela quem tá fazendo o senhor ficar mal de saúde.
TÉRCIO (rindo, sem entender): Continuo sem entender o que você está dizendo, Ivani.
IVANI: Eu vi a dona Leila colocando um pó branco no seu suco. No início eu até achei que fosse adoçante, mas ela sempre faz a mistura longe de tudo e de todos, como se estivesse escondendo algo. Mas eu, como sou esperta, sempre vejo tudo pelo vão da janela.
TÉRCIO: Como é que é? Você tá insinuando que a Leila pode estar me envenenando, é isso?
A câmera foca em Ivani, intercalando com Tércio.
CENA 04: BARZINHO/NOITE
Lurdinha e Teófilo estão sentados próximos, dividindo uma porção e duas cervejas. Ela fala animada, gesticulando com as mãos, enquanto ele a observa com um sorriso discreto, ouvindo cada palavra com atenção. De vez em quando, Lurdinha solta uma risada alta, espontânea, e Teófilo a acompanha, mais contido.
LURDINHA (rindo, descontraída): Desmascarei a velha na frente de todo mundo!
Teófilo ri do assunto que Lurdinha estava contando e eles se olham fixamente.
TEÓFILO: Eu acho tão bonita a forma que você fala… seus olhos, sua boca, parece que foram desenhados de tão lindos…
LURDINHA (sem graça): Ah, são seus olhos!
TEÓFILO: Faz tão pouco tempo que nos conhecemos, mas parece que te conheço a vida toda. Parece que conheço cada detalhe seu há tanto tempo…
LURDINHA: Que nada, você tá falando isso apenas para me conquistar.
TEÓFILO: Não! Eu não sou desses. Eu sou muito difícil em expressar sentimentos, de elogiar uma pessoa, mas com você… tá sendo tudo diferente.
Lurdinha não diz nada, apenas o olha com um sorriso tímido. Ele então coloca sua mão sobre a mão de Lurdinha e se aproxima lentamente, até que se beijam. A câmera que desfocava o fundo da cena, se limpa e mostra Cássio observando tudo de longe, como se estivesse com ciúmes.
CENA 05: MANSÃO FIGUEIRA/NOITE
INSTRUMENTAL: HANS DRONE - IURI CUNHA
O carro da mansão para em frente à casa. Isabel desce com raiva, batendo a porta com força. Seu rosto está fechado, tenso. Com raiva, ela rapidamente atravessa o jardim, determinada. Leila ainda está sentada no sofá, assistindo televisão. Ao ouvir o barulho da porta, se vira com um leve sorriso no rosto e se anima ao ver a filha entrando.
LEILA (feliz): Filha! Você já vol—
Isabel entra como um furacão, sem olhar para os lados. O som dos saltos ecoa pela sala.
ISABEL (gritando, furiosa): CADÊ? CADÊ A CADELA?
Isabel pela sala como um vento, rápida, impaciente, carregando a raiva no corpo inteiro. Ela ignora completamente a mãe, que mal tem tempo de reagir.
LEILA (assustada, indo atrás): Isabel! O que tá acontecendo, filha?
Isabel já está subindo as escadas, visivelmente tomada pela fúria. Seus passos são bruscos, apressados. Ela acaba de subir e vai imediatamente para o quarto de Cecília, batendo na porta descontroladamente.
ISABEL (gritando): ABRE ESSA PORTA AGORA, CECÍLIA! EU PRECISO FALAR COM VOCÊ! ABRE AGORA!
Por alguns segundos, só se ouve o som da respiração ofegante de Isabel. Então, a maçaneta gira lentamente. A porta se abre. Cecília aparece, confusa, ainda sonolenta.
CECÍLIA (assustada): O que foi? Que gritaria é essa na porta do meu quarto?
Isabel rapidamente avança sobre Cecília e lhe desfere um tapa estalado no rosto.
ISABEL: Eu já sabia que você era uma golpista, Cecília, mas agora eu descobri que você é uma vagabunda! É ISSO QUE VOCÊ É, UMA VAGABUNDA!
Isabel encara a irmã com os olhos cheios de ódio, que segura o rosto com a mão, ainda atordoada com o tapa.
CONGELAMENTO EM CECÍLIA.
A novela encerra seu 17° capítulo ao som de “Gimme! Gimme! Gimme! - ABBA”.
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