“TEIA DE SEDUÇÃO”
Novela criada e escrita por
Susu Saint Clair
Capítulo 05
CENA 01: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE JANTAR – NOITE
CONTINUAÇÃO IMEDIATA DO CAPÍTULO ANTERIOR. Volney está parado, imóvel, apavorado. Todos os olhares estão sobre ele. Estela, de pé, encara o filho com o rosto em choque.
ESTELA: Volney... é verdade o que a Sabrine tá dizendo?
SABRINE: É claro que é verdade! (pega o celular, mostra a tela) Olha isso, Estela. A foto não mente! Seu filho me enganou! Ele tinha um namorado o tempo todo!
Estela segura o celular. Vê a foto. Os olhos dela tremem.
ESTELA: (chocada) Você e o Afonso?
SABRINE: Peraí, você conhece ele?
ESTELA: Claro, o Afonso é meu cunhado. Ele é irmão do Raí.
GIOCONDA: (levanta-se de súbito) O quê?!
ESTELA: (para Raí) Você sabia que eles estavam juntos?
RAÍ: (falso) Eu? Claro que não!
GIOCONDA: (vendo a notícia pelo celular) Aqui diz que eles estavam juntos há dois anos.
ESTELA: (encarando Volney, atônita) Você e o Afonso estavam juntos esse tempo todo?
VOLNEY: (murmura) Eu… eu posso explicar.
SABRINE: Explicar o quê?! Que você tava comigo e com ele ao mesmo tempo?! Que mentia todos os dias olhando nos meus olhos?!
MARCOS: Achei que tivesse óbvio que ele só tava te usando como cortina de fumaça para esconder que é gay.
VOLNEY: (afrontado) Eu não sou gay!
Sabrine, aos prantos, se levanta bruscamente.
SABRINE: (nervosa) Eu fui uma idiota! Uma idiota apaixonada! Que acreditava em tudo que você dizia!
Volney tenta se aproximar, ela recua.
VOLNEY: Sabrine, por favor… a gente precisa conversar. Você não tá entendendo...
SABRINE: (grita) ENTENDENDO O QUÊ? Que o meu namoro foi uma farsa? Que você me usou?! VOCÊ ME USOU!
Ela sai correndo, sob o olhar perplexo de todos. Volney vai atrás.
VOLNEY: Sabrine, espera! Me escuta, por favor!
Ela sobe as escadas rapidamente. Ele a alcança e segura o braço dela no alto da escada.
VOLNEY: Eu te imploro, me escuta só um segundo!
SABRINE: (grita) NÃO ENCOSTA EM MIM!
Ela se desvencilha bruscamente, Volney perde o equilíbrio. Escorrega. Cai. Rola escada abaixo até cair no chão da sala. Um baque seco. Silêncio total. Ele está desacordado.
Sabrine, no alto da escada, pálida, trêmula, segura o corrimão com força. Está em estado de choque.
GIOCONDA: Meu Deus... alguém chama uma ambulância!
ESTELA: (se ajoelha ao lado do filho) Volney! Filho! Me responde! Ai, meu Deus... não... não...
RAÍ: (pegando o celular) Tô ligando agora!
Sabrine desce lentamente, devastada, ainda sem acreditar no que fez.
SABRINE: (entre lágrimas) Eu... eu não quis… eu juro… foi sem querer...
A câmera fecha no rosto de Estela, desesperada, segurando o rosto do filho desacordado.
Abertura
CENA 02: FACHADA DA MANSÃO VON BERGMANN – NOITE
A sirene da ambulância silencia. Os paramédicos fecham a porta com Volney desacordado lá dentro. As luzes vermelhas piscam sobre os rostos tensos. Estela se aproxima de Sabrine, com os olhos em chamas.
ESTELA: (agressiva) Escuta aqui, garota. Se alguma coisa acontecer com meu filho… eu acabo com a sua raça! Eu mato você, tá ouvindo? Eu te mato!
RAÍ: (segura Estela pelos ombros) Estela, pelo amor de Deus! Não é hora pra isso!
ESTELA: (tentando se soltar) Ela empurrou ele! Eu vi! Ela empurrou o meu filho!
SABRINE: (chocada, aos prantos) Eu não empurrei ninguém!
Gioconda abraça a filha. Estela é levada por Raí até a ambulância. As luzes se afastam rua abaixo.
CORTA PARA:
SALA DE ESTAR DA MANSÃO – CONTINUAÇÃO
Sabrine anda de um lado para o outro, descompensada, os olhos inchados e borrados de rímel. Gisela e Marcos assistem à cena do sofá, com o mais absoluto desprezo.
SABRINE: (angustiada) E agora? Como é que fica a minha vida? Meus seguidores? Minha imagem? Ai, meu Deus do céu!
Ela se joga no sofá, agoniada. Gisela ergue a sobrancelha, impaciente.
GISELA: (sarcástica) Chorar no sofá de veludo não vai limpar sua barra com os “bergmores”, meu bem.
SABRINE: (rosna) Se o Volney acordar e me denunciar pra polícia... juro que mato aquele desgraçado!
GIOCONDA: (irritada) Para de falar besteira, Sabrine! Você já causou um escândalo, quer responder por tentativa de homicídio agora?
Marcos, com o celular na mão, arregala os olhos.
MARCOS: (intrigado) Gente… é ele.
GISELA: Ele quem?
MARCOS: (aponta o celular) O cara da foto. O cara que beijou o Volney. É ele… o cara do acidente!
Gisela toma o celular da mão de Marcos e lê em silêncio. Os olhos dela congelam.
GISELA: (baixinho, pasma) Afonso Passarelli.
Gioconda se aproxima devagar, preocupada.
GIOCONDA: (assustada) Gisela… você não tá achando que é…
GISELA: (sem piscar) Só tem uma família com esse sobrenome nesta cidade, Gioconda.
MARCOS: (cortando, venenoso) E adivinha só?! O Otávio decidiu ficar obcecado por ele.
Silêncio mortal. A câmera fecha no rosto de Gisela, que agora parece digerir a informação. Tensão no ar.
CENA 03: HOSPITAL – SALA DE ESPERA – NOITE
Estela está sentada, nervosa, com as mãos trêmulas no colo. Anda, senta, levanta. Raí, ao lado, tenta manter a calma. A luz fria do hospital acentua o nervosismo dos dois.
ESTELA: (voz trêmula) Não sei como isso foi acontecer…
RAÍ: Tava todo mundo uma pilha de nervos, meu amor. Foi uma fatalidade.
ESTELA: Ele só queria conversar com aquela menina… Agora tá lá dentro. E a gente aqui sem saber como ele tá, se tá vivo, se tá morto.
RAÍ: (tentando acalmá-la) Ele vai ficar bem, tá?
ESTELA: (olha pra ele, tensa) Você viu como ele caiu, Raí? Você viu?
O médico surge no corredor, de jaleco, segurando uma prancheta. Os dois se viram imediatamente.
MÉDICO: Senhora Estela?
ESTELA: Pode falar, doutor. Meu filho tá bem?
MÉDICO: Seu filho está fora de perigo. Não houve traumatismo. Ele bateu a cabeça, mas não teve sangramento interno. Levou alguns pontos e tá grogue por conta da medicação. Mas está acordado.
ESTELA: (os olhos marejados) Graças a Deus. Posso ver ele?
MÉDICO: Claro. Vou levá-la até lá.
Ela segura a mão de Raí com força, respira fundo e o solta. O médico a conduz pelo corredor.
CORTA PARA:
QUARTO DE VOLNEY – NOITE
Volney está deitado, cabeça enfaixada, o olhar perdido no teto. A porta se abre. Estela entra com cuidado. Os olhos dela se enchem de lágrimas ao vê-lo assim. Volney a vê.
VOLNEY: (fraco) Mãe...
ESTELA: (engole o choro) Ai, meu filho…
Ela se aproxima. Senta na beirada da cama. Faz um carinho no rosto dele. Pausa longa.
ESTELA: (baixa) Você me deu um susto que eu nunca mais quero passar.
VOLNEY: (olhos úmidos) Eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Eu juro.
ESTELA: (suspira) Filho… Aquela história é verdade? Você e o Afonso…
Volney fecha os olhos, envergonhado. A respiração pesa.
VOLNEY: (baixo) É verdade. (contido) A gente tava junto há dois anos. A gente fingia que era só amigo porque eu tinha medo. Medo de que você me odiasse…
Ela segura a mão dele.
ESTELA: (serena) Você acha que eu deixaria de te amar por isso?
Volney tenta segurar o choro, mas não consegue. Uma lágrima escorre. Ele vira o rosto.
ESTELA: (continua) Você é meu filho, Volney. E eu te amo. Eu te amo desde que você tava na minha barriga. Eu te amo com tudo que você é. Com tudo que você sente. E eu já… imaginava.
VOLNEY: Sério?
ESTELA: Acha que mãe não sente as coisas? Não percebe? Se é o Afonso ou outro… isso não muda nada.
VOLNEY: (com a voz embargada) Eu tive tanto medo… medo de ser rejeitado… de te decepcionar…
ESTELA: A única coisa que me decepcionaria seria te perder. Te ver infeliz. Isso sim. Eu fiquei muito feliz quando você me apresentou aquela menina como sua namorada porque eu te achava tão… Sei lá… Perdido… Sozinho. Achei que você estivesse feliz com ela. Que você tivesse se encontrado.
VOLNEY: Agora eu tô aliviado.
Eles se abraçam. Forte. Longo.
ESTELA: Não se esconde mais, meu filho. Você não precisa mais disso.
VOLNEY: (chora, aliviado) Obrigado, mãe…
CORTA para Raí do lado de fora do quarto, encostado na parede. Ele está ao telefone.
RAÍ: (falando baixo) Afonso… Rolou quebra pau no jantar, Sabrine ficou tão louca que empurrou o Volney da escada. Agora ele tá aqui no hospital.
CENA 04: MANSÃO VON BERGMANN – SALA DE ESTAR – NOITE
O silêncio reinava na mansão dos Von Bergmann. No grande salão, empregados finalizavam o serviço, recolhendo discretamente os últimos resquícios do jantar. No sofá, Gisela permanecia imóvel, a testa franzida, o olhar preso à tela do celular. A tensão era quase visível. Gioconda desceu as escadas, exalando um alívio sutil.
GIOCONDA: Consegui dar um remédio para Sabrine. Ela dormiu profundamente, graças a Deus. (Ao notar Gisela e o celular) Você ainda está obcecada com essa notícia, Gisela?
GISELA: Eu estou digerindo tudo... Será que esse Afonso tem alguma conexão com a pessoa que estou pensando?
GIOCONDA: Se ele realmente for um Passarelli, as chances são grandes. E mudando de assunto, o que você pensa sobre o que o Marcos disse? Sobre o Otávio ter interesse no Afonso?
GISELA: Isso ainda não me ocorreu de verdade. Preciso primeiro confirmar a identidade desse Afonso.
CENA 05 – HOSPITAL – QUARTO DE VOLNEY – NOITE
Volney está deitado. O quarto está silencioso, o som do monitor cardíaco ecoa em segundo plano. A porta se abre. Afonso entra devagar, encarando ele com frieza. Volney se ilumina ao vê-lo.
VOLNEY: (voz fraca, emocionado) Você veio…
Afonso para ao pé da cama.
AFONSO: Como você está?
VOLNEY: (sorri, fraco) Melhor agora vendo você. O que é isso na sua testa?
AFONSO: (apontando pro curativo na sobrancelha) Ah, isso? Sofri um acidente mais cedo, bati o carro, mas eu tô bem.
VOLNEY: Meu Deus… o Raí não falou nada.
AFONSO: Eu pedi pra ele não falar. Ele me ligou contando tudo o que aconteceu. Aliás… tá todo mundo comentando o que aconteceu.
VOLNEY: É… agora todo mundo já sabe que eu e você…
AFONSO: Pois é, né?! E pensar que o segredo que você fez tanta questão de esconder por dois anos só tá dando polêmica porque o nome da Sabrine tá envolvido no meio. Afinal de contas ela é uma von Bergmann e também… uma figura pública… mas você… (ri) Quem é você, não é mesmo, Volney? Tanta preocupação pra nada.
VOLNEY: Eu sei que eu errei com você. Eu admito isso. Mas agora acabou, Afonso. Eu não tenho mais porque me esconder, nem me importar com nada. Queria que você soubesse… que depois de tudo o que aconteceu… eu finalmente falei com a minha mãe. Me assumi pra ela. Ela me aceitou. Disse que me ama do jeito que eu sou. Isso me deu força. Me fez perceber o quanto eu fui covarde com você. (pausa) Afonso, nesse jantar eu só conseguia pensar em você. Eu queria sair de lá correndo pros teus braços. Não teve um minuto sequer naquele maldito jantar que eu não sentisse vontade de fugir dali. Eu nunca quis ficar com a Sabrine, eu nunca quis isso. Você é quem eu amo de verdade. Sem você eu não sou nada, Afonso. E agora que tá tudo resolvido, que não preciso me esconder, eu quero retomar nosso namoro, eu quero dizer pra todo mundo o quanto eu te amo.
AFONSO: Você me ama, Volney? Jura?
Volney engole seco. Puxa fôlego. Afonso dá uma risada curta, seca. Ele se aproxima da cama e encara Volney, olho no olho.
AFONSO: Se aquela notícia não tivesse vazado você estaria com a Sabrine agora, seu idiota!
Silêncio tenso. Afonso vai até a janela, olha para fora, depois se vira devagar.
AFONSO: Você sabia que foi por isso que você caiu da escada?
VOLNEY: (confuso) Como assim?
AFONSO: Quem você acha que mandou aquela foto pra colunista, Volney?
Silêncio. O rosto de Volney congela.
VOLNEY: Foi você?
AFONSO: (sarcástico) Uma vez você me disse que de todas as nossas fotos juntos, aquela era a sua preferida. Nada mais justo que essa fosse a capa da notícia.
VOLNEY: (incrédulo) Afonso, você…
AFONSO: É, meu amor. Acabei com seu namoro com a Sabrine. É por minha causa que você tá aí agora. Nessa cama de hospital. Todo quebrado.
Volney o encara, em choque. Afonso abre a porta. Antes de sair, olha por cima do ombro.
AFONSO: Melhora logo, tá? Quero você em pé… pra assistir de camarote a sua queda.
Ele sai. Volney fica imóvel, em choque, derrotado.
CENA 06: MANSÃO DOS PASSARELLI – QUARTO DE AFONSO – NOITE
Afonso entra no quarto e fecha a porta com o pé, o corpo moído de cansaço, a mente ainda latejando pelo confronto no hospital. Jaqueline está sentada na beira da cama, perdida no vazio, como se mil pensamentos colidissem em sua cabeça.
JAQUELINE: E então, como foi no hospital?
AFONSO: Volney está bem. Vai se recuperar. Assim que receber alta, você corre pros braços dele. Quero vê-lo de joelhos por você. Quero vê-lo igual, ou até pior que o José Carlos.
JAQUELINE: Relaxa.
AFONSO: Só tem um problema... Essa sua briga com o Raí... Não sei, viu.
JAQUELINE: E o que você sugere? Que eu faça as pazes com aquele traidor desgraçado?
AFONSO: Vai por mim. É melhor tê-lo como aliado do que como inimigo.
Afonso anda pelo quarto, pensativo. Ele para, se vira e a encara.
AFONSO: Só tem uma coisa que ainda não entendi.
JAQUELINE: O quê?
AFONSO: Essa sua obsessão pela Gisela. Você disse que queria tirar tudo dela: dinheiro, status, marido. Mas até agora não entendi a origem desse ódio todo. Porque assim... Eu quero me vingar do Volney, fazê-lo sentir na pele o que senti. Mas você... você quer muito mais. Tudo por causa de uma demissão?
JAQUELINE: (Ríspida, levanta-se) Você acha que é pouco?
AFONSO: Não. Só acho... desproporcional. Eu te conheço, Jaque. Esse ódio tem outro gosto. Isso não é só vingança. Tem algo mais profundo.
Jaqueline hesita. Respira fundo, as costas para Afonso, olhando pela janela.
AFONSO: Por que tanto ódio pela Gisela? Por que essa ânsia de destruir a vida dela? E nem adianta dizer que é só pela demissão, porque não vou acreditar.
Jaqueline respira fundo. Ela se vira e encara Afonso.
JAQUELINE: É, você está certo. (Séria) A demissão e a humilhação são só a ponta do iceberg. O buraco é bem mais embaixo.
AFONSO: (Firme) Então me conta. Olha, estou com você, mas se vamos seguir juntos nisso, preciso saber. Tenho o direito de saber com quem estou lidando.
Silêncio pesado.
JAQUELINE: Você conhece a história da minha mãe, não é?
AFONSO: Não... Quer dizer... Sei que ela te criou sozinha. Com dificuldade. Nunca aceitou muito a ajuda financeira do meu pai... Fora isso... Não sei de mais nada.
JAQUELINE: Minha mãe, Afonso... tinha um diário... um diário que encontrei no armário dela quando eu tinha uns doze anos, por aí. Nesse diário tinha tudo. Nos mínimos detalhes. (Pausa) Sabe o que é uma criança ler tudo o que eu li?
AFONSO: Não... O que estava escrito lá?
JAQUELINE: Minha mãe foi assediada pelo meu pai. E engravidou dele. Depois, ele não quis assumir a minha paternidade. Como se não bastasse... Ele humilhou ela... mas humilhou muito... e depois mandou ela embora como se fosse um trapo.
Afonso congela. Jaqueline se afasta, indo até a janela, então se vira com os olhos marejados e o ódio estampado no rosto.
JAQUELINE: Você entende agora, Afonso? Minha revolta? Meu ódio?
AFONSO: Jaqueline, isso é mesmo verdade?
JAQUELINE: (Um sorriso frio e lacrimejante) É... A empregadinha da mansão. Que engravidou do patrão.
Afonso arregala os olhos.
JAQUELINE: O velho podre de rico. O pilar da família. O senhor da moral e dos bons costumes... engravidou minha mãe e a despachou como se ela não fosse nada. (Pausa) E é por isso que não quero só vingança. Eu quero justiça. Quero o que é meu por direito. Eu quero o império. A grife. O nome. Tudo. Eu quero a queda deles! E é isso o que vai acontecer! Eu vou tirar tudo deles! Eu vou implodir aquela família nojenta. (Pausa. A voz baixa, com veneno) A vendedora... A vagabunda... A prostituta... É uma von Bergmann.
Pausa. O olhar dela queima.
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