A TERCEIRA VÉRTICE - CAPÍTULO 17
Daniel: (chocado) Não acredito… (ele olha pro chão, com a peruca na mão, incrédulo) Desgraçada, mentirosa…
Angélica: Daniel?
Daniel olha para ela, com os olhos arregalados, surpreso. Angélica está parada na porta, encarando-o.
Angélica: Posso saber o que você está fazendo no meu quarto?
Daniel fica estatelado, sem saber o que fazer.
Daniel: Eu… estava procurando papel ofício.
Ele coloca a peruca dentro da caixa. Fecha a caixa e a gaveta de forma discreta.
Angélica: E porque você acha que teria papel ofício logo no meu quarto?
Daniel: Porque eu já procurei pela casa inteira e eu não encontrei. Preciso imprimir um documento.
Angélica: Já olhou no escritório?
Daniel: Já. Não tem nada.
Daniel se levanta.
Angélica: Por um acaso você estava vasculhando a minha gaveta?
Daniel: (se faz de desentendido) Que gaveta?
Angélica: A gaveta que tem na…
Ela se interrompe, pois lembra que a gaveta está camuflada/escondida na base da cama.
Angélica: Esquece.
Daniel: Bom… vou ter que pedir pra comprar mais papel.
Ele vai saindo.
Angélica: Não quero que entre mais no meu quarto.
Daniel pára e a encara.
Daniel: Essa casa é minha, então eu entro onde eu quiser aqui dentro. Com licença.
Ele sai.
Daniel fecha a porta do quarto de Angélica se tremendo, nervoso. Ele vai até seu quarto e se tranca.
Daniel: (esbraveja quase sussurrando) Desgraçada. Desgraçada, desgraçada.
Ele anda de um lado pro outro no quarto, agitado, pensando no que fazer, em qual atitude tomar. Daniel sai do seu quarto e vai até o quarto de Sebastian.
Sebastian: O que foi? Por que tá desse jeito?
Daniel: Você tem um cigarro?
Sebastian: (o olha, estranhando) Tenho. Espera aí que eu vou pegar.
Ele vai até a mesa de cabeceira, pegando seu estojo porta cigarro e vai até Daniel. Sebastian abre o estojo e Daniel pega um cigarro com as mãos trêmulas. Ele pega o isqueiro da mão de Sebastian, tenta acender o cigarro, mas está nervoso demais para conseguir. Sebastian pega o isqueiro da mão dele e acende finalmente o cigarro. Daniel traga de vez e começa a tossir.
Sebastian: Meu De-... Você sabe fumar?
Daniel: Não.
Sebastian: Todo errado. Você precisa tragar com calma, assim (e faz para ele ver).
Daniel: Assim?
Daniel traga com calma.
Sebastian: Isso. Agora assopra.
Daniel assopra de vez e quando faz isso, joga a fumaça toda pra cara de Sebastian.
Daniel: Desculpe.
Sebastian: Faz de novo.
Daniel traga e assopra, dessa vez sem tossir.
Sebastian: Ótimo. Agora me explica o que te deixou desse jeito.
Daniel: O que você faria se você descobrisse que a pessoa que você conhece há muitos anos não fosse aquilo que você achava que era?
Sebastian olha confuso pra ele, tentando entender.
Sebastian: Quê?
Daniel: Digamos que você me conheça há muito tempo, você acha que eu sou uma boa pessoa, até que chega um dia e você descobre que eu não sou nada daquilo que você pensava. Você faria o quê?
Sebastian: Mas de quem que você tá falando?
Daniel fica pensativo. Olha para Sebastian.
Daniel: De ninguém… (entrega o cigarro ainda aceso pra ele) Obrigado.
Daniel sai do quarto.
Sebastian: Conversa de maluco da porra.
Ele coloca o cigarro na boca e fuma.
Marinalda chega na mansão, entrando pelos fundos. Ela coloca sua bagagem em cima da mesa da cozinha, que está vazia. Daniel entra na cozinha.
Daniel: Oi Marinalda, você chegou.
Ele vai até a geladeira e abre, tirando de lá, uma garrafa de água. Marinalda olha para ele, sem saber o que dizer.
Daniel: Você está melhor?
Marinalda: É… tô sim. Mais ou menos.
Daniel: Sinto muito pela sua vó. Se tiver algo que eu possa fazer.
Marinalda: Tem… Quero um…
Daniel: O quê? Pode falar.
Marinalda se aproxima dele. Toca em seu rosto, emocionada. Ele sorri, sem entender.
Daniel: Cortei o cabelo, ficou bom, né?
Marinalda o abraça forte. Ele retribui.
Daniel: Você queria um abraço? Porque não falou?
Marinalda: Eu não sabia como falar…
Daniel: Você tá bem mesmo?
Marinalda: Tô… (se solta) Desculpe. Eu tô bem. Eu vou trabalhar. Preciso ocupar minha cabeça com alguma coisa. Eu vou indo, desculpe.
Ela sai, apressada. Ele a olha com estranheza. Mas depois sorri, sozinho.
Rodrigo está em casa, sentado no sofá, pensativo.
Rodrigo: Que inferno. Não tenho ideia do que fazer pra acabar com aquela mulher.
Ele levanta com o celular na mão, procura por algo pela sala. Vai até o banheiro e lá, continua procurando alguma coisa, mas não encontra. Ele vê a caixa de cigarro em cima do vaso sanitário, que está com a tampa levantada. Ele pega a caixa, mas acaba se atrapalhando e deixando o celular cair dentro do vaso.
Rodrigo: Porra. Tomar no cu.
Ele enfia a mão no vaso sanitário e tira o aparelho todo molhado lá de dentro.
Rodrigo: Diabo.
Rodrigo sai do banheiro e vai até a cozinha.
Rodrigo: Merda… Será que se botar no forno ele volta a funcionar?
Na mansão, Daniel clica no contato de Rodrigo em seu celular, começa a chamar, mas Rodrigo não atende.
Daniel: Quando a gente precisa das pessoas, as pessoas não atendem a porra do celular. Impressionante.
Daniel tenta contatar Rodrigo novamente, mas não consegue. Ele liga para Lucas.
Lucas: Oi, Dan.
Daniel: Sabe me dizer se o Rodrigo tá com algum novo caso? Algum outro além do meu?
Lucas: Você não sabe?
Daniel: Não. A gente terminou, esqueceu?
Lucas: (se faz de sonso) Jura, nem tava sabendo. Que pena, Dan.
Daniel: Pois é.
Lucas: E você já tinha falado que vocês não estavam tão bem assim. Mas não imaginava que as coisas tivessem chegado a esse ponto. Tem algo que eu possa fazer?
Daniel: Não. Eu e o Rodrigo mantemos contato só pra fins profissionais. Eu adoraria falar com ele agora, mas ele não faz o favor de atender o celular.
Lucas: Eu vou tentar ligar pra ele, qualquer coisa eu te dou um retorno.
Daniel: Tá, valeu, Lucas.
Lucas: Imagina…
Lucas desliga, revirando os olhos.
Daniel fica pensativo. Olga desce as escadas, indo até ele.
Olga: Seu Daniel, você me daria permissão pra sair?
Daniel: Sair?
Olga: Minha mãe está no hospital internada.
Daniel: Sua mãe, internada? É grave?
Olga: Ela tá com fungos vaginais, parece que se agravou, eu preciso muito ir vê-la. Posso?
Daniel: (olha, estranhando) Pode. Melhoras pra ela.
Olga: Obrigada.
Ela sai. Sebastian desce e vai falar com Daniel.
Sebastian: E aí, tá mais calmo?
Daniel: Tô sim.
Sebastian: Planos pra hoje à noite?
Daniel: Nenhum.
Sebastian: Aceita sair pra jantar comigo?
Daniel: Claro. Tô precisando mesmo me distrair. Antes vou passar num lugar, mas volto logo.
Daniel sai de casa.
Rodrigo tira seu celular do forno.
Rodrigo: Merda…
Ele olha o aparelho.
Rodrigo: Vou ter que comprar outro…
Rodrigo sai da garagem do seu prédio dirigindo seu carro e dá meia volta, indo embora. O carro de Daniel chega, vindo da direção oposta. Ele estaciona e desce do veículo, indo em direção à portaria do prédio.
Daniel: Bom dia, tô indo no seu Rodrigo Brandão, apartamento 609.
Porteiro: Seu Rodrigo acabou de sair, seu Daniel.
Daniel: Tem certeza?
Porteiro: Tenho, sim senhor.
Daniel fica incrédulo.
Daniel: Não é possível. Ele só pode estar com outro caso. (p/porteiro) Diz a ele que estive aqui.
Daniel volta para seu carro e vai embora.
A campainha do apartamento de Lucas toca e ele vai atender, dando de cara com Olga, que entra.
Lucas: O que você tá fazendo aqui?
Olga: Vim te ver, não pode?
Lucas: A mamãe te deu permissão pra sair?
Olga: Claro que não. O cucetinha me deixou vir.
Lucas: Ele me ligou faz meia hora.
Olga: O que ele queria?
Lucas: Me perguntou se o Rodrigo pegou um novo caso.
Olga: Você é secretária particular do Rodrigo pra saber agora é?
Lucas: Né?
Olga: Olha. Não dá mais.
Ela se joga no sofá.
Olga: Cansei. Eu tô por um fio de largar tudo. Sério. Não aguento mais ser empregada daquela casa.
Lucas: Calma.
Olga: Não nasci pra isso não, Lucas. Eu não nasci pra servir, nasci pra ser servida.
Lucas: Se acalme, a gente já tá chegando lá. O Sebastian não tá conseguindo conquistar o Daniel? Você tá lá pra observar essas coisas, não tá dando certo?
Olga: Tá, mas… Eu não quero mais. Não tô mais afim.
Lucas: Sabe porque você não tá mais querendo? Por causa desse demônio desse onlyfans. Desde que você descobriu isso, não tem outra coisa na cabeça que não seja sair daquela casa.
Olga: Claro. Acha o quê? Que eu vou passar minha vida toda servindo de empregada até herdar tudo? Isso se eu herdar, né? Porque eu já tô achando que não vou herdar é nada nessa brincadeira. Prefiro mostrar logo minha bucetinha pra todo mundo do que ter que ficar lavando o vaso onde o cu de poço caga.
Lucas se aproxima dela.
Lucas: Ei, relaxa. Tá? (a beija) Por que a gente não aproveita que você tirou a tarde folga pra…
Olga: Gravar uns vídeos! Ótima ideia!
Ela se afasta, frustrando-o.
Olga: Vou pra cama tirar a roupa e você começa a me gravar tocando siririca tá? Sem pegar meu rosto. As pessoas tem que achar que é a Gardênia. Não esquece.
Lucas suspira, indignado.
Anoitece. Sebastian desce e espera por Daniel. Ele vê Marinalda passar.
Sebastian: Ei, gracinha.
Marinalda: Me chamou?
Sebastian: Sim, vem cá.
Marinalda vai até ele.
Sebastian: Se minha tia perguntar por mim, diz que eu saí com o Daniel pra jantar, tá?
Marinalda: E se ela perguntar o lugar, eu digo o quê?
Sebastian: Diz que fomos no Sobayó Siricá.
Marinalda: Tá. Mais alguma coisa.
Sebastian: Não. Só isso.
Marinalda: Licença.
Ela se retira. Daniel desce as escadas.
Sebastian: Nossa. Você tá incrível.
Daniel sorri.
Daniel: Obrigado. Você também.
Sebastian: Vamos?
Sebastian estende o braço.
Daniel: Claro.
Daniel pega o braço dele e os dois saem de braços dados.
Rodrigo chega no seu prédio, passa pela portaria, vindo da garagem.
Porteiro: Seu Rodrigo.
Rodrigo: (indo até ele) Oi, o que foi?
Porteiro: Seu Daniel Ferraz teve aqui querendo falar com o senhor.
Rodrigo: Sério? Tem muito tempo?
Porteiro: Ih, seu Rodrigo, ele veio aqui de manhã. Nem bem o senhor saiu, ele chegou.
Rodrigo fica pensativo.
Marinalda recebe Rodrigo na mansão.
Marinalda: Entra.
Rodrigo: E aí, tá tudo bem por aqui? Aquela bruxa aprontou alguma com você?
Marinalda: Que nada. Tá no quarto dormindo.
Rodrigo: Vim ver o Daniel, ele tá aí?
Marinalda: Saiu com o sobrinho daquele satanás de saia.
Rodrigo: (se corroendo por dentro) Saíram? Juntos?
Marinalda: Foram jantar fora.
Rodrigo: Sabe onde eles foram?
Marinalda: Foram num tal de Sobayó Siricá.
Daniel e Sebastian estão no Sobayó Siricá, sentados na mesa, frente a frente. Um clima agradável e tranquilo, música ambiente. Os dois tomam um vinho e comem uma comida leve enquanto conversam.
Daniel: Fico besta que eu moro aqui e nunca tinha vindo nesse lugar. Já você, morou fora há anos e sabe mais daqui do que eu.
Sebastian: Na verdade eu dei uma pesquisada. Eu vi que você tava nervoso hoje cedo e pensei em te convidar pra sair. Pesquisei um lugar bom e agradável para jantar, e achei esse restaurante. As avaliações são muito positivas.
Daniel: Não é pra menos, né?
Daniel toca a mão dele.
Daniel: Você tem me feito um bem enorme, Sebastian.
Sebastian coloca sua mão sobre a mão dele.
Sebastian: Eu que tô gostando muito da sua companhia. De verdade. De todas as coisas que eu pensei antes de vir pra cá, não passava pela minha cabeça que eu pudesse estar com uma pessoa tão incrível como você, Daniel.
Rodrigo entra no restaurante e ao avistá-los, vai em direção a eles.
Rodrigo: Boa noite.
Daniel o olha, surpreso.
Rodrigo: Pra quem dizia que me amava, você me esqueceu um pouco rápido demais, não é Daniel?
Ambos olham para ele, sem reação. Rodrigo retribui, revoltado.
ENCERRAMENTO.
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